A CAMINHO DO BISTURI COMO O BOI PARA O MATADOURO?
Ressurge, nas hostes espíritas, a fascinação pela procura de
médiuns incorporadores de “médicos” do além, à moda “Zé Arigó” [alguns nem
utilizam instrumentais cirúrgicos]. Em que pese existirem médiuns não-espiritas
sérios, e que nada cobram dos pacientes, há aqueles que jamais recomendaríamos.
Sabemos da intervenção dos desencarnados nos processos terapêuticos na Terra,
mas não se pode dar ênfase a esse tipo de trabalho, na suposição de consolar
almas desvalidas ou na falsa idéia de fortalecimento do Espiritismo por esses
meios. Temos exemplos tristes dessa prática dispensável nos meios espíritas.
Leitor amigo, procure se informar qual foi o destino do Zé Arigó, em Minas; do
Edson Queiróz, em Pernambuco, e do Rubens Faria, no Rio de Janeiro.
Há, no interior de Goiás, um médium conhecido (principalmente,
fora do Brasil) que atende cerca de 2000 pessoas por dia. Na sua instituição,
vende-se um frasco, contendo cápsulas, à base de maracujá, no valor de R$ 10,00
(dez reais). Se, na ponta do lápis, somarmos o montante dessas vendas, com
outras despesas que o centro acaba impondo aos seus assistidos, chegaremos, facilmente,
a cifras de milhões de reais por ano. Por essas e outras muitas razões, certa
vez, perguntaram ao Chico Xavier: “Têm surgido muitos médiuns e curadores por
este Brasil afora, que receitam remédios e, até, operam os doentes. Qual a
maneira de se identificar o verdadeiro do
falso?” Chico responde: “EU CREIO QUE ISTO DEVA SER FRUTO DA
EDUCAÇÃO DO SERTANEJO, ACREDITAR QUE, PAGANDO BEM, IRÁ
CONSEGUIR CURAS ESPIRITUAIS. O VERDADEIRO ESPIRITISMO NÃO PODE
COBRAR, NEM MESMO OS REMÉDIOS QUE RECEITA AOS DOENTES.
Chico evitava as queixas e escrevia sem parar, apesar das dores
que sofria por causa de um tumor localizado na próstata. Agüentou o sofrimento
enquanto pôde, mas a cirurgia era inevitável. Zé Arigó, o médium que incorporava
o Dr. Fritz, e realizava cirurgias sem anestesia, ofereceu-se para operar o colega.
Chico, humildemente, recusou a oferta e preferiu se internar numa clínica, em
São Paulo. Antes, tomou o cuidado de entregar ao Dr. Elias Barbosa documentos
particulares, pois “Ninguém sabe o que pode acontecer”, disse ele.
Uma vez optando pelos médicos da matéria, sua atitude provocou uma
grande polêmica no meio espírita. Por que não aceitou a oferta do Dr. Fritz,
tão requisitado na época?
Ele duvidava do poder dos Espíritos? O protegido de Emmanuel se
limitou a repetir a resposta dada a Arigó:
COMO EU FICARIA DIANTE DE TANTO SOFREDOR QUE ME PROCURA E QUE VAI
A CAMINHO DO BISTURI, COMO O BOI PARA O MATADOURO? E EU VOU QUERER FACILIDADES?
EU TENHO QUE ME OPERAR COMO OS OUTROS, SOFRENDO COMO ELES. Anos mais tarde, num
desabafo, Chico deixaria de lado a diplomacia e disse: SOU CONTRA ESSA HISTÓRIA
DE METER O CANIVETE NO CORPO DOS OUTROS SEM SER MÉDICO. O MÉDICO ESTUDOU
BASTANTE ANATOMIA, PATOLOGIA E, POR ISSO, ESTÁ HABILITADO A FAZER UMA CIRURGIA.
