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quarta-feira, 20 de abril de 2016

A Fé Ativa construindo uma Nova Era 17 B #Terceiro Diálogo – O Padre

A Fé Ativa construindo uma Nova Era 17 B
Módulo/Eixo Temático: A Fé Ativa

Terceiro Diálogo – O Padre
 (Allan Kardec, in “O que é o Espiritismo?”)

Padre. — A Igreja não nega que bons Espíritos possam comunicar-se, pois reconhece que os santos também se têm manifestado; ela, porém, não considera bons aqueles que vêm contradizer seus princípios imutáveis. Os Espíritos ensinam, é verdade, que há penas e recompensas futuras, porém, de modo diverso do que ela ensina; só ela pode julgar o que eles pregam e, portanto, distinguir os bons dos maus.

A. K. — Eis a magna questão. Galileu foi acusado de heresia e de ser inspirado pelo demônio, porque vinha revelar uma lei da Natureza, provando o erro de uma crença julgada inatacável, e, então, foi condenado e excomungado. Se os Espíritos tivessem, sobre todos os pontos, abundado no sentido exclusivo da Igreja, se eles não proclamassem a liberdade de consciência e não condenassem certos abusos, teriam sido todos bem-vindos e não os qualificariam de demônios. Tal é também a razão por que todas as religiões, os muçulmanos como os católicos, crendo-se na posse exclusiva da verdade absoluta, olham como obra do demônio qualquer doutrina que não é inteiramente ortodoxa, do seu ponto de vista. Ora, os Espíritos vêm, não derribar a religião, mas, como Galileu, revelar-nos novas leis da Natureza. Se alguns pontos de fé sofrem com isto, é porque, como na velha crença de girar o Sol ao redor da Terra, estão em contradição com essas leis. A questão está em saber se um artigo de fé pode anular uma lei natural, que é obra de Deus; e se, sendo essa lei reconhecida, não será mais racional adaptar a interpretação do dogma a ela, do que atribuí-la ao demônio.

Padre. — Deixemos a questão dos demônios; bem sei que ela é diversamente interpretada pelos teólogos; porém o sistema da reencarnação parece-me mais difícil de conciliar com os dogmas, pois que ele não é mais que a renovação da metempsicose de Pitágoras.

A. K. — Não é esta a ocasião própria de discutir uma questão que exige tão longos desenvolvimentos: vós a encontrareis tratada em O Livro dos Espíritos e no Evangelho segundo o Espiritismo (vede O Livro dos Espíritos, n.° 166 e seg., 222 e seg. e 1.010; O Evangelho, caps. IV e V); não acrescentarei senão duas palavras. A metempsicose dos antigos consistia na transmigração da alma do homem nos animais, o que implica uma degradação. Demais, essa doutrina não era o que vulgarmente se crê. A transmigração pelos corpos dos animais não era considerada como condição inerente à natureza da alma humana, mas como punição temporária; é assim que se admitia que as almas dos assassinos iam habitar os corpos dos animais ferozes, para neles receberem castigos; as dos impudicos, os porcos e javalis; as dos inconstantes e estouvados, os das aves; as dos preguiçosos e ignorantes, os dos animais aquáticos. Depois de alguns milhares de anos, mais ou menos, conforme a culpabilidade, a alma, saindo dessa espécie de prisão, voltava à humanidade. A encarnação animal não era, pois, uma condição absoluta; ela, como se vê, aliava-se à encarnação humana, e a prova é que a punição dos homens tímidos consistia em passar a corpos de mulheres, expostas ao desprezo e às injúrias. (Vede Pluralidade das existências da alma, por Pezzani.) Era uma espécie de espantalho para os simples, antes que um artigo de fé para os filósofos. Assim como dizemos às crianças: “Se fordes más, o lobo vos comerá”, os antigos diziam aos criminosos: “Vós vos tornareis em lobos”, e hoje se diz: “O diabo vos agarrará e levará para o inferno.” A pluralidade das existências, segundo o Espiritismo, difere essencialmente da metempsicose, em não admitir aquele a encarnação da alma humana nos corpos de animais, mesmo como castigo. Os Espíritos ensinam que a alma não retrograda, mas progride sempre. Suas diferentes existências corpóreas se cumprem na humanidade, sendo cada uma um passo que a alma dá na senda do progresso intelectual e moral; o que é coisa muito diversa da metempsicose. Não podendo adquirir um desenvolvimento completo em uma só existência, muitas vezes abreviada por causas acidentais,

Deus lhe permite continuar, em nova encarnação, o que ela não pôde acabar em outra, ou recomeçar o que fez errado.

