SEGUNDA PARTE
DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITAS
CAPITULO V
MANIFESTAÇÕES FÍSICAS ESPONTÂNEAS
Estudo 41
- Itens 111, 112 e 113 - Teoria da Alucinação.
A seguir, apresentamos definições
da ciência sobre a alucinação e, concluindo os estudos das
Manifestações Visuais, apresentamos a análise científica de Allan Kardec
contida na Teoria da Alucinação.
Alucinação:
percepção sem estímulo externo a qual pode ocorrer em qualquer campo sensorial:
auditivo, visual, olfativo, gustativo e tátil.
É
uma sensação, implicitamente vivida pelo indivíduo em/ou de um objeto no mundo
externo, mas que na realidade gera-se nele próprio.
Observadas
as mais das vezes, em psicoses, as alucinações também podem ocorrer por efeito
de certas drogas e substâncias tóxicas e por irritação mecânica de certas áreas
do cérebro como parte de síndromes orgânicas cerebrais.
Em
pessoas saudáveis, podem ocorrer alucinações na hipnose e em estados parciais
de sono. Em geral, são projeções de desejos e conflitos profundos. (ver
BlaRiston - Dicionário Médico, 2ª ed).
Teoria da
alucinação na visão espírita.
Analisando
criteriosamente o assunto, Allan Kardec explica que os que não admitem o mundo
incorpóreo e invisível julgam tudo explicar pela palavra alucinação. Esta palavra exprime o engano,
a ilusão de quem pensa ter percepções que realmente não tem. Origina-se do
latim allucinari, errar, que vem de ad lucem. Mas os sábios ainda não
apresentaram, que o saibamos, a razão fisiológica desse fato.
As
explicações dadas pela Ótica e pela Fisiologia, ainda não esclarecem a natureza
e a origem das imagens que se mostram ao Espírito em dadas circunstâncias. Tudo
querem explicar pelas leis da matéria; forneçam então, com o auxílio dessas
leis, uma teoria, boa ou má, da alucinação. Sempre será uma explicação.
A
causa dos sonhos, a ciência atribui a um efeito da imaginação; mas, não nos diz
o que é a imaginação, nem como esta produz as imagens tão claras e tão nítidas
que às vezes nos aparecem. Consiste isso em explicar uma coisa, que não é
conhecida, por outra que ainda o é menos. A questão permanece.
Dizem
ser uma recordação das preocupações no estado de vigília. Porém, mesmo que se
admita esta solução, que nada resolve, ainda restaria saber qual é esse espelho mágico que conserva assim a impressão
das coisas. Como se explicar, sobretudo, essas visões de coisas reais jamais
vistas no estado de vigília e nas quais jamais se pensou? Só o Espiritismo nos
pode dar a chave desse estranho fenômeno que passa despercebido por ser muito
comum, como todas as maravilhas da Natureza que menosprezamos.
Os
sábios não quiseram ocupar-se com a alucinação, mas quer seja real ou não,
constitui um fenômeno que a Fisiologia deve poder explicar, sob pena de
confessar a sua incompetência. Se, um dia, algum sábio resolver dar não uma
definição, mas uma explicação fisiológica veremos se a teoria resolve todos os
casos, se não omite os fatos tão comuns de aparições de pessoas no momento da
morte, se esclarece a razão da coincidência da aparição com a morte da pessoa.
Se fosse um fato isolado, se poderia atribuí-lo ao acaso, mas como é bastante
freqüente, o acaso não o explica. Se aquele que viu a aparição houvesse tido a
idéia de que a pessoa estava para morrer... Mas a aparição é, na maioria das
vezes, da pessoa de quem menos se pensa: a imaginação, portanto, nada tem com
isso.
Os
partidários da alucinação dirão que a alma (se é que admitem uma alma) tem
momentos de superexcitação em que suas faculdades são exaltadas. Estamos de
acordo, mas quando o que ela vê é real, não há ilusão. Se na sua exaltação a
alma vê à distância, é que ela se transporta; e, se ela pode se transportar,
por que a da outra pessoa não se transportaria para nos ver? Que na teoria da
alucinação levem em conta esses fatos, não se esquecendo de que uma teoria a
que se podem opor fatos que a contrariem é necessariamente falsa ou incompleta.
Aguardando
a explicação que venham a oferecer, Allan Kardec afirma: provam os fatos que há
aparições verdadeiras, que a teoria espírita explica perfeitamente e que só
podem ser negadas pelos que nada admitem fora do organismo. Mas ao lado dessas
visões reais existem alucinações, no sentido que se dá a essa palavra? Não se
pode duvidar. Qual a sua origem? Os Espíritos é que vão esclarecer-nos sobre
isso, porquanto a explicação, parece-nos, está toda nas respostas dadas às
seguintes perguntas:
a)
As visões são sempre reais ou são algumas vezes efeito da imaginação? Não
serão, algumas vezes, efeito da alucinação? Quando vemos em sonho, ou de outra
maneira, o diabo, ou outras coisas fantásticas, que não existem, não será isso
um produto da imaginação?
— Sim, algumas vezes, quando dá
muita atenção a certas leituras, ou a histórias de feitiçarias, que
impressionam, a pessoa, lembrando-se mais tarde dessas coisas, julga ver o que
não existe. Mas, também, já temos dito que o Espírito, sob o seu envoltório
semimaterial, pode tomar todas as formas para se manifestar. Pode, pois, um
Espírito brincalhão aparecer com chifres e garras, se o quiser, para
divertir-se à custa da credulidade daquele que o vê, do mesmo modo que um
Espírito bom pode mostrar-se com asas e com uma figura radiosa.
b)
Podem-se considerar como aparições os rostos e outras imagens que, muitas
vezes, se mostram, quando cochilamos ou simplesmente quando fechamos os olhos?
