Carlos Renato Soares Sebastião
Tão logo o
espírito André Luiz saiu pela primeira vez pelas ruas do NOSSO
LAR e algumas explicações a respeito da organização da colônia
passaram a ser ensinadas pelo seu amigo e enfermeiro Lísias.
Dessas
explicações extraímos que NOSSO LAR foi
fundada no século XVI por portugueses desencarnados no Brasil.
No início
foi necessária uma grande luta, tendo em vista a presença de substâncias ásperas
nas zonas invisíveis da Terra. Prosseguiu o amigo de André Luiz relatando que,
onde na ocasião em que a história se passa encontravam-se construções lindíssimas
e vibrações delicadas, no início haviam mentes rudimentares, caracterizadas pela
matéria grosseira.
No
entanto, apesar das dificuldades iniciais, algo que aqui na Terra também encontramos
ao analisarmos a formação de todos os Estados, concluímos que os fundadores
foram insistentes e bravos, e por isso alcançaram seus objetivos, sobretudo
porque conseguiram formar uma cidade onde o trabalho perseverante e a
solidariedade fraterna se tornaram a marca registrada, diferenciando-se do que
encontramos na esfera carnal, onde, independentemente do tipo de governo, imperam
a exploração de homens por outros homens e principalmente a busca por
satisfação de paixões, vantagens pessoais e etc.
Ou seja,
tanto entre os desencarnados, quanto entre os encarnados, encontramos as mesmas
dificuldades e discrepâncias de valores morais e de evolução entre os seres.
Entretanto, é possível que na espiritualidade, por razões que buscaremos melhor
analisar no curso desse trabalho, tais valores fiquem mais explícitos, tornando
mais fácil a organização das sociedades e a manutenção do controle, desde que
estejamos tratando de seres realmente engajados na evolução individual e coletiva.
Lísias
explicou ainda que em NOSSO LAR existe uma
organização política formada por um Governador Espiritual e mais setenta
e dois ministros, divididos em seis ministérios.
Cada
ministério exerce uma função “burocrática” dentro da administração do NOSSO
LAR e busca gerir um tipo de trabalho específico. São eles:
Ministério da Regeneração; da Evolução; da Comunicação; do Esclarecimento; da Elevação;
e, da União Divina.
André Luiz
foi também esclarecido de que apenas para os seres que estão ligados aos ministérios
da Regeneração e da Evolução existe maior suprimento de substâncias alimentares
que lembram a Terra, em razão de haver ainda grande número de necessitados
nessas duas localidades.
Conforme
será aprofundado no momento oportuno, tal situação só ocorreu após muito tempo
de descontentamento e reivindicações por parte de muitos habitantes da Colônia.
Importante
também ressaltar que, embora não haja um ministério ou alguém responsável diretamente
pela “economia” em NOSSO LAR ,
André Luiz obteve grandes e importantes explicações sobre o bônushora, que a
princípio parece ser algo semelhante ao dinheiro que temos contato aqui na
Terra.
Apesar de
não faltar o essencial a nenhum habitante de NOSSO
LAR, o que o torna menos imprescindível do que o dinheiro terrestre,
o bônus-hora confere algumas prerrogativas para aqueles que se esforçam para
obtê-lo. É como uma ficha de serviço individual, que funciona como valor aquisitivo.
Assim,
diante dessas breves considerações históricas e administrativas do NOSSO
LAR, creio que possamos passar para o escopo verdadeiro do trabalho
que é traçar um paralelo entre a organização política e social da colônia e dos
Estados que conhecemos aqui em nosso plano.
BREVES NOCÕES DE ESTADO:
Antes de
entendermos profundamente o que vem a ser um Estado de Direito, precisamos ter
bastante claro qual o conceito de nação, bem como quais são seus elementos fundamentais
e formadores.
A
diferença básica que existe entre nação e direito é que na primeira existe uma
realidade sociológica diretamente ligada a ordem subjetiva, ao passo que o
direito é a realidade jurídica do Estado.
Para a
formação de uma nação pressupõe-se a presença de alguns fatores.
São eles:
a) naturais:
ligados a território; unidade étnica; e, idioma comum.
b) históricos:
ligados as tradições; costumes; religião; e, leis.
c) psicológicos:
ligados as aspirações comuns; consciência nacional; e, etc.
Diante
disso, passemos a discorrer a respeito de Estado propriamente dito.
Talvez
seja quase impossível encontrarmos uma definição capaz englobar todas as
características e peculiaridades dos Estados, principalmente porque tal
conceito tem evoluído demais desde a antiguidade quando se passou a estudar o
assunto.
