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sábado, 8 de setembro de 2018


INFORMAÇÃO ESPÍRITA


JUVENTUDE

O JOVEM E SEUS PROBLEMAS

KARDEC SUPERADO?

Um ponto que muito me intriga no Espiritismo. Em nota à questão 191-a d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Kardec afirma que “De todos os globos que constituem o nosso sistema planetário, segundo os Espíritos, a Terra é um cujos habitantes são menos adiantados, física e moralmente. Marte lhe seria ainda inferior e Júpiter, muito superior em todos os sentidos”. Mas adiante, ele diz que “O volume e o afastamento do Sol não tem nenhuma relação necessária com o grau de desenvolvimento dos mundos, pois parece que Vênus está mais adiantado que a Terra, e Saturno menos que Júpiter”. Ora, tudo isso nos parece hoje uma grande fantasia, pois a ciência acaba de constatar que, no máximo, poderemos encontrar vida primitiva (microscópica) nesses planetas. Ao que tudo indica, somos o único planeta habitado por vida inteligente, pelo menos, no Sistema Solar. Não é hora de reformular Kardec?

Kardec adotou o pensamento filosóficocientífico e sobre ele formulou os princípios da Doutrina. O que afirmou em sua obra estava de acordo com os conhecimentos de seu tempo e nem poderia ser de outro modo. Dentro dessa abordagem não cabem verdades absolutas, uma vez que a própria ciência está progredindo constantemente e não pode dar a última palavra em nada. Por isso mesmo, ele afirmou,no primeiro capítulo de “A GÊNESE”, “O Espiritismo, marchando com o progresso, jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas demonstrarem estar em erro sobre certo ponto, ele se modificará sobre esse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele aceitará”.

Essa assertiva dá à Doutrina Espírita um caráter  dinâmico e científico, caracterizando-a como verdade progressiva, de conformidade com o desenvolvimento intelectual da Humanidade. Por isso, querer tomar todas as inúmeras afirmações de Kardec ou dos Espíritos como verdades absolutas e incontestáveis é, com certeza, contraria frontalmente a um dos princípios fundamentais do Espiritismo e querer vê-lo como doutrina estagnada, à maneira das religiões. O que devemos ressaltar na obra de Kardec, por conseguinte, são os princípios básicos da doutrina e as diretrizes filosóficas de seu pensamento, que nos encaminham para uma verdade cada vez mais ampla e profunda, embora muito mais voltada para o aspecto espiritual da vida. Ademais, prezado leitor, ao fazer tal afirmação em relação à vida fora da Terra, Kardec teve o cuidado de colocá-la no rodapé da página, como mera observação e de forma condicional, não ousando apresentá-la como respostas definitivas dos Espíritos, o que demonstra sua notável prudência e discernimento. Quanto às pesquisas científicas, que se desenrolaram nos dias atuais, não podemos afirmar nada com extremada convicção, mas o certo é que também não podemos descartar a hipótese de haver vida inteligente em algum desses planetas mencionados, conquanto invisíveis aos nossos olhos, conforme podemos ler na questão 186 de  LIVRO DOS ESPÍRITOS. Por último, queremos ressaltar que a obra de Kardec deve ser respeitada na sua expressão original, não só porque é o fundamento da Doutrina Espírita, mas também pelo valor histórico de suas formulações, antecipando para a humanidade muitas verdades que só posteriormente vêm sendo comprovadas.

LEGÍTIMA DEFESA E OBSESSÃO

A lei natural não permitirá que um Espírito inicie um processo obsessivo contra aquele que tirou sua vida física em estado de necessidade ou legítima defesa?” (Cristiano Ricardo Alves - Vera Cruz - SP)

