*EVANGELHO ESSENCIAL 16/2*
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti
*16 - NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E A MAMON*
*INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS*
*A verdadeira propriedade*
*Espírito Pascal –Genebra,1860.*
O homem só possui como plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo.
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Do que encontra ao chegar e deixa ao partir ele usufrui enquanto aqui permanece.
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Forçado que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode retirar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste.
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Depende dele ser mais rico ao partir do que ao chegar neste mundo, visto como, do que tiver adquirido no bem, resultará a sua posição futura.
Quando alguém vai a um país distante, constitui a sua bagagem de objetos utilizáveis nesse país; não se preocupa com os que ali lhe seriam inúteis. Proceda do mesmo modo com relação à vida futura; proveja-se de tudo o que de lá te possa servir.
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Ao viajante que chega a um albergue, bom alojamento é dado, se o pode pagar. A outro, de poucos recursos, consegue um menos agradável.
Quanto ao que nada tenha de seu, vai dormir numa cama rústica e pobre. O mesmo acontece ao homem, com sua chegada no mundo dos Espíritos: depende de suas posses o lugar para onde vá. Não será, todavia, com o seu ouro que ele o pagará.
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Ninguém lhe perguntará: Quanto tinhas na Terra? Que posição ocupavas? Eras príncipe ou operário? Perguntar-lhe-ão: Que trazes contigo? Não lhe avaliarão os bens, nem os títulos, mas a soma das virtudes que possua. Sob esse aspecto, pode o operário ser mais rico do que o príncipe.
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*M. , Espírito Protetor –Bruxelas,1861*
Os bens da Terra pertencem a Deus, que os distribui a seu grado, não sendo o homem senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente desses bens.
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Tanto eles não constituem propriedade individual do homem, que Deus frequentemente anula todas as previsões e a riqueza foge àquele que se julga com os melhores títulos para possuí-la.
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Se há riquezas legitimas, estas são as dos bens adquiridos pelo trabalho , quando honestamente conseguidas, porque uma propriedade só é legitimamente adquirida quando, da sua aquisição, não resulta dano para ninguém.
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Poderá o homem usar e abusar de sua fortuna durante a vida, sem ter de prestar contas? Não. Permitindo-lhe que a adquirisse, é possível haja Deus tido em vista recompensar-lhe, no curso da existência atual, os esforços, a coragem, a perseverança. Se, porém, ele somente os utilizou na satisfação dos seus sentidos ou do seu orgulho; se tais bens se tornaram causa de queda, melhor fora não os ter possuído, visto que perde de um lado o que ganhou do outro, anulando o mérito de seu trabalho. Quando deixar a Terra, Deus lhe dirá que já recebeu a sua recompensa.
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*Emprego da riqueza*
*Espírito Cheverus –Bórdeus, 1861*
Não podes servir a Deus e a Mamon. Guarde bem isso na lembrança, você, a quem o amor do ouro domina; você, que venderia a alma para enriquecer, porque eles permitem que se elevem acima dos outros homens e proporcionam os gozos das paixões que lhes escravizam.
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Qual o melhor emprego que se pode dar à riqueza? Procure nestas palavras: "Amem-se uns aos outros" a solução do problema. Elas guardam o segredo do bom emprego das riquezas. Aquele que se encontra animado do amor do próximo tem aí toda escrita a sua linha de procedimento.
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Na caridade está, para as riquezas, o emprego que mais agrada a Deus.
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Não nos referimos á caridade fria e egoísta, que consiste na criatura espalhar ao seu redor o supérfluo de uma existência dourada. Referimo-nos à caridade plena de amor, que procura a infelicidade e a ergue, sem a humilhar.
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Rico! ... dá do que te sobra; faça mais: dá um pouco do que te é necessário, porque o de que necessitas ainda é supérfluo. Mas, dá com sabedoria. Não repeles o que se queixa, com receio de que te engane; vai às origens do mal. Ajuda, primeiro; em seguida, informa-te, e vê se o trabalho, os conselhos, mesmo a afeição, não serão mais eficazes do que a tua esmola.
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Espalha ao redor de ti, com abundância, o amor a Deus, o amor ao trabalho, o amor ao próximo.
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Coloque tua riqueza sobre uma base que nunca te faltará e que trará grandes lucros: a das boas obras.
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A riqueza da inteligência deves utilizá-la como a do ouro. Espalha em torno de ti os tesouros da instrução; espalha sobre teus irmãos os tesouros do teu amor e eles frutificarão.
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*Um Espírito Protetor-Cracóvia,1861*
Quando considero a brevidade da vida, dolorosamente me impressiona a incessante preocupação de que é para vocês objeto o bem-estar material, ao passo que tão pouca importância dão ao aperfeiçoamento moral, a que pouco ou nenhum tempo consagram e que, no entanto, é o que importa para a eternidade.
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Dirias, diante da atividade que desenvolves, tratar-se de uma questão do mais alto interesse para a humanidade, quando se trata, na maioria dos casos, senão de te pores em condições de satisfazer a necessidades exageradas, à vaidade, ou de te entregares a excessos.
