EVANGELHO ESSENCIAL 17
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti
17- SEDE PERFEITOS
Ama aos teus inimigos; faças o bem aos que te odeiam e ore pelos que te perseguem e caluniam. - Porque, se somente amares os que te amam que recompensa terás disso? Não fazem assim também os publicanos? - Se unicamente saudares os teus irmãos, que fazes com isso mais do que outros? Não fazem o mesmo os pagãos? - Sejam perfeitos, como perfeito é o Pai celestial. (S. MATEUS, cap. V, vv. 44, 46 a 48.)
Caracteres da perfeição
Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas e esta proposição:
"Sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial" tomada ao pé da letra, pressupõe a possibilidade de atingir-se a perfeição absoluta. Se à criatura pudesse ser tão perfeita quanto o Criador, tornar-se-ia ela igual a este, o que é inadmissível. Mas, os homens a quem Jesus falava não compreenderiam essa delicada diferença, pelo que se limitou a apresentar um modelo e a dizer-lhes que se esforçassem por alcançar.
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Aquelas palavras devem entender-se no sentido da perfeição relativa, a que a Humanidade é capaz de atingir e que mais a aproxima da Divindade.
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Em que consiste essa perfeição? Jesus o diz: "Em amarmos os nossos inimigos, em fazermos o bem aos que nos odeiam, em orarmos pelos que nos perseguem". Mostra desse modo que a essência da perfeição é a caridade no seu mais amplo significado, porque implica a prática de todas as outras virtudes.
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Não podendo o amor do próximo, levado até ao amor dos inimigos, aliar-se a nenhum defeito contrário à caridade, aquele amor é sempre sinal de maior ou menor superioridade moral, donde decorre que o grau da perfeição está na razão direta da sua extensão. Foi por isso que Jesus, depois de haver dado à seus discípulos as regras da caridade, no que tem de mais sublime, lhes disse: "Sejam perfeitos, como perfeito é o Pai celestial."
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O homem de bem
O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, perguntando se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez ao outro tudo o que desejaria lhe fizessem.
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O homem de bem deposita fé em Deus, na Sua bondade, justiça e sabedoria. Sabe que sem a Sua permissão nada acontece e se submete à Sua vontade em todas as coisas. Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens terrenos. Sabe que todas as vicissitudes da vida, as dores, e as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar. Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar pagamento algum; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seus interesses à justiça. Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer felizes os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que distribui aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros, antes do seu próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os lucros e as perdas decorrentes de toda ação generosa. O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus. Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não reprova os que como ele não pensam. Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como certo que aquele que prejudica a outro com palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e desprezo a sensibilidade de alguém, que não recua à ideia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não merece a clemência do Senhor. Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado será, conforme houver perdoado. É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta máxima do Cristo:
“Atire-lhe a primeira pedra aquele que se encontrar sem pecado”. Nunca se alegra em procurar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los.
Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal. Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera. Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, à custa de outro; aproveita todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros. Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais, por saber que tudo o que lhe foi dado pode ser-lhe tirado. Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que é um depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas paixões. Se a ordem social colocou sob sua responsabilidade outros homens, trata-os com bondade e benevolência, porque são iguais perante Deus; usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu orgulho. Evita tudo quanto lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna em que se encontram. O subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição que ocupa e se empenha em cumpri-los conscienciosamente. Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza, como quer que sejam respeitados os seus. Não ficam enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem; mas, aquele que se esforce por possuir estas, no caminho se encontra para as demais.
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Os bons espíritas
O Espiritismo não institui nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da moral do Cristo, dando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam.
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Os espíritas imperfeitos são aqueles que ficam a meio caminho ou se afastam de seus irmãos em crença, por que recuam ante a obrigação de se reformarem, ou então guardam as suas simpatias para os que lhes compartilham das fraquezas ou das desconfianças. Contudo, a aceitação do princípio da doutrina é um primeiro passo que lhes tornará mais fácil o segundo, noutra existência.
