Tema: Suicídio
3. Em torno do suicídio
Suicídio...
Uma das mais terríveis palavras nos dicionários humanos...
Pronunciada, afunda o chão sete palmos, como diziam os mais antigos, ao se referirem às coisas mais sinistras da vida.
Só Deus dispõe do direito à vida, por intermédio de suas leis, lembram os Instrutores Espirituais, ao ser ventilado, na Codificação, o assunto.
Estudaremos o doloroso tema com a esperança de que seja ele um incentivo à vida, por mais difícil se nos afigure ela, partindo dos seguintes pontos:
· Causas freqüentes do suicídio.
· Quadro geral da situação dos desertores da vida, no plano espiritual.
· Conseqüências em futuras reencarnações.
Difícil seria abranger, no simples capítulo de um livro, problema tão angustioso e sombrio, que se tem agravado, ultimamente, nas comunidades terrestres, elevando as estatísticas mundiais.
Que poderá levar o homem a recorrer ao gesto extremo?
Eis a pergunta, inquietante, que a mente humana formula, em todos os continentes, em face da incidência de suicídios em milhares e milhares de lares do mundo em lares humildes, em lares de mediana condição, em palácios suntuosos!...
Anotaríamos, em tese, as principais motivações, crendo, no entanto, que outros estudiosos do assunto possam aduzir novas razões, às quais acrescentaríamos, evidentemente, as por nós relacionadas:
· Falta de fé.
· Orgulho ferido.
· Esgotamento nervoso.
Guarda, pois, a existência como dom inefável, porque teu corpo é sempre instrumento divino, para que nele aprendas a crescer para a luz e a viver para o amor, ante a glória de Deus Emmanuel
· Loucura.
· Tédio da vida.
· Moléstias consideradas incuráveis.
· Indução de terceiros, encarnados ou desencarnados.
Acreditamos, firmemente, que a falta de fé responde pela quase totalidade dos suicídios.
A fé é alimento espiritual que, fortalecendo a alma, põe-na em condições de suportar os embates da existência, de modo a superá-los convenientemente.
A fé é mãe extremosa da prece.
E quem ora com fé tem o entendimento aclarado e o coração fortalecido, eis que, segundo Emmanuel, quando a dor nos entenebrece os horizontes da alma, subtraindo-nos a serenidade e a alegria, tudo parece escuridão envolvente e derrota irremediável, induzindo-nos ao desânimo e insuflando-nos o desespero; todavia, se acendemos no coração leve flama da prece, fios imponderáveis de confiança ligam-nos o ser a Deus.
Analisando as demais causas, observamos que todas elas tiveram por germe, aqui e alhures, na Terra ou noutros mundos, nesta ou em encarnações pretéritas, a ausência da fé.
O orgulho ferido é, também, falta de fé, porque a fé conduz à humildade profunda, e esta é inimiga do orgulho.
É o seu melhor, o seu mais poderoso antídoto.
O orgulho ferido pode levar o homem a sérios desastres que se perpetuarão, durante séculos, em seu carma.
O esgotamento nervoso, que poderia ser evitado, no seu começo, se movimentados pudessem ter sido os recursos da oração, filha da fé, pode conduzir o ser humano, nessa altura já fortemente assediado por forças obsessoras, ao extremo gesto.
A loucura, por sua vez, responde por elevado número de deserções do mundo.
E o chamado tédio da vida?
Quantas cartas foram deixadas por suicidas referindo-se ao cansaço da vida e implicações correlatas?
Por quê? Ausência de fé, evidentemente da fé que reside e brota dos escaninhos mais sagrados e mais profundos da alma eterna.
Sim, há muita fé que existe, apenas, nos lábios.
A fé iluminada pela razão, que é a fé espírita, capaz de encarar o raciocínio face a face, em todas as épocas da humanidade, suporta e vence, resiste e transpõe os mais sérios obstáculos, inclusive os relacionados com uma existência dolorosa, sob o aspecto moral ou físico, fértil em aflitivos problemas.
Quem tem fé não deserta da vida, pois sabe que os recursos divinos, de socorro à humanidade são inesgotáveis.
Não esvaziam os mananciais da misericórdia de Deus!
