O Processo da comunicação dos Espíritos
"O Fenômeno Comentado por Allan Kardec"
Em 1868, 1º de julho, o jornal "La Solidarité", folha filosófica séria, responsável, idônea, ocupa-se do Espiritismo e sob o título "Pesquisas psicológicas a propósito de Espiritismo" faz algumas considerações que receberá exatamente por seu caráter sensato, respostas também em artigos.
Afirma em síntese, que:
• É independente; como tal; trata os assuntos sem preocupação de partido, igreja, escola, faculdade, academia, etc..
• Não tem preocupação com público, leitores ou assinantes, por isso, dá-se o direito de trabalhar com pensamento e não temer o ridículo.
Deixando clara, essa posição, continua afirmando que ao tocar no assunto Espiritismo, sabe que não satisfará a ninguém:
• Nem os crentes;
• Nem aos adeptos;
• Nem aos incrédulos;
• Ninguém a não ser aqueles que não tomaram partido sobre a questão e sabendo que não sabem, se apresentam mais abertos para refletir.
Desse modo, o autor faz inúmeras considerações sobre as "mesas girantes" concluindo que... "o fenômeno se explica pela eletricidade humana, nada havendo de concreto que acuse intervenção estranha".
Continua...
"As primeiras manifestações inteligentes, diz o Sr. Allan Kardec, se deram por meio das mesas que se erguiam e batiam com um pé determinado número de pancadas correspondente ao número de ordem de cada letra, chegou-se a formular palavras e frases, respondendo às perguntas feitas. A justeza das respostas e sua correlação excitaram a admiração. O ser misterioso que assim respondia, interrogado sobre a sua natureza, declarou que era "Espírito ou Gênio", deu o seu nome e forneceu por sua conta, diversas informações".
"Esse meio de correspondência era longo e incômodo, como observa muito justamente, o Sr. Allan Kardec. Não tardou a que fosse substituído pela corbelha (cesto delicado em geral de vime ou madeira), depois pela prancheta. Hoje esses meios estão geralmente abandonados, e os crentes se reportam ao que maquinalmente escreve a mão do médium, sob o ditado do Espírito".
Prossegue refletindo que:
• É difícil saber o que é do médium e o que é inspirado.
• Até que ponto pode-se determinar o automatismo da corbelha ou prancheta.
• Se a correspondência é lenta e pouco cômoda também permite constatar a passividade do instrumento. Assim:
• Existe correspondente de além-túmulo ?
• Há um Espírito, um ser invisível com o qual se corresponde o médium ou é ele vítima de uma ilusão não estando em contato senão consigo mesmo?
Essa é a questão e -
• Ao movimento das mesas, atribuímos à eletricidade fenômeno elástico, de extrema sutileza, que se interpõe entre as moléculas dos corpos e os cercam como que de uma atmosfera. A alma graças a esse envoltório, faz sentir sua ação sobre todas as partes do corpo permitindo que a unidade do eu esteja ao mesmo tempo, por toda parte onde pode atingir a sua atmosfera. A ação por contatos ultrapassa a periferia do corpo e as vibrações etéreas ou fluídicas comunicam-se de uma atmosfera à outra, produzindo relação e reações entre seres próximos ou distantes. Essas forças se transformam sob a ação de leis que não nos são conhecidas... ...... .. ......... ........... ............. .................. ......... .............. ............... ........
• Não é um Espírito ultra-mundano que fala na sala, mas o Espírito do médium, talvez doublé do Espírito de tal assistente, que o domina, muitas vezes sem que nenhum deles o saiba, e exaltado por forças que lhe vêm, como de diversas correntes eletromagnéticas, do concurso dado pelos assistentes.
• A personalidade do médium, é traída por erros ortográficos, históricos e geográficos e não podem ser atribuídos a um Espírito realmente distinto de sua própria pessoa.
• Algo comum, nesses acontecimentos, é a revelação de segredos que o interrogante não julgava conhecido de ninguém... "mas esquece que esses segredos são conhecidos por aquele que interroga, e que o médium pode ler em seu pensamento"... Para isso é necessário uma certa relação mental estabelecida por derivação da corrente nervosa que envolve cada indivíduo e que age como fio condutor, dando-se a comunicação dos pensamentos.
Achamos essas explicações imperfeitas não convincentes, entretanto não plenas para invalidar a crença na intervenção de Espíritos.
