ALLAN KARDEC
CAPÍTULO VI: O CRISTO CONSOLADOR
ITENS 3 E 4: CONSOLADOR PROMETIDO
“Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito de Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vós o conhecereis, porque ele ficará convosco e estará em vós. - Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito."
(João, XIV: 15 a 17 e 26).
Nessas palavras de Jesus, parece-me bem clara a idéia de que Jesus se dirigia a toda a humanidade e para todos os tempos, demonstrando como conhecia o futuro e suas necessidades.
Sabia que somente o amor a ele, impulsionaria seus discípulos a prosseguirem na divulgação de seus ensinos, através da palavra e do exemplo, por isso, diz "Se me amais, guardai os meus mandamentos", na mente, no coração e nas ações. E eles o fizeram, com tanto amor que seus ensinos não se perderam, chegando até nós, sendo hoje percebidos com mais clareza, para permanecerem para sempre conosco.
No item 4, desse capítulo, Kardec apresenta o espiritismo como sendo esse consolador, prometido por Jesus, consoante às revelações dos Espíritos, com argumentos comprobatórios.
Jesus promete um outro consolador , que é o Espírito de Verdade, que viria mais tarde, quando a humanidade estivesse mais desenvolvida, mais amadurecida para conhecê-lo. Esse outro, ensinaria todas as coisas e faria os homens lembrarem-se de tudo que ele ensinara.
Se esse outro consolador viria para ensinar todas as coisas, é porque Jesus não pudera ensinar tudo ou falar com mais clareza. E se faria os homens lembrarem-se de tudo que ele havia dito, só pode significar que muitos dos seus ensinos seriam esquecidos, ou mal compreendidos, ou adulterados.
O espiritismo, vindo, na segunda metade do século XIX, quando a Ciência estabelecera o uso da razão na aceitação das verdades possíveis, após uma explosão da mediunidade, trazendo revelações que poderiam ser comprovadas por métodos científicos, aceitas pelo raciocínio e pela lógica dos fatos, é esse consolador prometido.
O Espírito de Verdade preside todo esse acontecimento, conforme a promessa de Jesus.
Surgiram, assim, a ciência espírita que investiga e torna visível e clara a existência do mundo espiritual e seus habitantes e a filosofia espírita, explicando quem somos , de onde viemos, o que aqui fazemos e para onde vamos, desaguando suas descobertas na Moral Cristã, levando o homem a um sentimento religioso de amor a Deus e ao próximo.
Então, todos os ensinos de Jesus, podendo ser comprovados de forma racional, tornam-se claros, demonstrando se constituírem no ideal a ser atingido pela humanidade, conforme asseverou Jesus:" "Eu sou o caminho, a verdade e a vida e ninguém vai ao Pai senão por mim", ou seja pela vivência dos seus ensinos e não pelo rótulo religioso ou filosófico.
O espiritismo demonstra como e porquê devemos transformarmo-nos em melhores pessoas, através dessa vivência , sintetizada no amor a Deus acima de todas a coisas e ao próximo como a si mesmo.
Ensinos esses, não mais aceitos pela fé cega, mas pela razão e sensibilidade, pela lógica e pelo sentimento, para que o homem possa realizar seu desenvolvimento espiritual.
Por isso, Kardec escreve: "O espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porque ele fala sem figuras e alegorias. Levanta o véu, propositadamente, lançado sobre certos mistérios e vem, por fim, trazer uma suprema consolação aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, ao dar uma causa justa e um objetivo útil a todas as dores."
O espiritismo vem explicar porquê e como " Bem-aventurados os aflitos porque serão consolados", demonstrando que a causa das aflições está nas infringências das leis divinas feitas pelos homens, levando-os a consolarem-se com a justiça de Deus, que lhes dá as oportunidades de, com as conseqüências das faltas, repararem as mesmas e corrigirem as imperfeições internas que deram origem a elas, levando esses homens a verem nessas dificuldades, oportunidades de quitação com a lei e de crescimento espiritual, que os levará ao determinismo divino, que é ser perfeito e feliz.
"O espiritismo lhe dá uma fé inabalável no futuro, e a dúvida pungente não tem mais lugar na sua alma. Fazendo-o ver as coisas do alto, a importância das vicissitudes terrenas se perde no vasto e esplêndido horizonte que ele abarca e a perspectiva da felicidade que o espera lhe dá a paciência, a resignação e a coragem para ir até o fim do caminho."
Alguém, que estiver lendo, pode, neste momento, indagar: - Mas como manter essa perspectiva de perfeição e felicidade, sempre, se esse determinismo divino está tão distante de nós, habitantes da Terra?
A perfeição possível ao espírito imortal, realmente, está muito distante de nós. Por isso mesmo, precisamos tê-la como finalidade a ser alcançada através das reencarnações, pelo nosso esforço de desenvolver nosso potencial moral através dos ensinos de Jesus, mais esclarecidos hoje pelos princípios espíritas.
Mas a felicidade do dever cumprido, do perceber-se um pouco mais agradável e atencioso aos outros; do pegar-se em flagrante quando as emoções e os sentimentos negativos estão ainda dentro do ser, e corrigi-los antes de serem transformados ações negativas; do sentir pena do criminoso e pedir a Deus que o proteja, ao invés de pensar : - "Pena de morte para ele" ou " Deve sofrer muito para pagar"; do não mais sentir-se preso aos bens terrenos, procurando auxiliar quem precisa, às vezes até privando-se da compra de algo para si; do esforço das pequeninas renúncias dentro do lar em favor do próximo ou da tranqüilidade do ambiente familiar; do sentir-se contente e feliz, ao levantar da cama, pela manhã, com vontade de abraçar todo mundo... Tantas outras inúmeras situações de alegria e prazer, que podemos sentir, em nosso viver, mostram que já podemos gozar de felicidade, aqui mesmo na Terra, e faz-nos pensar que quanto mais nos esforçarmos para desenvolver o amor dentro de nós, de mais felicidade gozaremos.
Leda de Almeida Rezende Ebner
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