Ante moléstia considerada incurável, procura o enfermo, algumas vezes, no suicídio, a solução do seu problema.
Infeliz engano, pois a ninguém é lícito conhecer até onde chegam os recursos curadores da Espiritualidade Superior, que é a representação da Magnanimidade Divina.
Quantas vezes amigos de Mais Alto intervêm, prodigiosamente, quando a Medicina, desalentada, já ensarilha as armas, por esgotamento dos próprios recursos?!...
Há outro tipo de suicídio, aquele que resulta da indução, sutil ou ostensiva, de terceiros, encarnados ou desencarnados, especial e mais numerosamente dos desencarnados, não sendo demais afirmar, por efeito de observação, que a quase totalidade dos auto-extermínios foi estimulada por entidades perversas, inimigas ferrenhas do passado, que, ligando-se ao campo mental de quantos idealizam, em momento infeliz, o suicídio, corporificam-lhe, na hora adequada, a sinistra idéia.
Julgamos ter analisado, com razoável acervo de exemplos, as causas mais freqüentes do suicídio.
Estudemos, agora, o quadro geral da situação dos trânsfugas da vida, após a morte.
A ilusão do suicida é de que, com a extinção do corpo, cessam problemas e dores, mas a palavra de André Luiz, revestida da melhor essência doutrinária, informa que sai ele do sofrimento, para entrar na tortura...
Relatos de antigos suicidas e obras especializadas, de origem mediúnica, falam-nos, inclusive, de vales sinistros, onde se congregam, em tétricas sociedades, os que sucumbiram no auto-extermínio.
Nessas regiões, indescritíveis na linguagem humana, os quadros são terríveis.
Visão constante das cenas do suicídio, seu e de outrem.
Recordação,aflitiva, dos familiares, do lar distante, dolorosamente perdidos na insânia.
Saudade da vida vida que o próprio suicida não soube valorizar, por lhe haver faltado um pouco mais de confiança na ajuda de Deus, que tem sempre o momento adequado para chegar...
Outras vezes, solidão, trevas, pesadelos horrendos, com a sensação, da parte do infeliz, de que se
encontra num deserto, onde os gritos e gemidos têm ressonâncias tétricas.
Os mais variados efeitos psicológicos e as mais diversas repercussões morais tornam a presença do suicida, no mundo espiritual, um autêntico inferno, onde estagiará não sabemos quanto tempo, tudo dependendo de uma série de fatores que não temos condições para aprofundar, eis que inerentes à própria Lei de Justiça.
Ataques de entidades cruéis.
Acusações e blasfêmias.
Sevícias e sinistras gargalhadas povoam a longa noite dos que não tiveram coragem para enfrentar o tédio, a calúnia, o desamor, a desventura...
Se pudessem os homens levantar uma nesga da Vida Espiritual e olhar, à distância, as cenas de torturante sofrimento a que são submetidos os suicidas, diminuiriam, por certo, as estatísticas, mesmo nos mais conturbados e infelizes continentes.
O Espiritismo, descortinando tais horizontes, dizendo aos homens que a vida é patrimônio de Deus, que lhes não cabe destruir, cumprirá na Terra sua augusta missão de acabar com os suicídios.
E agora, afinal, apreciemos as conseqüências com vistas às futuras existências.
Se a tortura do Espírito, após o suicídio, é horrível, seu retorno ao mundo terreno, pela reencarnação, far-se-á na base das mais duras penas.
Reencarnações frustradas, isto é, que se interromperão quando maior for o desejo de viver, o anseio de vida vida que ele não teve fé suficiente para valorizar.
No capítulo das enfermidades impiedosas, preferível darmos a palavra a Emmanuel, que, em notável estudo, sintetizou todas as conseqüências:
Os que se envenenaram, conforme os tóxicos de que se valeram, renascem trazendo as afecções valvulares, os achaques do aparelho digestivo, as doenças do sangue e as disfunções endocrínicas, tanto quanto outros males de etiologia obscura; os que incendiaram a própria carne amargam as agruras da ictiose ou pênfigo; os que se asfixiaram, seja no leito das águas ou nas correntes de gás, exibem processos mórbidos das vias respiratórias, como no caso do enfisema ou dos cistos pulmonares; os que se enforcaram carreiam consigo os dolorosos distúrbios do sistema nervoso, como sejam as neoplasias diversas e a paralisia cerebral infantil; os que estilhaçaram o crânio ou deitaram a própria cabeça sob rodas destruidoras, experimentam desarmonias da mesma espécie, notadamente as que se relacionam com o cretinismo, e os que se atiraram de grande altura reaparecem portando os padecimentos da distrofia muscular progressiva ou da osteíte difusa.
