Céu inferno_056_2ª parte cap. IV -
Espíritos Sofredores - Claire I
Estudo sobre as comunicações de Claire:
Estas comunicações são instrutivas por nos
mostrarem principalmente uma das feições mais comuns da vida - a do egoísmo.
Delas não resultam esses grandes crimes que atordoam mesmo os mais perversos,
mas a condição de uma turba enorme que vive neste mundo, honrada e venerada,
somente por ter um certo verniz e isentar-se do opróbrio da repressão das leis
sociais. Essa gente não vai encontrar castigos excepcionais no mundo
espiritual, mas uma situação simples, natural e consentânea com o estado de sua
alma e maneira de viver. O insulamento, o abandono, o desamparo, eis a punição
daquele que só viveu para si. Claire era, como vimos, um Espírito assaz
inteligente, mas de árido coração. A posição social, a fortuna, os dotes
físicos que na Terra possuíra, atraiam-lhe homenagens gratas à sua vaidade - o
que lhe bastava; hoje, onde se encontra, só vê indiferença e vacuidade em torno
de si.
Essa punição é não somente mais
mortificante do que a dor que inspira piedade e compaixão: mas é também um meio
de obrigá-la a despertar o interesse de outrem a seu respeito, pela sua morte.
A sexta mensagem encerra uma idéia
perfeitamente verdadeira concernente à obstinação de certos Espíritos na
prática do mal.
Admiramo-nos de ver como alguns deles são
insensíveis à idéia e mesmo ao espetáculo da felicidade dos bons Espíritos. É
exatamente a situação dos homens degradados que se deleitam na depravação como
nas praticas grosseiramente sensuais.
Esses homens estão, por assim dizer, no seu
elemento; não concebem os prazeres delicados, preferindo farrapos andrajosos a
vestes limpas e brilhantes, por se acharem naqueles mais à vontade. Daí a
preterição de boas companhias por orgias báquicas e deboches. E de tal modo esses
Espíritos se identificam com esse modo de vida, que chega a constituir-lhes uma
segunda natureza, acreditando-se incapazes mesmo de se elevarem acima da sua
esfera. E assim se conservam até que radical transformação do ser lhes reavive
a inteligência, lhes desenvolva o senso moral e os torne acessíveis às mais
sutis sensações.
Esses Espíritos, quando desencarnados, não
podem prontamente adquirir a delicadeza dos sentimentos, e, durante um tempo
mais ou menos longo, ocuparão as camadas inferiores do mundo espiritual, tal
como acontece na Terra; assim permanecerão enquanto rebeldes ao progresso, mas,
com o tempo, a experiência, as tribulações e misérias das sucessivas
encarnações, chegará o momento de conceberem algo de melhor do que até então
possuíam. Elevam-se-lhes por fim as aspirações, começam a compreender o que
lhes falta e principiam os esforços da regeneração.
Uma vez nesse caminho, a marcha é rápida,
visto como compreenderam um bem superior, comparado ao qual os outros, que não
passam de grosseiras sensações, acabam por inspirar-lhes repugnância.
- P. (a S. Luís). Que devemos entender por
trevas em que se acham mergulhadas certas almas sofredoras? Serão as referidas
tantas vezes na Escritura?
- R. Sim, efetivamente, as designadas por
Jesus e pelos profetas em referências ao castigo dos maus. Mas isso não passava
de alegoria destinada a ferir os sentidos materializados dos seus
contemporâneos, os quais jamais poderiam compreender a punição de maneira
espiritual. Certos Espíritos estão imersos em trevas, mas deve-se depreender
dai uma verdadeira noite da alma comparável à obscuridade intelectual do
idiota. Não é uma loucura da alma, porém uma inconsciência daquele e do que o
rodeia, a qual se produz quer na presença, quer na ausência da luz material. É,
principalmente, a punição dos que duvidaram do seu destino. Pois que
acreditaram em o nada, as aparências desse nada os supliciam, até que a alma,
caindo em si, quebra as malhas de enervamento que a prostrava e envolvia, tal
qual o homem oprimido por penoso sonhar luta em dado momento, com todo o vigor
das suas faculdades, contra os terrores que de começo o dominaram. Esta
momentânea redução da alma a um nada fictício e consciente de sua existência é
sentimento mais cruel do que se pode imaginar, em razão da aparência de repouso
que a acomete: - é esse repouso forçado, essa nulidade de ser, essa incerteza
que lhe fazem o suplício. O aborrecimento que a invade é o mais terrível dos
castigos, visto como coisa alguma percebe em torno nem coisas, nem seres; somente
trevas, em verdade, representa isso tudo para ela.
