Livre-Arbítrio e Determinismo
José
Reis Chaves
O
livre-arbítrio é uma das questões mais polêmicas e paradoxais de todos os tempos.
E para essa filosofia, o homem é livre para a prática do bem e do mal.
Mas
arca com as conseqüências dessa liberdade. Ao livre-arbítrio opõe-se à filosofia
do determinismo, segundo a qual tudo que acontece com a natureza e o
homem já está determinado por uma causa. Ao determinismo ligam-se coisas muito
importantes, como o destino e a fatalidade, que só existem enquanto expiações
(carmas) e provações oriundas do nosso próprio livre-arbítrio. E há os
deterministas de várias categorias: os econômicos, para os quais fatores econômicos
causam todos os problemas da humanidade; para Ratzel tudo tem por
causa fatores geográficos; e Freud afirmou que nós não somos responsáveis pelo
que fazemos, por sermos vítimas de imposições inconscientes. Para Sto
Agostinho, o homem não é realmente livre por causa do pecado original. Mas
lemos na Bíblia: "A alma que pecar,
essa morrerá: o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai a iniqüidade do
filho..." (Ezequiel 18,
20). Já Spinoza divide o homem em duas partes: a divina "natura
naturans",
determinante
(o "superego" ou o "Eu Transcendente" de Jung, que supera o
"id" de Freud, e o "ego" de Adler). A "natura
naturans" tem livre-arbítrio, enquanto que a "natura naturata",
existencial, determinada, não deixa o homem ser
totalmente livre. E conclui Spinoza que só seríamos totalmente livres, se fôssemos
conscientes do que fazemos. E Huberto Rohden já diz que o nosso livre-arbítrio
é a nossa própria consciência. Segundo a física relativista de Einstein, a
quântica de Max Planck, e a Teoria das Incertezas de Heisenberg, há um certo
indeterminismo ou determinismo relativo nos fenômenos físicos.
Disso
surgiu uma espécie de casamento entre a física moderna ocidental e a metafísica
das religiões orientais (o "Tao" de Lao-Tsê). Fritjoff Capra, com sua
obra o "O Tao da Física", é
o pioneiro dessa ciência mística.. Cientistas renomados de outras áreas, como
Jung, com seu sincronismo, e o autor de "A
Mente Holotrópica", Stasnislav Groff, defendem,
igualmente, essa fusão. O determinismo moral é relativo. De fato, com o nosso
livre-arbítrio, podemos interferir nos efeitos finais de uma causa. "O amor cobre multidão de pecados" (1
Pe 4,8). Também capítulo 10 da 3a Parte de "O Livro dos Espíritos" mostra-nos
que o Espiritismo é contra o indeterminismo materialista, que sustenta ter o
mundo surgido do acaso. Porém defende o indeterminismo como lei
moral de causa e efeito, baseada no livre-arbítrio. E é óbvio que ensina o determinismo
etiológico, de causa causalista, dos fenômenos físicos naturais, e o
determinismo teleológico, de causa finalista, dependente do livre-arbítrio.
(Artigo originalmente publicado na coluna
do autor no Jornal "O Tempo", de Belo Horizonte, MG e reproduzido com
sua autorização)
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