Segundo o tipo de suicídio, direto ou indireto, surgem as distonias orgânicas derivadas, que correspondem a diversas calamidades congênitas, inclusive a mutilação e o câncer, a surdez e a mudez, a cegueira e a loucura, a representarem terapêutica providencial na cura da alma.
O suicídio, longe de ser a porta da salvação, é o sombrio pórtico de inimagináveis torturas.
Que nenhum ser humano, em lendo estas considerações doutrinárias, homem ou mulher, consinta a permanência em sua mente, um instante se quer, da sinistra idéia de exterminar a própria vida, a fim de evitar que, sob o estímulo e a indução de adversários cruéis, venha a cometer a mais grave das infrações às leis divinas.
Este o apelo que o Espiritismo, por seus humildes expositores, faz descer sobre os corações sofredores.
O Pensamento de Emmanuel Martins Peralva pág. 214
3.1. O suicídio e a loucura
14. A calma e a resignação hauridas da maneira de considerar a vida terrestre e da confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio. Com efeito, é certo que a maioria dos casos de loucura se deve à comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem a coragem de suportar. Ora, se encarando as coisas deste mundo da maneira por que o Espiritismo faz que ele as considere, o homem recebe com indiferença, mesmo com alegria, os reveses e as decepções que o houveram desesperado noutras circunstâncias, evidente se torna que essa força, que o coloca acima dos acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, a conturbariam.
15. O mesmo ocorre com o suicídio. Postos de lado os que se dão em estado de embriaguez e de loucura, aos quais se pode chamar de inconscientes, é incontestável que tem ele sempre por causa um descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particulares que se lhe apontem. Ora, aquele que está certo de que só é desventurado por um dia e que melhores serão os dias que hão de vir, enche-se facilmente de paciência. Só se desespera quando nenhum termo divisa para os seus sofrimentos. E que é a vida humana, com relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas, para o que não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, se os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar pelo suicídio as suas misérias.
16. a incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as idéias materialistas, numa palavra, são os maiores incitantes ao suicídio; ocasionam a covardia moral. Quando homens de ciência, apoiados na autoridade do seu saber, se esforçam por provar aos que os ouvem ou lêem que estes nada têm a esperar depois da morte, não estão de fato levando-os a deduzir que, se são desgraçados, coisa melhor não lhes resta senão se matarem? Que lhes poderiam dizer para desviá-los dessa conseqüência? Que compensação lhes podem oferecer? Que esperança lhes podem dar? Nenhuma, a não ser o nada. Daí se deve concluir que, se o nada é o único remédio heróico, a única perspectiva, mais vale buscá-lo imediatamente e não mais tarde, para sofrer por menos tempo.
A propagação das doutrinas materialistas é, pois, o veneno que inocula a idéia do suicídio na maioria dos que se suicidam, e os que se constituem apóstolos de semelhantes doutrinas assumem tremenda responsabilidade. Com o Espiritismo, tornada impossível a dúvida, muda o aspecto da vida. O crente sabe que a existência se prolonga indefinidamente para lá do túmulo, mas em condições muito diversas; donde a paciência e a resignação que o afastam muito naturalmente de pensar no suicídio; donde, em suma, a coragem moral.
