*O LIVRO DOS
ESPÍRITOS* Estudo de:
Eurípedes Kühl
PARTE QUARTA - Das esperanças e
consolações
CAPÍTULO I — DAS PENAS E GOZOS
TERRENOS - (questões 920 a 957)
*1.5 – Temor da morte - (questões 941 e 942)*
Temer a morte expõe
desconhecimento da imortalidade do Espírito e das vidas sucessivas. Educação
infantil veiculando a existência de céu e inferno fará com que, na fase adulta,
o homem que viu e vê tantos dissabores no mundo (nunca nos esquecendo que
estamos num “mundo de provas e expiações”) terá mesmo arraigado à mente o medo
de morrer... e de ir para o inferno.
O justo e caridoso
jamais abriga receio de morrer. A fé no futuro o ampara.
O que se entrega aos prazeres mundanos
bem cedo se depara com a temporalidade deles e aí sua alma se desgoverna diante
do desconhecido para o qual a vida física inexoravelmente lhe conduz: a morte.
*1.6 – Desgosto da vida. Suicídio - (questões 943 a 957)*
A ociosidade responde
pela maioria das pessoas que se desgostam da vida.
O trabalho, ao
contrário, é forte antídoto contra essa fraqueza.
A Vida é supremo bem
e dela só há um dispenseiro: Deus! Assim, só a Ele assiste direito sobre ela. A
transgressão desse direito caracteriza, ou insensatez ou loucura, humanas.
Pensar que a morte abre as portas para vida melhor: outra loucura.
Se o suicídio foi
fomentado (e nós espíritas não desconhecemos que via de regra isso acontece,
quando não por parte de encarnados, seguramente sob infeliz assessoria de
desencarnados...) os que o aconselharam ou induziram pagarão caro por isso.
Conquanto o suicida não deixe de ser um transgressor das Leis Divinas, perante
a Justiça Maior aqueles são considerados assassinos.
Fugir da vida,
deixando-se morrer de fome por causa de penúria, ou para livrar-se de vergonha
pública, expõe fragilidade moral no primeiro caso e império do orgulho, no
segundo.
São tantas as hastes
do “leque suicídio” que somente mesmo Deus pode ajuizar e abrandar culpa, já
que conhece integralmente a intenção do suicida.
Não expor a si mesmo
ou aos familiares à vergonha e fugir da vida caracteriza que esse infeliz mais
contemplou o apreço terreno, em detrimento do celestial.
Perder a vida
objetivando unicamente salvar a de outrem expõe grandeza espiritual.
OBS: Tal fato pode
acontecer em duas hipóteses: num ato reflexo, como por exemplo na iminência de
um acidente com alguém, ou, num segundo caso, após demorada reflexão; mas será
sempre prudente ajuizar que ao invés de tal sacrifício melhor seria prestar
atendimento com sua vida e não com sua morte.
Paixões e vícios que
levem à morte, que claramente não ocorreria se inexistissem, caracterizam
suicídio moral, ou suicídio indireto. De minha parte considero que se pode,
ademais e com segurança, enquadrar todos os excessos nessa categoria.
A eutanásia, em
qualquer circunstância, não tem amparo nas Leis de Deus. Sua prática acarretará
culpa para os agentes e, eventualmente, para o que a solicitou ou mesmo a
aceitou, passivamente. E toda culpa requer reparação...
*OBS: Faço e abro
aqui uma reflexão, quanto à questão nº 954:*
[— Será condenável
uma imprudência que compromete a vida sem necessidade?
“Não há
culpabilidade, em não havendo intenção, ou consciência perfeita da prática do
mal”].
Eis a reflexão:
quando uma pessoa se dedica, por paixão ou por dinheiro ( ou pelos dois) à
prática de atividades de alto risco (autos velocíssimos, esportes radicais e
quebra de recordes, etc.) e disso resulta sua morte, muitos indagam: houve ou
não suicídio, mesmo que indireto?
Deixo ao leitor a
resposta. A minha é sim. De antemão me penitencio se estiver equivocado.
Há suicídios
provocados por costumes arraigados em várias sociedades:
mulheres que se queimam sobre os corpos dos
maridos;
aviadores militares que projetam seus aviões
contra alvos inimigos;
autoridades, nobres ou políticos que cometem
deslizes ou falcatruas e que são descobertos pela sociedade a que pertencem;
encarregados de determinada missão na qual
contavam com a vitória e que sem que possam impedir ela fracassa, disso
julgando-se responsáveis diretos.
OBS: Aqui mesmo, no
Brasil, vários são os casos de suicídio de índios, deprimidos ante a perda de
seus costumes, motivada pelas transformações decorrentes do avanço da moderna
civilização.
A Revista VEJA de 22
de fevereiro de 2006 estampa reportagem sobre um fenômeno que assombra o Japão:
internautas que usam a rede (Internet) para tramar suicídios coletivos. Em 2003
foram 34 pessoas que suicidaram nesse sinistro tipo de pacto; já em 2004 foram
55 e em 2005 foram 91.
