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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Revista Espírita, julho de 1861
Papel dos médiuns nas comunicações.
(Obtidas pelo Sr. d'Ambel, médium da Sociedade.)
Qualquer que seja a natureza dos médiuns escreventes, quer sejam mecânicos, semimecânicos, ou simplesmente intuitivos, nossos procedimentos de comunicação com eles não variam essencialmente. Com efeito, nos comunicamos com os próprios Espíritos encarnados, como com os Espíritos propriamente ditos, unicamente pela irradiação do nosso pensamento.
Os nossos pensamentos não têm necessidade da vestimenta da palavra para serem compreendidos pelos Espíritos, e todos os Espíritos percebem o pensamento que desejamos lhes comunicar, unicamente pelo fato de dirigirmos esse pensamento a eles, e isso em razão de suas faculdades intelectuais; quer dizer, que tal pensamento pode ser compreendido por tais e tais, segundo o seu adiantamento, ao passo que em tais outros, esse pensamento não desperta nenhuma lembrança, nenhum conhecimento no fundo do seu coração ou do seu cérebro, não é perceptível para eles. Neste caso, o Espírito encarnado que nos serve de médium é mais próprio para dar nosso pensamento para outros encarnados, se bem que não o compreenda, que um Espírito desencarnado, e pouco avançado, não poderia fazê-lo, se fôssemos forçados a recorrer à sua intermediação; porque o ser terrestre coloca o seu corpo, como instrumento, à nossa disposição, o que o Espírito errante não pode fazer. Assim, quando encontramos num médium o cérebro equipado de conhecimentos adquiridos em sua vida atual, e o Espírito rico de conhecimentos anteriores latentes, próprios para facilitarem as mossas comunicações, dele nos servimos com preferência, porque com ele o fenômeno da comunicação nos é muito mais fácil, do que com um médium cuja inteligência seria limitada, e cujos conhecimentos anteriores teriam ficado insuficientes. Vamos nos fazer compreender por algumas explicações claras e precisas.
Com um médium cuja inteligência atual, ou anterior, se encontre desenvolvida, o nosso pensamento se comunica instantaneamente de Espírito a Espírito, por uma faculdade própria da essência do próprio Espírito. Nesse caso encontramos no cérebro do médium os elementos próprios para revestir o nosso pensamento da roupa da palavra que corresponde a esse pensamento, e isso, mesmo que o médium seja intuitivo, semi-mecânico ou mecânico puro. E porque, qualquer seja a diversidade dos Espíritos que se comunicam a um médium, os ditados obtidos por ele, mesmo procedendo de Espíritos diversos, trazem uma marca de forma e de cor pessoal a esse médium. Sim, se bem que o pensamento lhe seja inteiramente estranho, se bem que o assunto saia do quadro no qual ele mesmo se move habitualmente, se bem o que queremos dizer não provenha de nenhum modo dele, por isso não influencia menos a forma, pelas qualidades, as propriedades que são adequadas à sua individualidade.
É absolutamente como quando olhais diferentes pontos de vista com lunetas coloridas, verdes, brancas ou azuis; se bem que os pontos de vista, ou objetos olhados, sejam
inteiramente opostos, e inteiramente independentes uns dos outros, isso não afeta menos, sempre, um colorido que provém da cor das lunetas. Ou melhor, comparemos os médiuns a esses vidros de boca larga, cheios de líquidos coloridos e transparentes, que se vêem na vitrina dos laboratórios farmacêuticos; pois bem! somos como luzes que clareamos certos pontos de vista morais, filosóficos e internos, através de médiuns azuis, verdes ou vermelhos, de tal sorte que os nossos raios luminosos, forçados a passarem através dos vidros, mais ou menos bem talhados, mais ou menos transparentes, quer dizer por médiuns mais ou menos inteligentes, não chegam sobre os objetos, que queremos clarear, senão carregando o colorido, ou melhor, a forma própria e particular a esses médiuns. Enfim, para terminar por uma última comparação, nós, Espíritos, somos como compositores de música que compusemos ou queremos improvisar uma música e não temos sob a mão senão um piano, senão um violino, senão uma flauta, senão um fagote ou senão um apito de dois sons.
É incontestável que, com o piano, a flauta ou o violino executaremos nosso trecho de maneira mais compreensível aos ouvintes; se bem que os sons provindos do piano, do fagote ou da clarineta, sejam essencialmente diferentes uns dos outros, nossa composição não será por isso menos identicamente a mesma, salvo as nuanças do som. Mas se não temos à nossa disposição senão um apito de dois sons, um funil de encanador, aí para nós jaz a dificuldade.
Com efeito, quando somos obrigados a nos servir de médiuns pouco avançados, o nosso trabalho se torna bem mais longo, bem mais penoso, porque somos obrigados a ter recursos de formas incompletas, o que é uma complicação para nós; porque então somos forçados a decompor o nosso pensamento e a proceder, palavras por palavras, letras por letras, o que é um aborrecimento e uma fatiga para nós, e um entrave real à prontidão e ao

desenvolvimento das nossas manifestações.

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