Sonia Dutra
Como devemos agir quando chega uma nova pessoa em nosso ambiente de trabalho, em nossa Casa Espírita, em nossa família, em nosso núcleo de convivência ou num grupo de amigos?
Necessitamos aprender a acolher uma pessoa, um amigo novo, não só com a mente, mas com todo o corpo, procurando sentir o campo da energia do encontro entre nós e o outro. Isso nos leva a criar um espaço de serenidade e alegria que nos fará ouvir e sentir o próximo, sem que nossas mentes venham a intervir.
Acolher, nessa forma de pensar, é muito mais do que oferecer sorrisos e abraços: é dar à outra pessoa um espaço para ela ser, pois este é o presente mais precioso que se pode dar a alguém.
Muitas pessoas não sabem acolher ou serem acolhidas porque estão dominadas pelo pensamento: prestam muito mais atenção a palavras e conceitos do que ao ser da outra pessoa, que acaba ficando “escondido” atrás de palavras e de pensamentos excessivamente racionais.
Essa forma de estar com o outro é o início da realização de uma união que chamamos de AMOR. Assim, estaremos abertos ao cuidado em comunhão, e um verdadeiro encontro “Eu-Tu” acontecerá. Uma agradável relação haverá de florescer por esse caminho e minimizará os conflitos das relações. A boa relação “Eu-Tu” floresce no espaço vazio do reconhecimento de nossa humanidade no outro. O ato de acolher poderá ainda ser uma porta de entrada para a iluminação espiritual, se soubermos (Eu, que acolho, e Tu, que és acolhido) nos tornar pessoas mais amorosas e conscientes.
Qual o resultado? A verdadeira comunhão entre nós e os outros, abrindo a porta da experiência renovadora do encontro.
A tarefa de acolher exige autocuidado na relação Eu-Tu para o aprendizado do que chamamos solidariedade, e para isso a generosidade tem que estar presente. Aristóteles nos diz que “a qualidade do homem livre é a generosidade” - virtude escassa nas relações de hoje, pois valorizamos as pessoas pelo que elas têm e não pelo que são.
Como antídoto para o egoísmo, generosidade é o ato de doar. O generoso torna-se amável, capaz de amar e se deixar amar. Quem acolhe mostra-se uma pessoa compreensiva, aberta, disponível, disposta a ajudar. Não poupa simpatia, que etimologicamente significa sentir-com: sentir alegria e dor com o outro, estar com ele no prazer e no desprazer.
Acolher seria, então, a saída de si mesmo para começar a ser com os outros.
Poderíamos também finalizar dizendo que acolher é uma das maneiras de se fazer caridade? Mais do que isso: é um convite a todo trabalhador “antigo ou novo”. Para perceber, com Santo Agostinho, que sem amor a vida é desumana: “Ama e faze o que puderes”.
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Ano 3 Nº 10 abri/junho 2004
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