Como sempre, aos
olhos de Deus não deixam de ser transgressores, mas, no caso, tudo leva a crer
que há atenuantes, seja pela ignorância moral de toda a sociedade a que
pertencem, seja pelo preconceito e pressão que essa mesma sociedade impõe aos
seus membros.
Todo suicídio se
reveste de equívoco, oriundo da falta de fé no futuro e desconhecimento do Amor
de Deus para com Seus filhos.
Pessoas há que se
matam após a perda de um ente amado, na expectativa de que assim procedendo
irão a ele se juntar. Penosa ação. Terrível erro.
Em qualquer suicídio
há uma realidade da qual nenhum suicida escapa: o desapontamento, ao constatar
que ao invés de resolver um problema, na verdade acrescentou para si mesmo um
outro, quiçá muito maior.
Cada suicídio se
reveste de circunstâncias especiais, em muitos casos havendo diferentes
efeitos. Nos casos de mortes violentas, em geral, com a brusca interrupção da
existência terrena, os laços que unem o perispírito ao corpo físico não se
desfazem por completo. A terrível conseqüência disso para o suicida será a
nítida impressão de que está vivo, só que o tormento do momento da morte não se
desfaz, daí resultando inenarrável sofrimento...
Até mesmo a
decomposição orgânica será testemunhada e mais que isso, partilhada, carreando
horror indescritível.
Não há suicídio sem expiação, esta em
diferentes gradações.
*Considerando
a gravidade do tema “suicídio”, peço permissão para aduzir às reflexões acima
trechos de um artigo que a propósito elaborei:*
a. Todas as
civilizações ocuparam-se em estudar o suicídio, isso porque em todas elas ele
ocorreu e vem ocorrendo, desde os tempos antigos;
b. A moderna
Psicologia considera difícil determinar as causas da maioria dos suicídios,
podendo apenas explicitar vertentes dos casos de crises agudas, delirantes, ou
flagrantes de ruina. Assim, evitá-lo com plena consciência, ou convencer outrem
a não cometê-lo, nem sempre é tarefa fácil. Não obstante, existem Entidades
filantrópicas voltadas exclusivamente para isso.
c. Já o Espiritismo,
porém, radiografa integralmente o suicídio, ampliando substancialmente o tema,
propiciando reflexões úteis, não só para os suicidas em potencial, como também
para todos aqueles que caridosamente queiram e possam ajudá-los, com argumentos
racionais, impeditivos de tão equivocada "solução". Para tanto:
1°
- torna visíveis as nubladas causas que o cercam (reflexos de vidas passadas,
distanciamento do Evangelho, desconhecimento da reencarnação, etc.);
2°-
apresenta meios seguros de defesa contra tão grande anomalia espiritual: a
prece, o principal deles, além do amparo de um anjo guardião, pessoal;
3°-
sugere a solidariedade para com aquele que sinaliza o desejo de se matar,
através de ensinamentos espirituais convincentes;
4°
- de forma racional, lógica, esclarece o que é e adverte sobre os riscos do
quase sempre ignorado "suicídio indireto", aquele que é cometido sem
intenção, mas com inteira responsabilidade de quem o pratica (vícios,
intemperança e excessos de toda natureza).
*"CAUSAS
PRIMÁRIAS" E "CAUSAS SECUNDÁRIAS" DO SUICÍDIO*
Separadas ou juntas,
tais causas resultam na depressão — tristeza profunda e prolongada
—(doença que sempre acometeu o homem), atualmente cognominada de doença do
século.
E da depressão ao
suicídio... um passo.
É fato comprovado que
a maioria dos suicidas, senão todos, deram e dão "sinais indiretos" —
avisos —, de que pretendem se matar. Captar tais sinais nas pessoas à sua volta
e envidar todos os esforços para que isso não aconteça, esse o dever não apenas
do cristão, mas que se impõe a todos.
É fato também que nem
todas as pessoas que são atingidas por crises ou que apresentam tais sinais,
irão sequer pensar no suicídio, tentando, isto sim, soluções racionais para os
problemas.
A seguir, eis alguns
desses sinais, que podem levar algumas pessoas a desvalorizar a vida:
Causas primárias - que
podem ser consideradas indutoras ao suicídio:
- Decepções /
Frustrações: diante de perdas (amorosas, profissionais, familiares)
- Dificuldades
financeiras (endividamento, insolvência / crises inopinadas no mercado, etc.)
- Desemprego (perda
abrupta ou continuada)
- Solidão / Tédio:
ausência de objetivos existenciais
- Doenças graves :
busca de "ida" para um lugar sem dor
- Vícios: alcoolismo
/ toxicomania / jogar compulsivamente, com perdas irreparáveis
- Neuroses:
auto-piedade exacerbada do tipo : "todo mundo está contra mim"
- Psicoses: suicídio,
como vingança, para fazer sofrer alguém ("os que ficam")
- Receio manifesto de
ser preso, após ter cometido delitos graves
- Materialismo
acentuado: desconhecimento da imortalidade do Espírito
b.
