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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

*LUIZ ANTONIO MILLECCO*


 SERVIÇO ESPÍRITA DE INFORMAÇÕES

*LUIZ ANTONIO MILLECCO*


Antonio Lucena


Tarefa difícil resumir em palavras a figura carismática de Luiz Antonio Millecco Filho, companheiro cuja falta da visão física não foi capaz de obstar a vontade de fazer com que o mundo à sua volta se tornasse um lugar melhor. Uma de suas principais lutas – pelos direitos dos portadores de deficiência visual – estava ligada à sua própria história de vida, iniciada em 30 de junho de 1932, no Rio de Janeiro. Cego de nascença, sentiu pessoalmente todas as dificuldades com que os deficientes visuais são obrigados a conviver, dificuldades que se tornam ainda maiores – mas não intransponíveis – quando vivenciadas dentro de um lar pobre, como o que, carinhosamente, o acolheu.

Último de cinco filhos, perdeu seu pai, Luiz Antonio Millecco, quando tinha apenas dois anos e meio de idade. Lutadora, sua mãe, Rosa de Carvalho Millecco, assumiu a casa e garantiu o sustento familiar com o próprio suor, trabalhando como costureira, doceira e cabeleireira. Diante desse exemplo de força e dignidade, o jovem Millecco foi consolidando sua personalidade e desenvolvendo, frente às adversidades, o espírito de luta que o levaria a se tornar uma das figuras mais dinâmicas dentro do movimento espírita do Estado do Rio.

Os primeiros contatos com a Doutrina dos Espíritos aconteceram aos 16 anos de idade. A sua principal fonte de informações, já que praticamente não havia literatura espírita em Braille, era o rádio. Através dele, acompanhava os programas de Geraldo de Aquino e Nelson Batista de Azevedo. As primeiras manifestações mediúnicas ocorreram em 1952, quando já havia se tornado também órfão de mãe. Nessa mesma ocasião conheceu o então General Mário Travassos (mais tarde Marechal), que passou a acompanhá-lo à Rádio Copacabana, para onde redigia e apresentava páginas no programa “De irmão para irmão”. Junto desse novo amigo, e com Marcus Vinícius Telles, cego do Instituto Benjamin Constant, instituição de ensino para os deficientes visuais, pôde dar asas a um antigo sonho seu: propiciar aos cegos, dentro e fora do país, o estudo do Espiritismo através do sistema Braille. E dessa forma, em 30 de junho de 1953, foi fundada a Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille, a Spleb, sob a presidência de Mário Travassos e a vice-presidência de Millecco e de Telles.

Com a Spleb abriu-se um novo leque de possibilidades para os cegos espíritas.

Em 1957, por ocasião do centenário de “O Livro dos Espíritos”, a entidade lançou em Braille “O que é o Espiritismo”, de Allan Kardec, o primeiro livro espírita do mundo grafado nesse sistema, e que teve, como todas as publicações posteriores da entidade, distribuição gratuita.

Além da Spleb – que até hoje prossegue em sua benemérita tarefa, no número 51 da Rua Tomás Coelho, no bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio, editando livros espíritas e não-espíritas de interesse dos cegos – Millecco foi um dos fundadores do Grupo Universalista Os Cireneus, de socorro espiritual e material a famílias carentes; foi também co-fundador do TeleCristo, serviço de atendimento fraterno via telefone; e, ainda, membro do conselho deliberativo da Fundação Cristã Espírita Cultural Paulo de Tarso, mantenedora da Rádio Rio de Janeiro, da qual era redator e apresentador dos programas “Ecos da terra nova”, “Estudo dinâmico da Doutrina Espírita” e “A voz da Spleb”.

Millecco atuou de forma igualmente expressiva junto ao Instituto Benjamin Constant, onde iniciou seus estudos em 1946 e, em 2003, presidiu o 1o Congresso Internacional de Cegos Espíritas. Millecco era professor de Ensino Especializado, cargo que ocupou até sua aposentadoria, no Instituto Oscar Clark, onde ingressou, em 1960, na Secretaria Geral de Saúde e Assistência.

Luiz Antonio Millecco publicou treze livros: “O lado oculto do folclore brasileiro” (1987), “Meu além de dentro e de fora” (1988), “Reflexões no meu além de fora” (1989), “Cartas a um sacerdote” (1990 – escrito em parceria), “Vivências – vol. I” (1992), “Vivências – vol. II” (1993), “O canto da vida” (1996), “Ecos de São Bartolomeu” (1998), “Embainha tua espada” (1999), “Doze passos rumo à paz interior” (2000), “É preciso cantar” (2001 – em parceria), “Música e Espiritismo” (2002 – acompanhado do CD “Canção de Deus”) e “Olhos de ver – o desafio da cegueira” (2004), comentado nesta edição do SEI.

Musicoterapeuta graduado pelo Conservatório Brasileiro de Música, no Rio de Janeiro, em 1975, trouxe contribuições também para o campo da musicoterapia. Criou a primeira técnica brasileira de trabalho clínico musicoterapêutico, denominada “Músico-verbal”. De sua autoria constam cerca de 200 músicas.

Com relação à vida familiar, Millecco casou-se duas vezes. A primeira, no dia 23 de março de 1968, com Iza de Oliveira Millecco, também cega, que, além de esposa, transformou-se em grande amiga, dando-lhe pleno incentivo nas lides espiritistas.

Com ela, teve dois filhos: Magali, que desencarnou poucas horas após o nascimento, e Luiz Cláudio, que herdou do pai não só o gosto pelo Espiritismo como pela música (Millecco desde cedo aprendeu a tocar “de ouvido” flauta, cavaquinho, gaita, sanfona, entre outros instrumentos).

Após a desencarnação de Dona Iza, casou-se com Maria de Fátima Rossi, com quem viveu dias igualmente felizes.

Luiz Antonio Millecco foi hospitalizado no dia 4 de fevereiro, já bastante debilitado pelo câncer com o qual lutava há algum tempo. Sua desencarnação ocorreu no dia 5, sendo seu corpo sepultado no dia seguinte, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, onde compareceram mais de 500 pessoas que, à saída do féretro, homenagearam sua memória com uma salva de palmas.

“(...) Quando, porém, nos abrimos aos influxos positivos de dentro e de fora de nós, então, vivemos o verdadeiro Natal: o Cristo nasce em nosso ser e leva-nos ao encontro do próximo, tornando o que seria apenas uma data festiva num acontecimento solene, para o ano todo e para toda a eternidade”. Assim encerrou Luiz Antonio Millecco seu último artigo para o SEI, publicado em 4 de dezembro, falando sobre o Natal.

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