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Aquele que pode ser qualificado de espírita verdadeiro e sincero, se encontra em grau superior de adiantamento moral. O Espírito, que nele domina de modo mais completo a matéria, dá-lhe uma percepção mais clara do futuro; os princípios da Doutrina lhe fazem vibrar o caráter que nos outros se conserva paralisado. Em suma: é tocado no coração, tornando inabalável a sua fé. Um é igual ao músico que alguns acordes bastam para comover, ao passo que outro apenas ouve sons.
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Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para dominar suas inclinações más.
Parábola do semeador
Naquele mesmo dia, tendo saído de casa, Jesus sentou-se à borda do mar e falou para a multidão, por parábolas: Aquele que semeia saiu a semear; - e, semeando, uma parte da semente caiu ao longo do caminho e os pássaros do céu vieram e a comeram. - Outra parte caiu em lugares pedregosos onde não havia muita terra; as sementes logo brotaram, porque carecia de profundidade a terra onde haviam caído. - Mas, levantando-se, o sol as queimou e, como não tinham raízes, secaram. - Outra parte caiu entre espinheiros e estes, crescendo, as abafaram. Outra, finalmente, caiu em terra boa e produziu frutos, dando algumas sementes cem por um, outras sessenta e outras trinta. - Ouça quem tem ouvidos de ouvir. (S. MATEUS, cap. XIII, vv. 1 a 9.) Escute a parábola do semeador. –
Quem quer que escuta a palavra do reino e não lhe dá atenção, vem o espírito maligno e tira o que lhe fora semeado no coração. Esse é o que recebeu a semente ao longo do caminho. - Aquele que recebe a semente em meio das pedras é o que escuta a palavra e a recebe com alegria no primeiro momento. - Mas, não tendo nele raízes, dura apenas algum tempo. Em sobrevindo tribulações e perseguições por causa da palavra, tira ele daí motivo de escândalo e de queda. - Aquele que recebe a semente entre espinheiros é o que ouve a palavra; mas, em quem, logo, os cuidados deste século e a ilusão das riquezas abafam aquela palavra e a tornam infrutífera. - Aquele porém, que recebe a semente em boa terra é o que escuta a palavra, que lhe presta atenção e em quem ela produz frutos, dando cem ou sessenta, ou trinta por um. (S. MATEUS, cap. XIII. vv. 18 a 23.)
A parábola do semeador exprime os matizes existentes na maneira de serem utilizados os ensinos do Evangelho. Quantas pessoas existem para as quais não passa ele de letra morta e que, como a semente caída sobre pedregulhos, nenhum fruto dá!
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Não menos justa aplicação encontramos em diferentes categorias de espíritas. Não se acham simbolizados nela os que apenas atentam nos fenômenos materiais e nenhuma consequência tiram deles, porque neles mais não veem do que fatos curiosos?
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Os que apenas se preocupam com o lado brilhante das comunicações dos Espíritos, pelas quais só se interessam quando lhes satisfazem à imaginação, e que, depois de as terem ouvido, se conservam tão frios e indiferentes quanto eram? Os que reconhecem muito bons os conselhos e os admiram, mas para serem aplicados aos outros e não a si próprios?
Aqueles, finalmente, para os quais essas instruções são como a semente que cai em terra boa e dá frutos?
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INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
O Dever
Espírito Lázaro – Paris, 1863
O dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e em seguida, para com os outros. O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas menores particularidades, como nos atos mais elevados.
Quero falar apenas do dever moral e não do dever que as profissões impõem.
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Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se, por se achar em antagonismo com as atrações do interesse e do coração. Não têm testemunhas as suas vitórias e não estão sujeitas à repressão suas derrotas. O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livre-arbítrio. O peso da consciência, guardião da integridade interior, o adverte e sustenta; mas, muitas vezes, mostra-se impotente diante dos argumentos enganosos da paixão. Fielmente observado, o dever do coração eleva o homem; porém, como determiná-lo com exatidão? Onde começa? Onde termina?
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O dever principia, para cada um, exatamente no ponto em que ameaça a felicidade ou a tranquilidade do seu próximo; acaba no limite que não deseja ninguém transponha com relação a si.
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A igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos.
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O dever é o resumo prático de todas as considerações morais; é uma bravura da alma que enfrenta as angústias da luta; é austero e brando; pronto a dobrar-se às mais diversas complicações, conserva-se inflexível diante das suas tentações.
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O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo.
