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sábado, 30 de abril de 2016

A CURA DO CORPO NÃO É TÃO IMPORTANTE PARA O ESPÍRITO

A cura do corpo não é tão importante para a vida do espírito
 
 
A cura do corpo não é tão importante para a vida do espírito como acreditamos ser importante para a vida encarnada.
 
Trecho do livro Nascer Várias Vezes
 
 Ver alguém sofrer, principalmente se for próximo, dá uma "dor no coração". Talvez o corpo não vá aguentar e aí chega-se ao fim da encarnação. Mais uma encarnação entre as muitas centenas  que o espírito já teve. Mais uma morte entre as milhares que este espírito teve ou terá. A vida do espírito é tão longa que sofrimentos duradouros para o corpo tornam-se "minutos" frente à imensidão da vida espiritual.

 Tente lembrar do dia em que você, aos 4 anos de idade, levou um tombo e chorou muito.

Provavelmente não se lembrará, porque é algo insignificante em sua vida atual. Mas, o aprendizado de andar corretamente está presente até hoje, evitando muitos tombos.
 Lembre-se das brigas que teve por motivos que hoje considera ridículos. Hoje você percebe o quanto a imaturidade emocional e a falta de sabedoria podem gerar ou ampliar o sofrimento. Se você aprendeu a lição, muitas brigas serão evitadas. Se não aprendeu, muitas brigas por motivos ridículos ainda acontecerão.

 As dificuldades tornam-se sofrimentos internos quando há falta de sabedoria e/ou imaturidade. Se alguém te trata mal, mas você sabe manter sua mente neutra e serena, o sofrimento será pouco ou nem existirá.

 Todo sofrimento é a conjugação de um evento com a reação da pessoa a este evento. Se há aflição ou revolta, o sofrimento é maior do que se há paz e aceitação. Se há ódio ou medo, o sofrimento aumenta; se há disposição para enfrentar (coragem) e fé, o sofrimento diminui.

 Neste sentido, a evolução espiritual, a mente clara e madura, é a melhor forma de combater o sofrimento. E o melhor, é o aprendizado que te permite enfrentar todas as adversidades com maior capacidade de solução.
 A doença faz parte da organização da vida e é uma das formas do Universo se manter em constante transformação. A constante transformação da vida é um convite e um incentivo para as pessoas não se acomodarem e continuarem a desenvolver sabedoria.

 É muito mais importante a sabedoria do que a segurança. Com a sabedoria a pessoa está preparada para enfrentar toda e qualquer novidade que apareça na vida. Novidades boas ou ruins necessitam adaptação e preparo para ter o melhor aproveitamento.
 É certo que um dia doença aparece na vida da pessoa. Seja através de um familiar doente, seja através de seu próprio corpo que transforma. Doença gera sofrimento? Sim, principalmente quando a pessoa não se preparou através da evolução espiritual e do ganho de sabedoria.

Suponhamos que o obstáculo da doença seja superado e o corpo voltou a ficar sadio. Dez anos depois o corpo adoeceu gravemente, novamente. O sofrimento vai acontecer de novo e na mesma intensidade? Depende! Se houve aprendizado e amadurecimento o sofrimento será menor.

 Agora, imagine um novo corpo, 500anos depois. O mesmo espírito em um novo corpo. E volta a doença. Com sabedoria não haverá sofrimento ou haverá muito pouco.  É a sabedoria desenvolvida que é importante para a vida do espírito, e não a cura do corpo. É a evolução espiritual que permanece e propicia os recursos para lidar com adversidades em centenas de encarnações.

 No livro Nascer Várias Vezes eu relato várias histórias nas quais a evolução espiritual foi muito importante para a superação, com menos sofrimento, de conflitos e outras adversidades (1).

 Observe: Ao nascer novamente como Julia, o espírito da criança já demonstrava algumas características que havia conquistado em uma das encarnações anteriores. O desfrute da condição de disciplina, perseverança e gratidão continuava a produzir efeitos em outra encarnação. Este é um fato muito comum, todos temos  grandes vantagens por havermos desenvolvido qualidades em outros momentos da vida do espírito.

Apenas não prestamos atenção e não ligamos fatores positivos atuais a qualidades anteriormente desenvolvidas. (pag. 63, do livro Nascer Várias Vezes)

Tenha paz frente ao seu próprio sofrimento, frente à sua doença e à sua dor. Foque em evoluir, pois é assim que usufruirá das benesses do amadurecimento espiritual. As vantagens são claras: menos sofrimento no momento em que o corpo sofre (pois o sofrimento pode ser ampliado pela "mente") e mais facilidades no plano espiritual.

 Tenha paz frente ao sofrimento de seu ente querido. Busque a melhora do corpo, mas jamais esqueça de ensiná-lo a verdade do espírito. Jamais esqueça de vivenciar as pulsões da espiritualidade. Pois o mundo espiritual é para ser vivenciado e experimentado aqui e agora. O sofrimento diminui, a consciência amplia e a evolução acontece.

A vida do espírito é muito longa. Exige bastante luta, por isto desenvolver sabedoria é fundamental para ter paz e força. Uma das maiores sabedorias é a aceitação. Sem aceitação o que existe é uma briga interna que desgasta e gera atitudes irracionais e irrelevantes. Ou seja, com briga e atitudes ineficientes o aprendizado é muito pequeno. Aprendizado pequeno significa maior sofrimento e sofrimento mais duradouro.

Aceitar a doença e eventual não cura, é clarear a mente para viver mais intensamente a verdade do espírito. A pessoa pode e deve procurar os recursos terapêuticos, mas deve entender que não é a cura que serve para a vida do espírito. O que serve e dura por milênios são os aprendizados e as sabedorias. São estas sabedorias que te preparam para enfrentar toda e qualquer adversidade futura, por milênios.
 
Para o espírito, portanto, a cura do corpo é um pequeno prêmio. O grande prêmio é a abertura para a evolução espiritual.

 Cinco mil anos depois, a cura do corpo naquela encarnação longínqua é algo muito pequeno e insignificante. Mas, os ganhos de sabedoria e a mente clara serão sempre a certeza de que é a evolução espiritual que traz os ganhos mais importantes e duradouros.

Enfim, quem evolui vive melhor e torna as dificuldades menos desgastantes.
 
Autor: Regis Mesquita
https://twitter.com/saberespirita
 
 (1) Leia o capítulo: Júlia, os benefícios da evolução também continuam. Nele estão explicados os mecanismos que fazem com que as pessoas aproveitem na encarnação atual as qualidades e habilidades desenvolvidas em outras encarnações.

ESTUDO EVANGÉLICO 47 - LIVRO PALAVRAS DE VIDA ETERNA - TEMA: DINHEIRO E ATITUDE




Livro: Palavras de Vida Eterna

Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel

- ESTUDO 47



DINHEIRO E ATITUDE

"Porque a paixão do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males e, nessa cobiça, alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores”. - Paulo. (I Timóteo, 6:10).

A compreensão parcial de determinados trechos evangélicos tem levado a muitos equívocos. Uma dessas situações relaciona-se à posse, à riqueza como obstáculo à conquista dos valores eternos. Por exemplo, quando Jesus respondendo ao moço rico lhe disse que seria preciso vender tudo o que tinha para segui-Lo, e concluiu que "é mais fácil um camelo passar no fundo da agulha do que um rico entrar no reino de Deus", muitos interpretam que o Mestre menospreza a prosperidade e condena aquele que possui a riqueza. Jesus, com tal ensinamento, "jamais quis menosprezar a prosperidade, que é um bem da vida" 3, e nem condenar o rico; pretendeu com isso advertir-nos quanto ao apego excessivo dos bens materiais, do supérfluo porque desavisados, invigilantes, habituamo-nos ao abuso.