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Quantos sofrimentos, aborrecimentos e angústias cada um se impõe; quantas noites de insônia para aumentar a fortuna muitas vezes mais que suficientes!
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Por cúmulo de cegueira, frequentemente se encontram pessoas, escravizadas a penosos trabalhos pelo amor imoderado da riqueza e dos prazeres que ela proporciona, a se vangloriarem de viver uma existência dita de sacrifício e de mérito - como se trabalhassem para os outros e não para si mesmas! Insensatos! Creem realmente, que lhe serão levados em conta os cuidados e os esforços que despendem movidos pelo egoísmo, pela cobiça ou pelo orgulho, enquanto esquecem do seu futuro, bem como dos deveres que a solidariedade fraterna impõe a todos os que gozam das vantagens da vida social?
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*Fénelon, Argel,1860*
Sendo o homem o depositário, o administrador dos bens que Deus pôs nas suas mãos, contas severas serão pedidas do emprego que ele deu, em virtude do seu livre-arbítrio.
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O mau uso consiste em aplicar os bens exclusivamente na sua satisfação pessoal; bom é o uso todas as vezes que deles resulta um bem qualquer para outro. O merecimento de cada um está na proporção do sacrifício que se impõe a si mesmo.
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A beneficência é apenas um modo de empregar-se a riqueza; ela dá alívio à miséria presente; diminui a fome, preserva do frio e proporciona abrigo ao que não o tem. Dever igualmente imperioso e meritório é o de prevenir a miséria. Esta é a missão das grandes fortunas, missão a ser cumprida mediante os trabalhos de todo gênero que com elas se podem executar.
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A riqueza concentrada em uma mão deve ser qual fonte de água viva que espalha a fecundidade e o bem-estar ao seu redor.
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Se Jesus falava principalmente das esmolas, é que naquele tempo e no país em que ele vivia não se conheciam os trabalhos que as artes e a indústria criaram depois e nas quais as riquezas podem ser aplicadas utilmente para o bem geral. A todos os que podem dar, pouco ou muito, digam: dê esmola quando for preciso; mas, tanto quanto possível, converta-a em salário, a fim de que aquele que a receba não se envergonhe dela.
*Desprendimento dos bens terrenos*
*Espírito Lacordaire, Constantina, 1863.*
O apego aos bens terrenos constitui um dos mais fortes obstáculos ao adiantamento moral e espiritual. Pelo apego à posse de tais bens, destroem -se as faculdades de amar, aplicando-as todas às coisas materiais.
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Quer a fortuna tenha vindo da tua família, quer a tenhas ganho com o teu trabalho, há uma coisa que não deves esquecer nunca: é que tudo origina-se de Deus, tudo retorna à Deus. Nada te pertence na Terra, nem sequer o teu corpo: a morte te despoja dele, como de todos os bens materiais. És depositário e não proprietário, não te iluda. Deus te emprestou, terás de os restituir; e ele empresta sob a condição de que o supérfluo, pelo menos, caiba aos que precisam do necessário.
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Um dos teus amigos te empresta certa quantia. Por pouco honesto que sejas, fazes questão de a restituir e ficas agradecido. Pois bem: essa a posição de todo homem rico. Deus é o amigo celestial, que emprestou a riqueza, não querendo para si mais do que o amor e o reconhecimento do rico. Exige deste que, por sua vez, dê aos pobres, que são, tanto quanto ele, seus filhos.
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Um pai de família, por exemplo, deixando de praticar a caridade, economizará, amontoará ouro, para, segundo ele, deixar aos filhos a maior soma possível de bens e evitar que caiam na miséria. É muito justo e paternal e ninguém pode censurar. Mas será sempre esse o único objetivo a que ele obedece? Não será muitas vezes um compromisso com a sua consciência, para justificar, aos seus próprios olhos e aos olhos do mundo, seu apego pessoal aos bens terrenos?
Admitamos seja o amor paternal o único objetivo que o guie. Será isso motivo para que esqueça seus irmãos perante Deus? Quando já ele tem o supérfluo, deixará na miséria os filhos, por lhes ficar um pouco menos desse supérfluo? Não será, antes, dar-lhes uma lição de egoísmo e endurecer-lhes os corações? Não será enfraquecer neles o amor ao próximo? Pais e mães, cometem grande erro, se creem que desse modo conseguirão maior afeição dos seus filhos. Ensinando-lhes a ser egoístas para com os outros, ensina-lhes a sê-lo para com vocês mesmos.
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A um homem que muito trabalhou, e que com o suor de seu rosto acumulou bens, é comum ouvires dizer que, quando o dinheiro é ganho, melhor conhece o seu valor. Nada mais verdadeiro. Pratique a caridade, dentro das suas possibilidades, esse homem que declara conhecer todo o valor do dinheiro, e maior será o seu merecimento, do que o daquele que, nascido na abundância, ignora as rudes fadigas do trabalho. Mas, também, se esse homem, que se recorda dos seus sofrimentos, dos seus esforços, for egoísta, impiedoso para com os pobres, bem mais culpado se tornará do que o outro, pois, quanto melhor cada um conhece por si mesmo as dores ocultas da miséria, tanto mais propenso deve sentir-se em aliviá-las nos outros.