Causas secundárias - manifestas por diversos sintomas, tais como:
- Queda de produção
do trabalho ou do rendimento escolar
- Mudanças súbitas de
comportamento e/ou de personalidade
- Descuidos com:
compromissos / horários / a aparência física, etc.
- Sinais de
(auto)mutilação
- Choro ou risos
inexplicáveis / falta ou excesso de apetite / sonolência ou insônia
- Uso de álcool e/ou
de drogas ilegais ou mesmo uso exagerado de remédios
- Distanciamento de
amigos e familiares
- Frases do tipo: "não agüento
mais viver assim"; “... prefiro morrer"; "essa vida é uma
droga".
*ANTÍDOTO CONTRA O
SUICÍDIO*
Três são os poderosos
antídotos contra o suicídio:
1°- Amizade:
oferta solidária de ajuda, feita por aquele que perceber o estado alterado de
pessoa do seu relacionamento (apresentando depressão), com ou sem histórico de
suicidomania;
2°- Calor humano:
acompanhamento desinteressado, sincero e fraternal durante a crise desse
alguém, mostrando a ele que não está sozinho, que pode contar com seu apoio
incondicional;
3°- Espiritualização:
o mais eficaz de todos os antídotos.
Compreende,
basicamente, a exposição da visão espírita da existência de todos nós:
-
O homem não é apenas o corpo físico: o verdadeiro ser é o Espírito, imortal!
-
O Espírito é criado "simples e ignorante" por Deus, para progredir e
ser feliz
-
O Espírito evolui através de várias vidas (reencarnação)
-
A Justiça Divina faz com que todos sejam iguais - deveres e direitos
-
A Lei de Ação e Reação, que expressa a Justiça Divina, faz com que "a cada
um, seja dado segundo suas obras", isto é, tudo o que nos envolve ou nos
alcança é fruto que estamos colhendo, de nossas próprias pretéritas plantações
-
Berço e túmulo — nascimento e morte — são episódios inúmeras vezes repetidos
pelo Espírito imortal, na senda do progresso moral, consubstanciada na Lei
Divina de Evolução
-
A descrença no Amor a Deus sobre todas as coisas, e a falta de amor ao próximo
como a si mesmo, trazem dificuldades vivenciais, gerando débitos conscienciais,
que cedo ou tarde terão que ser resgatados; as vidas múltiplas ensejam tal
resgate, que se manifestam ora por expiações (sofrimentos), ora por provações
(testes de comportamento moral)
-
A Vida é sublime oportunidade de crescimento, através de aprendizados
-
A prática desses aprendizados nos proporcionará paz ou sofrimentos, conforme
exercitemos o Bem ou o Mal, respectivamente
-
Sofrimentos são resultantes de nossos erros, geratrizes de débitos, que também
nós próprios, cedo ou tarde, iremos pedir a Deus a oportunidade de resgatá-los
-
O Amor de Deus é tanto que Ele nos concederá tantas oportunidades quantas sejam
necessárias; tais oportunidades se manifestarão na proporção direta do
merecimento alcançado através do arrependimento sincero e da vontade inabalável
de reconstrução moral
-
O suicídio, como busca de solução para qualquer crise ou problema, é o mais
equivocado dos caminhos, eis que, longe de resolvê-los, na verdade aumenta-os
devastadoramente
-
Testemunhos de Espíritos que suicidaram demonstram que seus problemas
permaneceram "do lado de lá", aliás, com gravames quase que
insuportáveis
-
A tendência atual para o suicídio, em muitos casos, reflete atavismo (a pessoa
já o terá cometido em vidas passadas e agora surge a tendência a essa anomalia
comportamental)
-
Há sempre a possibilidade de influências obsessivas, induzindo/incentivando o
suicídio
-
O Tempo — para quaisquer problemas — é bênção máxima, capaz de resolver, a
contento, todos eles. Jamais houve um único problema que o Tempo não
resolvesse!
- A confiança
no Amor de Deus e na Caridade de Jesus, expressa pela fé, em oração, é o mais
eficaz meio de administrar a crise, por mais trágica que ela possa parecer.
*Leituras a serem
sugeridas àqueles que tentaram ou pensam no suicídio:*
a.
"O Céu e o Inferno", de Allan Kardec (2ª Parte - Exemplos, Cap V -
Suicidas), registrando os depoimentos pungentes de 9 (nove) Espíritos
suicidas;
b.
"Memórias de um Suicida", do Espírito C.C.Branco, psicografia de
Yvonne do Amaral Pereira, edição da Federação Espírita Brasileira.
c. "Viver Ainda é a Melhor Saída", de
Jacob Melo, Edit. Mnêmio Túlio.