POR QUE EU, SENDO MÉDIUM, VOU AGORA PEGAR UMA FACA E ABRIR O CORPO DE UM
CRISTÃO SEM SER CONSIDERADO UM CRIMINOSO? (1)
Sempre obediente aos conselhos do seu guia espiritual, explicava: “EU
JA ME OPEREI 5 VEZES, E VÁRIOS MÉDIUNS ME OFERECERAM SEUS SERVIÇOS. O ESPÍRITO
EMMANUEL ME DISSE: VOCE DEVERIA
TER VERGONHA ATÉ DE PENSAR EM RECEBER ESTE TIPO DE CURA, PORQUE
TODOS OS OUTROS DOENTES VERTEM SANGUE, ATÉ TOMAM DETERMINADOS REMÉDIOS PARA
MELHORAR.
COMO VOCE PRETENDE SE CURAR NUMA CADEIRA DE BALANÇO?". Daí,
perguntaram-lhe:
Chico, como conciliar os recursos da medicina terrestre, especialmente
na área da cirurgia, com a correção de anomalias orgânicas em criaturas com
processos de resgates cármicos? Chico Xavier, então, respondeu: “NÃO IMPORTA
QUE A CIRURGIA FAÇA DESAPARECER ANOMALIAS INIBIDORAS OU DEFORMANTES DE IMPLEMENTOS
SOMÁTICOS. O PERISPÍRITO CONSERVARÁ A DEFICIENCIA, QUE VAI SE PROJETAR PARA
REENCARNAÇÕES FUTURAS, A NÃO SER QUE O ESPÍRITO DEVEDOR SE AJUSTE COM A LEI DA
JUSTIÇA, COBRINDO COM AMOR A "MULTIDÃO DE PECADOS", SEGUNDO O EVANGELHO.
A CIRURGIA CORRIGE TRANSITÓRIAMENTE AS DEFICIENCIAS FÍSICAS.
O AMOR, TRABALHANDO NOS TECIDOS SUTIS DA ALMA, PURIFICA E REDIME
PARA A ETERNIDADE.” (2) O que a medicina dos homens não
conseguiu curar foi o problema da visão do Chico. Ele deu, mais
uma vez, prova de que não se desviaria dos ensinamentos de Emmanuel ao recusar,
em 1969, a oferta do médium Zé Arigó, que desejava operar,
espiritualmente, seus olhos, dizendo-lhe o seguinte: "A DOENÇA
É UMA PROVAÇÃO DO ESPÍRITO QUE DEVO SUPORTAR". (3)
Diante disso, e movido por justa preocupação, porquanto, há mais
de trinta anos, laborando no jornalismo espírita, deliberei escrever, há dois
anos, o seguinte: A revista Veja, de 14/06/2000, pág. 68, traz longa reportagem
intitulada "Não ajuda em nada", demonstrando que
pesquisas confirmam uma realidade preocupante, ou seja, que
tratamentos alternativos (místicos), quase sempre, são ineficazes no
restabelecimento da saúde de pacientes, especialmente, com câncer. É lastimável
sabermos que existem, ainda, em nossas hostes, espíritas que evocam "Espíritos",
para que lhes atendam como cirurgiões do “além”, que vão retalhando corpos em
nome de “operações espirituais”; que lhes prescrevam medicamentos alopáticos,
fitoterápicos (ervas "milagrosas") e chás de "coisa nenhuma” ou,
ainda, que lhes forneçam dietas para emagrecimento. O Espírito André Luiz
adverte: "Aceitar o auxílio dos missionários e obreiros da medicina
terrena, não exigindo proteção e responsabilidade exclusivos dos médicos desencarnados”.
(4) A tendência de subestimar a contribuição da medicina humana,
entregando nossas enfermidades aos Espíritos milagreiros do além (de
preferência cirurgião com nome germânico ou hindu, como se isso impusesse maior
credibilidade), para que "curem" complexos processos de metástases,
por exemplo, é uma atitude equivocada. Os
conceitos espíritas nos remetem à certeza de que a matriz das
doenças está fincada no estado mental do enfermo, ou seja, o espírito é o
verdadeiro responsável pelas enfermidades. Portanto, a rigor, não serão os
agentes externos que proporcionarão a cura daqueles que teimam em permanecer
entorpecidos, na condição de revoltosos ou hesitantes diante dos códigos de
justiça, vigentes nos Estatutos Divinos, mas a mudança de comportamento, pois o
equilíbrio das forças mentais impede que invasores se nutram das energias
debilitadas. Não podemos, porém, ignorar, de forma alguma, as heranças que
provêm das Leis de Causa e Efeito. As enfermidades que se alongam, por toda uma
vida, são expiações decorrentes de profundas raízes de natureza moral, que só
se extinguirão mediante o
fim do resgate, pois, "A doença pertinaz leva à purificação mais
profunda”. (5) Os Espíritos não estão à nossa disposição para promoverem curas
de patologias que, não raro, representam providências corretivas para o nosso crescimento
espiritual no buril expiatório. Nesse sentido, os dirigentes de núcleos
espíritas deveriam promover bases de estudos e reflexões sobre as propostas
filosóficas,
científicas e religiosas do Espiritismo, ao invés de encetarem
trabalhos espirituais para os inócuos "curandeirismos".
