Quando o universo adulto e o infantil se chocam, quem sai mais ferido?
Os adultos criaram uma sociedade confusa. As mensagens são conflitantes. Por um lado, apresentamos às crianças um mundo de fantasia e sonho, cores alegres, músicas, brincadeiras, festas de aniversário e meigas apresentadoras de TV. Um universo que consideramos adequado à sua idade e nível de desenvolvimento psicossocial. Por outro lado, distantes de nossa observação e freqüentemente com nosso assentimento, estão elas expostas a todo tipo de informação proveniente da mídia e das conversas em redor. Afinal, elas assistem TV no quarto enquanto estamos na sala e nem sempre temos idéia do que estão vendo, mas permitimos...
Ultimamente, assuntos trágicos têm conquistado espaço no noticiário, que apresenta as faces da imensurável violência cometida contra crianças, algumas vezes, por seus próprios familiares, por pessoas do seu círculo de convivência diária ou pelos encarregados de cuidar delas.
Qual é a atitude mais comum dos adultos que convivem com as crianças expostas à crueza desses relatos? Em geral, aproveitam o pouco tempo que têm com a criança para falar sobre coisas leves, como o sabor do sorvete que será comprado para a sobremesa, e conversam freqüentemente num tom de voz exageradamente adocicado (as crianças percebem tais exageros como falsidade). Contudo, entende-se que não é apropriado tratar com elas de outros aspectos da dura realidade do mundo lá fora. E, por esse motivo, pais e educadores dão início ao seu próprio “faz-de-conta” : faz de conta que nada aconteceu
Contudo, criança sente. É comum dizer-se que criança capta coisas “no ar”.
Enxergando as necessidades da criança
Isto significa que, por um lado, incentivamos as crianças a acreditarem em sentimentos como a bondade, e a confiarem em pessoas especialmente próximas como aptas a protegê-las e a cuidar delas: “Obedeça à babá, ela sabe o que é melhor para você.” Mas não nos damos conta de que existem coisas acontecendo no mundo, e eventualmente em nossa própria cidade, pelas quais a criança não pode evitar ser afetada.
Mesmo quando os fatos ainda não foram apurados, as especulações levantam suspeitas e geram receios. Os pequenos ouvem rádio, vêem fotos na internet e cenas no telejornal, escutam conversas no metrô e, ainda que pareçam distraídas com seu jogo de montar, o que é transmitido na TV chega até ela, penetra em seus pensamentos e em seu coração.
Em momentos como esses, as emoções sentidas e não expostas ficam guardadas. A dúvida e a insegurança crescem. No seu blog, a psicóloga Rosely Sayão narra duas situações reais: “Uma criança, de 8 anos, perguntou à mãe se o pai poderia matá-la quando ficasse muito bravo. Outra, um pouco mais nova, perguntou se iria ficar de mãos amarradas quando fosse ao castigo”.
São perguntas que expressam necessidades emocionais importantes. Mas nem tudo aquilo de que uma criança precisa está sempre claro e visível, ou é dito por ela. Muito do que ela necessita são coisas invisíveis como, por exemplo, a segurança em relação aos sentimentos dos adultos por elas. Por isso, ela precisa de alguém que preste atenção constante ao seu olhar, aos seus gestos e palavras, a fim de identificar o que lhe falta e providenciá-lo.
Não seria demais, nestes tempos que correm, ofertar à criança testemunhos de afeto, e conversar com ela transmitindo a segurança de que a amamos e desejamos seu melhor, de que faremos tudo ao nosso alcance para que ela esteja sempre bem, saudável e alegre.
Somos os mediadores da realidade perante nossos filhos, apresentamos a eles o mundo onde recém-chegaram. Cuidemos para que sua experiência entre nós seja a mais bela e satisfatória possível, amenizando os impactos mais agressivos do ambiente com a sensibilidade, a atenção e o carinho daqueles que a amam.
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