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O homem tem de amar o dever, não porque o preserve de males a vida, males aos quais a Humanidade não pode subtrair-se, mas porque confere à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.
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O dever cresce e irradia sob mais elevada forma, em cada um dos estágios superiores da Humanidade. Jamais cessa a obrigação moral da criatura para com Deus. Tem esta de refletir as virtudes do Eterno, que não aceita rascunhos imperfeitos, porque quer que a beleza da sua obra resplandeça a seus próprios olhos.
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A virtude
Espíritos François-Nicolas-Madeleine -Paris, 1863.
A virtude, no mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio, modesto são qualidades do homem virtuoso.
Infelizmente, quase sempre, as acompanham pequenas enfermidades morais que as enfeiam e atenuam.
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Não é virtuoso aquele que faz ostentação da sua virtude, por que lhe falta a qualidade principal: a modéstia, e tem o vício que mais se opõe: o orgulho. A virtude, verdadeiramente digna desse nome, não gosta de ostentar-se. Adivinham-na; ela, porém, se oculta na obscuridade e foge à admiração das massas.
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Não imites o homem que se apresenta como modelo e alardeia, ele próprio, suas qualidades a todos os ouvidos tolerantes. A virtude que assim se ostenta esconde muitas vezes uma imensidade de pequenas desonestidades e de odiosas covardias. Em princípio, o homem que se exalta, que ergue uma estátua à sua própria virtude, anula, por esse simples fato, todo mérito real que possa ter.
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Que dizer daquele cujo único valor consiste em parecer o que não é?
Compreende-se que o homem que pratica o bem experimenta uma satisfação íntima em seu coração; mas, desde que tal satisfação se exteriorize, para colher elogios, degenera em amor-próprio.
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Mais vale pouca virtude com modéstia, do que muita com orgulho. Pelo orgulho é que as humanidades sucessivamente se perderam; pela humildade é que um dia elas se redimirão.
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Os superiores e os inferiores
Espíritos François-Nicolas-Madeleine, Cardeal Morlot. (Paris, 1863.)
A autoridade, tanto quanto a riqueza, é uma delegação de que se terá de prestar contas àquele que se encontre dela investido. Não julgues que seja ela conferida para te proporcionar o vão prazer de mandar; nem, conforme o supõe a maioria dos poderosos da Terra, como um direito, uma propriedade. Deus lhes prova constantemente que não é nem uma nem outra coisa, pois que deles a retira quando lhe agrade. Se fosse um privilégio inerente às suas personalidades, seria inalienável. A ninguém cabe dizer que uma coisa lhe pertence, quando esta pode ser tirada sem seu consentimento.
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Deus confere a autoridade a título de missão, ou de prova, quando o entende, e a retira quando considera conveniente.
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Quem quer que seja depositário de autoridade, seja qual for a sua extensão, desde a do senhor sobre o seu servo, até a do soberano sobre o seu povo, não deve esquecer que tem almas a seu cargo; que responderá pela boa ou má diretriz que dê aos seus subordinados e que sobre ele recairão as faltas que estes cometam, os vícios a que sejam arrastados em consequência dessa diretriz ou dos maus exemplos, do mesmo modo que colherá os frutos da solicitude que empregar para os conduzir ao bem.
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Todo homem tem na Terra uma missão, grande ou pequena; qualquer que ela seja, sempre lhe é dada para o bem; desviá-la em seu princípio é falir ao seu desempenho.
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Assim como pergunta ao rico, também Deus questionará daquele que disponha de alguma autoridade: "Que uso fizeste dessa autoridade?
Que males evitaste? Que progresso facultaste? Se te dei subordinados, não foi para que os fizesses escravos da tua vontade, nem instrumentos dóceis aos teus caprichos ou à tua cobiça; fiz-te forte e confiei-te os que eram fracos, para que os amparasses e ajudasses a subir ao meu seio."
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O superior, que se ache compenetrado das palavras do Cristo, a nenhum despreza dos que lhe estejam submetidos, porque sabe que as diferenças sociais não prevalecem às vistas de Deus.
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Ensina o Espiritismo que, se eles hoje lhe obedecem, talvez já lhe tenham dado ordens, ou poderão dá-las mais tarde, e que ele então será tratado conforme os haja tratado, quando sobre eles exercia autoridade.