Todavia,
tendo em vista os três elementos fundamentais de qualquer Estado, talvez uma
das definições mais simplista e completa seja a oferecida por Clóvis Bevilácqua:
“O Estado é um agrupamento humano,
estabelecido em determinado território e
submetido a um poder soberano que lhe dá unidade orgânica.”
Dessa
definição extraímos os elementos constitutivos do Estado, ou seja, o agrupamento
humano (POPULAÇÃO); o TERRITÓRIO; e, a
unidade orgânica (GOVERNO).
Talvez
seja dispensável maiores ponderações acerca da necessidade da POPULACÃO, tendo em
vista que sem essa substância humana não há que se cogitar da formação do
Estado, principalmente levando-se em conta os fatores naturais, históricos e
psicológicos que levam a formação de um Estado, conforme já mencionado acima.
O TERRITÓRIO, por
outro lado, é a base física onde se delimitam os contornos da aplicação da
administração do Estado. É um elemento que dá continuidade e limite espacial da
aplicação da realidade jurídica.
Os povos
nômades, por exemplo, não possuem individualidade política, pois mesmo que se
criem regras, serão Estados transitórios.
O GOVERNO é o
exercício do poder soberano, ou seja, a delegação feita pela população para um
ser, ou um grupo, exercer o comando naquele território.
JUSTIFICATIVA
PARA CRIACÃO DOS ESTADOS
(Teoria
Hobbesiana):
Existem
diversas conclusões a respeito da justificativa da formação dos Estados.
Porém,
entendo ser a mais contemporânea, embora escrita em 1651, a que está exposta no
Livro “O LEVIATÔ, de Thomas Hobbes (1588-1679).
Em tal
obra, o autor explica que o homem sempre age em benefício próprio por ser naturalmente
egoísta e inimigo feroz de seus semelhantes, sendo um misto entre razão e
paixão.
Ao
contrário do que Aristóteles defendia, Hobbes justifica o poder absoluto do
Estado em razão do homem não ser naturalmente sociável, dependendo, portanto, sempre
da criação de regras de conduta e normas que delimitem seus direitos e equilibrem
as relações. Ou seja, esse pacto (criação de tais regras) só se viabiliza porque
o homem, em seu profundo senso de egoísmo, entende que terá benefícios, tais
como uma vida menos atribulada e perigosa.
É necessário, para os
seres viverem em harmonia, que o Estado exercite a soberania.
Toda vez que esse
exercício se enfraquece ou deixa de ser praticado, temos o chamado “estado de
natureza”, que também pode ser chamado de “estado de guerra”, onde cada qual
buscará apenas os seus interesses pessoais e a satisfação das paixões.
Um exemplo típico
dessa situação de “estado de natureza” se dá entre os países, pois todos se encontram
em estado de igualdade, sem existir um órgão ou poder soberano superior a eles.
Justamente por isso, sempre que há uma divergência de qualquer ordem, a solução
é alcançada através da guerra (força).
Obviamente que ninguém
gosta de viver num “estado de guerra” e por isso criam-se os pactos, dos quais
a sociedade civil é um produto artificial.
Hobbes admitia a
existência de Deus. No entanto, segundo ele, o reino de Deus na Terra é civil,
onde Deus fala aos homens pela boca do Estado.
Diante dessas brevíssimas
considerações a cerca da obra de Hobbes, concluímos de fato sei imprescindível
a existência de um Estado soberano capaz de frear os devaneios e abusos
cometidos pelos homens em razão de sua busca pela melhor condição individual e
etc.
No entanto, vale
destacar que ao longo da história da humanidade existiram diversos tipos de
governo, sendo que na prática o que vimos foi um controle da massa popular por
uma minoria que alcança o exercício do poder soberano.
Isto é, ainda que
tenhamos tentado a implantação de sistemas absolutistas, monárquicos, liberais,
sociais e etc, nunca alcançamos um nível de consciência plena entre governantes
e governados que capacitasse cada indivíduo a possuir uma responsabilidade
suficiente para exercer suas atribuições, seja de governar, seja de ser
governado, a ponto de viver harmonicamente.
O
ESTADO EM NOSSO LAR :
Embora dotado de
obvias peculiaridades, o que André Luiz relata sobre a vida em NOSSO LAR demonstra enormes semelhanças
com a vida entre os encarnados.
Podemos extrair
algumas passagens da obra de André Luiz em que temos situações exatamente
semelhantes as que vivemos aqui em nosso plano.