Em o Evangelho Segundo o Espiritismo2 Allan Kardec esclarece que "se a riqueza houvesse de constituir obstáculo absoluto à salvação dos que a possuem, conforme se poderia inferir de certas palavras de Jesus, interpretadas segundo a letra e não segundo o espírito, Deus, que a concede, teria posto nas mãos de alguns um instrumento de perdição, sem apelação alguma, idéia esta que repugna a razão". Na seqüência reflete que a riqueza, naturalmente, é um poderoso "excitante do orgulho, da vaidade, da vida sensual" isto é, gera tentações e exerce grande fascínio levando o incauto, em função da concupiscência que lhe é própria, a situações infelizes.

O dinheiro em si é neutro, é a aplicação que se lhe dá que o transforma em veículo do Bem ou do Mal, de elevação ou de queda, alterando-lhe a finalidade. Provendo educação, trabalho, remédio, alimento, etc., enobrece quem o possui e quando usado com egoísmo, apenas em benefício próprio, na posse sem aplicação no bem comum, encarcera o homem levando-o à infelicidade. 

           O apóstolo Paulo reconhecendo que o dinheiro em poder de criaturas que ainda estagiam no egoísmo, na avareza, na usura, na insensibilidade é porta aberta à queda orienta Timóteo.
 

Emmanuel, no texto em estudo, atualizando o ensinamento apostólico, considera que, embora o dinheiro seja bênção da vida, seu uso indevido deforma o coração daquele que o segrega no vício; faz-se verdugo implacável do avarento; transforma a inteligência perversa em arma destruidora; vinga-se daquele que o extorque e o recolhe, instalando enfermidade e cegueira, mas é instrumento libertador quando aplicado no campo do progresso e da bondade.

Conclui que1: "não é a moeda que envilece o homem, mas sim o homem que a envilece pelo desvario das paixões que o dominam".

"A riqueza é um bem para ser administrado em benefício geral e não para uns privilegiados. Aquele que retém a riqueza em seus cofres, sem dar-lhe utilidade é avarento, e o que a manipula apenas em seu benefício é exclusivista, egoísta, ambicioso; na verdade esse já recebeu a recompensa que queria4".


Bibliografia:


1. Xavier, Francisco Cândido. "Palavras de Vida Eterna: Dinheiro e Atitude". Ditado pelo Espírito Emmanuel. CEC. 17a ed. Uberaba, MG. 1992.

2. Kardec, Allan. "O Evangelho Segundo o Espiritismo: Capítulo XVI - Salvação dos Ricos".IDE. 59a ed. Araras, SP. 1986.

3. Peralva, Martins. "Estudando o Evangelho: Riqueza". FEB. 15a ed. Rio de Janeiro, RJ. 1987.

4. Palhano Jr., L. "A Carta de Tiago: Os Ricos; Riquezas". Editora FRÁTER. Niterói, RJ. 1992.


Iracema Linhares Giorgini
Junho / 2005


I TIMÓTEO 6
10 Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.


Centro Espírita Batuira
cebatuira@cebatuira.org.br
Ribeirão Preto (SP)



A FÉ RACIOCINADA

 
A fé raciocinada, a evolução da fé (3 textos)
 
A) A Fé Religiosa  Condição da Fé Inabalável
      
        Sob o ponto de vista religioso, a fé é a crença nos dogmas particulares que constituem as diferentes religiões, e todas as religiões têm seus artigos de fé. Quanto à fé, ela pode ser raciocinada ou cega. A fé cega nada examina, aceita sem controle o falso como o verdadeiro, e se choca, a cada passo, com a evidência e a razão; levada ao excesso, ela produz o fanatismo. Quando a fé se baseia no erro, cedo ou tarde se desmorona; mas a que tem por base a verdade garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das luzes, porquanto o que é verdadeiro na sombra também o é na claridade. Cada religião pretende ter a posse exclusiva da verdade, porém, preconizar a fé cega sobre um ponto de crença é confessar sua impotência para demonstrar que está com a razão.
 
         Diz-se vulgarmente que a fé não se receita, daí muitas pessoas afirmarem que, se não têm fé, não é por sua culpa. Sem dúvida, a fé não se receita, mas se adquire, e não há ninguém a quem seja recusado possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Nós falamos de verdades espirituais fundamentais, e não desta ou daquela crença em particular. Não é a fé que deve ir até eles, são eles que devem ir ao encontro da fé, e se a procurarem com sinceridade, a encontrarão. Tende, pois, como certo que aqueles que dizem: Não desejamos nada melhor do que crer, mas não o podemos, o fazem com os lábios, não com o coração, visto que, ao dizerem isso, eles fecham os ouvidos. As provas, no entanto, são muitas à volta deles; por que, então, se recusam a vê-las? Em uns, é pela indiferença; em outros pelo medo de serem forçados a mudar de hábitos e, na maioria, pelo orgulho, que se recusa a reconhecer um poder superior, que os faria inclinar-se diante dele.
 
         Entre algumas pessoas a fé, de alguma forma, parece inata; uma centelha é suficiente para desenvolvê-la. Essa facilidade em assimilar as verdades espirituais é um sinal evidente de progresso anterior; em outras, ao contrário, elas só penetram com dificuldade, sinal não menos evidente de uma natureza em atraso. As primeiras já acreditaram e compreenderam; trazem, ao renascer, a intuição do que sabiam: sua educação está feita. As segundas têm tudo a aprender: sua educação está por fazer. Ela, porém, se fará, e se não for terminada nesta existência, será em uma outra.
 
         A resistência do incrédulo, é preciso convir, quase sempre é devida mais à maneira como lhe apresentam as coisas do que a ele mesmo. Para se ter fé necessita-se de uma base, e essa base é a compreensão perfeita daquilo em que se deve crer; para crer não basta ver, é preciso principalmente compreender. A fé cega não é mais deste século[1]; ora, é precisamente o dogma da fé cega que causa, atualmente, o maior número de incrédulos, porque ela quer se impor, porque ela exige a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio. É contra essa fé, sobretudo, que se revolta o incrédulo, o que confirma a afirmativa de que a fé não se impõe. Não admitindo provas, ela deixa no espírito um vazio de onde nasce a dúvida. A fé raciocinada, que se apóia sobre os fatos e a lógica, não deixa nenhuma obscuridade; a pessoa crê, porque tem a certeza, e só tem a certeza porque compreendeu. Eis por que essa fé não se dobra: visto que não há fé inquebrantável senão aquela que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da humanidade.
 
         É a esse resultado que o Espiritismo conduz, triunfando também sobre a incredulidade, todas as vezes que não encontra a oposição sistemática e interessada.
Allan Kardec
in Cap. XIX O Evangelho segundo o Espiritismo (2ª Ed CELD)
 
 
Centenas de textos à sua disposição.
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B) Fé raciocinada
 
Autor: Rogério Coelho
 
Sem a luz da razão, desfalece a fé. (1)
 
Allan Kardec
 
Joanna de Ângelis esclarece que para legitimar-se, a fé se deve consorciar com a razão que elucubra e analisa, passando pelo crivo da argumentação lógica tudo o em que se crê.
 
O Espiritismo postula (2): Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.
 
