ORSON PETER CARRARA
de Matão, SP
WELLINGTON BALBO
de Bauru, SP
Solicito a atenção carinhosa do leitor para a crônica de Wellington – o parceiro desta série sobre o livro "O Céu e o Inferno", publicada exclusivamente neste mensário –, para em seguida vincularmos o assunto àquela obra da Codificação Espírita:
João enriquecera ilicitamente. Desde a adolescência se envolvera com as drogas e seu tráfico. Seu verbo inflamado e sua grande liderança lhe possibilitaram uma rápida ascensão naquele submundo. Na comunidade em que morava não foram poucas as mães que fez chorar, não foram poucos os jovens que conduziu ao caminho tortuoso das drogas. Muitas vidas foram ceifadas precocemente graças a sua terrível influência.
Ardiloso, não titubeava em eliminar quem lhe contrariasse, seu único interesse era fazer proliferar seus negócios escusos. Porém, com 65 janeiros, começava a colher as conseqüências de sua delinqüência, uma inquietação indescritível dominava sua alma, eram vozes que o atormentavam dia e noite, fantasmas que lhe apareciam em forma de gritos estrondosos em sua culpada consciência. Gastou fortunas em tratamentos, fez viagens espetaculares, Oslo, Roma, Londres, Paris, mas nada amenizava aquele sofrimento que parecia eterno. Todos os locais em que ele estava se resumiam em um só – O Inferno.
A culpa que sentia era tamanha que não havia palavras no dicionário que pudessem descrever sua amargura. Contudo, a dor, essa abençoada professora, começava a humanizar seu gélido coração. Uma ponta de arrependimento brotou em sua alma. E esse arrependimento lhe incutiu um pouco de esperança.
Por que semeara tanta dor? Por que plantara tanta desolação? Porém, apenas arrepender-se não lhe trazia paz de espírito, precisava fazer algo mais, necessitava reparar com o bem todo o mal que havia praticado. Se fazia mister enriquecer moralmente e intelectualmente a comunidade que ele mesmo auxiliara a empobrecer. Mas como? Como faria isso?
A vida em sua sabedoria veio ao seu socorro, e por ironia, o anjo em forma de mulher que cruzou seu caminho fora uma das muitas mães que tivera o filho abatido pelo poder nefasto das drogas que João ajudara a propagar. Aquela mulher se dispunha do fundo da alma a colaborar com João para seu soerguimento, preferira ao invés de acusá-lo, auxiliá-lo.
Uniram forças e construíram naquela pobre comunidade um Centro de Reabilitação para Dependentes de Drogas. Juntos, trabalharam como nunca pela bandeira do amor ao próximo. A fortuna que fora constituída a custa de tristeza, começava a enxugar algumas lágrimas. As trevas começavam dar lugar a luz!
O trabalho de ambos frutificava, eram oficinas culturais, cursos profissionalizantes, incentivo ao esporte e a leitura, João agora usava seu verbo inflamado para propagar uma vida sadia, sua liderança era utilizada para agregar nobres valores a comunidade. Quanto mais se dedicava a reabilitação aos que fez sofrer, mais edificava a própria vida, era como se aos poucos fosse quitando um débito com o próximo e consigo mesmo.
Após uma década de intensa labuta na Seara do Amor, João cerrava os olhos para a vida física, deixando um legado de belas realizações a comunidade que aprendeu a amar.
Contudo, o tempo não pára e do outro lado da vida sentiu necessidade de dar continuidade a seu trabalho, apoiado por benfeitor, dirigiu sincera prece ao Pai Celeste para que lhe concedesse a benção do recomeço na mesma comunidade que nascera há 75 anos…
Bela reflexão, não é mesmo? Pois bem, ela embasa nossos estudos sobre os itens 14 a 17 da citada obra, em seu capítulo VII no subtítulo Código Penal da Vida Futura, que está comemorando seus 140 anos de publicação (foi publicada em agosto de 1865). Allan Kardec aborda exatamente o tema que usamos como título desta matéria. A questão toda pode ser resumida na frase que consta do 17.° item: "A reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal.". Antes, Kardec aborda sobre arrependimento e expiação. Mas somente a reparação devolve a paz de consciência, detalhe significativo no processo evolutivo. Indispensável que, vez por outra, voltemos a estudar este item, para nosso uso e reflexão pessoal, mas igualmente como embasamento em nossos estudos coletivos e mesmo em abordagens verbais ou textuais. A lucidez do Codificador e a clareza do Espiritismo não deixam dúvidas: sempre teremos que reparar os prejuízos causados a terceiros, ainda que de forma indireta, pois todo prejuízo causado ao próximo cria reclamos da consciência. E tais reclamos nos impedem de avançar… E como conclui Kardec no item 17: "E desse modo progride o Espírito, aproveitando-se do próprio passado". Sim, são as experiências que nos fazem mais atentos e vigilantes…
Agosto de 2005, edição n°. 235
Jornal Eletrônico Verdade e Luz
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