SEGUNDA PARTE
DAS MANIFESTAÇÕES
ESPIRITAS
CAPITULO V
MANIFESTAÇÕES FÍSICAS ESPONTÂNEAS
Estudo 38 - ENSAIO TEÓRICO SOBRE AS APARIÇÕES
Item 108
Allan Kardec prossegue estudando o fenômeno das aparições, agora fazendo
algumas considerações sobre um sistema - um conjunto de hipóteses para explicar
determinados fenômenos - especial para as manifestações visuais de Espíritos: o
sistema dos Espíritos glóbulos.
Segundo
este sistema, a visão de Espíritos por supostos médiuns nada mais seria do que
um fenômeno óptico, isto é, uma ilusão decorrente de uma falha da transmissão
da luz através dos órgãos receptores (de luz), o aparelho óptico. Essas
alucinações visuais limitam-se em geral à percepção de luzes, cores, pontos
luminosos ou escuros no campo visual, o que diferirá das alucinações de ordem
neuropsiquiátricas, que consistem na visão de objetos conhecidos ou não, com
forma, cor, tamanho, profundidade e até movimentos bem definidos. Esse tipo de
alucinação será estudado a seguir, ainda neste capítulo de O Livro dos Médiuns.
Considerando
agora o aparelho óptico que nos permite enxergar, observaremos que sua função é
a de captar a luz ambiente irradiada por fontes primárias - que possuem luz
própria - ou secundárias - que refletem a luz de fontes primárias. Além disso,
o sistema óptico deve transformar as informações luminosas em impulsos
elétricos (neurais) para o sistema nervoso e, daí, reconstruir psiquicamente a
informação visual para o Espírito.
Para essa função, destaquemos algumas estruturas importantes: o globo
ocular, o nervo óptico e o cérebro. No globo ocular, observamos alguns
componentes importantes para a captação e adaptação dos raios luminosos do meio
externo para sua posterior decodificação (veja figura 1)
Alguns raios luminosos emitidos pelo objeto são captados pelo globo
ocular. Atravessam a córnea, uma estrutura altamente transparente, cuja função
é servir de um meio refratário para direcionar corretamente os raios luminosos
para a pupila (a "menina dos olhos"). Esta é a abertura da íris, cuja
função é regular o grau de dilatação do orifício pupilar, ou seja, abrir a
pupila num ambiente escuro e retraí-la num ambiente muito claro.
Figura 1: captação
dos raios luminosos pelo globo ocular e a formação da imagem na retina
Passando pela pupila, os raios luminosos atingem a retina, o componente
fundamental para a transdução do sinal luminoso em impulso nervoso (elétrico).
Nesse trajeto, a luz é conduzida por dois meios líquidos: o humor aquoso, da
córnea à íris e o humor vítreo, da íris à retina. A retina é a camada mais
interna do globo ocular, composta de dez subcamadas de células, que captam a
imagem reproduzida e a convertem em impulsos eletrofisiológicos às fibras
nervosas, com as quais está conectada. Estas se reúnem num só feixe, formando o
nervo óptico, um de cada lado, que seguem para cérebro. Depois de algumas
"estações cerebrais", a informação visual chega ao córtex cerebral, no
pólo occipital, chamado justamente de córtex visual (veja figura 2). As
informações então são processadas e integradas para gerar a sensação de forma,
cor, profundidade e movimento.
Figura 2: formação da
imagem da retina para o córtex visual (pólo occipital do cérebro)
Dessa forma, para a formação da imagem na retina e daí para o cérebro é
necessário que todas as estruturas estejam íntegras e funcionantes. Se ocorrer
alguma perturbação (leve ou importante), a imagem pode não se formar
perfeitamente. Além disso, estímulos mecânicos ou de outra ordem podem gerar
estímulos sobre essas vias, não necessariamente relacionados com uma fonte
luminosa real. Porém a sensação será visual. Essa é a base para as ilusões ou
alucinações visuais de natureza óptica.
O
Codificador do Espiritismo, no item 108 de O Livro dos Médiuns, aponta algumas
explicações para a formação dessas imagens estranhas e sem significados.
Menciona Allan Kardec, "discos luminosos", "moscas
amauróticas", "centelhas", etc. Hoje, a semiotécnica também
menciona "moscas volantes", "escotomas" e outros.
Em
verdade, todos os dias ocorrem espontânea e fisiologicamente fenômenos ópticos,
muito aproveitados por "ilusionistas" em apresentações públicas. As
centelhas ou moscas volantes podem ser decorrentes do excesso de luminosidade
do ambiente, quando as pupilas ainda não se fecharam suficientemente. Um
"ponto cego" todos possuem no ponto da retina para onde convergem as
fibras ópticas para formar o nervo óptico (disco do nervo óptico). Em geral
esses tipos de fenômenos são extremamente transitórios ou o córtex adaptou-se a
ponto de suprimi-los.
Obviamente,
acometimentos patológicos da córnea, íris, humor aquoso ou vítreo, retina,
nervo óptico e córtex visual podem provocar sinais e sintomas típicos,
clinicamente diagnosticados. Escotomas ou manchas negras no campo visual
sugerem uma provável lesão da retina ou dos nervos ópticos; moscas volantes,
pontos luminosos duradouros ou "chuviscos" sugerem hipertensão
intracraniana; além de muitos outros.
De
qualquer forma, e seja lá o que for, essas imagens, por mais que se movam ou
façam piruetas no campo visual, estão longe de ser fenômenos mediúnicos. Todo
efeito mediúnico possui como causa um ser espiritual inteligente que se
manifesta com alguma intenção. "Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente",
dizia Allan Kardec, e "todo efeito sem inteligência tem uma causa não
inteligente". Assim, essas ilusões ópticas grosseiras jamais poderão ser
confundidas com fenômenos mediúnicos, inteligentes e intencionais. É
preferível, pois, restringir-se a observar com cautela antes de especular, para
não alimentar os incrédulos, "já naturalmente dispostos a procurar o
ridículo".
BIBLIOGRAFIA:
KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns: 2.ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap VI - item 108
- 2ª Parte
PORTO, Celmo Celeno - Semiologia Médica. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001 -
Cap. 11, 12 e 13
Matheus Artioli Firmino
Outubro / 2004
Outubro / 2004
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