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Mas, se o superior tem deveres a cumprir, o inferior, por sua vez, também os tem e não menos importantes. Se for espírita, sua consciência ainda mais lhe dirá que não pode considerar-se dispensado de cumpri-los, nem mesmo quando o seu chefe deixe de dar cumprimento aos dele, porque sabe muito bem não ser lícito retribuir o mal com o mal e que as faltas de uns não justificam as de outros. Se a sua posição acarreta sofrimentos, reconhecerá que os mereceu, porque, provavelmente, abusou outrora da autoridade que tinha, cabendo-lhe experimentar a seu turno o que fizera sofressem os outros. Se é obrigado a suportar essa posição, por não encontrar outra melhor, o Espiritismo ensina a resignar-se, constituindo isso uma prova para a sua humildade, necessária ao seu adiantamento. Sua crença lhe orienta a conduta e o induz a proceder como gostaria que seus subordinados procedessem para com ele, caso fosse o chefe. Por isso mesmo, mais escrupuloso se mostra no cumprimento de suas obrigações, pois compreende que toda negligência no trabalho redunda em prejuízo para aquele que o remunera e a quem deve ele o seu tempo e os seus esforços. Numa palavra: solicita-o o sentimento do dever, oriundo da sua fé, e a certeza de que todo afastamento do caminho reto implica uma dívida que, cedo ou tarde, terá de pagar.
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O homem no mundo
Um Espírito Protetor. (Bordéus, 1863.)
Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração dos que se reúnem sob as vistas do Senhor e imploram a assistência dos bons Espíritos. Purifiquem os corações; não consintam que neles demore qualquer pensamento mundano ou fútil. Elevem o seu espírito àqueles por quem chamam, a fim de que encontrando-lhes as necessárias disposições, possam lançar fartamente a semente que é preciso germinar em suas almas e dê frutos de caridade e justiça.
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Não julguem que, exortando-lhes incessantemente à prece e à evocação mental, pretendamos vivam uma vida mística, que lhes conserve fora das leis da sociedade onde vives. Não; vivam com os homens da sua época, como devem viver os homens. Sacrifiquem as necessidades, mesmo as frivolidades do dia, mas sacrifiquem com um sentimento de pureza que as possa santificar.
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És chamado a estar em contato com espíritos de naturezas diferentes, de caracteres opostos: não choques a nenhum daqueles com quem estiver. Sejam joviais, ditosos, mas seja a sua jovialidade a que provém de uma consciência limpa, seja a sua ventura a do herdeiro do Céu que conta os dias que faltam para entrar na posse da sua herança.
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Não consiste a virtude em assumirem severo e entristecido aspecto, em repelirem as alegrias que as suas condições humanas lhes permitem.
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Basta refiras todos os atos da sua vida ao Criador que lhe deu; basta que, quando começar ou acabar uma obra, eleves o pensamento ao Criador e lhe peça, numa elevação de alma, ou a sua proteção para que obtenha êxito, ou a sua bênção para ela, se a concluíste. Em tudo o que fizerem, remonta à Fonte de todas as coisas, para que nenhuma de suas ações deixe de ser purificada e santificada pela lembrança de Deus.
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A perfeição está toda, como disse o Cristo, na prática da caridade absoluta; mas, os deveres da caridade alcançam todas as posições sociais, desde o menor até o maior.
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Nenhuma caridade teria a praticar o homem que vivesse isolado.
Unicamente no contato com os seus semelhantes, nas lutas mais árduas é que ele encontra ensejo de praticá-la. Aquele que se isola priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de aperfeiçoar-se; não tendo de pensar senão em si, sua vida é a de um egoísta.
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Não imagines que, para viveres em comunicação constante conosco, para viveres sob as vistas do Senhor, seja preciso te tortures e cubras de cinzas.
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Sejas feliz, segundo as necessidades da Humanidade; mas, que jamais na tua felicidade entre um pensamento ou um ato que possa ofender a Deus, ou tornar triste o semblante dos que te amam e dirigem. Deus é amor, e aqueles que amam santamente Ele os abençoa.
