Powered By Blogger

Pesquisar este blog

Páginas

segunda-feira, 29 de abril de 2013

CONSIDERAÇÕES SOBRE A ORIGEM E ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DO “NOSSO LAR” (1.ª Parte)


Carlos Renato Soares Sebastião

Tão logo o espírito André Luiz saiu pela primeira vez pelas ruas do NOSSO LAR e algumas explicações a respeito da organização da colônia passaram a ser ensinadas pelo seu amigo e enfermeiro Lísias.
Dessas explicações extraímos que NOSSO LAR foi fundada no século XVI por portugueses desencarnados no Brasil.
No início foi necessária uma grande luta, tendo em vista a presença de substâncias ásperas nas zonas invisíveis da Terra. Prosseguiu o amigo de André Luiz relatando que, onde na ocasião em que a história se passa encontravam-se construções lindíssimas e vibrações delicadas, no início haviam mentes rudimentares, caracterizadas pela matéria grosseira.
No entanto, apesar das dificuldades iniciais, algo que aqui na Terra também encontramos ao analisarmos a formação de todos os Estados, concluímos que os fundadores foram insistentes e bravos, e por isso alcançaram seus objetivos, sobretudo porque conseguiram formar uma cidade onde o trabalho perseverante e a solidariedade fraterna se tornaram a marca registrada, diferenciando-se do que encontramos na esfera carnal, onde, independentemente do tipo de governo, imperam a exploração de homens por outros homens e principalmente a busca por satisfação de paixões, vantagens pessoais e etc.
Ou seja, tanto entre os desencarnados, quanto entre os encarnados, encontramos as mesmas dificuldades e discrepâncias de valores morais e de evolução entre os seres. Entretanto, é possível que na espiritualidade, por razões que buscaremos melhor analisar no curso desse trabalho, tais valores fiquem mais explícitos, tornando mais fácil a organização das sociedades e a manutenção do controle, desde que estejamos tratando de seres realmente engajados na  evolução individual e coletiva.
Lísias explicou ainda que em NOSSO LAR existe uma organização política formada por um Governador Espiritual e mais setenta e dois ministros, divididos em seis ministérios.
Cada ministério exerce uma função “burocrática” dentro da administração do NOSSO LAR e busca gerir um tipo de trabalho específico. São eles: Ministério da Regeneração; da Evolução; da Comunicação; do Esclarecimento; da Elevação; e, da União Divina.
André Luiz foi também esclarecido de que apenas para os seres que estão ligados aos ministérios da Regeneração e da Evolução existe maior suprimento de substâncias alimentares que lembram a Terra, em razão de haver ainda grande número de necessitados nessas duas localidades.
Conforme será aprofundado no momento oportuno, tal situação só ocorreu após muito tempo de descontentamento e reivindicações por parte de muitos habitantes da Colônia.
Importante também ressaltar que, embora não haja um ministério ou alguém responsável diretamente pela “economia” em NOSSO LAR, André Luiz obteve grandes e importantes explicações sobre o bônushora, que a princípio parece ser algo semelhante ao dinheiro que temos contato aqui na Terra.
Apesar de não faltar o essencial a nenhum habitante de NOSSO LAR, o que o torna menos imprescindível do que o dinheiro terrestre, o bônus-hora confere algumas prerrogativas para aqueles que se esforçam para obtê-lo. É como uma ficha de serviço individual, que funciona como valor aquisitivo.
Assim, diante dessas breves considerações históricas e administrativas do NOSSO LAR, creio que possamos passar para o escopo verdadeiro do trabalho que é traçar um paralelo entre a organização política e social da colônia e dos Estados que conhecemos aqui em nosso plano.
BREVES NOCÕES DE ESTADO:
Antes de entendermos profundamente o que vem a ser um Estado de Direito, precisamos ter bastante claro qual o conceito de nação, bem como quais são seus elementos fundamentais e formadores.
A diferença básica que existe entre nação e direito é que na primeira existe uma realidade sociológica diretamente ligada a ordem subjetiva, ao passo que o direito é a realidade jurídica do Estado.
Para a formação de uma nação pressupõe-se a presença de alguns fatores.
São eles:
a) naturais: ligados a território; unidade étnica; e, idioma comum.
b) históricos: ligados as tradições; costumes; religião; e, leis.
c) psicológicos: ligados as aspirações comuns; consciência nacional; e, etc.
Diante disso, passemos a discorrer a respeito de Estado propriamente dito.
