MARCUS DE MARIO
do Rio de Janeiro, RJ
marcusdemario@ig.com.br
Quando os transplantes de órgãos tiveram início e principalmente quando se conseguiu transplantar o coração, muitas dúvidas surgiram com relação ao estado do Espírito, se ele, já no mundo espiritual, não sofreria alguma conseqüência com a retirada do órgão de seu corpo físico. Duas justificativas pareciam reforçar a dúvida: primeiro, a questão da ligação do corpo físico com o perispírito através dos cordões fluídicos, que dependem do grau de desprendimento material do Espírito para se desfazer; segundo, a questão do Espírito não estar preparado para aceitar a retirada dos órgãos do seu corpo físico, embora este já não mais lhe pertença.
A Doutrina Espírita, na análise desse tema, não desconsidera a realidade espiritual, bem pelo contrário, entretanto sua visão é científica e não mística ou de crença dogmática. Assim, perante o Espiritismo as duas justificativas acima apresentadas são analisadas da seguinte forma:
A Ligação Corpo-Espírito
Sabemos que o Espírito ao iniciar o processo de reencarnação, a partir da fecundação do óvulo pelo espermatozóide, liga seu perispírito ou corpo espiritual, ao corpo físico em formação, modelando-o, já que o perispírito é o modelo organizador biológico. Essa ligação, molécula a molécula, é feita pelos cordões fluídicos, dos quais destacam-se os chakras, ou plexos: coronário, cerebral, laríngeo, solar, cardíaco, esplênico e genésico.
Segundo Divaldo Franco "quando ocorre a desencarnação e o coração deixa de bombear o sangue, ficando o cérebro sem oxigenação, esses pontos afrouxam, como plugs e tomadas: o plug libera, mas a tomada continua, porque é o perispírito; o plug material, por falta de energia, desliga-se e vai libertando o corpo espiritual dos pés até à cabeça, onde se situa o chahra Coronário. Essa última ligação é conhecida como o Cordão de Prata, sendo a derradeira a desimantar-se do corpo" (1).
A desencarnação e o desligamento completo dos laços fluídicos dependem do estilo de vida do indivíduo e dos valores humanos que elege como orientadores da sua existência. Se o indivíduo fuma, bebe, usa drogas, transvia-se no sexo, é egoísta, etc., comete suicídio indireto e terá dificuldades em se libertar do corpo físico, recebendo do mesmo as sensações provocadas pela morte. Se, pelo contrário, mantém vida saudável, controla as paixões, alimenta-se com equilíbrio, cultiva bons pensamentos, seu desenlace será suave e mais rápido.
Como podemos perceber, a questão está em saber se o Espírito continua recebendo as sensações do corpo físico ou não, se continua ligado emocionalmente ao corpo físico. Mas isso não impede que a doação de órgãos seja feita, mesmo porque as repercussões espirituais são de ordem moral e não físicas, e o conhecimento que seu ex-corpo serviu para beneficiar outro indivíduo será lenitivo para seu possível sofrimento.
No livro O Céu e o Inferno (2), de Allan Kardec, mesmo os Espíritos infelizes, cessada a perturbação do pós-morte, consideram o corpo físico como um instrumento de que se serviram e do qual não retém maiores recordações, pois toda sua atenção está nas questões morais de sua conduta quando encarnado e o que devem realizar para seu progresso.
A Preparação do Espírito
Pelas considerações acima já podemos apreender os benefícios que uma educação espiritualizada pode fazer aos indivíduos, que deixarão de temer a morte e melhor preparados estarão para deixar o veículo físico que agora não mais lhe serve.
Com essa preparação, ainda em vida irão destinar seus órgãos para doação, visto que colaborar espontaneamente para salvar uma ou mais vidas é extremamente meritório perante a lei divina, principalmente se o ato é revestido da mais pura caridade, sem ostentação e sem a preocupação da recompensa divina no mundo espiritual.
Conclusão
Doar os órgãos de alguém falecido – melhor seria dizer de alguém desencarnado – não constrange o Espírito nem o danifica, pois o perispírito não ficará lesionado, já que ele está desligado do corpo físico pela morte.
É recomendável o uso da prece endereçada a esse Espírito, comunicando-lhe o fato, que está sendo feito em nome da salvação de outra vida, solicitando-se ao mesmo compreender que a vida é dom de Deus e que tudo se encadeia na natureza. Que o ato seja feito em nome do desencarnado, para que o mesmo seja contado a seu favor, mesmo que indiretamente.
Lembramos que não estamos nestas linhas procedendo a um exame minucioso e detalhado das condições do Espírito após a morte e das repercussões que o corpo físico ainda possa lhe acarretar, o que varia ao infinito dada a infinita gradação da condição moral e intelectual dos Espíritos, mas analisando o tema de forma geral, indicando diretrizes que o bom senso e a observação atestam como sendo ideais.
O Espiritismo não é contra a doação de órgãos e acredita que o progresso da ciência medica faz parte do plano divino para benefício do próprio homem. Doar sem olhar a quem faz parte da bandeira da caridade, e o desprendimento dos bens materiais, inclusive do corpo, atesta a maior espiritualização e moralização do Espírito.
Bibliografia
(1) FRANCO, Divaldo P.; CARVALHO, Délcio C. 1. ed.: 2002, Salvador, BA, LEAL.
(2) KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Allan Kardec. 6. ed. 1991, São Paulo, SP. LAKE.
Agosto de 2005, edição n°. 235
Jornal Eletrônico Verdade e Luz
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Este tema é muito delicado,é preciso ainda muito estudo.Eu só queria deixar claro que na morte cerebral não houve ainda o despreendimento total do espírito,e pode haver sim sequelas no perispírito.
ResponderExcluirMuita Paz.