A questão é um pouco mais complexa. vamos tentar explicar o que pode acontecer, através de uma ilustração. Vamos dizer que João - para se defender ou para salvar a própria vida - matou Paulo, pois não lhe restou outra saída naquele momento. Na verdade, numa outra situação, João não cometeria esse assassinato de livre e espontânea vontade, porque ele não é violento: pelo contrário, é um espírito pacífico. Mas, naquela determinada situação, mais por impulso instintivo do que por vontade deliberada, ele matou. Vamos dizer que Paulo - aquele que foi morto - é um espírito vingativo - ou seja, violento, tanto assim que ele tentou matar João. Certamente, Paulo-desencarnado vai querer se vingar de João-encarnado, porque, como dissemos, Paulo é vingativo. Contudo, João - que é um espírito pacífico e um homem bom - mesmo tendo passado por essa complicada situação - continuará tendo uma proteção natural, tanto quanto a proteção de amigos espirituais, simplesmente porque é uma pessoa de bons sentimentos. Com certeza, ainda que lamentando o ocorrido, ele não terá nem mesmo sua consciência contra si próprio, pois não matou por livre vontade (nem queria isso), mas apenas defendeu sua vida. Por essa razão, estará com a consciência tranqüila nesse ponto e não terá o que temer. Suas condições mentais - ou melhor, suas criações mentais, seguras e positivas - lhe servirão de proteção que dificultará a aproximação de Paulo e favorecerá a atuação de seus benfeitores em seu favor. Assim, Cristiano, o que torna uma pessoa vulnerável à ação dos obsessores são suas fraquezas ou defeitos morais. Na Lei Natural, o semelhante atrai o semelhante. Desse modo, o violento atrai o violento, o bom atrai o bom, o honesto atrai o honesto, e assim por diante. É uma questão de sintonia de sentimentos. Um Espírito mal intencionado teria dificuldade de atingir um homem de bem, porque encontraria resistência num campo em que ele não consegue atuar. Isso nos leva a concluir que, de uma maneira geral, sempre estamos expostos àqueles Espíritos que vibram em nossa mesma faixa de pensamentos: eis porque podemos oferecer brechas para os maus, se formos maus, ou atrair Espíritos bons, se estivermos seguindo um bom caminho.

CORAGEM DA MUDANÇA

A história do samaritano não é difícil compreender, porque, em certas ocasiões, agimos por impulso como, por exemplo, quando precisamos socorrer alguém que está em estado de necessidade. O difícil é agir com amor em outras situações da vida. Acredito no bem, mas tenho dificuldade de ser bom sempre.

A parábola do samaritano, que Jesus contou, foi apenas uma ilustração para nos dar uma idéia do que é amar o próximo. Mas essa situação pode ser transportada para todos os momentos de nossa vida, porque, nem sempre praticar a caridade significa socorrer alguém ferido. Às vezes, é dar um apoio, prestar uma informação, calar para não ofender, compreender quem nos prejudica, ser cordial, manifestar espírito de cooperação, e assim por diante. O samaritano representa aquele que precisa ser ajudado de alguma forma, mesmo que seja um desconhecido, como acontece na parábola. A prática do bem ainda não é uma atitude muito comum em nosso planeta. Nossas condições espirituais ainda nos prendem ao egoísmo ou à indiferença em relação ao semelhante. Estamos demasiado preocupados conosco mesmos e muito pouco com os outros. Temos dificuldades de amar, mesmo passados 2 mil anos, desde que Jesus enfatizou esse ponto. Mas, se quisermos realmente aprender a amar, precisamos, primeiramente, nos predispor a enfrentar a um grande obstáculo - um obstáculo que está dentro de nós mesmos, o comodismo. Qualquer mudança requer reação. Mudar é, no fundo, contrariar uma situação que vem mantendo há longo tempo. Precisamos contrariar o comodismo, sair um pouco de nós mesmos, buscar a vida na sua expressão mais ampla. E, para fazer isso, precisamos estar conscientes de que fazer o bem não é fácil. Basta começar a fazê-lo e vamos encontrar toda sorte de dificuldade. Desse modo, se alguém pensa que pode ser bom sem sacrifícios, está totalmente enganado. Jesus ilustrou essa situação quando comparou a porta estreita com a porta larga, dizendo que a larga é a porta da perdição. Assim, se você quer mudar, vai ter que fazer coisas que, a princípio, não lhe agradam. Fazer somente coisas agradáveis não muda ninguém; é como passar somente por portas abertas, sem necessidade de abrir nenhuma. A mudança requer reação, e reação só existe quando há situações desagradáveis a enfrentar. Fazer o que todo mundo faz, ser o que todo mundo é, seguir a rotina da vida sem fazer algo especial, deixar-se levar pelos acontecimentos - nada acrescenta ao mundo. Aqueles que contribuíram para o bem da humanidade, inclusive Jesus, fizeram o que outros não tinham coragem de fazer.

NECESSIDADE DA REENCARNAÇÃO

Se a nossa vida, aqui na Terra, é cheia de dificuldades, se erramos mais do que acertamos e portanto estamos contraindo sempre mais dívidas, não seria melhor do que o Espírito não reencarnasse e que progredisse vivendo somente no mundo espiritual”?