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Sempre há no homem que possui fortuna um sentimento tão forte quanto o apego aos mesmos bens: é o orgulho. Não raro, vê-se o novo rico tornar confuso, com a narrativa de seus trabalhos e de suas habilidades, o sofredor que lhe pede assistência, em vez de ajudá-lo, acaba dizendo: "Faça o que eu fiz." Segundo o seu modo de ver, a bondade de Deus não entra por coisa alguma na obtenção da riqueza que conseguiu acumular; pertence-lhe a ele, exclusivamente, o mérito de a possuir. O orgulho lhe põe sobre os olhos uma venda e lhe tapa os ouvidos. Apesar de toda a sua inteligência e sua aptidão, não compreende que, com uma só palavra, Deus o pode lançar por terra.
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Esbanjar a riqueza não é demonstrar desapego dos bens terrenos: é descuido e indiferença. Depositário desses bens, não tem o homem o direito de os destruir, como não tem o de apoderar-se em seu proveito.
Gastar excessivamente não é generosidade: é, frequentemente, uma modalidade do egoísmo. Um, que gasta exageradamente a fortuna que disponha, para satisfazer a uma fantasia, talvez não dê um centavo para prestar um auxílio. O desapego aos bens terrenos consiste em apreciá-los no seu justo valor, em saber servir-se deles em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio, em não sacrificar por eles os interesses da vida futura, em perdê-los sem reclamar, caso agrade a Deus retirá-los. Se, por efeito de imprevistas desgraças, se tornar qual Job, diz como ele: "Senhor, tu me havias dado e me tiraste. Faça-se a tua vontade."Eis aí o verdadeiro desprendimento. Seja, antes de tudo, submisso; confia nAquele que, tendo-lhe dado e tirado, pode novamente restituir-lhe o que tirou. Resista esperançoso ao abatimento, ao desespero, que paralisam as forças. Quando Deus lhe desferir um golpe, não esqueça nunca que, ao lado da mais rude prova, coloca sempre uma consolação. Pondere que há bens infinitamente mais preciosos do que os da Terra e essa idéia ajudará a desprender-se destes últimos.
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A ninguém ordena o Senhor que se desfaça do que possua, em condenação de tornar-se voluntariamente mendigo, porque aquele que o fizesse tornar-se-ia uma carga para a sociedade. Proceder assim fora compreender mal o desprendimento dos bens terrenos. Fora egoísmo de outro gênero, porque seria o indivíduo desobrigar-se da responsabilidade que a riqueza faz pesar sobre aquele que a possui.
Deus a concede a quem lhe parece bom a fim de que a administre em proveito de todos. O rico tem uma missão, que ele pode embelezar e tornar proveitosa a si mesmo.
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Rejeitar a riqueza, quando Deus a concede, é renunciar aos benefícios do bem que se pode fazer, administrando-a com critério. Sabendo passar sem ela, quando não a tem, sabendo empregá-la utilmente quando a possui, sabendo sacrificá-la quando necessário, procede a criatura de acordo com a vontade do Senhor. Diga aquele a cujas mãos venha o que no mundo se chama uma boa fortuna: Meu Deus, tu me destinaste um novo encargo; dá-me a força de desempenhá-lo segundo a tua santa vontade.
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Saiba contentar-te com pouco. Se és pobre, não inveje os ricos, porque a riqueza não é necessária à felicidade. Se és rico, não esqueça que os bens de que dispõe apenas te estão confiados e que tens de justificar o emprego que deres, como se prestasse contas de uma tutela. Não sejas depositário infiel, utilizando-os unicamente em satisfação do próprio orgulho e sensualidade. Não te julgues com o direito de dispor em teu exclusivo proveito daquilo que recebestes, não por doação, mas simplesmente como empréstimo. Se não sabes restituir, não tens o direito de pedir, e lembra-te de que aquele que dá aos pobres, salda a dívida que contraiu com Deus.
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*Transmissão de riqueza*
*São Luís – Paris,1860*
O princípio, segundo o qual ele é apenas depositário da fortuna de que Deus lhe permite gozar durante a vida, tira ao homem o direito de transmiti-la aos seus descendentes? O homem pode perfeitamente transmitir, por sua morte, aquilo de que usufruiu durante a vida, porque o efeito desse direito está subordinado sempre à vontade de Deus, que pode, quando quiser, impedir que aqueles descendentes gozem do que lhes foi transmitido. Não é outra a razão por que desmoronam fortunas que parecem solidamente constituídas. É impotente a vontade do homem para conservar nas mãos da sua descendência a fortuna que possua. Isso não o priva do direito de transmitir o empréstimo que recebeu de Deus, uma vez que Deus pode retirá-lo, quando o considere oportuno.