Não temos provas plenas para oposição
• Consideramos individualidades espirituais como natural - que a pessoa humana esteja revestida de um organismo de natureza etérea - "... o perispírito desses senhores"..., nos parece perfeitamente provável e não nos repugna.
..."Que é pois que nos separa?"...
• A insuficiência de provas - Cremos:
• Relações entre mortos e vivos não podem ser constatadas pelos movimentos das mesas pela correspondência, pelos ditados.
• Os fenômenos físicos se explicam fisicamente e os psíquicos são causados pelas forças inerentes à alma dos operadores onde as produções se apresentam abaixo do nível intelectual do meio em que vivemos.
Voltaremos em próximo artigo “...
Ao trabalhar com as assertivas dessa publicação Allan Kardec não se dispõe a refestá-las porque ..."seria repetir o que tantas vezes temos escrito sobre o mesmo assunto"... Escreve, entretanto algumas palavras, refletindo que:
• O exposto por "La Solidarité" nada mais reflete senão um dos primeiros sistemas (O livro dos Médiuns cap. IV - Sistemas) surgidos quando da origem do Espiritismo, onde a experiência não havia elucidado as questões. Assim, é perfeitamente aceitável que essas opiniões ainda hoje apareçam. Se esses sistemas estivessem certos, teriam prevalecido. O contrário entretanto se deu - há quinze anos no mundo todo e em todas as línguas, milhões de espíritas das mais variadas classes sociais constatam a realidade das manifestações. Seriam todos iludidos? Todos são isentos de perspicácia e bom senso que lhes impede reconhecer a verdadeira causa? A teoria dos "Sistemas" não passou despercebida entre os Espíritos; ao contrário, meditaram, exploraram e justamente porque a viram impotente para explicar todos os fatos, é que foi abandonada.
• Os Espíritas não se tornam Espíritas pelo fato de terem ou vivem com a idéia preconcebida de Espíritos, intervenção e manifestações. Se a alguns isso acontece, a grande maioria, o maior número dos adeptos chega à crença depois de haver passado pela dúvida ou pela incredulidade.
• A crença nos Espíritos não depende do girar das mesas. Esse fenômeno é conhecido desde os tempos mais antigos (Tertuliano - China - Tartária - Sibéria - registros oficiais) Em certas províncias da Espanha era comum servirem-se de peneiras suspensas pelas pontas de tesouras. Os que as interrogam pensam que Espíritos respondem? Não. Para eles as mesas e as peneiras são dotadas de força desconhecida; interrogam esses movimentos sem ir além do fato material.
Os fenômenos espíritas modernos não começaram pelas mesas, mas pelas pancadas espontâneas, dadas nas paredes e nos móveis. Esses ruídos tinham algo de insólito,
• Um caráter intencional;
• Uma persistência que chamava a atenção para determinado ponto, como quando alguém bate para advertir;
• Eram espontâneos, como ainda hoje o são em certos indivíduos que não tem qualquer conhecimento do Espiritismo.
Esses fenômenos naturais se produzem constante e diariamente, passam despercebidos, a causa é ignorada e assim permanece até o momento em que observadores sérios, mais esclarecidos prestem atenção, estudem, exploram e deduzem as Leis em que se inserem.
• O Sr. Fauverly, editor do "La Solidarité" apoia-se no fato de que as mensagens não ultrapassam o alcance do cérebro humano, muitas transparecendo em erros gramaticais, históricos etc..
Recordar que os seres comunicantes não estão fora da Humanidade, não são seres excepcionais, anjos, demônios, espécie de semi-deuses. São homens apenas sem o corpo físico, pertencem à Humanidade e como tal expressam-se em linguajar característico onde uns sabem mais, outros menos, uns mais capazes e instruídos que elaboravam obras-primas quando "vivos" e continuam como Espíritos a exteriorizar potencial próprio.
..." o Espírito de um hotentote não se expressará como um acadêmico e o Espírito de um acadêmico que não passa de um ser humano, não falará como um Deus"...
Não será pois, a excentricidade do pensamento que se deverá buscar a origem espiritual da comunicação, mas as circunstâncias, que atestam não vir o pensamento de um encarnado, mesmo que se expressasse em trivialidades.
É um mundo invisível, em cujo meio vivemos, onde assim como os "vivos", os "mortos" se apresentam nos diferentes graus de elevação ou inferioridade. Esse composto constitui a Humanidade. Esse entender estrutura-se como:
• Revolução nas crenças;
• Chave do passado e do futuro do Homem.