Deve-se o declínio da influência das religiões da atualidade, com o conseqüente incremento dos despautérios morais de vária ordem, ao fato de estarem essas mesmas religiões atreladas a dogmas ancilosados que atentam contra os mais comezinhos princípios da lógica e da razão, bem como permanecem subjugadas pela avidez de conquista horizontais, puramente materialistas e pela ânsia de dominação e de poder temporal de seus líderes aferrados a ambições diametralmente opostas da verdadeira missão de consolar, instruir e regenerar Almas, fazendo-as gravitar para Deus.
 
Esclarece o Mestre Lionês:
 
Dá-se com os homens, em geral, o que se dá com os indivíduos em particular. As gerações têm sua infância, sua juventude e sua maturidade. Cada coisa tem de vir na época própria; a semente lançada à terra, fora da estação, não germina.   Mas, o que a prudência manda calar momentaneamente, cedo ou tarde será descoberto, porque, chegados a certo grau de desenvolvimento, os homens procuram por si mesmos a luz viva; pesa-lhes a obscuridade. Tendo-lhes outorgado a inteligência para compreenderem e se guiarem por entre as coisas da Terra e do Céu, eles tratam de raciocinar sobre a sua fé. É então que não se deve pôr a candeia debaixo do alqueire, visto que, sem a luz da razão, desfalece a fé.
 
No item seguinte afirma (3):
 
Se pois, em sua previdente sabedoria, a Providência só gradualmente revela as verdades, é claro que as desvenda à proporção que a Humanidade se vai mostrando amadurecida para as receber.  Ela as mantém de reserva e não sob o alqueire.  Os homens, porém, que entram a possuí-las, quase sempre as ocultam do vulgo com o intento de o dominarem. São esses os que, verdadeiramente, colocam a luz debaixo do alqueire. É por isso que todas as religiões têm tido os seus mistérios, cujo exame proíbem. Mas, ao passo que essas religiões iam ficando para trás, a Ciência e a inteligência avançaram e romperam o véu misterioso...
 
Tudo o que se acha oculto será descoberto um dia e o que o homem ainda não pode compreender lhe será sucessivamente desvendado, em mundos mais adiantados, quando se houver purificado. Aqui na Terra ele ainda se encontra em pleno nevoeiro.
 
Diz-se que a fé se vai; e com razão, pois realmente a fé que se vai é justamente a fé cega, aquela que colide com a evidência e a razão; aquela que aceita tudo sem verificação; aquela que gera o fanatismo, quando exacerbada e levada ao excesso nos desdobramentos da ignorância.
 
Dá atestado de impotência de argumentação todo aquele que preconiza a fé cega sobre um ponto de crença, vez que falecem-lhe os meios de demonstrar que está com a razão.
 
A LEGÍTIMA  ACEPÇÃO  DE  FÉ (4)
A fé sincera e verdadeira, é sempre calma; faculta a paciência que sabe esperar, porque, tendo o seu ponto de apoio na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao objetivo visado. A fé vacilante, ao contrário, sente a sua própria fraqueza; quando a estimula o interesse, torna-se furibunda e julga suprir, com a violência, a força que lhe falece. A calma na luta é sempre um sinal de força e confiança; a violência, ao contrário, denota fraqueza e dúvida de si mesmo.
 
Cumpre não confundir a fé com a presunção.  A verdadeira fé se conjuga à humildade; aquele que a possui deposita mais confiança em Deus do que em si próprio, por saber que, simples instrumento da vontade divina, nada pode sem Deus. A presunção é menos fé que orgulho, e este é sempre castigado, cedo ou tarde, pela decepção e pelos malogros que lhe são infligidos.
 
Continua Kardec com seu raciocínio lúcido e cristalino (2):
 
(...) A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E para crer não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender.
 
A fé cega já não é deste século, tanto assim que precisamente o dogma da fé cega é que produz hoje o maior número dos incrédulos, porque ela pretende impor-se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio. É principalmente contra essa fé que se levanta o incrédulo, e dela é que se pode, com verdade, dizer que não se prescreve.
 
Não admitindo provas, ela deixa no espírito alguma coisa de vago, que dá nascimento à dúvida. A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu.  Eis por que não se dobra.
 
A esse resultado conduz o Espiritismo, pelo que triunfa da incredulidade, sempre que não encontra oposição sistemática e interesseira. 
 
Bibliografia:
 
1. KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 121.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, cap. XXIV, item 4.
2. Idem, ibidem, cap. XIX, item 7.
3. Idem, ibidem, cap. XXIV, item 5.
4. KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 121.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, cap. XIX, itens 3 e 4.
 
http://www.oconsolador.com.br/22/rogerio_coelho.html
 
 
 
 
C)  A filosofia espírita da fé raciocinada
 
 Autor: - Luiz Signates
 
As relações entre fé e razão desde o princípio fazem parte do debate filosófico espírita, com a criação por Allan Kardec do conceito de fé raciocinada. De um ponto de vista conceitual, estabelece-se uma contradição aparentemente insuperável, porquanto a fé se funda na convicção e a razão, na dúvida; resulta, então, que ambos se contradizem. Ora, como crer e duvidar são práticas antagônicas por definição, o conceito de "fé raciocinada", seria por isso um evidente contra-senso.
 
Em Kardec, esse conceito é apresentado dentro de um quadro argumentativo construído para negar uma outra noção, atribuída pelo professor lionês às religiões dogmáticas: a "fé cega". Nesse sentido, a fé raciocinada seria algo próximo de "fé fundamentada", isto é, o adjetivo referente ao raciocínio daria ao sujeito o significado de um estado, e não de um processo. Ou seja, a fé raciocinada não seria propriamente uma "fé que raciocina", e sim, uma fé que já raciocinou antes, para se constituir. Tal interpretação consegue parcialmente satisfazer o quadro lógico de separação entre fé e razão: haveria primeiro o movimento de raciocínio e, somente depois, a fé se constituiria.
 
Esse ponto de vista, entretanto, não é satisfatório, sob o prisma kardequiano. Ainda nas menções que faz sobre a questão da fé, o codificador publicou em "O Evangelho Segundo o Espiritismo" um axioma que se tornou famoso nos meios doutrinários espíritas: "Fé inabalável só é a que pode encarar a razão, face a face, emtodas as épocas da Humanidade". Nessa proposição, Allan Kardec nos remete a uma percepção histórica, processual, do fenômeno da crença, delimitando, com o rigor que lhe era próprio, a característica especial e profundamente inovadora da fé espírita.
 
Nesse contexto, a féraciocinada  qualidade que a tornaria inabalável  seria não apenas aquela que se constituísse por um movimento de decisão racional, mas, também, a que se mantivesse em regime de racionalidade contínua, inclusa essa exigência no exercício da própria fé. A conciliação necessária, nesse caso, entre os conceitos de fé e razão, seria feita pela mudança de um raciocínio lógico para um raciocínio dialético: os contrários, ao invés de se excluírem, se complementam, se conjugam, na explicação da realidade.
 
Dentro desse modo de pensar, a fé espírita forma um par dialético inseparável com a razão espírita. Tal idéia significa que a crença espírita é basicamente uma fé que admite dúvida e com ela convive, durante todo o tempo. Trata-se, pois, de uma fé aberta, dialogal, disposta a modificar as próprias opiniões ou o objeto de sua manifestação como crença, desde que satisfeitas as condições do livre exercício da razão. Em contrapartida, a razão espírita constitui uma dúvida que se baseia na fé, capaz de fazer emergir as desconfianças naturais da racionalidade sem uma pretensão cética ou cientificista, e que, sobretudo, está disposta a admitir a crença e a confiança naqueles conteúdos sobre os quais a razão aindanão assumiu uma postura de conhecimento e verificação. Tal composição resulta no que Herculano Pires denominou, muito apropriadamente, "fideísmo crítico".
 