A expiação na vida corporal consiste nas tribulações que nela sofremos. Quanto à questão de saber se a pluralidade das existências da alma é ou não contrária a certos dogmas da Igreja, limito-me a dizer o seguinte: Ou a reencarnação existe, ou não; se existe, é uma lei da Natureza. Para provar que ela não existe, seria necessário demonstrar que vai de encontro, não aos dogmas, mas a essas leis, e que há outra mais clara e logicamente melhor que ela, explicando as questões que só ela pode resolver. Além disso, é fácil demonstrar que certos dogmas encontram nela sanção racional, hoje aceitos por aqueles que os repeliam outrora, por falta de compreensão. Não se trata, pois, de destruir, mas de interpretar; é o que pela força das coisas será feito mais tarde. Aqueles que não queiram aceitar a interpretação ficam perfeitamente livres, como ainda hoje o são, de crer que é o Sol que gira ao redor da Terra. A ideia da pluralidade das existências se vulgariza com pasmosa rapidez, em razão de sua extrema lógica e conformidade com a justiça de Deus.

Quando ela for reconhecida como verdade natural e aceita por todos, que fará a Igreja? Em resumo: a reencarnação não é um sistema imaginado para satisfação das necessidades de um ideal, nem uma opinião pessoal; é ou não um fato. Se está demonstrado que certos efeitos existentes são materialmente impossíveis sem a reencarnação, é preciso admitirmos que eles são a consequência desta; logo, se está em a Natureza, não pode ser anulada por uma opinião contrária.

Padre. — Segundo os Espíritos, quem não crê neles nem nas suas manifestações, deve ser menos aquinhoado na vida futura?

A. K. — Se esta crença fosse indispensável à salvação dos homens, que seria daqueles que, desde o começo do mundo, não tiveram possibilidade de possuí-la, bem como daqueles que, durante ainda muito tempo, morrerão sem tê-la?

Poderá Deus cerrar-lhes as portas do futuro? Não; os Espíritos que nos instruem não são assim tão pouco lógicos; eles nos dizem: Deus é soberanamente justo e bom, não faz a sorte futura de o homem subordinar-se a condições alheias à vontade deste; eles não nos pregam que fora do Espiritismo não possa haver salvação, mas sim, como o Cristo: Fora da caridade não há salvação.

Padre. — Permiti-me, então, dizer-vos que, desde que os Espíritos só ensinam os princípios de moral encontrados no Evangelho, não vejo qual possa ser a utilidade do Espiritismo, visto como antes que este viesse e hoje, sem ser por ele, podíamos e podemos alcançar a salvação. Não seria o mesmo se os Espíritos viessem ensinar algumas grandes verdades novas, alguns desses princípios que mudam a face do mundo, como fez o Cristo. Ao menos o Cristo era só, sua doutrina era única, ao passo que os Espíritos se contam por milhares e se contradizem, uns dizendo que é branco o que outros afirmam ser negro; do que resulta que, já desde o começo, seus partidários formam muitas seitas.

Não seria melhor deixarmos os Espíritos tranquilos e contentarmo-nos com o que já temos?

A. K. — Errais, meu amigo, em não sair do vosso ponto de vista e em considerar sempre a Igreja como o único critério dos conhecimentos humanos. Se o Cristo disse a verdade, o Espiritismo não podia dizer outra coisa, e em vez de por isso apedrejá-lo, deve-se acolhê-lo como poderoso auxiliar, que vem confirmar, por todas as vozes de Além-Túmulo, as verdades fundamentais da religião, combatidas pela incredulidade. Que o materialismo o combata, explica-se facilmente; mas que a Igreja se ligue ao materialismo contra ele, é um fato menos concebível. Igualmente inconsequente é ela quando qualifica de demoníaco um ensino que se apoia sobre a mesma autoridade e que proclama a missão divina do fundador do Cristianismo. O Cristo teria dito, teria revelado tudo? Não; visto que ele próprio disse:

“Eu teria ainda muitas coisas a dizer- vos, mas vós não podeis compreendê-las, é por isso que eu vos falo em parábolas.”