17. O Espiritismo ainda produz, sob esse aspecto, outro resultado igualmente positivo e talvez mais decisivo. Apresenta-nos os próprios suicidas a informar-nos da situação desgraçada em que se encontram e a provar que ninguém viola impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem encurtar a sua vida. Entre os suicidas, alguns há cujos sofrimentos, nem por serem temporários e nem eternos, não são menos terríveis e de natureza a fazerem refletir os que porventura pensam em daqui sair, antes que Deus o haja ordenado. O espírita tem, assim, vários motivos a contrapor à idéia do suicídio: a certeza de uma vida futura, em que, sabe-o ele, será tanto mais ditoso, quanto mais inditoso e resignado haja sido na Terra: a certeza de que, abreviando seus dias, chega, precisamente, a resultado oposto ao que esperava; que se liberta de um mal, para incorrer num mal pior, mais longo e mais terrível; que se engana, imaginando que, com o matar-se, vai mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo a que no outro mundo ele se reúna aos que foram objeto de suas afeições e aos quais esperava encontrar; donde a conseqüência de que o suicídio, só lhe trazendo decepções, é contrário aos seus próprios interesses. Por isso mesmo, considerável já é o número dos que têm sido, pelo Espiritismo, obstados de suicidar-se, podendo daí concluir-se que, quando todos os homens forem espíritas, deixará de haver suicídios conscientes. Comparando-se, então, os resultados que as doutrinas materialistas produzem com os que decorrem da Doutrina Espírita, somente do ponto de vista do suicídio, forçoso será reconhecer que, enquanto a lógica das primeiras a ele conduz, a da outra o evita, fato que a experiência confirma.
O Evangelho Segundo o Espiritismo Allan Kardec cap. V
3.2. Suicídio e eutanásia
Tão grande é a responsabilidade espiritual no suicídio, quanto na prática da eutanásia, ou morte suave, antecipada, conhecida na tradição popular por chá da meia noite.
O suicídio, ou auto-extermínio, constitui, sob o ponto de vista do Espiritismo, uma das mais sérias infrações às leis da vida.
Por ele, corta-se o fio da existência. É, assim, crime gravíssimo ante os códigos da Vida Imortal.
A eutanásia igualmente o é, seja por iniciativa de outrem ou do próprio indivíduo, seja através de processos violentos ou gradativos, pela ingestão de drogas letais, em doses continuadas.
Entendemos, portanto, no suicídio e na eutanásia, tragédias morais, uma vez que ferem, frontalmente, a Vontade Divina, alterando-lhe os desígnios.
O suicídio, antecipando, conscientemente, a morte, é, em alguns casos, um processo eutanásico.
A eutanásia, no entanto, executada à revelia da vítima, tem sentido de homicídio.
Nélson Hungria, grande penólogo brasileiro, em seus Comentários ao Código Penal, vol. V, arts. 131 a 136, oferece-nos valiosos subsídios contrários ao homicídio eutanásico, através de luminosos conceitos, de fundo essencialmente espírita.
Ouçamos o notável cultor das letras jurídicas: Segundo um conceito generalizado, o homicídio eutanásico deve ser entendido como aquele que é praticado para abreviar piedosamente o irremediável sofrimento da vítima, e a pedido ou com o consentimento desta, esclarecendo o eminente patrício que a tese de Binding e Hoche, autores alemães, que patrocinavam a extensiva permissão da eutanásia, não teve ressonância alguma no direito positivo.
E continua, inspirado: O homem, ainda que irremediavelmente acuado pela dor ou minado por um mal físico, não é precisamente a rês estropiada, que o campeiro abate. Repugna à razão e à consciência que se possa confundir com a prática deliberada de um homicídio o nobre sentimento de solidariedade e abnegação que manda acudir os enfermos e desgraçados. Além disso, não se pode olvidar que o sofrimento é um fator de elevação moral (o destaque é nosso). Não nos arreceemos, nesta época de retorno ao espiritualismo, de formular também o argumento religioso: eliminar o sofrimento com a morte é ato de estreito materialismo, é desconhecer que uma alma sobrevive ao perecimento do corpo e que a dor é o crisol em que essa alma se purifica e se redime para a sua progressiva ascensão às claridades eternas. Ainda é nosso o destaque.
E, finalizando seus luminosos conceitos escreve o notável penólogo: Mas, se devemos chorar sobre a dor alheia, quando sem cura e sem alívio, a lágrima de nossa compaixão e do nosso desespero, não podemos jamais interceptar uma existência humana na sua função finalística, que se projeta além das coisas terrenas..
A licença para a eutanásia deve ser repelida, principalmente, em nome do direito. É ainda o consagrado Hungria.