O uso da razão é a admissão da dúvida, a qual, no Espiritismo, se funda no princípio filosófico da imperfeição espiritual (temos preferido denominá-la incompletude, para retirar o sentido pejorativo do termo "imperfeição", como algo "errado, estragado, com defeito"), o que faz da jornada espiritual a contínua e necessária possibilidade da mudança. Por esta via, o Espiritismo funda um novo iluminismo, cuja formulação acredita na racionalidade como fundamento da fé humana e, por tal razão, confia no aperfeiçoamento das possibilidades da razão como geratriz do aprimoramento da fé.
 
Feitas tais considerações, de ordem filosófica, convém refletir pragmaticamente. Nem todos os espíritas na atualidade compreendem o que significa essa dimensão do conceito de fé raciocinada. Não raro, imaginam que raciocinar seja o mesmo que racionalizar, isto é, referir-se à razão como pretexto para justificar o dogma, o que transforma o argumento racional em argumento ideológico (no sentido negativo, como falsa concepção da realidade, apoiada somente em critérios de identidade religiosa), atitude que de modo algum pode ser justificada na proposta de Kardec. Fé raciocinada, portanto, não é o mesmo que fé racionalizada (até porque todas as formas de fé podem ser enquadradas neste último tipo).
 
Dentre as diversas concepções de racionalidade válidas em filosofia, acreditamos que a noção de "razão comunicativa" ou "razão consensual", do filósofo alemão Jürgen Habermas, é a que melhor se adequa ao conceito de fé raciocinada, em Kardec. Para aquele pensador, há racionalidade sempre que houver diálogo onde se instaurem consensos entre os interlocutores, sendo que a verificação prática do consenso seria a própria demonstração de que houve racionalidade. Em outras palavras: razão é o diálogo que dá certo.
 
Em Kardec, a fé raciocinada é a fé que permanece em constante contato com a razão, isto é, busca sempre um saber mais amplo, argumenta e se questiona. Para isso, a fé espírita há de ser permanentemente reconstruída no diálogo com os diversos saberes, especialmente na interação entre o saber humano, de vertente científica, filosófica ou experiencial, e o saber espiritual, originado da interlocução mediúnica. Eis, portanto, sob formulação espírita, a razão comunicativa, um movimento de construção da crença erigido sobre o diálogo e, por isso, capaz de "enfrentar a razão, face a face, em qualquer época da Humanidade".
 
Os espíritas, por isso, não podem abandonar em tempo algum a possibilidade do diálogo, não apenas com os espíritos, a partir dos quais o conhecimento assume a forma de "revelação", em definição kardequiana, mas também com os variados saberes humanos, especialmente o filosófico e o científico. A fé espírita há de ser uma fé em constante atualização, uma fé sempre renovada, sempre reconstruída. Ou recairá lamentavelmente num novo tipo de fé cega: a que se contenta em apenas fingir que vê.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

ESTUDO 63 O LIVRO DOS MÉDIUNS - SEGUNDA PARTE DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITAS – CAPITULO XVI - MÉDIUNS ESPECIAIS - Itens 185 E 186 Aptidões especiais dos médiuns

O LIVRO DOS MÉDIUNS
(Guia dos Médiuns e dos Doutrinadores)

Por
ALLAN KARDEC

Contém o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo.

SEGUNDA PARTE

DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITAS

CAPÍTULO XVI

MÉDIUNS ESPECIAIS

Estudo 63 — Itens 185 e 186

Aptidões especiais dos médiuns

Além das categorias de médiuns que já estudamos, a mediunidade apresenta uma variedade infinita de matizes, afirma Allan Kardec, que constituem os chamados médiuns especiais, dotados de aptidões particulares, ainda não definidas, abstração feita das qualidades e conhecimentos do Espírito que se manifesta. 

A natureza das comunicações está sempre relacionada com a natureza do Espírito e traz o cunho da sua elevação, ou da sua inferioridade, de seu saber, ou de sua ignorância. Mas, apesar da semelhança de grau, do ponto de vista hierárquico, há sempre entre eles uma tendência maior para este ou aquele campo. Os Espíritos batedores, por exemplo, raramente se afastam das manifestações físicas e, entre os que dão comunicações inteligentes, há Espíritos poetas, músicos, desenhistas, moralistas, sábios, médicos etc.

Falamos dos Espíritos de mediana categoria, porque, chegando eles a um certo grau, as aptidões se confundem na unidade da perfeição. Porém, junto com a aptidão do Espírito, há a do médium, que é, instrumento mais ou menos cômodo, mais ou menos flexível e no qual descobre ele qualidades particulares que não podemos apreciar.

Façamos uma comparação: um músico muito hábil tem ao seu alcance diversos violinos, que todos, para o vulgo, são bons instrumentos, mas que são muito diferentes uns dos outros para o artista consumado, o qual descobre neles matizes de extrema delicadeza, que o levam a escolher uns e a rejeitar outros, matizes que ele percebe por intuição, visto que não os pode definir. O mesmo se dá com relação aos médiuns. Em igualdade de condições quanto à potências mediúnicas, o Espírito preferirá um ou outro, conforme o gênero da comunicação que queira transmitir. Assim, por exemplo, indivíduos há que, como médiuns, escrevem admiráveis poesias, sendo certo que, em condições ordinárias, jamais puderam ou souberam fazer dois versos; outros, ao contrário, que são poetas e que, como médiuns, nunca puderam escrever senão prosa, independente do desejo que nutrem de escrever poesias. Outro tanto sucede com o desenho, com a música, etc. Alguns há que, sem possuírem de si mesmos conhecimentos científicos, demonstram especial aptidão para receber comunicações eruditas; outros, para os estudos históricos; outros servem mais facilmente de intérpretes aos Espíritos moralistas. Numa palavra, qualquer que seja a flexibilidade do médium, as comunicações que mais facilmente recebe, trazem geralmente um cunho especial; alguns existem mesmo que não saem de uma certa ordem de ideias e, quando destas se afastam, só obtêm comunicações incompletas, lacônicas e, não raro, falsas.
Além das causas de aptidão, os Espíritos também se comunicam mais ou menos dando preferência por tal ou qual médium, de acordo com as suas simpatias. Assim, em perfeita igualdade de condições, o mesmo Espírito será muito mais explícito com certos médiuns, apenas porque estes lhe convêm mais.

Seria errôneo querer obter-se, simplesmente por ter ao seu alcance um bom médium, ainda mesmo com a maior facilidade para escrever, boas comunicações de todos os gêneros. A primeira condição é de certificar-se da fonte dessas comunicações, isto é, das qualidades do Espírito que as transmite; porém, não é menos necessário ter em vista as qualidades do médium. Necessário, portanto, se estude a natureza do médium, como se estuda a do Espírito, porquanto são esses os dois elementos essenciais para a obtenção de um resultado satisfatório. Um terceiro existe, que desempenha papel igualmente importante: é a intenção, o pensamento íntimo, o sentimento mais ou menos louvável de quem interroga. Isto facilmente se concebe.

Para que uma comunicação seja boa é necessário que proceda de um Espírito bom; para que esse Espírito bom POSSA transmiti-la, é indispensável dispor de um bom instrumento. Para que QUEIRA transmiti-la, é necessário que o objetivo lhe convenha.

