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sexta-feira, 7 de setembro de 2018

OS INTIMORATOS


INFORMAÇÃO ESPÍRITA

PANORAMA


OS INTIMORATOS

Churchil,na última grande guerra, teve uma frase que passou para a história: “Nunca tantos deveram tanto a tão poucos”. Ele se referia ao denodo e coragem dos aviadores da Real Força Aérea Britânica que, defendendo a pátria, tratavam a célebre batalha da Inglaterra, sustando a fúria conventrizadora da então invencível Lufwaffe alemã. Quem então comandava estes heróicos “tão poucos” era o Lord Hugh Dowding, Marechal do Ar, que desempenhou assim o papel de Nelson na luta contra Napoleão.

Lord Dowding, no entanto, sofreu possivelmente muito mais do que se possa imaginar diante daqueles quadros verdadeiramente dantescos, em que os seus melhores homens, jovens ainda com uma vida cheia de promessas ou pais e maridos afetuosos, deviam decolar, sem qualquer certeza de volta. Foram justamente estes que não mais voltaram, aqueles que imprimiram na personalidade do festejado herói, uma direção que ninguém imaginaria: voltou-se para o Espiritismo e fez da sua propagação o motivo da sua existência, ao invés de recolher os louros em forma de incensação pessoal. Sua esposa, Lady Dowding colocou-se ao seu lado como capacitada conferencista espírita, conseguindo arrastar para o Albert Hall milhares de pessoas ávidas de ouvi-la.

Lord Dowding começou a receber mensagens de soldados mortos que as enviavam, principalmente, através da médium Mrs. Hill, filha do Cel. Gascaigne, veterano de Khartoum. Lord Dowding não engavetava tais comunicações do Além. Lia-as em lugares públicos e a imprensa noticiava, com respeito, em virtude da posição que aquele homem ocupava no coração de todos os ingleses. Assim, marinheiros, aviadores, soldados, começaram a contar ao público o que é que sentiram logo após o desencarne, causando tremendo impacto, destes que fazem o homem pensar. Um artilheiro, morto em batalha, diz: “O ruído da batalha perturbou-me, mas pouco depois, fiquei fresco como alface. Não mais senti qualquer incômodo. Era-me impossível acreditar que eu era o artilheiro, pois via o corpo todo esburacado e não acreditava. Tentei, em vão, arrastar o meu próprio corpo para longe da peça...”.

Outro combatente atingido em cheio, confessa: “Continuei lutando, não sabendo que tinha morrido, mas as granadas escapavam das mãos... e tudo tinha-me um sentido assim alucinatório.”

Certo aviador, abatido nos céus da França, acrescenta: “Só dei por fé, quando me vi de pé ao lado do avião destruído e dentro dos escombros o corpo de alguém. Quando fui libertar aquele cadáver dos escombros retorcidos verifiquei com horror que era eu próprio. eu havia saído fora do meu corpo...”.

Este intimorato herói de uma civilização, passou a assinar artigos de caráter espírita para órgãos publicitários, além de prestigiar todas as realizações neste sentido. O que levava a esta atitude era a necessidade que tinha de enxugar as lágrimas de tanta gente que perdera os seus entes queridos na guerra, em que fora um dos comandantes. Importava que o homem conhecesse a realidade da outra vida, acerca da qual ele não tinha absolutamente dúvida alguma e talvez que, em se alargando a concepção do homem, a consciência de eternidade e de destinos comuns a todas as raças, talvez que nunca mais se ferissem batalhas como aquelas apocalípticas de que participara e que marcara profundamente, o seu espírito.

Sir Arthur Conan Doyle, o celebrado autor de Sherlock Holmes, além do mais médico, antes de Dowding havia tomado a mesma decisão. Ele tinha um paciente importante, o General Drayson, professor do Colégio Naval de Greenwich, que o convidou para um trabalho mediúnico em sua casa. Desde aquele momento, Conan Doyle voltou-se para o Além e se pôs a espreita das suas vozes. Estudou com afinco, observou tudo e leu o que ninguém conseguiria fazer em toda a existência. Depois de 20 anos de estudo e observação, praticamente deixou a literatura e saiu pelo mundo a propagar o “novo espiritualismo”, ou seja, a doutrina espírita que afirma a continuidade da existência, a evolução do ser a possibilidade de intercomunicação entre os dois planos. Legou à humanidade uma obra monumental chamada “História do Espiritismo”, além de um trabalho, quase que confiteor, “A Nova Revelação”. A sua dedicação ao Espiritismo lhe teria causado um prejuízo ou queda nos seus rendimentos da ordem de duzentas mil libras! A respeito de Conan Doyle, disse Oliver Lodge: “Às vezes, penso que lhe faltou a sagacidade da serpente, mas a excelsitude a bondade que os motivaram foram derramados sobre todos que tiveram a ventura de ouvi-lo”. Eis, pois um intimorato e na hora de clamar, mesmo que seja no deserto ,os João Baptistas deverão fazê-lo, mesmo que as suas cabeças sejam oferecidas, numa salva de prata, às temperamentais e caprichosas Salomés.