Em face da Doutrina Espírita, é o homicídio eutanásico um desrespeito às leis divinas, no que toca a um dos seus mais sublimes aspectos: o direito à vida!
O indivíduo que autoriza a própria morte não está, não pode estar na integridade do seu entendimento. O apego à vida é um sentimento tão forte, que o homem, no seu estado psíquico normal,prefere todas as dores e todos os calvários à mais suave das mortes.
Defender a eutanásia é, sem mais nem menos, fazer a apologia de um crime. Não desmoralizemos a civilização contemporânea com o preconício do homicídio. Uma existência humana, embora irremissivelmente empolgada pela dor e socialmente inútil, é sagrada. A vida de cada homem, até o seu último momento, é uma contribuição para a harmonia suprema do Universo e nenhum artifício humano, por isso mesmo, deve truncá-la. Não nos acumpliciemos com a Morte.
Em que regiões pairava a mente de Nélson Hungria, quando insculpia tão luminosos conceitos, em desacordo com a jurisprudência de inúmeros países?
Fica a indagação...
Muita vez, em nome da piedade, com a boa intenção de abreviar ou suprimir sofrimentos do enfermo e de seus familiares e amigos, a eutanásia é praticada, o que lhe não tira a feição de assassínio.
Sem dúvida, boa é a intenção, porém o espírita, esclarecido, jamais a perfilhará, por entender, acima de tudo, que o sofrimento cristãmente suportado, até o final da existência corpórea, pode representar o término, o epílogo de provas necessárias à criatura, com vistas à Vida Maior.
À luz da Doutrina dos Espíritos, compreende que no instante derradeiro o socorro divino pode levantar o quase morto; restituí-lo à dinâmica da vida, graças aos infinitos recursos da Espiritualidade Superior.
Em nome do amor e da consolação, compreensíveis ante a intensidade do sofrimento, nas moléstias consideradas, sob o ponto de vista humano, incuráveis, não devemos subtrair do companheiro em processo redentor a oportunidade do resgate.
O Pensamento de Emmanuel Martins Peralva pág. 217
3.3. Eutanásia
Nas tramas da existência humana, razões tenebrosas, como a ambição e o temor, a perversidade e o materialismo, bem assim outras de natureza passional, têm expulsado de milhares de corpos Espíritos que neles deveriam permanecer mais longo tempo.
A tese de que os enfermos incuráveis, de corpo ou de espírito, deveriam ser eliminados em nome da sociedade, para que esta se aliviasse de um peso morto, enfeixando concepção materialista, por conseguinte repulsiva, é, na opinião de Nélson Hungria, o grande nome da Penologia brasileira, o calculado sacrifício dos desgraçados em holocausto ao maior comodismo dos felizes.
O materialismo, não admitindo a existência da alma, erigiu o falso conceito, egoísta, das chamadas vidas inúteis, eliminando-as, friamente, por considerá-las onerosas à sociedade.
Podem chover argumentos em favor da eutanásia, o que não impede, à luz redentora do Espiritismo, sejam os seus responsáveis assassinos que a Justiça do mundo nem sempre pune, mas que a de Deus registra, identificando-os na contabilidade divina, com vistas a dolorosos resgates, em amargas expiações no futuro, atenuadas, ou agravadas, pela lei, segundo as suas motivações.
A eutanásia, em suma, é sempre uma forma de homicídio, pelo qual os seus autores responderão no porvir, em grau compatível com as suas causas determinantes.
Quem pratica a eutanásia, por melhores sejam as intenções, inclusive piedosas, comete crime de lesa-natureza, à vista do instinto de conservação inerente às criaturas de Deus.
Os Espíritos foram muitos claros, ao responderem aos quesitos formulados por Allan Kardec nessa admirável obra que é O Livro dos Espíritos.
Emmanuel, o iluminado Mentor de Francisco Cândido Xavier, além do expressivo apontamento no pórtico deste capítulo, não deixa dúvidas, em nenhuma de suas mensagens, quanto à necessidade de que seja vivido o último instante dos seres encarnados: Por isso mesmo nas próprias moléstias reconhecidamente obscuras para a diagnose terrestre, fulgem lições cujo termo é preciso esperar, a fim de que o homem lhes não perca a essência divina.