O Espírito que lê o pensamento julga se a questão que lhe propõem merece resposta séria e se a pessoa que a formula é digna dessa resposta. Casão contrário, não perde seu tempo em lançar boas sementes em cima de pedras e, é quando os Espíritos levianos e zombeteiros entram em ação, porque, pouco lhes importando a verdade, não a encaram de muito perto e se mostram geralmente pouco escrupulosos, quer quanto aos fins, quer quanto aos meios.

Todos esses critérios são, sem dúvida alguma, aplicáveis aos outros gêneros de comunicação, como, por exemplo, a psicofonia. O bom senso indicado por Allan Kardec deve prevalecer sempre e, por isso, relembramos suas palavras quando afirma que os Espíritos zombeteiros e levianos não se importam com a verdade e, baseando-se em processos de afinidade, de interesses comuns, atendem aos “chamados” dos encarnados, não se importando com meios que justifiquem os fins. 

Bibliografia:
KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns: 2.ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap XVI - 2ª Parte

Tereza Cristina D'Alessandro 
Novembro / 2006


Centro Espírita Batuíra
cebatuira@cebatuira.org.br
Ribeirão Preto - SP

quinta-feira, 28 de abril de 2016

A ÁRVORE ÚTIL

A ÁRVORE ÚTIL

Pelo Espírito Emmanuel.

Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Livro: Instrumentos do Tempo. Lição nº 34. Página 145.
 
Vão e voltam viajores.

Sucedem-se os dias ininterruptos.

A árvore útil permanece, à margem do caminho, atendendo, generosamente, aos que passam.

Mergulhando as raízes na terra, protege a fonte próxima, alentando os seres inferiores, que se arrastam no solo. Recolhendo o orvalho celeste, na fronde alta, atende aos pássaros felizes que cortam os céus.

Costuma descansar em seus braços a serpente venenosa. Na folhagem, as aves pacíficas tecem o ninho. A andorinha errante e exausta ganha força nova em seus galhos, enquanto o filhote mirrado ensaia o primeiro vôo.

O viandante repousa à sua sombra.

O botânico submete-a a estudos demorados e experiências laboriosas.

A agricultura apossa-se lhe das sementes.

Pede-lhe o enfermo a substância medicamentosa.

O faminto exige-lhe frutos.

Os jovens arrebatam-lhe as flores.
O podador reclama-lhe o fogo de inverno.

Não raro, seus ramos são conduzidos às câmaras mortuárias, onde chovem as lágrimas de dor ou aos adornos de praças festivas, onde vibram gargalhadas de ironia da multidão.
Em seu tronco respeitável, muitos servos do campo experimentam o gume afiado da foice ao deixar o rebolo.

Na ausência do homem, os animais grosseiros buscam-lhe os benefícios. A lesma percorre-lhe os galhos, o lobo goza-lhe o refúgio.
Seu trabalho, porém, não se circunscreve ao plano visível.

Movimentando todas as suas possibilidades, o vegetal precioso esforça-se e respira, para que as criaturas respirem melhor, em atmosfera mais pura.

O mordomo da terra, no entanto, quase nunca lhe vê o serviço integral, não lhe conhece os sacrifícios silenciosos e jamais relaciona a totalidade das dádivas recebidas. Raramente, dá-lhe um punhado de adubo e nunca se informa, respeito à invasão dos vermes para defendê-la, convenientemente.

Conhecendo-lhe apenas o concurso econômico, ameaça-a, todos os dias, com o machado destruidor, se a colheita dos benefícios tangíveis oferece expressão menos abundante.

A árvore generosa, porém, continua produzindo e alimentando, servindo e espalhando o bem, nada esperando dos homens, mas confiando na garantia eterna de Deus.

Médiuns dedicados a Jesus, fixai a árvore útil como símbolo de vossas vidas!...

Dilacerados e perseguidos, incompreendidos e humilhados, alimentando vermes e pássaros, auxiliando viajores felizes e infelizes, continuai em vosso ministério sublime de amor não obstante a indiferença do ingrato e o escárnio da foice, convencidos de que, enquanto o machado do mundo vos ameaça, sustenta-vos, na batalha do bem, o invisível manancial da Providência Divina.

#13 – O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - CAPÍTULO II: MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO Item - I

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - XIII

CAPÍTULO II: MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO

Item - I

"Tornou, pois, a entrar Pilatos no pretório e chamou Jesus e disse-lhe: Tu és o Rei dos Judeus? Respondeu-lhe Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, certo os meus ministros haviam de pelejar para que eu não fosse entregue aos judeus; mas por agora o meu reino não é daqui. Disse-lhe então Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu o dizes que eu sou rei. Eu não nasci, nem vim a este mundo senão para dar o testemunho da verdade; todo aquele que é da verdade ouve a minha voz". João, cap. XVIII 33:37.

Toda a tônica dos ensinos de Jesus é sobre a vida além da morte do corpo físico, a vida que nunca se acaba, quer o espírito esteja em mundos materiais, quer esteja em planos espirituais. Assim ensinando ele demonstrava como deveria ser o homem para poder um dia viver no reino de Deus, onde o mal não tem guarida e só o bem existe.

Para isso, o homem tem de desenvolver todo seu potencial intelectual e moral, desenvolvendo esse reino de amor e sabedoria dentro de si para poder tornar este mundo em um reino de Deus.

Jesus esclareceu à humanidade a meta do homem ao viver na Terra, indicou o caminho a ser seguido, ensinou como agir nessa caminhada, para atingir a perfeição possível, seguindo a senda do Bem traçada e exemplificada por ele, usando o instrumento do Amor a Deus e ao próximo.

Não foi compreendido pelos judeus da época, que interpretavam Jesus como sendo o Messias esperado, aquele que os libertaria do domínio romano, tornar-se ia seu rei e daria a esse povo o poder sobre os demais, ou como alguém que queria se passar como um profeta, sem o ser.

Daí a pergunta de Pilatos: Tu é o rei dos judeus?

Na resposta de Jesus, principalmente nas palavras: “por agora meu reino não é daqui", Jesus se apresenta como o colaborador de Deus na direção da humanidade terrestre, o Espírito Puro a quem o Pai confiou essa humanidade. Todavia, o reino de Deus que ele divulgava ainda não estava, nem ainda está na Terra, porque seus habitantes (encarnados e desencarnados) ainda não estão seguindo o caminho indicado por ele.

Ainda hoje, a grande maioria da humanidade, incluindo os seguidores de Jesus e os seguidores de outras interpretações espirituais, mas todos igualados na aceitação de um Ser Supremo, não conseguem vislumbrar esse reino de Deus, de paz, de harmonia, de amor, sem o contexto material, imaginando-o com os mesmos valores materiais da Terra.

Imaginam a vida futura com os parâmetros da vida material, estando o homem ainda muito preso a esses prazeres, esquecendo-se os cristãos do "por agora meu reino não é daqui", isto é, dos valores deste mundo, onde estamos, provisoriamente, enquanto não conseguirmos um desprendimento das coisas materiais, suficiente para merecermos viver em um mundo melhor. Assim, se "por agora meu reino não é daqui", um dia o será, quando os homens compreenderem, aceitarem os seus ensinos e viverem de acordo com eles.

Na frase “Eu não nasci, nem vim a este mundo senão para dar testemunho da verdade", Jesus se apresenta como um enviado de Deus, como o Messias prometido, que veio trazer a uma humanidade ainda muito imperfeita, as leis morais divinas, relativas a este mundo, ao grau de entendimento que essa humanidade pode alcançar, enquanto viver em um mundo de expiações e de provas.

Jesus tinha tanta convicção do que viera fazer, que não argumentava, como vemos nesta passagem de sua vida, apenas respondeu a Pilatos o que lhe foi perguntado.