Os preceitos doutrinários nos esclarecem que devemos "Aproveitar
a moléstia como período de lições, sobretudo como tempo de aplicação de valores
alusivos à convicção religiosa. A enfermidade pode ser considerada por termômetro
da fé”. (6) Desta forma, são inoportunas certas manifestações de “promessas de
cura das obsessões” com sessões da famosa corrente magnética brasiliense
(prática "inventada” em Brasília, por grupos que seduzem empolgados “filantropômanos”,
através do apelo assistencialista, inoculando estranhas práticas doutrinárias) como
a magnetização "desobsessiva" para afastar Espíritos aos moldes de
como se espantam moscas das feridas expostas. Para consubstanciar esse
objetivo, recorrem ao auxílio da varinha de condão, do chamado "choque anímico",
com o qual os enfermos se "libertam" dos obsessores, conforme promete
livro (7) publicado pelos seguidores desse movimento equivocado. Há, ainda, outros
núcleos que propõem aplicações de luzes coloridas (cromoterapias) para
higienizar auras humanas e curar (pasmem): azia, cálculo renal, coceiras, dores
de dente, gripes, soluços em crianças, verminose, frieiras, conforme propaga
literatura específica. (8) Acreditem! Se não bastasse, recomenda-se, até,
carvãoterapia (?!) para neutralizar "maus-olhados". Nesse sentido,
segundo crêem, é só colocar um pedaço de tora de carvão debaixo da cama e
estaremos imunes ao grande flagelo da humanidade - o "olho comprido”!
Algumas instituições espíritas têm distribuído uma pomada “CURA
TUDO” como se fosse “água benta”. O que se nota, a bem da verdade, é que as
instituições espíritas se desincumbem da vigilância para com a pureza doutrinária,
tão necessária para o fiel desempenho dos
trabalhos a que elas se destinam. O que se vê é um afrouxamento do
rigor que se deve imprimir aos ideais sublimes. Abrir espaço para a liberdade
de agir não significa aceitar as injunções pressionadoras de sistemas divergentes,
nas casas espíritas, que teimam em se alojar aqui e ali, na tentativa de, pelo
decurso do tempo, serem confundidos e aceitos como Espiritismo de fato, a exemplo
do ramatisismo, armondismo, umbandismo etc, e mais, os apometristas, cromoterapistas,
pomadistas, cepalistas etc. Que nos alcunhem de “fundamentalistas”, por
defendermos os “fundamentos” da Doutrina Espírita, que nada mais é que estarmos
harmonizados com as Leis da Natureza e que a ninguém é dado o poder de
modificálas, o que é bem diferente de permanecermos retrógrados diante dessas
evidências. As vozes dos “vendedores de ilusões” não podem ecoar mais forte que
essas leis e de nossa advertência, JAMAIS!!! Se alguém tem que
silenciar, que não sejam os sinceros adeptos do Evangelho, via
ESPIRITISMO. Cremos que os que se incomodam com essas admoestações deveriam,
por coerência e bom senso, buscar outras propostas doutrinárias afins, e deixarem
o Espiritismo em paz, a seguir seu curso sem enxertos perigosos.
O que queremos é a transparência doutrinária no movimento
espírita, e não a confusão doutrinária; maior rigor para com os divergentes, a
fim de que desanimem e se afastem de uma vez por todas. A vida moderna, globalizada
ou não, está a pedir, isso sim, posicionamentos
e comportamentos firmes e consentâneos com a proposta espírita.
