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quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Livro dos Espíritos Estudo 19

Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita
VII a - A Ciência e o Espiritismo
1 - Fatos que motivaram as reflexões contidas nesse item - Explicação da Ciência para os fenômenos espíritas
Vejamos o que se passava: - os Srs. Schiff, Jobert e Velpeau, comunicaram a Academia de Ciências na sua sessão de 19 de Abril de 1859 o seguinte:
- Srta. X, 14 anos, forte, bem constituída é acometida desde os 6 anos, de movimentos involuntários regulares do pequeno músculo perônio lateral direito e por batidas, que podem ser escutadas por detrás do tornozelo com a regularidade do pulso. Apareceram pela primeira vez a noite acompanhados de forte dor. Depois de algum tempo, em menor intensidade, o mesmo passa a acontecer na outra perna. A dor provoca hesitação na marcha e produz quedas. A jovem declara que a compressão exercida chega ao ponto de paralisar-lhe o pé que também sente dor e fadiga.
Após cada contração, apresentava-se batimento regular, saliência passageira, levantamento das partes moles da região, ruídos secos que eram ouvidos, no leito, fora dele e até a considerável distância do lugar onde a moça repousava ou acompanhava-a por toda parte.
Examinado o pé e a perna, distinguia-se um choque que percorria todo o trajeto do músculo, assemelhando-se a um golpe, que se transmite de uma a outra extremidade de uma viga. Ora se assemelhava a um atrito porém, quando menos intensas, parecia uma raspagem. Repetiam-se estando a moça de pé, sentada, deitada, a qualquer hora do dia ou da noite.
1.1- Comentam os Srs. Citados, que os charlatães se apoderaram desses fenômenos e os relacionaram com a intervenção de uma causa sobrenatural da qual se servem para explorar a credulidade pública, atribuindo-os a Espíritos batedores. As observações sobre a Srta. X, levam os pesquisadores afirmar que sob influência da contração muscular, os tendões deslocados, no momento em que entram nas goteiras ósseas, podem produzir esses fenômenos. Ainda, com exercício, qualquer pessoa pode produzi-los a vontade, com batimentos que são ouvidos à distância. A sede desses ruídos está no próprio doente e não exteriormente.
O próprio Sr. Schiff é capaz de executar ruídos voluntários, regulares, harmoniosos, com ou sem sapatos, em pé ou deitado perante cerca de 50 pessoas.
O Sr. Velpeau acresce que esses barulhos podem inclusive ser produzidos e ouvidos através de outras regiões como quadris, ombro e face interna do pé.
Explicam-nos pelo atrito ou sobressalto dos tendões nas ranhuras ou contra os bordos de superfícies sinoviais. São, desse modo possíveis de acontecer numa infinidade ou nas vizinhanças de uma porção de órgãos, de modo claro, sonoro, surdo, obscuro, úmido ou seco, variando na intensidade.
Apoiando essas observações surge o testemunho do Sr. Jules Cloquet, contando o caso de uma jovem de 16 ou 18 anos, examinada por ele no Hospital São Luís, numa época em que os Srs. Velpeau e Jobert eram ali internos. O pai da moça, espécie de saltimbanco, pretendia tirar partido da filha exibindo-a publicamente. A jovem apresentava no ventre, o movimento de um pêndulo. Por ligeiro movimento de rotação na região lombar da coluna vertebral, ela produzia estalos muito fortes, mais ou menos regulares, segundo o ritmo dos movimentos que imprimia à parte inferior do tronco.
Esses sons anormais eram ouvidos distintamente a relativa distância.
Considerações relatos com detalhes eram publicadas em "L'Abeille Medicale", sob ponto de vista científico e o jornal "La Mode" de 1º de maio de 1859 publica:
- "A academia de Medicina continua a cruzada dos espíritos positivos contra todo gênero de maravilha.
Depois de ter, com justa razão, mas um tanto desajeitadamente, fulminado o famoso doutor negro, pelo órgão do Sr. Velpeau, eis que acaba de ouvir o Sr. Jobert (de Lamballe) o qual revela em pleno Instituto, o segredo daquilo que se chama "a grande comédia dos Espíritos Batedores", representada com tanto sucesso nos dois hemisférios".
Segundo o célebre cirurgião, todo "toc-toc", todo "pan-pan" que faz arrepiar aqueles que os escutam e que são entendidos como ..."precursores da chegada, sinais certos da presença de habitantes do outro mundo, são simplesmente o resultado de um movimento imprimido a um músculo, um nervo, um tendão! Trata-se de uma bizarria da natureza, habilmente explorada para produzir, sem que o possa constatar, essa música misteriosa que encantou e seduziu tanta gente. A sede da orquestra e na perna. É o tendão do perônio tocando na bainha, que faz todos esses ruídos, que são ouvidos sob as mesas ou à distância, à vontade do prestidigitador"....