Enquanto o homem alimentar dentro de si sentimentos negativos, a Terra continuará sendo um mundo inferior.

Assim, o esforço maior de quem tenta compreender e viver as lições do Mestre Jesus é continuar estudando, aprendendo e praticando no dia a dia, onde estiver, com quaisquer pessoas, a moral cristã, que representa a Verdade que Jesus veio trazer, verdade que essa humanidade tem condição de assimilar, implantando o reino de Deus, dentro de cada um, a fim de que num futuro próximo, ainda neste milênio possa a Terra transformar-se em um mundo melhor, num verdadeiro reino de Deus.


Leda de Almeida Rezende Ebner
Junho / 2002


 Centro Espírita Batuira
cebatuira@cebatuira.org.br
Ribeirão Preto (SP)

A MÁQUINA DIVINA

A  MÁQUINA  DIVINA
 
       Meu amigo.

       O corpo físico é a máquina divina que o Senhor nos empresta para a confecção de nossa felicidade na Terra.

       Os vizinhos do bruto precipitam-na ao sorvedouro da animalidade.

       Os maus empregam-na, criando o sofrimento dos semelhantes.

       Os egoístas valem-se dela para esgotarem a taça de prazeres fictícios.

       Os orgulhosos isolam-na sem proveito.

       Os vaidosos cobrem-na de adornos efêmeros para reclamarem o incenso da multidão.

       Os intemperantes destroem-na.

       Os levianos mobilizam-na para menosprezar o tempo.

       Os tolos usam-na, inconsideradamente, incentivando as sombras do mundo.

       Os perversos movimentam-lhe as peças, na consecução de desordens e crimes.

       Os viciados de todos os matizes aproveitam-lhe o temporário concurso na manutenção da desventura de si mesmos.

       Os indisciplinados acionam-lhe os valores, estimulando o ruído inútil em atividades improdutivas.

       O espírito prudente, todavia, recebe essa máquina valiosa e sublime para tecer, através do próprio esforço, com os fios da caridade e da fé, da verdade e da esperança, do amor e da sabedoria, a túnica de sua felicidade para sempre na vida eterna.

Emmanuel

(De Nosso Livro, de Francisco Cândido Xavier  Espíritos diversos)_

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Céu inferno_059_2ª parte cap. V - Suicidas - O pai e o conscrito

Céu inferno_059_2ª parte cap. V - Suicidas - O pai e o conscrito

TEXTO PARA ESTUDO

No começo da guerra da Itália, em 1859, um negociante de Paris, pai de família, gozando de estima geral por parte dos seus vizinhos, tinha um filho que fora sorteado para o serviço militar. Impossibilitado de o eximir de tal serviço, ocorreu-lhe a ideia de suicidar-se a fim de o isentar do mesmo, como filho único de mulher viúva. Um ano mais tarde, foi evocado na Sociedade de Paris a pedido de pessoa que o conhecera, desejosa de certificar-se da sua sorte no mundo espiritual.

A S. Luís.) - Podereis dizer-nos se é possível evocar o Espírito a que vimos de nos referir?

R. Sim, e ele ganhará com isso, porque ficará mais aliviado.

1. - Evocação. - R. Oh! obrigado! Sofro muito, mas... é justo. Contudo, ele me perdoará.

Nota - O Espírito escreve com grande dificuldade; os caracteres são irregulares e mal formados; depois da palavra mas, ele para, e, procurando em vão escrever, apenas consegue fazer alguns traços indecifráveis e pontos. É evidente que foi a palavra Deus que ele não conseguiu escrever.

2. - Tende a bondade de preencher a lacuna com a palavra que deixastes de escrever.

R. Sou indigno de escrevê-la.

3. - Dissestes que sofreis; compreendeis que fizestes muito mal em vos suicidar; mas o motivo que vos acarretou esse ato não provocou qualquer indulgência?

R. A punição será menos longa, mas nem por isso a ação deixa de ser má.

4. - Podereis descrever-nos essa punição?

R. Sofro duplamente, na alma e no corpo; e sofro neste ultimo, conquanto o não possua, como sofre o operado a falta de um membro amputado.

5. - A realização do vosso suicido teve por causa unicamente a isenção do vosso filho, ou concorreram para ele outras razões?

R. Fui completamente inspirado pelo amor paterno, porém, mal inspirado. Em atenção a isso, a minha pena será abreviada.

6. - Podeis precisar a duração dos vossos padecimentos?

R. Não lhes entrevejo o termo, mas tenho certeza de que ele existe, o que é um alivio para mim.

7. - Há pouco não vos foi possível escrever a palavra Deus, e no entanto temos visto Espíritos muito sofredores fazê-lo: será isso uma consequência da vossa punição?

R. Poderei fazê-lo com grandes esforços de arrependimento.

8. - Pois então fazei esses esforços para escrevê-lo, porque estamos certos de que sereis aliviado. (O Espírito acabou por traçar esta frase com caracteres grossos, irregulares e trêmulos: - Deus é muito bom.)

9. - Estamos satisfeitos pela boa-vontade com que correspondestes à nossa evocação, e vamos pedir a Deus para que estenda sobre vós a sua misericórdia.

R. Sim, obrigado.

10. - (A S. Luís.) - Podereis ministrar-nos a vossa apreciação sobre esse suicídio?

R. Este Espírito sofre justamente, pois lhe faltou a confiança em Deus, falta que é sempre punível. A punição seria maior e mais duradoura, se não houvera como atenuante o motivo louvável de evitar que o filho se expusesse à morte na guerra. Deus, que é justo e vê o fundo dos corações, não o pune senão de acordo com suas obras.

OBSERVAÇÕES - À primeira vista, como ato de abnegação, este suicídio poder-se-ia considerar desculpável. Efetivamente assim é, mas não de modo absoluto. A esse homem faltou a confiança em Deus, como disse o Espírito S. Luís. A sua ação talvez impediu a realização dos destinos do filho; ao demais, ele não tinha a certeza de que aquele sucumbiria na guerra e a carreira militar talvez lhe fornecesse ocasião de adiantar-se. A intenção era boa, e isso lhe atenua o mal provocado e merece indulgência; mas o mal é sempre o mal, e se o não fora, poder-se-ia, escudado no raciocínio, desculpar todos os crimes e até matar a pretexto de prestar serviços.

A mãe que mata o filho, crente de o enviar ao céu, seria menos culpada por tê-lo feito com boa intenção? Aí está um sistema que chegaria a justificar todos os crimes cometidos pelo cego fanatismo das guerras religiosas.

Em regra, o homem não tem o direito de dispor da vida, por isso que esta lhe foi dada visando deveres a cumprir na Terra, razão bastante para que não a abrevie voluntariamente, sob pretexto algum. Mas, ao homem - visto que tem o seu livre arbítrio - ninguém impede a infração dessa lei. Sujeita-se, porém, às suas consequências. O suicídio mais severamente punido é o resultante do desespero que visa a redenção das misérias terrenas, misérias que são ao mesmo tempo expiações e provações. Furtar-se a elas é recuar ante a tarefa aceita e, às vezes, ante a missão que se deverá cumprir. O suicídio não consiste somente no ato voluntário que produz a morte instantânea, mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a extinção das forças vitais. Não se pode tachar de suicida aquele que dedicadamente se expõe à morte para salvar o seu semelhante: primeiro, porque no caso não há intenção de se privar da vida, e, segundo, porque não há perigo do qual a Providência nos não possa subtrair, quando a hora não seja chegada. A morte em tais contingências é sacrifício meritório, como ato de abnegação em proveito de outrem.