Talvez seja quase impossível encontrarmos uma definição capaz englobar todas as características e peculiaridades dos Estados, principalmente porque tal conceito tem evoluído demais desde a antiguidade quando se passou a estudar o assunto.
Todavia, tendo em vista os três elementos fundamentais de qualquer Estado, talvez uma das definições mais simplista e completa seja a oferecida por Clóvis Bevilácqua: O Estado é um agrupamento humano, estabelecido em determinado território e submetido a um poder soberano que lhe dá unidade orgânica.”
Dessa definição extraímos os elementos constitutivos do Estado, ou seja, o agrupamento humano (POPULAÇÃO); o TERRITÓRIO; e, a unidade orgânica (GOVERNO).
Talvez seja dispensável maiores ponderações acerca da necessidade da POPULACÃO, tendo em vista que sem essa substância humana não há que se cogitar da formação do Estado, principalmente levando-se em conta os fatores naturais, históricos e psicológicos que levam a formação de um Estado, conforme já mencionado acima.
O TERRITÓRIO, por outro lado, é a base física onde se delimitam os contornos da aplicação da administração do Estado. É um elemento que dá continuidade e limite espacial da aplicação da realidade jurídica.
Os povos nômades, por exemplo, não possuem individualidade política, pois mesmo que se criem regras, serão Estados transitórios.
O GOVERNO é o exercício do poder soberano, ou seja, a delegação feita pela população para um ser, ou um grupo, exercer o comando naquele território.
JUSTIFICATIVA PARA CRIACÃO DOS ESTADOS
(Teoria Hobbesiana):
Existem diversas conclusões a respeito da justificativa da formação dos Estados.
Porém, entendo ser a mais contemporânea, embora escrita em 1651, a que está exposta no Livro “O LEVIATÔ, de Thomas Hobbes (1588-1679).
Em tal obra, o autor explica que o homem sempre age em benefício próprio por ser naturalmente egoísta e inimigo feroz de seus semelhantes, sendo um misto entre razão e paixão.
Ao contrário do que Aristóteles defendia, Hobbes justifica o poder absoluto do Estado em razão do homem não ser naturalmente sociável, dependendo, portanto, sempre da criação de regras de conduta e normas que delimitem seus direitos e equilibrem as relações. Ou seja, esse pacto (criação de tais regras) só se viabiliza porque o homem, em seu profundo senso de egoísmo, entende que terá benefícios, tais como uma vida menos atribulada e perigosa.
É necessário, para os seres viverem em harmonia, que o Estado exercite a soberania.
Toda vez que esse exercício se enfraquece ou deixa de ser praticado, temos o chamado “estado de natureza”, que também pode ser chamado de “estado de guerra”, onde cada qual buscará apenas os seus interesses pessoais e a satisfação das paixões.
Um exemplo típico dessa situação de “estado de natureza” se dá entre os países, pois todos se encontram em estado de igualdade, sem existir um órgão ou poder soberano superior a eles. Justamente por isso, sempre que há uma divergência de qualquer ordem, a solução é alcançada através da guerra (força).
Obviamente que ninguém gosta de viver num “estado de guerra” e por isso criam-se os pactos, dos quais a sociedade civil é um produto artificial.
Hobbes admitia a existência de Deus. No entanto, segundo ele, o reino de Deus na Terra é civil, onde Deus fala aos homens pela boca do Estado.
Diante dessas brevíssimas considerações a cerca da obra de Hobbes, concluímos de fato sei imprescindível a existência de um Estado soberano capaz de frear os devaneios e abusos cometidos pelos homens em razão de sua busca pela melhor condição individual e etc.
No entanto, vale destacar que ao longo da história da humanidade existiram diversos tipos de governo, sendo que na prática o que vimos foi um controle da massa popular por uma minoria que alcança o exercício do poder soberano.
Isto é, ainda que tenhamos tentado a implantação de sistemas absolutistas, monárquicos, liberais, sociais e etc, nunca alcançamos um nível de consciência plena entre governantes e governados que capacitasse cada indivíduo a possuir uma responsabilidade suficiente para exercer suas atribuições, seja de governar, seja de ser governado, a ponto de viver harmonicamente.
O ESTADO EM NOSSO LAR:
Embora dotado de obvias peculiaridades, o que André Luiz relata sobre a vida em NOSSO LAR demonstra enormes semelhanças com a vida entre os encarnados.
Podemos extrair algumas passagens da obra de André Luiz em que temos situações exatamente semelhantes as que vivemos aqui em nosso plano.
