Revista Espírita, julho de 1861
Papel dos médiuns nas comunicações.
(Obtidas pelo Sr. d'Ambel, médium da
Sociedade.)
Qualquer que seja a natureza dos médiuns
escreventes, quer sejam mecânicos, semimecânicos, ou simplesmente
intuitivos, nossos procedimentos de comunicação com eles não variam
essencialmente. Com efeito, nos comunicamos com os próprios Espíritos
encarnados, como com os Espíritos propriamente ditos, unicamente pela
irradiação do nosso pensamento.
Os
nossos pensamentos não têm necessidade da vestimenta da palavra para serem compreendidos
pelos Espíritos, e todos os Espíritos percebem o pensamento que desejamos lhes
comunicar, unicamente pelo fato de dirigirmos esse pensamento a eles, e isso em
razão de suas faculdades intelectuais; quer dizer, que tal pensamento pode ser
compreendido por tais e tais, segundo o seu adiantamento, ao passo que em tais
outros, esse pensamento não desperta nenhuma lembrança, nenhum conhecimento no
fundo do seu coração ou do seu cérebro, não é perceptível para eles. Neste
caso, o Espírito encarnado que nos serve de médium é mais próprio para dar
nosso pensamento para outros encarnados, se bem que não o compreenda, que um
Espírito desencarnado, e pouco avançado, não poderia fazê-lo, se fôssemos
forçados a recorrer à sua intermediação; porque o ser terrestre coloca o seu
corpo, como instrumento, à nossa disposição, o que o Espírito errante não pode
fazer. Assim, quando encontramos num médium o cérebro equipado de conhecimentos
adquiridos em sua vida atual, e o Espírito rico de conhecimentos anteriores
latentes, próprios para facilitarem as mossas comunicações, dele nos servimos
com preferência, porque com ele o fenômeno da comunicação nos é muito mais
fácil, do que com um médium cuja inteligência seria limitada, e cujos
conhecimentos anteriores teriam ficado insuficientes. Vamos nos fazer
compreender por algumas explicações claras e precisas.
Com
um médium cuja inteligência atual, ou anterior, se encontre desenvolvida, o
nosso pensamento se comunica instantaneamente de Espírito a Espírito, por uma
faculdade própria da essência do próprio Espírito. Nesse caso encontramos no
cérebro do médium os elementos próprios para revestir o nosso pensamento da
roupa da palavra que corresponde a esse pensamento, e isso, mesmo que o médium
seja intuitivo, semi-mecânico ou mecânico puro. E porque, qualquer seja a
diversidade dos Espíritos que se comunicam a um médium, os ditados obtidos por
ele, mesmo procedendo de Espíritos diversos, trazem uma marca de forma e de cor
pessoal a esse médium. Sim, se bem que o pensamento lhe seja inteiramente estranho,
se bem que o assunto saia do quadro no qual ele mesmo se move habitualmente, se
bem o que queremos dizer não provenha de nenhum modo dele, por isso não
influencia menos a forma, pelas qualidades, as propriedades que são adequadas à
sua individualidade.
É
absolutamente como quando olhais diferentes pontos de vista com lunetas
coloridas, verdes, brancas ou azuis; se bem que os pontos de vista, ou objetos
olhados, sejam
inteiramente
opostos, e inteiramente independentes uns dos outros, isso não afeta menos, sempre,
um colorido que provém da cor das lunetas. Ou melhor, comparemos os médiuns a esses
vidros de boca larga, cheios de líquidos coloridos e transparentes, que se vêem
na vitrina dos laboratórios farmacêuticos; pois bem! somos como luzes que
clareamos certos pontos de vista morais, filosóficos e internos, através de
médiuns azuis, verdes ou vermelhos, de tal sorte que os nossos raios luminosos,
forçados a passarem através dos vidros, mais ou menos bem talhados, mais ou
menos transparentes, quer dizer por médiuns mais ou menos inteligentes, não
chegam sobre os objetos, que queremos clarear, senão carregando o colorido, ou
melhor, a forma própria e particular a esses médiuns. Enfim, para terminar por
uma última comparação, nós, Espíritos, somos como compositores de música que
compusemos ou queremos improvisar uma música e não temos sob a mão senão um piano,
senão um violino, senão uma flauta, senão um fagote ou senão um apito de dois
sons.
É
incontestável que, com o piano, a flauta ou o violino executaremos nosso trecho
de maneira mais compreensível aos ouvintes; se bem que os sons provindos do
piano, do fagote ou da clarineta, sejam essencialmente diferentes uns dos
outros, nossa composição não será por isso menos identicamente a mesma, salvo
as nuanças do som. Mas se não temos à nossa disposição senão um apito de dois
sons, um funil de encanador, aí para nós jaz a dificuldade.
Com
efeito, quando somos obrigados a nos servir de médiuns pouco avançados, o nosso
trabalho se torna bem mais longo, bem mais penoso, porque somos obrigados a ter
recursos de formas incompletas, o que é uma complicação para nós; porque então
somos forçados a decompor o nosso pensamento e a proceder, palavras por
palavras, letras por letras, o que é um aborrecimento e uma fatiga para nós, e
um entrave real à prontidão e ao
desenvolvimento das nossas manifestações.
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