As afirmações nesse teor continuam, concluindo que essa crença ou aceitação dos Espíritos faz parte da...“sede do maravilhoso que devora nossa época”...
Recorde-se que datado de 1854, havia sido publicado matéria assinada pelo Dr. Rayer célebre clínico, que na época, apresentou ao Instituto um alemão produzindo esses barulhos pelo deslocamento de um dos tendões musculares da perna chamado o grande perônio. Esse fato consta em o “Constitutionel” que fecha na seguinte conclusão: ...“enfim os cientistas se posicionaram e o mistério foi esclarecido”...
A referida conclusão impediu que o “mistério” persistisse, aumentasse, apesar da Ciência se negar a fazer experiências, contentando-se com explicações simplórias e sem profundidade.
2- Reflexões – Nesses primeiros poucos anos de Espiritismo, espalhara-se ele pelas várias classes sociais, contando em suas fileiras pessoas simples letradas, às quais se atribuem as luzes do bom senso e por isso questionavam as afirmações acima.
Entendiam que a função da Ciência é descobrir a causa de um fenômeno tornando-a conhecida. Deve portanto, fazer desaparecer o mistério de um efeito.
As apreciações dos Srs. Schiff, Velpeau são verídicas, mas constituem-se como observação única de um acontecimento de muitas faces, cabendo examinar todas as circunstâncias, para que nenhum fato desconhecido, venha contradizer.
Analise-se que:
- esse fato singular, até aqui excepcional, caso patológico, de repente se torna comum.
- é acompanhado de dor, fadiga, no entanto alguém se dispõe a fazê-lo estalar por 2 ou 3 horas seguidas, em qualquer lugar e hora, sem nenhum lucro, com o fim único de divertir pessoas.
- os tendões deslocados não batem apenas nas goteiras ósseas, mas também nas portas, paredes, teto à vontade ou em pontos designados. Esse músculo que range tem o poder de levantar uma mesa sem a tocar, fazê-la bater com os pés, andar pela sala, manter-se no espaço sem ponto de apoio, abri-la, fechá-la, deixá-la cair partindo-se na queda obedecendo à ordem de mocinhas e crianças.
- os Srs. em apreço ao fazer os estudos agiram com independência? estavam isentos de prevenção? ao pesquisar partiram do fato ou das idéias que já possuíam? giraram os estudos num sentido amplo ou num campo exclusivo, deduzindo teoria também exclusiva, que explicavam o que viam, mas não o que não viam, porque seu pensamento se detinha em um detalhe da verdade. Frente a isso, o mais, ou não existia era falso ou não merecia exame.
Não percebiam que os efeitos revelavam uma causa inteligente (e que o perônio por si não o é): imitava a serra, o martelo, batia sinais de atenção ou o compasso de uma música, enfim, o que lhes pedisse. Respondia ou produzia efeitos que o médium desconhecia, revela pequenos “segredos”, faz versos embora o médium jamais os tenha feito; é poliglota, músico, compõe faz tocar o piano em belas sonatas.
“Confessamos nossa ignorância junto a esses Srs., aceitamos a sua sábia demonstração e a tomamos muito a sério. Pensávamos que certos fenômenos fossem produzidos por seres invisíveis que se diziam Espíritos. Vá lá que nos tenhamos enganado. Como procuramos a verdade, não temos a tola pretensão de emperrar numa idéia, que de modo tão peremptório nos demonstram ser falsa. Do momento em que o Sr. Jobert, por uma incisão subcutânea, cortou cerce os Espíritos, já não há mais Espíritos. Uma vez que ele diz que todos os ruídos vêm do perônio, é preciso crê-lo e admiti-lo, em todas as circunstâncias. Assim, quando as batidas são dadas na parede ou no teto, ou o perônio lhes corresponde ou a parede tem um perônio; quando ditam versos por uma mesa que bate com o pé, das duas uma: ou a mesa é poetisa ou tem um perônio”...
A Ciência vulgar repousa sobre as propriedades da matéria que pode ser manejada à vontade; os fenômenos produzidos têm como agentes forças materiais. Os do Espiritismo têm seus agentes como forças inteligentes, livres, independentes com arbítrio que lhes faculta não submeter-se a caprichos dos outros; escapam aos processos anatômicos de laboratório, dos cálculos e assim fogem, escapam do campo da Ciência propriamente dita.
A partir da idéia fixa, pré-concebida conclui-se pela negativa.
Os fatos, porém, continuam a suceder: os crentes são chamados de loucos, tal qual aqueles que no passado acreditavam que a Terra girava, negativa que, não a impediu de continuar no seu movimento.
2.1- Todos os cientistas agiram assim?
Não. Nem todos se fecharam em idéias pré-concebidas.
Raciocinaram:-
- não há efeito sem causa
- vulgares efeitos podem abrir solução a grande problemas
- muita gente se ocupa desses fatos; muitos os estudam em pesquisas, logo algo deve existir.