A certeza da existência desse mundo invisível em torno de nós, leva a conseqüências, a transformação completa e inevitável nas idéias, destruindo preconceitos e abusos dela decorrentes - Por conseqüência - modificação nas relações sociais.
Isso é o Espiritismo - dedução de conseqüências do fato principal e que tocam em todos os ramos da ordem social, tanto no físico como no moral. Quem se fixa na superfície - não percebe esse objetivo. Detidos - no acontecimento, fato ou fenômeno - imaginam-no inteiro num barulho, numa mesa que gira ou nas respostas pueris advindas nesses contatos esporádicos que se impressionam o sensório, nada despertam de útil ao homem encarnado como Espírito imortal que é.
Essas críticas sérias, essas publicações foram ostensivas ou prejudiciais?
Não. Foram excelentes fornecendo ao professor elementos para que a parte filosófico-científica se estabelecesse em forma clara, sem ambigüidade. No entendimento das conseqüências morais que daí adviriam, despertando o Homem para conhecendo-se, sabendo quem é, de onde veio, para onde vai, tornasse em suas mãos a direção do como ir, visando desenvolvimento pleno de seu potencial perfectível.
Leva-o ainda a desenvolver fixando pontos determinantes na Revelação espírita que sinteticamente se resumem em:
1. A Doutrina Espírita constitui-se como Revelação uma vez que dá a conhecer algo desconhecido. Nesse sentido especial da fé, revela coisas espirituais que o homem não poderia saber por si mesmo, descobrindo através de seus sentidos Sua característica nesse caso, será a Verdade cujo profundidade, abrangência e coerência o Homem irá percebendo na proporção em que seu universo mental se expanda. Ex. - a possibilidade de comunicação com seres do mundo espiritual, sempre acontecendo, permaneceu durante muito tempo, de certa forma sem proveito para a Humanidade, sufocada pela superstição: o homem era incapaz de tirar qualquer dedução salutar, compreender seu alcance, fazer luz a aclarar-lhe o futuro.
2. Por sua natureza tem duplo caráter - provém simultaneamente da revelação divina e da científica - revelação divina - não é resultado da iniciativa ou de um intento premeditado do homem. Os pontos fundamentais são objeto de ensino dado pelos Espíritos encarregados por Deus de esclarecer os homens sobre o que ignoravam e que cumpre conheçam porque hoje já estão prontos para compreendê-las.
Revelação científica - pelo fato de que o ensino não é privilégio de nenhum indivíduo, mas é dado a todos pela mesma via. Os que transmitem e os que o recebem não são dispensados do trabalho de observação e investigação, juízo, livre arbítrio, controle uma vez que a doutrina não foi ditada globalmente nem imposta à crença cega. Em resumo - o que caracteriza a revelação espírita é que sua fonte é divina, que a iniciativa pertence aos Espíritos mas a elaboração é resultado do trabalho do homem.
3. Não estabelece nenhuma teoria preconcebida - Fatos de uma natureza nova que não são explicados pelas leis conhecida - observa, compara, analisa, remonta dos efeitos às causas, chega à lei que os rege. Depois - deduz conseqüências e procura as aplicações úteis. Desse modo, não coloca como hipótese nem a existência e intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, reencarnação ou qualquer outro principio - só concluiu pela existência dos Espíritos quando esse fato sobressaiu preenchendo todas as exigências do conhecimento. Não foram os fatos que posteriormente confirmaram a teoria, mas a teoria que veio subseqüentemente explicar e resumir os fatos.
Todos os outros pontos desdobrados destes raciocínios comporão o maravilhoso capítulo I de "A Gênese", onde ressaltar-se-á a aplicação da moral do Cristo.
Com as explicações do Espiritismo pode o homem melhor compreender a solidariedade que une todos os seres; a caridade e a fraternidade tornam-se necessidade social e a religião, conquista que ultrapassa um rótulo, um nome, mas realização interior lúcida, que independe de formalismos, lugares e exterioridades, no homem ético aberto a novas conquistas e a níveis superiores de entendimento.
Bibliografia
• Revista Espírita - Allan Kardec - 1668 - agosto
• A Gênese - Allan Kardec - cap. I
Leda Marques Bighetti
Agosto / 2002
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