ANDRÉ LUIZ - Pompas religiosas herdadas de avoengos da Humanidade ainda hoje suscitam tristeza em múltiplos ambientes da fé.
Procura-se comumente o contato com as Forças Superiores da Vida, que operam em nome da Providência, com o verbo reprimido em posturas e maneiras previamente estudas, qual se as relações com Deus devessem obedecer às rígidas etiquetas das cortes antigas, em que os corações dos vassalos batiam muito longe dos reis.
Se os costumes sociais alcançaram atualmente feição nitidamente mais liberal nas civilizações de liderança, não acontece o mesmo em matéria de cultos.
Tomamos o serviço religioso como sendo clima exótico para se engavetar a alma no preparo da morte, como se mergulha carne em salmoura.
Decerto que não será lícito dispensar a dignidade e a decência das atividades do sentimento e do estudo, em torno da Espiritualidade Maior, mas é necessário exonerar a máscara em nosso intercâmbio com os planos sublimes.
Nesse sentido, é mais que justo recorrer ao exemplo do Mestre, em cujo tempo, cerimônias e rituais já haviam atingido culminâncias.
Jesus lê e ora nos cenáculos consagrados à prece, mas isso não o impede de tratar dos assuntos da alma sob o céu a pleno campo.
Em nenhum texto evangélico aparece notícia de artifícios ou meneios que houvesse ele usado para impressionar.
Prefere sempre mais o templo da natureza para os transbordamentos da alma que os santuários de pedra.
As orações que nos deixou são modelos de concisão e simplicidade sem a mínima idéia de solenidade ou dramatização.
E se hoje na Terra fala a ciência da possibilidade de chamar os recém-desencarnados à existência, atenuando-se o império da morte, Jesus foi o pioneiro de semelhante movimento, conferindo a vários mortos o retorno à vida, por mais tempo, demonstrando que nem sempre a desencarnação é fulminativa e que, por isso mesmo, na maioria dos casos, será possível reajustar o recém-desencarnado na casa orgânica, ainda usufruível, ponto essencial para compreendermos a necessidade de abolição dos ofícios fúnebres perfeitamente incompatíveis com o senso da perenidade da alma.
E ele mesmo, o Mestre, institui a base do cristianismo em sua própria sobrevivência, materializando-se à frente dos seguidores, para que a certeza da imortalidade dissipe para sempre a neblina da angústia ante a separação transitória.
A Doutrina Espírita entra no cenário do mundo, precisamente quando a investigação científica arreda para longe todos os resíduos das superstições humanas, a fim de mostrar que religião é sinônimo de vida eterna.
Holofote da verdade espanejando no horizonte avelhantadas teias de treva, para que o homem contemple adiante os objetivos dos próprios destinos, o Espiritismo vem quebrar as limitações menos dignas e romper os condicionamentos inferiores, à maneira de processo natural de evolução, destinado a libertar o espírito na Terra para estágios mais altos de ascensão e progresso, tais como aqueles que desfazem a casca do ovo e desintegram o envoltório da semente, para que a ave e a planta ganhem atividade e altura.
Reverenciamos nele o caminho da renovação pavimentado de esperança e alegria.
Doutrina Espírita é mensagem de Cristo, anunciando-nos que a felicidade de crer não está unicamente conjugada à responsabilidade de agir, mas também ao júbilo de criar, sentir, continuar e viver.
ANDRÉ LUIZ
Do livro "Sol Nas Almas", cap. 22, Editora CEC
Nenhum comentário:
Postar um comentário