Neste caso, nós teríamos que modificar a Lei de Deus, certamente. A Doutrina Espírita nos mostra que o progresso do Espírito depende da reencarnação, ou seja, das vidas sucessivas nos diferentes mundos. Não é difícil perceber a racionalidade desse processo, observando como se deu a evolução dos seres vivos na Terra. Na obra EVOLUÇÃO EM DOIS MUNDOS, de André Luiz, percebemos a beleza desse caminhar evolutivo, que veio da ameba ao homem, num trabalho construtivo e paciente de bilhões de anos. Essa longa escalada de progresso é qualquer coisa de extraordinário, que vai mostrando como tudo, na natureza, se realiza de uma forma perfeita e tranqüila. Tudo é um trabalho e transformação. Tudo, que Deus fez, é para transformação, nunca para a estagnação. Se você quiser obter uma colheita de feijão, terá que semear feijão. Porque temos que colocar a sementinha no seio da terra, cuidar dessa terra e da planta que surge depois, para colher futuramente o fruto de nosso trabalho? O mesmo acontece em relação ao Espírito, quer precisa vir à Terra para passar por transformações, sofrer as vicissitudes da vida, conhecer experiências e lutas, sonhar e estabelecer metas, aprender e ensinar, viver e amar nas relações mais difíceis de convivência. E assim como a sementinha do feijão, despertada na sua intimidade pelas condições do solo, germina e cresce, torna-se planta e produz, o Espírito precisa vir à Terra para estagiar e aprender na busca de seus gloriosos destinos. O segredo da reencarnação está no seguinte: cada um de nós faz-se a si mesmo. Cada um constrói o seu próprio caminho, vive suas próprias experiências, conquista seus próprios méritos, sem se desvincular do esforço coletivo para o bem da Humanidade. Isso porque o que se busca é a perfeição e essa perfeição será necessariamente uma conquista individual, e ao mesmo tempo coletiva, no bojo da qual encontra-se o que chamamos de felicidade. Na natureza, nada é de graça, tudo é conquista, o que significa dizer que tudo tem o seu valor e o seu preço.

O BEM FORÇADO

Para a lei de ação e reação existe mérito para aquela pessoa que foi forçada por alguém a praticar uma boa ação?”

O Espiritismo, como sempre, segue o princípio da racionalidade ou do bom senso. O bem verdadeiro e pleno é aquele que é praticado pela livre vontade do agente, ou seja, é aquele que é praticado sem segundas intenções. “Não saiba a vossa esquerda o que faz a tua direita” - disse Jesus. Portanto, esse é o bem ideal, o bem pleno, o bem - vamos dizer assim - perfeito. Logo, o bem completo é aquele que é feito com o objetivo exclusivo de beneficiar a pessoa que está sendo ajudada. Mas isso não quer dizer que o bem, feito de um outro modo, não tenha valor. Pode ter, pode não ter - depende de cada caso e mesmo da dinâmica de cada situação. Vamos dar um exemplo para ficar mais clara a nossa posição. Atualmente, dentro da lei de execução penal brasileira, existe o serviço à comunidade que o condenado pode ser compelido a prestar. Assim, pequenos delitos ou crimes de menor gravidade, por implicarem em sanções mais leves, dão margem a que os juízes sentenciem o condenado a prestar serviço à comunidade - a uma instituição assistencial, por exemplo - durante um determinado tempo, que é a duração da pena. As penas convertidas em serviço à comunidade têm um duplo objetivo. Primeiro objetivo: a prestação do serviço em si, que vai trazer algum benefício social, uma forma do condenado ressarcir prejuízos causados, devolvendo à sociedade o que dela tirou. Segundo objetivo: o fato de dar ao sentenciado a oportunidade de reabilitação, intengrando-se numa atividade que vai ajudá-lo a desenvolver sua capacidade de trabalho e doação. É claro que, prestando tal serviço, é possível, em certos casos, que ele venha a incorporar novos valores à sua vida, tome gosto no que faz, aprenda a ver a vida por outro prisma e desenvolva a capacidade de doação por uma causa nobre. Vendo desse ângulo, podemos imaginar como um bem, inicialmente forçado e aparentemente sem valor moral, pode, às vezes, se transformar num bem verdadeiro, autêntico, real. E, neste caso, a pessoa do sentenciado reuniu méritos, aprendendo a redirecionar sua vida para algo realmente construtivo do ponto de vista social e espiritual. Além do mais, precisamos considerar, ainda, que toda pessoa, quando beneficiada por alguém, acaba por reconhecer o bem recebido e se torna moralmente devedora daquele que a beneficiou. Portanto, há sempre algum mérito em fazer o bem.

Jornalista responsável:
Zancopé Simões (Reg. 10.162)  

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