(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, itens nos. 5, 6, 18 e 19.)

QUESTÕES PARA ESTUDO

1.Qual foi a circunstância atenuante para este caso de suicídio?

2.Bastaria a este espírito esta circunstância para se aliviado de seu sofrimento?

3.Essa atitude, a qual teve como base o amor paterno, é de todo desculpável? Que consequência poderia ter esse ato para o filho?

CONCLUSÃO

1.O pai acreditava estar fazendo o bem ao filho impedindo, com sua morte, que ele fosse para a guerra.

2.Não. Como em qualquer outra circunstância faltosa, o espírito terá que responder por ela, embora sua "pena" possa ser suavizada no momento em que ele se deu conta de seu engano e se arrependeu.


3.Desculpável até o ponto em que ele acreditava que estava certa sua atitude, mas com este ato, ele teria impedido que o seu filho passasse pelas provas necessárias a sua evolução.

O PRIMEIRO DESAFIO

O Primeiro Desafio

  Disposto a esquecer o mal, dedicando-te ao bem, enfrentas o primeiro desafio.

Incidente doméstico ocorre envolvendo-te emocionalmente.

Tens a impressão que todo o planejamento para o dia se desfaz.

Sentes os nervos abalados e estás a ponto de aceitar a pugna.

Silencia, porém, e age.

O hábito da discussão perniciosa se te instalou no comportamento e crês que não possuis forças para superar o acontecimento danoso.

Recorda que estás num clima de efeitos que vêm dos dias anteriores, quando te engajavas nas provocações, reagindo no mesmo tom.

Os familiares não sabem das tuas disposições novas e, porque estão acostumados às querelas e agressões, preservam o ambiente prejudicial.  Em teu procedimento de homem novo necessitas do autocontrole, reconquistando os familiares, que se surpreenderão com a tua nova filosofia de vida.

Contorna o primeiro desafio, dilui por antecipação e com sabedoria o mal-estar que ele podia gerar.

Este é o passo inicial para o teu dia feliz.

(Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis - Episódios Diários)

O DIA COMEÇA AO AMANHECER

O DIA COMEÇA AO AMANHECER

Compadece-te da criança que segue a teu lado.

O dia começa ao amanhecer. Pai, mãe, irmão ou amigo, ampara-lhe a vida, com o teu  próprio coração, se pretendes alcançar a Terra Melhor.

Lembra-te das vozes amigas que te induziram ao bem, das  mãos que te guiaram para o trabalho e para o conhecimento.

Por que não amparar, ainda hoje, aqueles que serão,  amanhã, os orientadores do mundo?

Em pleno santuário da natureza, quantas árvores generosas  são asfixiadas no berço?

Quanta colheita prematuramente morta  pelos vermes da crueldade?

A vida é também um campo divino, onde a infância é  a germinação da Humanidade.  Já meditaste nas esperanças aniquiladas ao alvorecer? 
Já refletiste nas flores estranguladas pelas pedras  do sofrimento, ante o sublime esplendor da aurora?

Provavelmente dirás: "Como impedirei o sofrimento  de milhares?" Ninguém te pede, porém, para que te convertes num salvador  apressado, carregado de ouro e poder. Basta que abras o coração com a chave da bondade, em favor  dos meninos de agora, para que os homens do futuro te bendigam.

Quando a escola estiver brilhando em todas as regiões e quando  cada lar de uma cidade puder acolher uma criança perdida?  ninho abençoado a descerrar-se, aconchegante, para a ave  estrangeira? teremos realmente alcançado, com Jesus,  o trabalho fundamental da construção do Reino de Deus.

(pelo Espírito Meimei - Do livro: Caridade, Médium: Francisco Cândido Xavier)

O PODER DA MIGALHA

O PODER DA MIGALHA

 
        Não desprezes o poder da migalha na obra do auxílio.

        O prato simples que partilhas com o irmão em penúria não resolve o problema da fome; entretanto, ele em si não é apenas favor providencial para quem o recebe, mas também mensagem de fraternidade expedida na direção de outras almas, que se inclinarão a repartir as alegrias da mesa.

        A peça de roupa com que atendes ao viajor, estremunhado de frio, não extingue o flagelo da nudez; todavia, ela em si não constitui apenas valioso abrigo para quem a recolhe, mas também apelo silencioso aos amigos que esperam, unicamente, um sinal de amor para se entregarem aos júbilos do serviço.

        Acontece o mesmo com a moeda humilde que, ajustada à beneficência, apenas pensar no valor da cooperação, e com o livro edificante que, funcionando no apoio a companheiros necessitados de esclarecimento e consolo, nos obriga a meditar no impositivo da cultura espiritual.

        Em muitas circunstâncias, é um gesto só de tua compreensão que salvará alguém de calamidade iminente e, em muitos casos, uma só frase de tua parte representa a segurança de comunidades inteiras.

        Bem-aventurado todo aquele que estende milhões à supressão dos problemas de natureza material e bem-aventurado todo aquele que cede algo de si próprio, a benefício dos outros, ainda que seja tão-somente uma palavra de bênção para o conforto de uma criança esquecida.

-x-x-

        Não desprezes o poder da migalha na obra do auxílio.

        Por dádiva de sustentação e misericórdia para felizes e infelizes, sábios e ignorantes, justos e injustos, Deus entrega o Sol por atacado, mas por dom inefável, capaz de conduzir as criaturas com harmonia e discernimento, nos rumos das perfeições divinas, Deus dá o tempo, trocado em miúdo, através das migalhas dos minutos, iguais para todos.

        O coração humano é comparável a cofre repleto de riquezas incalculáveis, e ninguém o possui impenetrável ou inacessível... Habitualmente, resistirá a golpes de martelos, à ação de gazuas e até mesmo ao impacto de explosivos e provas de fogo; , mas, quase sempre, é a tua migalha de humildade e paciência, bondade e cooperação que simboliza a chave capaz de abri-lo.

Emmanuel (Chico Xavier)

(De ESTUDE E VIVA, de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, pelos Espíritos de Emmanuel e André Luiz)

O MARTÍRIO DO MEDO

O Martírio do Medo

Livro: Libertação pelo Amor - 132 Joanna de Ângelis & Divaldo Pereira Franco

...Tem-se medo de perder o emprego, como se não houvesse outras experiências estimuladoras, novas possibilidades de recomeço e de realização.

Receia-se a perda de amigos e de afetos, atormentando-se em presídios emocionais absurdos, em realidade, negando-se a dar-se, a entregar-se confiante na resposta do próprio amor.

...Teme-se a instalação de doenças no organismo, olvidando-se que a saúde é o estado natural da vida humana, e que esses acidentes de percurso, no corpo físico, são perfeitamente reparáveis. Mesmo quando se apresentam irreversíveis e fatais, pode-se viver plenamente cada momento, já que tudo indica na terra é de duração efêmera.

Detesta-se a morte pessoal e a dos seres queridos, como se a matéria não fosse corruptível e transitória.

...Em face desse comportamento, tem-se medo da vida, de novos cometimentos, de realizações dantes não tentadas.

* * *

O medo está mais na mente do que na realidade. Quanto mais é cultivado, mais terrível afigura-se, ameaçando a delicada estrutura emocional do indivíduo, que passa a sofrer distúrbios de funcionamento.

Quando o medo assenhorear-se-te na mente e no sentimento, reflexiona que estás no mundo físico para triunfar, e somente conseguirás esse objetivo se arrostares as conseqüências das lutas. Aquele que teme os combates, já perdeu uma grande parcela de vitória na batalha que um dia será travada, por mais que se queira evitar.