S. Luís.
Claire): Eis-me aqui. Também eu posso
responder à pergunta relativa às trevas, pois vaguei e sofri por muito tempo
nesses limbos onde tudo é soluço e misérias. Sim, existem as trevas visíveis de
que fala a Escritura, e os desgraçados que deixam a vida, ignorantes ou
culpados, depois das provações terrenas são impelidos a fria região,
inconscientes de si mesmos e do seu destino. Acreditando na perenidade dessa
situação, a sua linguagem é ainda a da vida que os seduziu, e admiram-se e
espantam-se da profunda solidão: trevas são, pois, esses lugares povoados e ao
mesmo tempo desertos, espaços em que erram obscuros Espíritos lastimosos, sem
consolo, sem afeições, sem socorro de espécie alguma. A quem se dirigirem... se
sentem a eternidade, esmagadora, sobre eles?... Tremem e lamentam os interesses
mesquinhos que lhes mediam as horas; deploram a ausência das noites que, muitas
vezes, lhes traziam, num sonho feliz, o esquecimento dos pesares. As trevas
para o Espírito são: a ignorância, o vácuo, o horror ao desconhecido... Não
posso continuar...
Claire.
Ainda sobre este ponto obtivemos a seguinte
explicação: "Por sua natureza, possui o Espírito uma propriedade luminosa
que se desenvolve sob o influxo da atividade e das qualidades da alma.
Poder-se-ia dizer que essas qualidades estão para o fluido perispiritual como o
friccionamento para o fósforo. A intensidade da luz está na razão da pureza do
Espírito: as menores imperfeições morais atenuam-na e enfraquecem-na. A luz
irradiada por um Espírito será tanto mais viva, quanto maior o seu
adiantamento. Assim, sendo o Espírito, de alguma sorte, o seu próprio farol,
verá proporcionalmente à intensidade da luz que produz, do que resulta que os
Espíritos que não a produzem acham-se na obscuridade."
Esta teoria é perfeitamente exata quanto à
irradiação de fluidos luminosos pelos Espíritos superiores e é confirmada pela
observação, conquanto se não possa inferir seja aquela a verdadeira causa, ou,
pelo menos, a única causa do fenômeno; primeiro, porque nem todos os Espíritos
inferiores estão em trevas; segundo, porque um mesmo Espírito pode achar-se
alternadamente na luz e na obscuridade; e terceiro, finalmente, porque a luz
também é castigo para os Espíritos muito imperfeitos. Se a obscuridade em que
jazem certos Espíritos fosse inerente à sua personalidade, essa obscuridade
seria permanente e geral para todos os maus Espíritos, o que aliás não
acontece. As vezes os perversos mais requintados vêem perfeitamente, ao passo
que outros, que assim não podem ser qualificados, jazem, temporariamente, em
trevas profundas.
Assim, tudo indica que, independente da luz
que lhes é própria, os Espíritos recebem uma luz exterior que lhes falta
segundo as circunstâncias, donde força é concluir que a obscuridade depende de
uma causa ou de uma vontade estranha, constituindo punição especial da soberana
justiça, para casos determinados.
P. (a S. Luís). -- Qual a causa de a
educação moral dos desencarnados ser mais fácil que a dos encarnados? As
relações pelo Espiritismo estabelecidas entre homens e Espíritos dão azo a que
estes últimos se corrijam mais rapidamente sob a influência dos conselhos
salutares, mais do que acontece em relação aos encarnados, como se vê na cura
das obsessões.
R (Sociedade de Paris) . - O encarnado, em
virtude da própria natureza, está numa luta incessante devido aos elementos
contrários de que se compõe e que devem conduzi-lo ao seu fim providencial,
reagindo um sobre o outro.