OUTROS GRANDES CHAMADOS

Maurício de Maeterlink, que se imortalizou na literatura mundial, principalmente com “L’oiseau bleu”, conta que certa noite se encontrava na Abadia de Saint Wandrille, onde costumava passar o verão. Tirava, tranqüilo, baforadas do seu cachimbo, ao tempo que uns hóspedes recém-chegados, a pouca distância dele, distraíram-se ruidosamente com uma pequena mesa que se movia de um a outro lado, dentro de um alfabeto, respondendo voluntariosa a perguntas, na maioria fúteis, dos assistentes que
nada tinham a fazer.

O buliçoso grupo, solicitou a um espírito comunicante que se identificasse, ao que ele respondeu:

- Sou um monge do século XVII.

- Onde você morreu?

- Faleci aqui mesmo, nesta Abadia, e fui enterrado em 1693, na galeria oriental do claustro.

A um só tempo, todos os presentes tiveram a mesma idéia: muniram-se de candeeiros e dirigiram-se para a tal galeria oriental da qual ninguém ali conhecia coisa alguma. “Ao cabo da dita galeria - conta Maeterlink - se nos deparou uma pedra funerária, em muito mau estado, partida, na qual se podia decifrar a inscrição A. D. 1693”.

Prefaciando a obra de Maeterlink, a “A Morte”, o grande e conhecido filósofo Cândido de Figueiredo, pondera que aquele notável escritor era criatura profundamente melancólica e insubmissa. Foi em virtude de fatos assim, de caráter afirmativo da sobrevivência, que se lhe rasgou uma “nesga do céu azul e a crença e a esperança que, antes não tinha ele nenhuma, começaram a iluminar as suas excursões de pensador”.

A linguagem que comove um homem, faz rir a outro. Só é pueril o que não entendemos. A cada alma, o Alto reserva um tipo diferente de toque para tangê-la numa determinada direção, como o instrumentista escolherá a baqueta para tocar a bateria, e, o arco para fazer soar o delicado violino. Conheci um menino cujo avô montava-no e que fora ufanoso “bersaglieri” e que, por isso, o tirava da cama às quatro da manhã, com palavrões próprios de um sargento instrutor. O menino, assim, prontamente levantava e cumpria as suas obrigações. Se porém, a sua carinhosa mãe se encarregava de acordá-lo, com palavras ternas e carinhosas, ele dormia mais ainda.

A Ruy Barbosa, cognominado Águia de Haia, pelo fulgor da inteligência, sucedeu fato parecido com o de Maeterlink. Estavam descansando numa cidade balneária, Ruy, Atibaia Nogueira, Baptista Pereira e outras pessoas. Ruy se recolheu às tantas, aos seus aposentos, enquanto que o grupo se pôs a fazer o inocente jogo do copo. Neste tipo de ensaio mediúnico, o copo é colocado no meio de um alfabeto e o objeto se move, em ritmo desconcertante, apontando letras que um dos assistentes anota num papel. Era também no caso, uma maneira de passar o tempo. Quem liderava a brincadeira era nada menos que o insigne historiador Baptista Pereira, genro de Ruy. Em dado momento, porém, o copo começou a se mover de modo especial, pousando em letras que reunidas não expressavam nada em português! Verificaram estupefatos que aquela comunicação estava vazada no melhor inglês e ela se dirigia particularmente a Ruy Barbosa. Passemos a palavra a uma testemunha ocular, Ataliba Nogueira: “Levantam-se e se dirigem ao quarto de Ruy. Batem à porta; o Conselheiro de pijama recebe a mensagem e fica emocionado, exclamando: É o estilo dele, o estilo perfeito! E o assunto? O mesmo sobre o qual conversamos em nossa despedida de Haia. Trata-se de William Stead - explica Ruy - o meu amigo e grande jornalista inglês, cuja morte os periódicos noticiam hoje, no afundamento do navio “Titanic”.

