Allan Kardec
CAPÍTULO VIII EXPIAÇÕES TERRESTRES
Szymel Slizgol
Na maioria das religiões expiar
significa: punição divina, castigo infligido por alguma falta ao homem por
haver ofendido a Deus ou castigo impingido pela desobediência à vontade de Deus
ou as suas Leis (2) .Entretanto a linha que une a maioria das religiões cristãs
não é maneira como deve ser a expiação desta ou daquela falta , mas sim uma
visão humanizada de um Deus, cruel e vingativo, agindo como um pai autoritário
e rigoroso castigando seus filhos quando não obedecem a Lei. Mas que lei é esta
digna de punição as vezes tão rigorosa?
Lei, de modo geral, pode ser
definida como uma norma, uma regra, um princípio, uma obrigação imposta pela
sociedade ou pela consciência. É ele um imperativo básico da sociedade. Regendo
as sociedades em uma acepção ampla, lei é toda a
regra jurídica, escrita ou não; aqui ela abrange os costumes e todas as normas
formalmente produzidas pelo, decreto, lei ordinária, lei complementar, etc. Em
uma acepção técnica e específica, a palavra lei designa
uma modalidade de regra escrita, que apresenta determinadas características;
como no direito brasileiro, onde são técnicas apenas a lei complementar e a lei
ordinária. (3)
Na visão filosófica, Santo Tomás
de Aquino, filosofo da Idade Média responsável pela introdução dos pensamentos
filosóficos de Aristóteles no pensamento escolástico, considerava que acima de
todas estava a Lei Eterna (Lex Aeterna), que representava a vontade de Deus.
Abaixo da Lei Eterna estaria a Lei Natural (Lex Naturalis), que refletiria a
revelação da Lei Eterna através da natureza, enquanto que as Leis Humanas
derivariam da Lei Natural contendo os princípios necessários para a regulação
da conduta dos homens. Para Tomás de Aquino, um pecado contra a Lei Natural
seria aquele que violasse a ordem natural das coisas. (4)
Sobre as leis, Allan Kardec, na
parte terceira de O livro dos Espíritos comenta que: "Entre as leis
divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: são as leis
físicas; seu estudo pertence ao domínio da Ciência. As outras concernem
especialmente ao homem e às relações com Deus e com os seus semelhantes.
Compreendem as regras da vida do corpo e as da vida da alma: são as leis
morais” (5). Na questão 621 deste mesmo livro (6), Allan Kardec pergunta aos
Espíritos - Onde está escrita a lei de Deus? Os Espíritos respondem que está
escrita na consciência do ser.
Em um sentido generalista, a
"consciência" pode ser entendida como a capacidade de perceber as
realidades internas e externas. Pode ser vista como, algo que existente no
homem , que o leva a reconhecer-se, a perceber com clareza, o quê e como sente,
pensa, age e reage, na vida cotidiana (7). Em um sentido mais restrito, o termo
refere-se ao senso interior do certo e do errado quando de uma escolha moral.
Para chegar nesta condição de ser capaz de uma escolha moral, o Homem criado
simples e ignorante, sujeito a Lei do progresso (8), uma das divisões da Lei
natural, evoluiu. O Espírito André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos, (9)
comenta a esse respeito, que no reino mineral recebemos a atração; no reino
vegetal a sensação; no reino animal o instinto; no reino hominal o pensamento
contínuo, o livre-arbítrio e a razão. Quanto mais se desenvolve o homem,
intelectual e moralmente, quanto mais ele se educa no conhecimento e na
vivência das leis de Deus, mais essa consciência se amplia e mais ele percebe
quem é, como é, o que pode ser e, quanto mais claramente, ele ouve a voz da sua
consciência, mais percebe os outros, tornando-se melhor pessoa. Possui mais e
melhores condições de viver melhor, de ajudar mais e melhor seu próximo e de
colaborar, com mais eficiência, na melhoria da comunidade onde vive (10).
...”Se o homem tivesse sido
criado perfeito, seria levado fatalmente ao bem; ora, em virtude de seu livre
arbítrio, ele não é fatalmente levado nem ao bem nem ao mal. Deus quis que ele
fosse submetido à lei do progresso e que esse progresso fosse o fruto de seu
próprio trabalho, a fim de que tivesse o mérito desse trabalho, do mesmo modo
que carrega a responsabilidade do mal que é feito por sua vontade" - (11).
Estes raciocínios levam a outra
divisão da Lei natural , a lei de justiça. Comenta Allan Kardec a resposta dos
Espíritos quando perguntado se Deus deu a todos os homens meios de conhecer Sua
lei (12)
“A justiça das diversas
encarnações do homem é uma conseqüência desse princípio, uma vez que a cada
nova existência sua inteligência é mais desenvolvida e compreende melhor o bem
e o mal. Se tudo devesse se cumprir numa única existência, qual seria a sorte
de tantos milhões de seres que morrem a cada dia no embrutecimento da
selvageria ou nas trevas da ignorância, sem que tivesse dependido deles o
esclarecimento?”
Ainda com relação a Lei de
Justiça questiona Allan Kardec :- “Fora do direito consagrado pela lei humana,
qual é a base da justiça fundada sobre a lei natural? (13)
– O Cristo disse: “Não façais aos
outro o que não quereis que vos façam”. Deus colocou no coração do homem a
regra de toda a verdadeira justiça pelo desejo que cada um tem de ver
respeitados os seus direitos.
Em outra divisão da lei Natural,
a lei de Liberdade, será encontrado que o germe da justiça se inicia na
liberdade de escolha . Oito questões relacionadas com este assunto são
apresentadas (14). Assim o homem pode, por sua escolha (livre – arbítrio) se
endividar com a Lei ou quitar seus débitos.Foi através de seu livre arbítrio
que Szymel Slizgol se comprometeu com a lei em uma existência e nesta através
de seu livre arbítrio ele expia sua falta.
Bibliografia:
Kardec, Allan, “Céu e Inferno” CAPÍTULO VIII
Expiações Terrestres Szymel Slizgol
Marques, Leonardo A. História das Religiões e a
Dialética do Sagrado. Madras, 2005
Lyra Filho,O que é Direito.
Martins Filho, Ives Gandra. Manual esquemático de
História da Filosofia. 1997
Kardec ,Allan, O Livros dos Espíritos , parte
terceira,Leis Morais.
Kardec ,Allan, O Livros dos Espíritos, questão
621
Neisser, U (1987) Concepts and conceptual development:
ecological and intellectual factors in categorization.
Kardec ,Allan, O Livros dos Espíritos , Lei do
progresso
Xavier, F. C. E Vieira, W. pelo Espírito André
Luiz, Evolução em Dois Mundos, 4. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977
Leda de Almeida Rezende Ebner Consciência, Jornal
Verdade e Luz Nº 187 de Agosto de 2001.
Allan Kardec - A Gênese, cap. III, item 9
Kardec ,Allan, O Livros dos Espíritos, questão 619
Kardec ,Allan, O Livros dos Espíritos, questão
876
Kardec ,Allan, O Livros dos Espíritos, questão
843-850
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