A matéria facilmente sofre o predomínio de
um fluido exterior; se a alma, com todo o poder moral de que é capaz, não
reagir, deixar-se-á dominar pelo intermediário do seu corpo, seguindo o impulso
das influências perversas que o rodeiam, e isso com facilidade tanto maior
quanto os invisíveis, que a subjugavam, atacam de preferência os pontos mais
vulneráveis, as tendências para a paixão dominante.
Outro tanto se não dá com o desencarnado,
que, posto sob a influência semimaterial, não se compara por seu estado ao
encarnado. O respeito humano, tão preponderante no homem, não existe para
aquele, e só este pensamento é bastante para compeli-lo a não resistir
longamente às razões que o próprio interesse lhe aponta como boas.
Ele pode lutar, e o faz mesmo geralmente
com mais violência do que o encarnado, visto ser mais livre. Nenhuma cogitação
de interesse material, de posição social se lhe antepõe ao raciocínio. Luta por
amor do mal, porém cedo adquire a convicção da sua impotência, em face da
superioridade moral que o domina; a perspectiva de melhor futuro lhe é mais
acessível, por se reconhecer na mesma vida em que se deve completar esse
futuro; e essa visão não se turva no turbilhão dos prazeres humanos. Em uma
palavra, a independência da carne é que facilita a conversão, principalmente
quando se tem adquirido um tal ou qual desenvolvimento pelas provações
cumpridas.
Um Espírito inteiramente primitivo seria
pouco acessível ao raciocínio, o que, aliás, não se dá com o que já tem
experiência da vida. Demais, no encarnado como no desencarnado, é sobre a alma,
é sobre o sentimento que se faz mister atuar.
Toda ação material pode sustar
momentaneamente os sofrimentos do homem vicioso, mas o que ela não pode é
destruir o princípio mórbido residente na alma. Todo e qualquer ato que não
vise aperfeiçoar a alma, não poderá desviá-la do mal.
S. Luís.
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1. O que pode esperar no futuro, como
conseqüência de seus atos, uma pessoa egoísta, vaidosa, que se considera
superior a seus pares?
2. Como vc acha que o espírito nessas condições,
nas quais se acham em seu elemento, chegam ao pondo do despertar? Como eles se
dão conta da sua situação e desejam mudar?
3. A que alegoria S. Luiz faz referência? E
o que esta alegoria representa efetivamente? Por que ela foi necessária?
4. As trevas a que faz referência essa
alegoria, poderia ser comparada ao inferno?
5. Como vc interpretaria esta assertivo: “Assim,
sendo o Espírito, de alguma sorte, o seu próprio farol, verá proporcionalmente
à intensidade da luz que produz, do que resulta que os Espíritos que não a
produzem acham-se na obscuridade."?
6. E sobre “... a independência da carne é
que facilita a conversão..." o que você tem a dizer?
CONCLUSÃO
1. Essa gente não vai encontrar castigos
excepcionais no mundo espiritual, mas uma situação simples, natural e
consentânea com o estado de sua alma e maneira de viver. O insulamento, o
abandono, o desamparo, eis a punição daquele que só viveu para si.
2. E assim se conservam até que radical
transformação do ser lhes reavive a inteligência, lhes desenvolva o senso moral
e os torne acessíveis às mais sutis sensações.
(...) mas, com o tempo, a experiência, as
tribulações e misérias das sucessivas encarnações, chegará o momento de
conceberem algo de melhor do que até então possuíam. Elevam-se-lhes por fim as
aspirações, começam a compreender o que lhes falta e principiam os esforços da
regeneração.(...)
3. Eram as "trevas", (...)
referências ao castigo dos maus. Mas isso não passava de alegoria destinada a
ferir os sentidos materializados dos seus contemporâneos, os quais jamais
poderiam compreender a punição de maneira espiritual.
4. Sim. Essas trevas referem-se ao que
ficou compreendido como o inferno onde os maus seruam castigados.
5. A luz que o espírito emana é o que
ilumina o seu redor, ou seja, se encontrará em lugar mais iluminado quanto
maior for a evolução do espírito.
6. Quanto mais desprendido das coisas
materiais for o espírito, maior facilidade terá para a conversão ao bem.
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