Nesse pensar, ilustrado doutor em medicina, incrédulo nesse momento, escreve:
“Dizem que seres invisíveis se comunicam. Por que não? Antes da invenção do microscópio, suspeitávamos da existência desses milhares de animálculos que causavam tanta devastação em nossa economia? Onde a impossibilidade material que haja no espaço seres que escapam aos nossos sentidos? Se esses invisíveis que nos cercam são inteligentes, por que não se comunicariam conosco? Se estão em relação com os homens, devem representar um papel. Quem sabe se não serão uma das potências da natureza, uma dessas forças ocultas que não suspeitamos? A descoberta de um mundo invisível seria muito diversa da dos infinitamente pequenos. Seria mais que uma descoberta: seria toda uma revolução nas idéias”...
Reflexões estas que falam da mente científica esclarecida, aberta, que estuda, busca, reflete seriamente, sem posições fixadas, abertos à possibilidade da existência de seres, para nós invisíveis que povoam espaços.
Quem no passado, pensaria que na límpida gota d’água contendo milhares de seres vivos de pequenez capaz de confundir qualquer imaginação?
2:2- Questionam os adversários – por que os Espíritos, que têm a preocupação de fazer prosélitos, não agem de melhor modo, convencendo pessoas cuja opinião tem grande influência?
Não se trata de convencer os céticos que por antecipação negam evidências, aos quais nada convencem. Não se obriga ninguém a crer. O que responder àqueles que enxergam em diferente tudo engodo, charlatanismo, ilusão?... é preciso deixá-los tranqüilos, livres para afirmar que nada viram”...
Ao lado desses céticos endurecidos, acresça-se, os que querem ver a seu modo, não compreendendo que há fenômenos que não obedecem à vontade.
Se os Espíritos não se mostram interessados em convencê-los por meio de prodígios é que no momento, aparentemente, pouco interesse têm em convencer pessoas, cuja importância medem de modo diverso por que elas próprias o fazem.
- “ os Espíritos têm um modo próprio de julgar as coisas nem sempre concordante com o nosso: vêem, pensam e agem de acordo com outros elementos;
- enquanto nossa vida é circunscrita pela matéria, limitada pelo estreito círculo em cujo meio nos achamos, eles abarcam o conjunto;
- o tempo, que nos parece tão longe, é para eles um instante e a distância apenas um passo;
- certos detalhes, que nos afiguram de importância extrema, a seus olhos não passam de infantilidades. Por outro lado julgam importantes certas coisas cujo alcance não apreendemos;
- para compreender, é necessário, elevarmo-nos pelo pensamento, acima do nosso horizonte material e moral e nos colocarmos em seu ponto de vista;
- não cabe a eles Espíritos, descer até nós: nós é que devemos subir até eles, o que só se conseguirá pelo estudo e pela observação – gostam dos observadores assíduos e conscienciosos. Para estes multiplicam as fontes de luz;
- não é a dúvida originária da ignorância, que os afasta: é a fatuidade dos pretensos observadores e que querem crivá-los de perguntas e manobrá-los como bonecos. Para estes nada fazem e não se preocupam com o que possam dizer ou pensar, porque a vez deles chegará. ”
2:3– Os adversários estão sempre em tais condições?
De modo geral, querem o fenômeno às suas ordens e os Espíritos não lhes obedecem ao comando – é necessário esperar sua boa vontade. Não basta dizer-lhes: - mostrem-me tal fato e acreditarei – é – necessário vontade perseverante, deixar que os fatos se produzam espontaneamente, sem forçá-los ou querer dirigi-los.
Aos olhos do observador atento, ativo multiplicam-se os fenômenos, confirmando-se reciprocamente.
Aquele que pensa bastar fazer girar uma manivela como ligar uma máquina, não só se engana como nada conseguirá.
- “Que faz o naturalista que quer estudar os costumes de um animal? Ordena-lhe faça isso ou aquilo, observando-o à vontade e segundo suas conveniências? Não. Sabe que não será obedecido. Ele “espia”, analisa, compara, etc. as manifestações espontâneas do seu instinto. O simples bom senso mostra que, com mais forte razão, assim deve ser com os Espíritos, inteligências independentes, livres, com personalidade, individualidade própria, vontade soberana. ”
Continua em nosso próximo estudo.
Bibliografia:
O Livro dos Espíritos - Allan Kardec - Introdução XVII
Revista Espírita – Allan Kardec – Edicel
Item 1a 2:2 - junho – 1859
Item 3 ---- - maio – 1859
Item 4 ---- - fevereiro – 1859
Item 5 – 5:1 - janeiro – 1858
Item 6 – 6:1 - julho - 1859
Item 7 ---- - outubro – 1862
Item 8 ---- - abril - 1860 - O principiante Espírita - Allan Kardec – 1ª parte
Item 9 – R. E. Julho - 1859
Leda Marques Bighetti
Janeiro / 2003

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