terça-feira, 13 de julho de 2010
A Prece
Há dois tipos de pessoas que não oram: as que não sabem e as que não querem. Esta crônica é endereçada de preferência às primeiras, mas sem a exclusão das demais, porque tanto umas como outras estão desligadas das forças superiores que sustentam o Universo. Falando ao que não aprenderam a orar, é de esperar-se que também alcancemos os indiferentes. Bem pensado, aliás, creio que poderíamos colocar mais um grupo: o daqueles que oram mecanicamente, recitando fórmulas que a repetição infindável esvaziou de todo o seu conteúdo inicial. Muitos ainda não descobriram que o valor e a eficácia da prece não estão na quantidade de fórmulas que recitamos e sim no que sente o espírito ao pronunciá-las.
Por isso, aqueles a quem não mais satisfaz a prece repetitiva, ficam sem saber o que dizer a Deus. Sim, porque a prece é uma conversa com Deus, um diálogo entre a criatura e o seu Criador. De modo geral, a prece representa um pedido. Pouco temos nós, pobres seres imperfeitos, a oferecer a Deus; é mais certo que tenhamos muito a pedir. A própria palavra prece já revela essa condição, pois deriva da palavra latina prex, isto é, súplica. A Enciclopédia Britânica, que andei consultando para esta conversa, é muito erudita e técnica no exame da prece. Divide-a em três tipos, segundo seja dirigida a um ser superior àquele que ora, a um ser do mesmo nível ou a um ser inferior, ou que pelo menos o suplicante assim julgue. A Deus se pede com humildade e confiança. A um santo com o qual se tenham tomado certas liberdades, muita gente propõe uma barganha, isto é, uma promessa, mais ou menos nos seguintes termos: “Você me dá isto que eu te prometo fazer aquiloutro”. O terceiro tipo: - ainda segundo a Britânica – é uma verdadeira ameaça: “Você me arranja isto, ou te quebro a cara”. Não é preciso dizer que estes dois últimos tipos de “prece” são formalmente condenados pelo Espiritismo. Também não adotamos preces decoradas, repetitivas.
Se a prece é um entendimento entre o homem e Deus, ou entre o homem e um Espírito Superior, em quem confia, basta “abrir o coração”, como se diz, e deixá-lo falar, numa conversa franca, leal, respeitosa e recolhida. Não é preciso procurar palavras difíceis, expressões rebuscadas que quase sempre são insinceras. Não se envergonhe da sua linguagem com Deus; Ele a entenderá perfeitamente e, quanto mais singela e humilde, melhor, porque é o sentimento que a impulsiona que vale, não as “palavras bonitas”.
Jesus não se preocupou em ensinar preces específicas: a única que nos deixou em palavras suas foi a chamada “oração dominical”, ou melhor, o “Pai Nosso”. Quanto ao mais, que disse? Que quando tivéssemos de orar, entrássemos para o nosso quarto e, em segredo, nos dirigíssemos a Deus. Disse mais: que valia a prece do publicano sincero e humilde e de nada servia a oração pomposa do fariseu hipócrita.
Declarou também que precisávamos bater para que se abrissem para nós as portas. “Pedi e dar-se-vos-á”.
O Espiritismo não é partidário de preces pré-fabricadas. Mesmo os Espíritos que transmitiram seus ensinos a Kardec raramente ditaram preces. Sempre insistiram em que deixássemos correr livremente e com o máximo respeito, humildade e confiança o nosso pensamento elevado a Deus. Se conseguimos ou não o que pedimos, é outra coisa. Nem sempre aquilo que pedimos é o que mais nos convém. Segundo o Cristo, Deus não nos dará pedra se pedirmos pão, mas como pai prudente, “recusa ao filho o que seja contrário ao interesse deste” (Kardec).
O leitor interessado procure adquirir um livrinho chamado “A Prece”, edição da Federação Espírita Brasileira. Ali estão as instruções dos Espíritos sobre o assunto e uma ou outra prece que eles sugeriram, mais como orientação do que como fórmula para ser repetida incessantemente, apenas como exemplo de como se deve orar.
De todas as preces que conheço, a minha predileta é assinada por um Espírito chamado Agar e foi psicografada pelo querido amigo Chico Xavier. Diz o seguinte:
“Pai de Infinita Bondade, sustenta-nos o coração no caminho que nos assinalaste. Infunde-nos o desejo de ajudar àqueles que nos cercam, dando-lhes das migalhas que possuímos para que a felicidade se multiplique entre nós. Dá-nos a força de lutar pela nossa própria regeneração, nos círculos de trabalho em que fomos situados, por Teus sábios desígnios. Auxilia-nos a conter nossas próprias fraquezas, para que não venhamos a cair nas trevas, vitimados pela violência. Pai, não deixes que a alegria nos enfraqueça e nem permitas que a dor nos sufoque. Ensina-nos a reconhecer Tua bondade em todos os acontecimentos e em todas as coisas. Nos dias de aflição, faze-nos contemplar a Tua luz, através de nossas lágrimas, e nas horas de reconforto auxilia-nos a estender Tuas bênçãos com os nossos semelhantes. Dá-nos conformação no sofrimento, paciência no trabalho e socorro nas tarefas difíceis. Concede-nos, sobretudo, a graça de compreender a Tua vontade seja como for, onde estivermos, a fim de que saibamos servir em Teu nome e para que sejamos filhos dignos de Teu infinito amor. Assim seja!”
Autor:
Luciano dos Anjos e Hermínio Corrêa de Miranda
Fonte:
Livro: De Kennedy ao Homem Artificial
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