O Espiritismo vem hoje, época em que o homem está maduro para compreendê-lo, completar e explicar o que o Cristo propositadamente não fez senão tocar, ou não disse senão sob a forma alegórica. Direis, sem dúvida, que à Igreja competia dar essa explicação. Mas, qual delas? A romana, a grega ou a protestante? Como não estão elas de acordo, cada uma explicaria a seu modo e reivindicaria o privilégio de dar essa explicação. Qual delas conseguiria arrebanhar todos os dissidentes? Deus, que é sábio, prevendo que os homens iriam nela enxertar suas paixões e prejuízos, não lhes quis confiar o cuidado desta nova revelação: deu-a aos Espíritos, seus mensageiros, que a proclamaram por todos os pontos do globo, fora dos limites particulares de qualquer culto, a fim de que ela possa aplicar-se a todos, e nenhum a transforme em objeto de exploração. Por outro lado, os diversos cultos cristãos não se terão, em coisa alguma, apartado do caminho traçado pelo Cristo? Seus preceitos de moral serão escrupulosamente observados? Não se lhe têm desnaturado as palavras, a fim de que possam servir de apoio à ambição e às paixões humanas, quando elas lealmente condenam isso? Ora, o Espiritismo, pela voz dos Espíritos enviados de Deus, vem chamar, à estrita observância de seus preceitos, aqueles que dela se arredam; será por isso que o qualificam de obra satânica?

Vós vos iludis dando o nome de seitas a algumas divergências de opiniões relativas aos fenômenos espíritas. Não é de admirar que no começo de uma ciência, quando ainda as observações eram incompletas para muitos, tenham surgido teorias contraditórias; essas teorias, porém, repousam sobre pontos de minúcias e não sobre o princípio fundamental. Podem constituir escolas que expliquem certos fatos a seu modo, porém, não são seitas, como não o são os diferentes sistemas que dividem os sábios nas ciências exatas: em medicina, em física, etc. Riscai, pois, a palavra seita, que é imprópria ao nosso caso. A quantas seitas não tem o Cristianismo dado nascimento, desde a sua origem?

Por que não teve bastante poder a palavra do Cristo para impor silêncio a todas as controvérsias? Por que é ela suscetível de interpretações que ainda hoje dividem os cristãos em diferentes igrejas, pretendendo todas elas possuir exclusivamente a verdade necessária à salvação, detestando-se intimamente e anatematizando-se em nome do seu divino Mestre, que não pregou senão o amor e a caridade? Fraqueza dos homens, direis vós. Seja; então, como quereis que o Espiritismo triunfe subitamente dessa fraqueza, transforme a Humanidade como por encanto? Vamos à questão da utilidade. Dizeis que o Espiritismo nada revela de novo. É um erro: ele ensina, ao contrário, muito àqueles que não se limitam a um estudo superficial. Não fizesse ele mais que substituir a máxima: Fora da caridade não há salvação, que reúne os homens, àquela: Fora da Igreja não há salvação, que os divide, para que a sua vida marcasse uma nova era à Humanidade. Dissestes que se podia passar sem ele; concordo, como também se podia passar sem muitas das descobertas científicas. Os homens certamente viviam bem, antes da descoberta de todos os novos planetas, antes que se tivesse calculado os eclipses, antes que se conhecesse o mundo microscópico e cem outras coisas; o camponês para viver e fazer germinar o trigo, não tem necessidade de saber o que é um cometa, e, entretanto, ninguém nega que todas essas coisas alargam o círculo das ideias e nos fazem compreender melhor as leis da Natureza. Ora, o mundo dos Espíritos é uma dessas leis que o Espiritismo nos faz conhecer; ele nos ensina a influência que esse mundo exerce sobre o corpóreo. Suponhamos que a isso se limitasse a sua utilidade, já não seria muito a revelação de tal potência? Vejamos, agora, a sua influência moral. Admitamos que ele nada ensine, sob este ponto de vista; qual o maior inimigo da religião?