— Desde que os sentidos entram em
torpor, o Espírito se desprende e pode ver longe, ou perto, aquilo que lhe não
seria possível ver com os olhos. Muito freqüentemente, tais imagens são visões,
mas também podem ser efeito das impressões que a vista de certos objetos deixou
no cérebro, que lhes conserva os vestígios, como conserva os dos sons.
Desprendido, o Espírito vê nos seu próprio cérebro as impressões que aí se
fixaram como numa chapa fotográfica. A variedade e a mistura dessas impressões
formam os conjuntos estranhos e fugidios, que se apagam quase imediatamente,
ainda que se façam os maiores esforços para retê-los. A uma causa idêntica se
devem atribuir certas aparições fantásticas que nada têm de reais e que muitas
vezes se produzem durante uma enfermidade.
Admite-se que a memória
seja o resultado das impressões conservadas pelo cérebro, mas, por qual
fenômeno essas impressões tão variadas e múltiplas não se confundem? Mistério
impenetrável, porém, não mais estranho que o das ondas sonoras, que se cruzam
no ar e que se conservam distintas. Num cérebro são e bem organizado, essas
impressões se revelam nítidas e precisas; num estado menos favorável, elas se
apagam e confundem; daí a perda da memória, ou a confusão das idéias. Ainda
menos extraordinário parecerá isto, ao se admitir, como se admite, em
frenologia, uma destinação especial a cada parte e, até, a cada fibra do
cérebro.
As
imagens transmitidas ao cérebro pelos olhos deixam ali sua impressão, que
permite lembrar-se de um quadro como se ele estivesse presente, embora se trate
de uma questão de memória, pois nada se vê. Ora, em certos estados de
emancipação, a alma vê o que está no cérebro, onde torna a encontrar aquelas
imagens, sobretudo as que mais o chocaram, segundo a natureza das preocupações,
ou as disposições íntimas. E assim que reencontra a impressão de cenas
religiosas, diabólicas, dramáticas, mundanas, figuras de animais esquisitos,
que ela viu outrora em pinturas ou ouviu em narrações, porque também as
narrativas deixam impressões. Assim, a alma vê realmente, mas, apenas uma
imagem fotográfica no cérebro.
No
estado normal, essas imagens são fugidias, efêmeras, porque todas as secções
cerebrais funcionam livremente, ao passo que, a doença, o cérebro enfraquece, o
equilíbrio entre todos os órgãos deixa de existir, conservando somente alguns a
sua atividade, enquanto que outros se acham de certa forma paralisados. Daí a
permanência de determinadas imagens, que as preocupações da vida exterior não
mais conseguem apagar, como se dá no estado normal. Essa a verdadeira
alucinação e causa primária das idéias fixas.
Como se vê, explicamos
esta anomalia por uma lei fisiológica muito conhecida, a das impressões
cerebrais. Porém, foi sempre necessário fazer intervir a alma. Ora, se os
materialistas ainda não puderam apresentar uma explicação satisfatória desse
fenômeno, é porque não querem admitir a alma. Por isso mesmo, dirão que a nossa
explicação é má, pois nos apoiamos num princípio que é contestado. Mas contestado
por quem? Por eles, mas admitido pela maioria dos homens, desde que há homens
na Terra. A negação de alguns não pode constituir lei.
Nossa
explicação é boa? Damo-la pelo que possa valer na falta de outra, e, se
quiserem, a título de simples hipótese, enquanto outra melhor não aparece; ela
pode explicar todos os casos de visões? Certamente que não. Contudo, desafiamos
os fisiologistas a apresentarem uma que explique todos os casos. Porque nada
apresentam quando pronunciam as palavras - superexcitação e exaltação. Assim
sendo, desde que todas as teorias da alucinação se mostram incapazes de
explicar os fatos, é que alguma outra coisa há, que não a alucinação
propriamente dita. Seria falsa a nossa teoria, se a aplicássemos a todos os
casos de visão, pois que alguns poderiam contradizê-la. Pode ser legítima, se
aplicada a alguns efeitos.
E
concluímos o estudo do capítulo VI, transcrevendo as observações de Herculano
Pires, tradutor de O Livro dos Médiuns, ao término desse capítulo:
"As
teorias atuais da alucinação referem-se em geral a alterações do sistema
nervoso, com excitações dos neurônios sensoriais, especialmente os da visão e
da audição. Insiste-se na explicação fisiológica de todos os caso. Mas a
recente aceitação científica dos fenômenos paranormais abriu novas perspectivas
nesse campo. Os casos referidos por Kardec são aceitos como de natureza
extrafísica por toda a escola de Rhine e mesmo as escolas fisiológicas admitem
a veracidade das percepções à distância, da transmissão do pensamento, das
previsões e da retrocognição ou visão do passado. A alma, como afirma, Allan
Kardec, mostra-se novamente indispensável à formulação de uma teoria
satisfatória da alucinação".
BIBLIOGRAFIA:
KARDEC, Allan - O Livro dos
Médiuns: 2. Ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap VI - 2ª Parte.
KARDEC, Allan - Revista Espírita,
julho de 1861: EDICEL - Ensaio sobre a Teoria da Alucinação e Variedades: As
visões do Sr. O.
Tereza
Cristina D'Alessandro
Dezembro
/ 2004
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