Todavia, o que notamos
é que a forma com que as coisas são conduzidas na colônia espiritual diferem
sobremaneira da nossa realidade. E essa condução se dá de forma diversa
justamente porque, embora a cidade espiritual seja dotada de um governo formado
através dos mesmos fatores e fundamentos aqui do nosso plano, o que vemos por
lá são governantes conscientes e prontos para implantar sistemas que buscam apenas
a melhoria da condição eterna da população.
Da mesma forma, os
seres que habitam o NOSSO LAR, se compararmos com os habitantes dos planos
materiais, contam com uma visão da vida muito mais clara e objetiva dessa
jornada espiritual do ser enquanto espírito eterno e em continuada evolução,
mesmo sem estarem num estágio superior na caminhada pela evolução.
Ou seja, devido a já
possuírem a certeza da continuidade da vida após o
desencarne, entendo ser mais simples para os habitantes da cidade de André Luiz
visualizar o todo do universo e entender, pelo menos com um pouco mais de
facilidade, que as paixões terrestres e os apegos materiais são objetivos
ínfimos se comparados com a longa trajetória evolutiva planejada por Deus.
ORIGEM HISTÓRICA DO NOSSO
LAR:
Possivelmente
por não ser o objetivo principal do livro, não consta na obra de André Luiz
grandes detalhes a cerca da formação da colônia espiritual. Apenas no Capítulo
8 – “Organização de Serviços”, Lísias dá algumas pinceladas a respeito da
história da cidade espiritual, conforme já exposto anteriormente.
Apesar
dessa rápida abordagem feita no livro, passaremos a divagar pelos próximos parágrafos
a respeito do tema.
Lísias
explica para André Luiz que toda manifestação de ordem no mundo procede do
plano superior e que o pensamento humano, quando inspirado pelas esferas mais altas,
é capaz de transformar a “natureza agreste em jardim”.
Ou seja, a
comunicabilidade existente entre as esferas materiais e espirituais faz com que
o homem, enquanto encarnado, possa absorver um pouco da realidade do mundo espiritual
e tentar implantá-la na Terra. Pena que nem sempre (ou nunca) o faz de forma plena.
Conforme
já mencionado acima, o homem tem a necessidade de viver em organizações regularmente
criadas para que sua natureza primitiva não seja aflorada em todo momento.
Percebemos
que também em NOSSO LAR , localizada
na terceira esfera espiritual (ainda parte do umbral) há essa necessidade de se
criar uma organização política capaz de governar e orientar a população.
Possivelmente
na ocasião em que os portugueses fundadores da colônia desencarnaram, se
depararam com a necessidade de habitar alguma zona espiritual e viram-se diante
de uma realidade amedrontadora, criando-se a necessidade da fundação de uma
colônia espiritual organizada e apta a propiciar aos seus habitantes uma
evolução espiritual.
Em razão
de não estudarmos muito a fundo a respeito das sociedades indígenas na escola oficial
e por ter sido colocado em nossas mentes que o Brasil fora “descoberto” por
europeus em 1500, quando na verdade a região já era conhecida e habitada sabe-se
lá há quanto tempo, acabamos por criar a impressão de que os primeiros
habitantes do nosso país não possuíam o mesmo estágio evolutivo dos europeus.
Talvez de
fato os índios não gozassem do mesmo estágio intelectual dos portugueses que
séculos antes já haviam saído de seus domínios em busca de conhecer novas
civilizações, o que possivelmente os dotou de grande sabedoria espiritual e
intelectual, capacitando-os a formar uma colônia tão próspera e organizada.
Mas, é
importante frisar que, embora os silvícolas do Brasil fossem talvez dotados de menor
capacidade construtiva, intelectual e etc, eles devem ter dado sua colaboração para
a construção da colônia, principalmente em razão do seu espírito fraterno, de ligação
e respeito com a natureza e de certo desapego a realidade material.
Assim,
ficou evidente a presença de alguns dos fatores essenciais para a formação das nações,
conforme narrado acima, sobretudo os psicológicos, o que deve ter facilitado a insistência
da criação da colônia.
Ademais,
nunca é exagerado lembrar que em nosso plano muitas vezes a formação dos
estados se dá através de batalhas e sangrias, o que, conforme narrado na obra de
André Luiz, não foi o caso de NOSSO LAR. (Continua)
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“INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA MENSAL
ANO
XXXII N° 388
JANEIRO 2009
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Redação:
Rua Souza Caldas, 343 - Fone: (11) 2764-5700
Correspondência:
Cx. Postal: 45.307 - Ag. Vl. Mariana/São Paulo (SP)
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