A BOA SOLIDÃO ACAUTELA O
HOMEM
CONTRA A VIDA SOLITÁRIA (Jorge Hessen)
By Jorge Hessen | Category: Artigos
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Pesquisa realizada por John Cacioppo,
cientista e professor de psicologia da Universidade de Chicago, nos Estados
Unidos, sugere que o isolamento impacta e acelera o extermínio “prematuro” do
idoso solitário. Para Cacioppo há fatores de risco em face do sentimento de
solidão, dentre os quais estão a interrupção frequente do sono, elevação da
pressão arterial, aumento do cortisol (hormônio do estresse), alteração do
sistema imunológico e aumento da depressão. (1) Talvez realmente a solidão seja
preocupante enfermidade dos dias de hoje.
As invenções tecnológicas, avançando em
uma velocidade vertiginosa, propõem “democratizar” as relações sociais. Tais
recursos vêm disponibilizando recursos sedutores, a saber: a TV digital, os
smartphones com suas múltiplas funções, os vídeos e filmes de alta definição,
os notebooks, os tablets, a internet, as redes sociais, os jogos eletrônicos virtuais;
eis aí uma lista mínima do que a tecnologia tem proporcionado.
Há uma respectiva quebra da necessidade
de se estar fisicamente “junto”, a fim de
conversar, ampliar amizade, trocar
emoções. Consegue-se através do aplicativo whatsapp, por exemplo, dialogar,
trocar mensagens, vídeos, fotos, de qualquer lugar, horário e distância,
conectando-se todos a tudo. Viabiliza-se resgatar amizades perdidas no tempo, reencontrar
familiares que a distância afastou e refazer relacionamentos que se submergiram
pelos caminhos. Entretanto, paradoxalmente, a tecnologia que nos cerca externamente
pouco preenche interiormente. De tal modo que não será a tecnologia que nos
afastará da “má solidão”, aliás, característica dos que não vivem valores da solidariedade,
da compaixão, da fraternidade.
Vive-se hoje a estranha sensação de que
não se está sozinho na multidão. Indivíduos cercados por pessoas em ônibus,
metrôs, aviões, estádios, localidades de trabalho, avenidas, ruas. Contudo,
nessa selva de pedras existem muitos sujeitos solitários. E quanto mais são
cercados de gente, de barulho, de tarefas, mais se agrava a sensação de que
estão sozinhos. Parece contraditório? Será a “maligna solidão” a ausência de companhia,
de pessoas à volta de certos solitários? Consistiria em estar longe das civilizações?
Mas será que toda solidão é malfazeja?
Notemos a rocha que sustenta a planície costuma viver isolada e o Sol que
alimenta o mundo inteiro brilha sozinho. Lord Byron dizia que “na solidão é
quando estamos menos só.” (2) Para certas horas a saudável solidão é para o espírito
o que a dieta é para o corpo. Muitas vezes, para ouvirmos a voz sincera da consciência
precisamos saber fazer silêncio em torno de nós e dentro de nós. Há momentos em
que é imprescindível a busca da benéfica solidão para nos encontrarmos conosco,
em um reencontro com a própria alma, de maneira tranquila e serena, sabendo que
guardamos em nossa intimidade a chave para nossa ascensão espiritual. É nesses momentos
de introspecção que conseguimos analisar atitudes, valores e sentimentos. Sob esse
ponto de vista, a meiga solidão será oportuna companheira a ser buscada, para
que possamos nos encontrar e nos conhecer.
Não esqueçamos que em nossa marcha rumo
à luz imperecível cultivamos diálogos que dizem respeito somente a nós mesmos.
Nada nos impede, pois, com regularidade, evadirmo-nos do mundo, buscando
momentos de magna solidão, em que teremos apenas nós mesmos para viajar em
torno da consciência, pois quando silencia o mundo à nossa volta conseguimos
ouvir a voz da consciência e até mesmo escutar o nosso “EU” histórico.
Serão esses espaços de abençoada
solidão que nos consentirão reavaliar comportamentos para, nas próximas
experiências, evitar que repitamos os mesmos
desacertos, em análogas ocasiões. A
sós, diariamente, alguns momentos para meditar a respeito do que fazemos, como
fazemos, nos permitirá marchar por estradas íntimas e nos desvendar em
profundidade.
Há quem use a prodigiosa solidão como
tempo de inspiração, análise e programação.
Quando fazemos silêncio exterior, damos
vazão ao mundo interno, intenso e palpitante. Há tanta gente mergulhada em
alaridos indigestos, dominada por conversas maledicentes ou pelo estrondo de
risadas burlescas; há tanta gente rodeada de pessoas, mas com a alma amargurada,
oprimida, oca. Lembremos que tudo tem o seu tempo determinado, conforme narra o
Eclesiastes. Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar, tempo de colher,
tempo de chorar e tempo de sorrir; tempo de falar e tempo de silenciar também.”
(3) Então, por que temer a santa
solidão? Se a vida nos oferece a bondosa solidão,
saibamos abrigá-la como um tesouro.
Aproveitemos cada instante para meditações.
Encaremos tudo e todas as
circunstâncias como ensejo de aprendizado.
Obviamente Deus nos criou para viver em
sociedade. Não nos ofereceu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades
necessárias à vida de relação humana. É natural que o “isolamento absoluto”
seja contrário à lei da Natureza, até porque por instinto buscamos a sociedade
e devemos concorrer para o progresso, auxiliando-nos mutuamente. Ora, completamente
isolados, não dispomos de todas as faculdades. Falta-nos o contato com os
outros de nós. No isolamento incondicional ficamos brutos e morremos. (4) Por
essas criteriosas razões é importante caracterizar as distintas solidões –
aquela que significa fuga definitiva do convício social daquela outra que nos
abastece a alma a fim de que jamais constemos no rol dos seres solitários.
Jorge Hessen
Notas e referências bibliográficas:
(1) Disponível em
http://oglobo.globo.com/saude/solidao-aumenta-em-14-as-chances-deidosos-morrerem-de-forma-prematura-11609030#ixzz2yAIPeewV
acesso em 05/04/2014
(2) George Gordon Byron, comumente
conhecido como Lord Byron; foi um escrito/poeta inglês do século XIX.
(3) Eclesiastes 3:1-8
(4) Kardec, Allan. O Livro dos
Espíritos, questões 766,767 e 768, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2000
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