Diante dos desafios que a vida te propõe e dos receios que intimidam-te de dares o passo decisivo, ora e age, certo de que nunca estarás a sós na execução de qualquer programa de dignificação humana.

Por fim, se a situação apresentar-se perversa e sem saída libertadora, considera com alegria, qual o mal que te pode acontecer, se somente ele atingirá o corpo frágil, ensejando que o Espírito imortal avance totalmente livre na direção da Grande Luz?

...E não temas nunca!

terça-feira, 26 de abril de 2016

A Fé Ativa construindo uma Nova Era 18 #Caráter e Consequências das Manifestações Espíritas

A Fé Ativa construindo uma Nova Era 18

Módulo/Eixo Temático: A Fé Ativa

Caráter e Consequências das Manifestações Espíritas

(Allan Kardec, in “Obras Póstumas” – cap. III)

1. As almas ou Espíritos daqueles que viveram constituem o mundo invisível que povoa o espaço, e no meio do qual nós vivemos; disso resulta que, desde que há homens, há Espíritos, e que se estes últimos têm o poder de se manifestar, devem tê-lo feito em todas as épocas. É o que constatam a história e as religiões de todos os povos.

Entretanto, nestes últimos tempos, as manifestações dos Espíritos tomaram um grande desenvolvimento, e adquiriram um maior caráter de autenticidade, porque estava nos objetivos da Providência pôr um termo à praga da incredulidade e do materialismo, por provas evidentes, permitindo àqueles que deixaram a Terra virem atestar a sua existência, e nos revelar a sua situação feliz ou infeliz.

2. Vivendo o mundo visível no meio do mundo invisível, com o qual está em contato perpétuo, disso resulta que reagem incessantemente um sobre o outro. Essa reação é a fonte de uma multidão de fenômenos considerados sobrenaturais por falta de lhes conhecer a causa.

A ação do mundo invisível sobre o mundo visível, e reciprocamente, é uma das leis, uma das forças da Natureza necessária à harmonia universal, como a lei da atração; se ela viesse a cessar, a harmonia seria perturbada, como num mecanismo do qual uma engrenagem viesse a ser suprimida. Estando essa ação fundada sobre uma lei da Natureza, disso resulta que todos os fenômenos que ela produz nada têm de sobrenatural. Não pareceram tais senão porque não se lhes conhecia a causa; assim se deu com certos fenômenos da eletricidade, da luz, etc.

3. Todas as religiões têm por base a existência de Deus, e por objetivo o futuro do homem depois da morte. Esse futuro, que é para o homem de um interesse capital, está necessariamente ligado à existência do mundo invisível; também o conhecimento desse mundo foi feito, em todos os tempos, o objeto de suas pesquisas e de suas preocupações. Sua atenção, naturalmente, foi levada sobre os fenômenos tendentes a provarem a existência desse mundo, e deles não há, mais concludentes, do que a manifestação dos Espíritos, pelas quais os próprios habitantes do mundo revelam a sua existência; foi por isso que esses fenômenos se tornaram a base da maioria dos dogmas de todas as religiões.

4. Tendo o homem, instintivamente, a intuição de um poder superior, foi levado, em todos os tempos, a atribuir à ação direta desse poder os fenômenos cuja causa lhe era desconhecida, e que passavam, aos seus olhos, por prodígios e efeitos sobrenaturais. Essa tendência é considerada, por alguns incrédulos, como a consequência do amor do homem pelo maravilhoso, mas não procuram a fonte desse amor do maravilhoso; ela está muito simplesmente na intuição mal definida de uma ordem de coisas extracorpóreas. Com o progresso da ciência e o conhecimento das leis da Natureza, esses fenômenos, pouco a pouco, passaram do domínio do maravilhoso ao dos efeitos naturais, de tal sorte que o que parecia outrora sobrenatural não o é mais hoje, e que o que o é ainda hoje, não o será mais amanhã.

Dependendo os fenômenos da manifestação dos Espíritos, por sua própria natureza, forneceram um grande contingente aos fatos reputados maravilhosos; mas deveria vir um tempo em que a lei que os rege sendo conhecida, eles reentrariam, como os outros, na ordem dos fatos naturais. Esse tempo chegou, e o Espiritismo, fazendo conhecer essa lei, dá a chave da maioria das passagens incompreendidas das Escrituras sagradas deles fazendo alusão, e de fatos olhados como miraculosos.

5. O caráter do fato miraculoso é de ser insólito e excepcional; é uma derrogação às leis da Natureza; desde que um fenômeno se reproduz em condições idênticas, é que ele está submetido a uma lei, e não é miraculoso. Essa lei pode ser desconhecida, mas nem por isso ela existe menos; o tempo se encarrega de fazê-la conhecer.

O movimento do Sol, ou melhor, da Terra, parado por Josué seria um verdadeiro milagre, porque seria uma derrogação manifesta da lei que rege o movimento dos astros; mas se o fato pudesse se reproduzir nas condições dadas, é que estaria submetido a essa lei, e cessaria, por conseguinte, de ser miraculoso.

6. É erradamente que a Igreja se assuste em ver se restringir o círculo dos fatos miraculosos, porque Deus prova melhor a sua grandeza e o seu poder pelo admirável conjunto de suas leis, do que por algumas infrações a essas mesmas leis, e isso enquanto ela atribui ao demônio o poder de fazer prodígios, o que implicaria que o demônio, podendo interromper o curso das leis divinas, seria tão poderoso quanto Deus. Ousar dizer que o Espírito do mal pode suspender a ação das leis de Deus, é uma blasfêmia e um sacrilégio.

A religião, longe de perder a sua autoridade naquilo que fatos reputados miraculosos passem para a ordem dos fatos naturais, não pode com isso senão ganhar; primeiro, porque, se um fato é erradamente reputado miraculoso, é um erro, a religião não pode senão perder apoiando-se sobre um erro, se, sobretudo, ela se obstinasse em olhar como um milagre o que não o seria; em segundo lugar, quantas pessoas, não admitindo a possibilidade dos milagres, negam os fatos reputados miraculosos, e, por consequência, a religião que se apoia sobre esses fatos; se, ao contrário, a possibilidade desses fatos está demonstrada como consequência das leis naturais, não há mais lugar para recusá-los, não mais do que a religião que os proclama.

7. Os fatos constatados pela ciência, de maneira peremptória, não podem ser negados por nenhuma crença religiosa contrária. A religião não pode senão ganhar em autoridade, seguindo o progresso dos conhecimentos científicos, e perder em permanecer atrasada ou em protestar contra esses mesmos conhecimentos em nome dos dogmas, porque nenhum dogma poderia prevalecer contra as leis da Natureza, nem anulá-las; um dogma fundado sobre a negação de uma lei da Natureza não pode ser a expressão da verdade.

O Espiritismo, fundado sobre o conhecimento de leis incompreendidas até este dia, não vem destruir os fatos religiosos, mas sancioná-los, dando-lhes uma explicação racional; ele não vem destruir senão as falsas consequências que deles foram deduzidas, em consequência da ignorância dessas leis, ou de sua interpretação errônea.

8. A ignorância das leis da Natureza, levando o homem a procurar causas fantásticas para os fenômenos que não compreende, é a fonte das ideias supersticiosas, das quais algumas são devidas aos fenômenos espíritas mal compreendidos: o conhecimento das leis que regem esses fenômenos destrói essas ideias supersticiosas, conduzindo as coisas à realidade, e mostrando o limite do possível e do impossível.