Podemos avaliar a extensão da responsabilidade dos que executam a eutanásia, principalmente quando as razoes se fundamentam no crime, no temor de revelações comprometedoras, em causas passionais, na perversidade e no atendimento a concepções oriundas de filosofias materialistas.
O espírita, na verdade, tem uma paisagem diferente, mais ampla, mais rica, para examinar o tema eutanásia, pois conhece ele as conseqüências, morais e psíquicas, que atingem a quantos, por este ou aquele motivo, exterminam, antes do tempo previsto pelas Leis Divinas, a vida física dos seus irmãos de jornada terrena.
Sabemos nós, os espíritas, que a renovação espiritual, conseqüente ao arrependimento, pode vir no último instante.
Temos ciência, resultante do entendimento doutrinário-evangélico, de que a interrupção, pela eutanásia, de provas necessárias ao Espírito reencarnado prejudica-o, substancialmente.
Vige, especialmente, uma conseqüência geradora de sofrimento, se a vitima não possui acentuado gabarito evolutivo: a demora na ruptura dos laços perispirituais que prendem a alma ao envoltório carnal, ocasionando problemas no após-morte.
Justo, no entanto, alinhemos outros efeitos, não menos desagradáveis.
Reabilitações penosas, em reencarnações de sofrimento, para os responsáveis pela eutanásia.
Processos de perturbação e obsessão, nos lares, produzidos pela revolta daqueles que a eutanásia assassinou.
Flagrante desrespeito às Leis da Vida, que prevêem, para cada ser humano, determinada cota de vida corporal.
São conseqüências de ordem doutrinaria, que o espírito não desconhece, porque facilmente dedutíveis de tudo quanto sobre o assunto disseram os Espíritos desde a primeira hora da Codificação de Luz, pronunciamentos que se complementam, em nossos dias, através de lúcidas mensagens de abnegados Mensageiros da Vida Superior, entre eles, de maneira especial, Emmanuel e André Luiz, graças à missionária mediunidade de Francisco Candido Xavier.
Quando o enfermo abrevia, ele próprio, a desencarnação, quer promovendo-a ou consentindo que outrem o faça, demonstra falta de resignação e de submissão à vontade do Criador.
Allan kardec, buscando aclarar o problema, indagou dos Benfeitores Sublimados: Quais, nesse caso, as conseqüências de tal ato?
E eles responderam: uma expiação proporcionada, como sempre à gravidade da falta, de acordo com as circunstancias.
Emmanuel, alem do primoroso conceito por nós colocado na abertura deste capitulo, realça a importância da continuidade da vida física, mesmo sob o guante dos maiores sofrimentos: Quando te encontres diante de alguém que a morte parece nimbar de sombra, recorda que a vida prossegue, alem da grande renovação...
Lembra-nos, ainda, o bondoso Amigo Espiritual: Não te creias autorizado a desferir o golpe supremo naqueles que a agonia emudece, a pretexto de consolação e amor, porque, muitas vezes por trás dos olhos baços e das mãos desfalecentes que parecem deitar o ultimo adeus, apenas repontam avisos e advertências para que o erro seja sustado ou para que a senda se reajuste amanhã.
Cuidar, quanto possível, de parentes e amigos que parecem se avizinhar da morte, na enfermidade misteriosa, é dever de todos nós que atendemos a existência física por divina concessão, para refazimento do destino, desta ou daquela maneira, inclusive na aflição da moléstia insidiosa, diante da qual os sacerdotes da medicina terrestre possam, eventualmente, ter cruzado os braços...
Recursos da cirurgia.
Providências clínicas.
Medicamentos e consolação.
Solidariedade e conforto.
Tranqüilidade e afeto, no silêncio caridoso...
Tudo isso são meios que o Pai concede e a misericórdia aconselha para que o irmão imobilizado no leito nos observe, reconfortado, a dedicação e o interesse, sem que permitamos pouse em nossa mente a trágica idéia de suprimir-lhe, com a eutanásia, o sagrado direito à vida.
A existência física é abençoado ensejo para a cura da alma, assegurando-nos, agora ou amanhã, a reabilitação e o crescimento para Deus, na compreensão e prática de suas Leis de Amor.
O Pensamento de Emmanuel Martins Peralva pág. 178
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