Todavia, o que notamos é que a forma com que as coisas são conduzidas na colônia espiritual diferem sobremaneira da nossa realidade. E essa condução se dá de forma diversa justamente porque, embora a cidade espiritual seja dotada de um governo formado através dos mesmos fatores e fundamentos aqui do nosso plano, o que vemos por lá são governantes conscientes e prontos para implantar sistemas que buscam apenas a melhoria da condição eterna da população.
Da mesma forma, os seres que habitam o NOSSO LAR, se compararmos com os habitantes dos planos materiais, contam com uma visão da vida muito mais clara e objetiva dessa jornada espiritual do ser enquanto espírito eterno e em continuada evolução, mesmo sem estarem num estágio superior na caminhada pela evolução.
Ou seja, devido a já possuírem a certeza da continuidade da vida após o desencarne, entendo ser mais simples para os habitantes da cidade de André Luiz visualizar o todo do universo e entender, pelo menos com um pouco mais de facilidade, que as paixões terrestres e os apegos materiais são objetivos ínfimos se comparados com a longa trajetória evolutiva planejada por Deus.
ORIGEM HISTÓRICA DO NOSSO LAR:
Possivelmente por não ser o objetivo principal do livro, não consta na obra de André Luiz grandes detalhes a cerca da formação da colônia espiritual. Apenas no Capítulo 8 – “Organização de Serviços”, Lísias dá algumas pinceladas a respeito da história da cidade espiritual, conforme já exposto anteriormente.
Apesar dessa rápida abordagem feita no livro, passaremos a divagar pelos próximos parágrafos a respeito do tema.
Lísias explica para André Luiz que toda manifestação de ordem no mundo procede do plano superior e que o pensamento humano, quando inspirado pelas esferas mais altas, é capaz de transformar a “natureza agreste em jardim”.
Ou seja, a comunicabilidade existente entre as esferas materiais e espirituais faz com que o homem, enquanto encarnado, possa absorver um pouco da realidade do mundo espiritual e tentar implantá-la na Terra. Pena que nem sempre (ou nunca) o faz de forma plena.
Conforme já mencionado acima, o homem tem a necessidade de viver em organizações regularmente criadas para que sua natureza primitiva não seja aflorada em todo momento.
Percebemos que também em NOSSO LAR, localizada na terceira esfera espiritual (ainda parte do umbral) há essa necessidade de se criar uma organização política capaz de governar e orientar a população.
Possivelmente na ocasião em que os portugueses fundadores da colônia desencarnaram, se depararam com a necessidade de habitar alguma zona espiritual e viram-se diante de uma realidade amedrontadora, criando-se a necessidade da fundação de uma colônia espiritual organizada e apta a propiciar aos seus habitantes uma evolução espiritual.
Em razão de não estudarmos muito a fundo a respeito das sociedades indígenas na escola oficial e por ter sido colocado em nossas mentes que o Brasil fora “descoberto” por europeus em 1500, quando na verdade a região já era conhecida e habitada sabe-se lá há quanto tempo, acabamos por criar a impressão de que os primeiros habitantes do nosso país não possuíam o mesmo estágio evolutivo dos europeus.
Talvez de fato os índios não gozassem do mesmo estágio intelectual dos portugueses que séculos antes já haviam saído de seus domínios em busca de conhecer novas civilizações, o que possivelmente os dotou de grande sabedoria espiritual e intelectual, capacitando-os a formar uma colônia tão próspera e organizada.
Mas, é importante frisar que, embora os silvícolas do Brasil fossem talvez dotados de menor capacidade construtiva, intelectual e etc, eles devem ter dado sua colaboração para a construção da colônia, principalmente em razão do seu espírito fraterno, de ligação e respeito com a natureza e de certo desapego a realidade material.
Assim, ficou evidente a presença de alguns dos fatores essenciais para a formação das nações, conforme narrado acima, sobretudo os psicológicos, o que deve ter facilitado a insistência da criação da colônia.
Ademais, nunca é exagerado lembrar que em nosso plano muitas vezes a formação dos estados se dá através de batalhas e sangrias, o que, conforme narrado na obra de André Luiz, não foi o caso de NOSSO LAR. (Continua)
13

“INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA MENSAL
ANO XXXII N° 388
JANEIRO 2009
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Redação:
Rua Souza Caldas, 343 - Fone: (11) 2764-5700
Correspondência:
Cx. Postal: 45.307 - Ag. Vl. Mariana/São Paulo (SP)

Nenhum comentário:

Postar um comentário