Mercê de pequenas rupturas no denso véu que oculta o outro lado da vida, Maeterlink se iluminava, conseguindo contemplar um pouquinho do Mundo Maior e descobrir razões para a própria vida, pois a sua mente, anteriormente, se debatia nos enigmas, nos desconcertos aparentes dos destinos e, nos entrechoques violentos entre as próprias criaturas. Quando um homem recebe um jato de luz, mesmo que enviado através de um copo, ele não anda mais às apalpadelas e, ao menos, sabe que algo se encontra a sua frente para ser decifrado com maior agudeza intelectual. Daí Maurício de Maeterlink obtemperar: “O que antes de mais nada importa é prepararmos nossa alma para o recebimento da nossa idéia, como os sacerdotes das antigas religiões limpavam o topo dum monte para lá receberem o fogo do céu.”

E Ruy? Como lhe teria vibrado aquela mensagem em inglês, de um amigo morto? Pouco sabemos. Apenas consta que ele possuía todas principais obras de Metapsíquica e Espiritismo, com anotações, a lápis, do seu próprio punho! Se conseguira elevar os seus pensamentos em novas mundividências, não os esparziu, levou-os consigo para o Além-Túmulo.

***

Alfred Russel Wallace foi renomado naturalista, e se destacou na história da ciência, coenunciando com Darwin as leis de seleção natural. Os fatos insólitos, inexplicáveis cientificamente, levaram-nos a enveredar pelos ínvios caminhos da investigação psíquica, sem nenhum temor de que isto pudesse abalar a sua posição de um dos nomes mais respeitados da Sociedade Real de Londres. Perseguindo os fenômenos, comparando-os e colocando a sua intuição a serviço da tarefa encetada, ele escreveu uma obra chamada “On Miracles and Modern Spiritualism”. Ele procurou conhecer todas as formas de manifestações paranormais e realizou sessões com todos os médiuns que ficaram ao seu alcance. Teve a fortuna de acompanhar o desenvolvimento mediúnico da célebre Miss Nichols, mais tarde Mrs. Guppy, com a qual fez trabalhos que levaram à plena convicção da existência de um mundo espiritual. Numa sessão com esta senhora, pode ouvir delicada e enternecente música soando no espaço, sem que por alí existisse qualquer instrumento; uma senhora de nacionalidade alemã se apresentou materializada, cantou várias canções em língua estrangeira, enquanto se fazia um fundo musical como se nascesse de uma caixa de música encantada. Alfred Russel Wallace viu e ouviu muita coisa para que desse de ombros e enterrasse a cabeça como o avestruz. Certa feita, flores foram transportadas espiritualmente e depositadas na mesa da sua própria casa; ali estavam em profusão, anêmonas, tulipas, crisântemos, e samambaias de todas as qualidades. A sua falecida mãe anunciou que se fotografaria e o fez, sob o seu controle, e este cientista ficou verdadeiramente abismado, mesmo porque, tal chapa não se identificava com as fotografias que possuía da sua mãe. Wallace faz uma confissão que valia a pena o mundo lesse e pensasse no seu profundo significado:

Eu era - diz Wallace - um materialista tão convencido, que não admitia absolutamente a existência espiritual, nem qualquer outro agente do Universo além da força e da matéria. Os fatos, entretanto, são coisas pertinazes. A minha curiosidade foi primeiro excitada por alguns fenômenos ligeiros, mas inexplicáveis, que se produziram em família antiga; o desejo de saber, o amor da verdade forçaram-me a prosseguir nas pesquisas. Os fatos tornaram-se cada vez mais certos, cada vez mais variados, cada vez mais afastados de tudo quanto a ciência moderna ensina e de todas as especulações da filosofia dos nossos tempos e, afinal, venceram-me. Eles me esforçaram a aceitá-los como fatos, muito antes de eu admitir a sua explicação espiritual - não havia nesse tempo em meu cérebro lugar para esta concepção - Pouco a pouco, um lugar se fez, não por opiniões preconcebidas ou teóricas, mas pela ação contínua de fatos, dos quais ninguém se podia desembarcar de outra maneira. O Espiritismo está tão bem demonstrado quanto a lei da gravitação”. Este, pois, foi um nome conspícuo da ciência que passou por aqui, Viu, estudou sem sectarismo, não temeu tisnar-se e, com todo o fabuloso peso da sua autoridade científica, manifestou a sua plena convicção da existência de um mundo espiritual.

No entanto, são em maior número as criaturas convocadas, mas que não se aproximam do problema da sobrevivência da alma; passam ao largo, receosos de se macularem. Outros, têm a oportunidade de registrar uma experiência, sabem-na verdadeira, mas guardam a convicção para si próprios. Como lastimava o célebre Barão Karl Du Prel: “É uma vergonha científica que exista ainda desconhecimento tão profundo da questão mais importante para a humanidade: a imortalidade”.

FONTE: Tamassia, Mario B; “OS MORTOS ACORDAM OS VIVOS”, ed. Circulo de Claus.





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