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Cuidar do corpo e do espírito
Jorge, Espírito Protetor. (Paris, l863.)
Consistirá em maltratar o corpo a perfeição moral? começarei por demonstrar a necessidade de cuidar-se do corpo que, segundo as alternativas de saúde e de enfermidade, influi de modo muito importante sobre a alma, já que se encontra prisioneira da carne.
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Para que a alma viva, se expanda e chegue a conceber as ilusões da liberdade, tem o corpo de estar são, disposto, forte.
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A relação existente entre o corpo e a alma esta por se encontrarem em dependência mútua, importando cuidar de ambos. Ama, a tua alma, porém, cuide igualmente de seu corpo, instrumento daquela.
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Desatender as necessidades que a própria Natureza indica, é desatender a lei de Deus. Não castigue o corpo pelas faltas que o teu livre-arbítrio induziu a cometer e pelas quais é ele tão responsável quanto o cavalo mal dirigido pelos acidentes que causa.
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Será mais perfeito se, martirizando o corpo, não se tornar menos egoísta, nem menos orgulhoso e mais caritativo para com o teu próximo? Não, a perfeição não está nisso: está toda nas reformas porque fizeres passar o teu Espírito. Dobre-o, submete-o, humilha-o, mortifica-o: esse é o meio de o tornar dócil à vontade de Deus e o único de alcançares a perfeição.
COMENTÁRIO
SEDE PERFEITOS
Poderemos nos considerar perfeitos algum dia? Deus é perfeito, segundo o nosso entendimento de perfeição, e considerando isso estaríamos limitando a perfeição do criador ao nosso entendimento, e aí estaríamos cerceando toda a possibilidade de Ele ter maior perfeição do que a nossa, para que pudéssemos também sermos perfeitos. É certo que nunca atingiremos a perfeição absoluta, caso em que poderíamos ser elevados à categoria de Deus. E ai haveria tantos deuses quantos os que atingissem a perfeição. Bem, seria um caos, pois mesmo sendo perfeito cada um seria um deus e então estaríamos às voltas com tantos senhores e tantas ordens que os que se tardassem um pouco ao avanço não conseguiriam nunca atingir a perfeição absoluta. Mas isto está ficando muito complexo, e então cada um no seu íntimo deverá ter a sua resposta a essa questão, será que poderíamos estar no lugar de Deus ao menos por algum tempo. Vejamos o que fizemos que nos permite esta certeza de podermos nos ocupar das questões divinas.
Amar ao próximo como a nós mesmos é o paradigma. Precisaria que tivéssemos a coragem para assumir esta postura. E acima de tudo, nem é necessário sejamos perfeitos, mas que nos esforcemos por melhorar essa questão do próximo. Necessário seria que nos perguntássemos ao fim de cada dia: será que ofendi a alguém? Prejudiquei algum irmão em seu trabalho? Feri a alguém em seu respeito e dignidade? Tratei como quisera fosse tratado? O verdadeiro homem de bem é aquele que se esforça em melhorar, em praticar a lei de amor, de caridade, de justiça.
Não usa da autoridade que lhe conferem os títulos, nem a ascendência intelectual adquiridas a custo próprio na matéria, mas faz disso um meio de que todos possam ser tratados com igualdade. Aceita as vicissitudes da vida como provas de que irá se beneficiar tornando-se mais forte, mais sereno, mais indulgente, pois compreende que os outros ao seu turno também tem suas dificuldades próprias e muitas vezes não tem o conhecimento suficiente para suportar. Sendo Espírita então, razão maior para saber que tudo é passageiro, inclusive nossa estada aqui na Terra, e que nos devemos uns aos outros e é preciso sejamos indulgentes para com o nosso irmão de jornada. Por que a Doutrina nos ensina que a verdadeira pátria é a espiritual, onde nos encontramos livres de todas as nossas necessidades próprias da vida de encarnados. Que a vida material é uma passagem necessária ao nosso progresso espiritual, através de ações mais coerentes com os ensinamentos de Jesus. Para que possamos dominar a matéria e obtermos uma visão mais clara do futuro. Para que possam vibrar em nosso íntimo as fibras que em outros ainda permanecem dormentes.
Sermos efetivamente ativos na pratica do bem e no amor ao próximo.