Céu inferno_055_2ª parte cap. IV -
Espíritos Sofredores - François Riquier
TEXTO PARA ESTUDO
Era um velho celibatário, avarento e muito
popular, falecido em C..., em 1857, legando aos parentes colaterais
considerável fortuna. Em tempo fora locador de uma inquilina, que mais tarde o
esquecera completamente, ignorando até se ainda, ou não, vivia. Em 1862, uma
filha desta senhora, sujeita a crises de catalepsia seguidas de espontâneo sono
magnético e também bom médium escrevente, viu, num desses sonos, o Sr. Riquier,
o qual, assegurava, pretendia dirigir-se à sua mãe.
Passados alguns dias, uma vez que se
manifestara espontaneamente confirmando aquele intuito, entretiveram com ele a
seguinte conversação:
- P. Que pretendeis de nós?
- R. O dinheiro do qual se apossaram, os
miseráveis, a fim de o repartirem!
Venderam fazendas, casas, tudo para se
locupletarem! Desbarataram meus bens como se não mais me pertencessem. Fazei
que se me faça justiça, já que a mim me não ouvem, e não quero presenciar
infâmias tais. Dizem que eu era usurário, e guardaram-me o cobre. Por que não
mo querem restituir? Acharão que foi mal ganho?
- P. Mas vós estais morto, meu caro senhor,
e não tendes mais necessidade alguma de dinheiro. Implorai a Deus para vos
conceder uma nova existência de pobreza a fim de expiardes a usura desta
última.
- R. Não, eu não poderei viver na pobreza. Preciso
do meu dinheiro, sem o qual não posso viver. Demais, não preciso de outra
existência, porque vivo estou atualmente.
- P. (Foi-lhe feita a seguinte pergunta no
intuito de chamá-lo à realidade.) Sofreis?
- R. Oh! sim. Sofro piores torturas que as
da mais cruel enfermidade, pois é minha alma quem as padece. Tendo sempre em
mente a iniquidade de uma vida que foi para muitos motivo de escândalos, tenho
a consciência de ser um miserável indigno de piedade, mas o meu sofrimento é
tão grande que mister se faz me auxiliem a sair desta situação deplorável.
- P. Oraremos por vós.
- R. Obrigado! Orai para que eu esqueça os
meus bens terrenos, sem o que não poderei arrepender-me.
Adeus e obrigado.
François Riquier, Rue de la Charité nº 14.
É curioso ver-se este Espírito indicar a
moradia como se estivesse vivo.
A senhora deu-se pressa em verificá-la e
ficou muito surpreendida por ver que era justamente a última casa que Riquier
habitara. Eis como, após cinco anos, ainda ele não se considerava morto, antes
experimentava a ansiedade, bem cruel para um usurário, de ver os bens
partilhados pelos herdeiros. A evocação, provocada indubitavelmente por
qualquer Espírito bom, teve por fim fazer-lhe compreender o seu estado e
predispô-lo ao arrependimento.
QUESTÕES PARA ESTUDO E DEBATE
1. Por que, mesmo tendo consciência de seu
sofrimento, esse espírito não se dá conta de que está morto e seus bens
materiais de nada lhe servirão?
2. Como você avaliaria a surpresa do médium
ao constatar que o espírito indicou seu endereço quando identificou-se?
3.Como você interpreta a posse de bens
materiais?
4.Por que a alguns é dado fortuna material
e a outros somente a luta para sobreviver?
CONCLUSÃO
1.Como acontece com as pessoas ainda muito
apegadas às coisas materiais, principalmente neste caso, ele se acreditava
ainda vivo sem compreender seu real estado e se achava injustiçado porque seus
descendentes se apossaram de sua fortuna. Sofria muito com isso, embora tivesse
consciência da necessidade de desapegar-se dos bens terrenos e sabia que não
podia fazê-lo sem ajuda.
2. A surpresa do médium foi devido ao fato
de constatar o quanto o espírito de Riquier estava ainda ligado a sua última
encarnação, pois o endereço que deu foi o de sua última morada na Terra.
3. Os bens materiais são
"empréstimos" que Deus nos confia para que possamos aprender a
maneira correta de administrar a riqueza, ou seja, repartir com o próximo o que
temos e/ou usar essa riqueza para tornar menos dura a vida de quem está na
miséria. Nada nos pertence, estamos apenas em usufruto expiatório/provacional
dos bens terrenos.
4. Tanto a fortuna como a miséria
configuram provas a que o espírito necessita passar e ambas podem ser em decorrência
das ações deste espírito em vidas anteriores. Isso, no entanto, não impede que
a pessoa lute para melhorar sua vida material ou que procure meios de tornar a
vida dos mais pobres mais amena.
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