Como bem recomenda o ínclito Codificador, em Viagem Espírita 1862, pág. 33:
"O excesso em tudo é prejudicial, mas, em semelhante caso, vale mais pecar
por excesso de prudência do que por excesso de confiança".
Sabemos que os que lêem estas linhas podem pensar que estamos
revestidos de idéias ficcionais, mas podemos assegurar que não teríamos
materiais tão imaginativos. Em recente entrevista ao jornal Alavanca -
abril/maio-2000 - Divaldo Franco adverte sobre as "terapias
alternativas", "curandeirismos" e a fascinação na prática
mediúnica,
apontando-as como fatores que têm desestabilizado o projeto da
unidade doutrinária". É por essas e outras que a revista Veja, abril de
1999, registra que os médicos, da ala conservadora da psiquiatria, consideram
os médiuns como dotados de neuroses, psicoses, desvios de personalidade, esquizofrenias,
etc. Se pararmos para refletir, daremos uma certa razão para esses
profissionais, até porque, muitos adeptos do Espiritismo não conhecem os livros
de Allan Kardec, Emmanuel, André Luiz, Joanna de Ângellis, Bezerra de Menezes,
Vianna de Carvalho e outros consagrados expoentes da difusão doutrinária e, lastimavelmente,
estão aguilhoados nas práticas que
comprometem todo o projeto doutrinário. O exercício dos Códigos
Evangélicos nos impõem a obrigatória fraternidade e a compreensão aos adeptos
dessas esquisitas práticas, o que não equivale dizer que devemos nos omitir quanto
à oportuna admoestação, para que a Casa Espírita não se transforme em academia
de andróides hipnotizados
pela fantasia e ilusão.
Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
FONTES:
(1) Souto Maior, Marcel As vidas de Chico Xavier / Marcel Souto
Maior. 2. cd. rev. e ampl. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2003.
(2) disponível em
http://ulyssesdorego.arteblog.com.br/38023/entrevistae-video-com-chico-xavier,
acessado em 25-07-09
(3) Disponível em
http://www.caminhosluz.com.br/detalhe.asp?codigo1=2639, acessado
em 25-07-09
(4) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, Ditado pelo Espírito André
Luiz, Cap.35. RJ: Editora FEB, 1977-5ª edição
(5) idem
(6) idem
(7) Colegiado dos Vínculos Fraternais, Desobsessão por Corrente
Magnética, 1ª edição Sociedade de Divulgação Espírita "Auta de
Souza"-1996.DF
(8) Nunes, René. Cromoterapia. A Cura Através da Cor. Editora Asa
Sul./Brasília 1ª edição
Sobreo assunto leiam abaixo o que Divaldo afirma:
PERGUNTA: O Centro Espírita deve desenvolver atividades de cirurgia
mediúnica?
DIVALDO PEREIRA FRANCO: Transformar o Centro Espírita em pequeno
hospital para atendimento de todas as mazelas é uma loucura. Isso seria um
desvio da finalidade da prática do Espiritismo.
Podemos, sim, fazer uma atividade de atendimento a doentes que são
portadores de problemas na área da saúde espiritual. Poderemos
aplicar-lhes passes, doar-lhes a água fluidificada, se for o caso, mas a função
principal do Centro Espírita é iluminar a consciência daqueles que o buscam e,
quando na área da prática do Espiritismo, atender as
pessoas necessitadas de todo tipo.
Chico Xavier, que eu sabia, é a maior antena transreceptora na área
da mediunidade, do século. No entanto, está assistido por médicos terrestres.
Ele tem um médico cardiologista, um clínico geral, um urologista etc. O
Espírito do Dr. Fritz quis cirurgiá-lo, em 1965, através do médium não espírita
Arigó: - "Eu te ponho bom desse olho. Faço-te a cirurgia agora!" O
Chico respondeu-lhe: - "Não, isso é um karma. Eu sei que o senhor pode
consertar o meu olho. Mas como o karma continuará, vai aparecer me outra
doença. Como eu já estou acostumado com essa, eu a prefiro. Por que eu iria
querer uma doença nova?".
(Matéria publicada no jornal "A Gazeta do Iguaçu" em julho
de 97)
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