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sexta-feira, 23 de outubro de 2015


Céu inferno_068_2ª parte cap. VI - Criminosos Arrependidos - Lemaire


ESTUDO

Condenado à pena última pelo júri de Aisne, e executado a 31 de dezembro de 1857. Evocado em 29 de janeiro de 1858.

1. - Evocação

R. Aqui estou.

2. - Vendo-nos, que sensação experimentais?

R. A da vergonha.

3. - Retivestes os sentidos até o último momento?

R. Sim.

4. - Após a execução tivestes imediata noção dessa nova existência?

R. Eu estava imerso em grande perturbação, da qual, aliás, ainda me não libertei. Senti uma dor imensa, afigurando-se-me ser o coração quem a sofria. Vi rolar não sei quê aos pés do cadafalso; vi o sangue que corria e mais pungente se me tornou a minha dor.

- P. Era uma dor puramente física, análoga à que proviria de um grande ferimento, pela amputação de um membro, por exemplo?

R. Não; figurai-vos antes um remorso, uma grande dor moral.

5. - Mas a dor física do suplício, quem a experimentava: o corpo ou o Espírito?

R. A dor moral estava em meu Espírito, sentindo o corpo a dor física; mas o Espírito desligado também dela se ressentia.

6. - Vistes o corpo mutilado?

R. Vi qualquer coisa informe, à qual me parecia integrado; entretanto, reconhecia-me intacto, isto é, que eu era eu mesmo...

P. Que impressões vos advieram desse fato?

R. Eu sentia muito a minha dor, estava completamente ligado a ela.

7. - Será verdade que o corpo viva ainda alguns instantes depois da decapitação, tendo o supliciado a consciência das suas idéias?

R. O Espírito retira-se pouco a pouco; quanto mais o retêm os laços materiais, menos pronta é a separação.

8. - Dizem que se há notado a expressão da cólera e movimentos na fisionomia de certos supliciados, como se estes quisessem falar; será isso efeito de contrações nervosas, ou um ato da vontade?

R. Da vontade, visto como o Espírito não se tem desligado.

9. - Qual o primeiro sentimento que experimentastes ao penetrar na vossa nova existência?

 R. Um sofrimento intolerável, uma espécie de remorso pungente cuja causa ignorava.

10. - Acaso vos achastes reunido aos vossos cúmplices concomitantemente supliciados?

R. Infelizmente, sim, por desgraça nossa, pois essa visão recíproca é um suplício contínuo, exprobrando-se uns aos outros os seus crimes.

11. - Tendes encontrado as vossas vítimas?

R. Vejo-as... são felizes; seus olhares perseguem-me... Sinto que me varam o ser e debalde tento fugir-lhes.

P. Que impressão vos causam esses olhares?

R. Vergonha e remorso. Ocasionei-os voluntariamente e ainda os abomino.

P. E qual a impressão que lhes causais vós?

R. Piedade, é sentimento que lhes apreendo a meu respeito.

12. - Terão por sua vez o ódio e o desejo de vingança?

R. Não; os olhares que volvem lembram-me a minha expiação. Vós não podeis avaliar o suplício horrível de tudo devermos àqueles a quem odiamos.

13. - Lamentais a perda da vida corporal?

R. Apenas lamento os meus crimes. Se o fato ainda dependesse de mim, não mais sucumbiria.

14. - O pendor para o mal estava na vossa natureza, ou fostes ainda influenciado pelo meio em que vivestes?

R. Sendo eu um Espírito inferior, a tendência para o mal estava na minha própria natureza. Quis elevar-me rapidamente, mas pedi mais do que comportavam as minhas forças. Acreditando-me forte, escolhi uma rude prova e acabei por ceder às tentações do mal.

15. - Se tivésseis recebido sãos princípios de educação, ter-vos-íeis desviado da senda criminosa?

R. Sim, mas eu havia escolhido a condição do nascimento.

- P. Acaso não vos poderíeis ter feito homem de bem?

 R. Um homem fraco é incapaz, tanto para o bem como para o mal. Poderia, talvez, corrigir na vida o mal inerente à minha natureza, mas nunca me elevar à prática do bem.

16. - Quando encarnado acreditáveis em Deus?

R. Não.

P. Mas dizem que à última hora vos arrependeste....

R. Porque acreditei num Deus vingativo, era natural que o temesse...

P. E agora o vosso arrependimento é mais sincero?

R. Pudera! Eu vejo o que fiz...

P. Que pensais de Deus então?

R. Sinto-o e não o compreendo.

17. - Parece-vos justo o castigo que vos infligiram na Terra?

R. Sim.

18. - Esperais obter o perdão dos vossos crimes?

R. Não sei.

P. Como pretendeis repará-los?

R - Por novas provações, conquanto me pareça que uma eternidade existe entre elas e mim.

19. - Onde vos achais agora?

R. Estou no meu sofrimento.

P. Perguntamos qual o lugar em que vos encontrais...

R. Perto da médium.

20. - Uma vez que assim é, sob que forma vos veríamos, se tal nos fosse possível?

R. Ver-me-íeis sob a minha forma corpórea: a cabeça separada do tronco.

P. Podereis aparecer-nos?

R. Não; deixai-me.

21. - Poderíeis dizer-nos como vos evadistes da prisão de Montdidier?

R. Nada mais sei... é tão grande o meu sofrimento, que apenas guardo a lembrança do crime... Deixai-me.

22. - Poderíamos concorrer para vos aliviar desse sofrimento?

R. Fazei votos para que sobrevenha a expiação.

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

1) Na sua opinião, a pena de morte trouxe algum benefício moral para este espírito?

2) De que outra forma ele poderia ter atingido o mesmo resultado?

3) Por que o espírito acredita que escolheu mal sua prova?

4) Por que Deus permitiu que, mesmo sabendo-o incapaz, ele tentasse algo para o qual se julga, agora, fraco?

CONCLUSÃO

1) Não. Apenas aumentou seu sofrimento, pois ele ainda se apresentava com a cabeça separada do corpo, como se a ele ainda estivesse ligado a seu espírito.

2) Poderia ter se arrependido antes do desencarne por sua própria conta ou por ser castigado com a prisão, conforme as leis humanas, e depois de sua morte natural quando seu espírito teria uma visão geral do que fizera e cairia em si pelo mal que causou, arrependendo-se então.

3) Porque se deu conta que ela foi demasiadamente pesada para a condição moral que ele tinha, ou seja, avaliou mal suas próprias condições. Isso pode acontecer porque quando estamos na erraticidade, muitas vezes, nos julgamos mais fortes, pois estamos afastados das dificuldades inerentes à encarnação.


4) Para que ele mesmo chegasse a essas conclusões. Por ser ainda um espírito atrasado, somente vivenciando a experiência da própria incapacidade, aprenderia a real dificuldade que teria, conheceria sua aptidão para suportar determinadas provas e, assim, Deus, na sua infinita misericórdia, nos proporciona esse autoconhecimento através da nossa própria ação.

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