O materialismo, porque o materialista não crê em coisa alguma; ora, o Espiritismo é a negação do materialismo, que já não tem razão de ser. Não é mais pelo raciocínio, pela fé cega que se diz ao materialista que nem tudo se acaba com o corpo; é pelos fatos que se lhe mostram visíveis e palpáveis. Não será isso um pequeno serviço prestado à humanidade e à religião? Porém não é ainda tudo: a certeza da vida futura, o quadro vivo daqueles que nos precederam nela, mostram a necessidade do bem e as consequências inevitáveis do mal. Eis por que, sem ser uma religião, o Espiritismo se prende essencialmente às ideias religiosas, desenvolve-as naqueles que não as possuem, fortifica-as nos que as têm incertas. A religião encontra, pois, um apoio nele, não para as pessoas de vistas estreitas, que a veem integralmente na doutrina do fogo eterno, na letra mais que no espírito, mas para aqueles que a veem segundo a grandeza e a majestade de Deus. Em uma palavra, o Espiritismo engrandece e eleva as ideias; combate os abusos engendrados pelo egoísmo, a cobiça, a ambição; mas quem terá a coragem de defendê-los e se declararem seus campeões? Se ele não é indispensável à salvação, facilita-a firmando-nos no caminho do bem. Além disso, que homem sensato ousará avançar que a falta de ortodoxia é mais repreensível, aos olhos de Deus, que o ateísmo ou o materialismo? Apresento claramente as questões seguintes, a quantos combatem o Espiritismo, sob o ponto de vista de suas consequências religiosas:

1.ª Quem terá melhor quinhão na vida futura — aquele que não crê em coisa alguma, ou aquele que, crente das verdades gerais, não admite certas partes do dogma?

2.ª O protestante e o cismático serão confundidos na mesma reprovação que o ateu e o materialista?

3.ª O que não é ortodoxo, no rigor da palavra, mas faz o bem que pode, que é bom e indulgente para com o próximo, leal em suas relações sociais, deve contar menos com a salvação, do que aquele que crê em tudo, mas é duro, egoísta e baldo de caridade?

4.ª Qual terá mais valor aos olhos de Deus: a prática das virtudes cristãs sem a dos deveres da ortodoxia, ou a destes últimos sem a da moral?

Respondi, senhor abade, às questões e objeções que me dirigistes, mas, como vo-lo disse no começo, sem intenção alguma preconcebida de conduzir-vos às nossas ideias e de mudar as vossas convicções, limitando-me tão somente a fazer-vos encarar o Espiritismo sob seu verdadeiro aspecto. Se não tivésseis vindo, eu não vos teria ido procurar. Não quer isto dizer que desprezássemos a vossa adesão aos nossos princípios, caso ela se verificasse; longe disso; julgamo-nos sempre felizes pelas aquisições que fazemos, as quais têm para nós tanto maior valor quanto mais livres e voluntárias são. Não só não temos o direito de exercer constrangimento sobre quem quer que seja, como também sentiríamos escrúpulo em ir perturbar a consciência dos que, tendo crenças que os satisfazem, não venham espontaneamente ao nosso encontro.


Dissemos que o melhor meio de se esclarecerem sobre o Espiritismo é estudarem previamente a teoria; os fatos virão depois, naturalmente, e serão facilmente compreendidos, qualquer que seja a ordem em que as circunstâncias os façam vir. As nossas publicações são feitas no intuito de favorecer esse estudo; eis aqui a ordem que aconselhamos. A primeira leitura a fazer-se é a deste resumo, que apresenta o conjunto e os pontos mais salientes da ciência; com isso, pois, já se pode fazer dela uma ideia e ficar-se convencido de que, no fundo, existe algo de sério. Nesta rápida exposição esforçamo-nos por indicar os pontos sobre que particularmente se deve fixar a atenção do observador. A ignorância dos princípios fundamentais é a causa das falsas apreciações da maioria daqueles que querem julgar o que não compreendem, ou que se baseiam em ideias preconcebidas. Se desta leitura nascer o desejo de continuar, deve-se ler O Livro dos Espíritos, onde os princípios da doutrina estão completamente desenvolvidos; depois, O Livro dos Médiuns, para a parte experimental, destinado a servir de guia aos que desejarem operar por si mesmos, como aos que quiserem bem compreender os fenômenos. Vêm depois as diversas obras onde são desenvolvidas as aplicações e as consequências da doutrina, como: O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno segundo o Espiritismo, etc.

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