Sérgio
Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações
Iniciais. 4. Origem do Bem e do Mal: 4.1. O Mal não Pode Ter Origem em Deus;
4.2. A Causa do Mal; 4.3. O Princípio do Bem e do Mal. 5. Necessidades Humanas:
5.1. O Que é uma Necessidade?; 5.2. Vícios; 5.3. Dor. 6. Bem versus Mal: 6.1.
Estender o Bem; 6.2. Desertor do Bem; 6.3. Resistir ao Mal. 7. Conclusão.
1.
INTRODUÇÃO
O que é o
bem? E o mal? O mal é ausência do bem? Onde está a origem do mal? Em Deus? Nos
Homens? Utilizamos essas perguntas para a introdução deste tema, que se
subdividirá em: a origem do mal, as necessidades humanas e o bem versus o mal.
2.
CONCEITO
Bem – Designa, em geral, o acordo entre o que uma
coisa é com o que ela deve ser. É a atualização das virtualidades inscritas na
natureza do ser. Relaciona-se com perfeito e com perfectibilidade. Segundo o
Espiritismo, tudo o que está de acordo com a lei de Deus.
Mal – Para a moral, é o contrário de bem.
Aceita-se, também, como mal, tudo o que constitui obstáculo ou contradição à
perfeição que o homem é capaz de conceber, e, muitas vezes, de desejar.
Divide-se em: mal metafísico (imperfeição); mal físico
(sofrimento); mal moral ("pecado"). Segundo o Espiritismo,
tudo o que não está de acordo com a lei de Deus.
3.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A questão
das mudanças de nossas avaliações é um dos pontos centrais para o entendimento
do bem e do mal. Malinovsky, etnólogo polonês, estudando a moral sexual dos
selvagens australianos, chegou à conclusão de que tudo o que entre nós é
considerado válido e até santo, lá é considerado mal. Embora haja uma moral
objetiva, traçada pelas leis divinas, só captamos o que nossa visão interior
consegue abarcar. O valor das coisas está constantemente alterando-se,
principalmente devido à educação cultural dos diversos povos. O valor, por sua
vez, pode ser entendido como: valor moral (refere-se à ação); valor
estético (refere-se ao dever-ser); valor religioso (refere-se
ao sentimento de temor ou de confiança na divindade). Sendo assim, um fato pode
ser analisado, respectivamente, como proveniente de uma ação má, feia
ou "pecaminosa".
De acordo
com a Doutrina Espírita, o problema do bem e do mal está relacionado com as
leis de Deus e o progresso alcançado pelo Espírito ao longo de suas várias
encarnações. É o que veremos a seguir.
4. ORIGEM
DO BEM E DO MAL
4.1. O
MAL NÃO PODE TER ORIGEM EM DEUS
Muitos
pensam que Deus, que é o criador do mundo e de tudo o que existe, também é o
criador do mal. Para tanto, as religiões dogmáticas elaboraram uma série de
raciocínios sobre a demonologia, ou seja, o tratado sobre o diabo.
Baseando-nos nessas imagens, seríamos forçados a crer que existem dois deuses,
digladiando-se reciprocamente. A lógica e os ensinamentos espíritas
apontam-nos, porém, para a existência de um único Deus, que é a inteligência
suprema, causa primária de todas as coisas. Como um de seus atributos é ser infinitamente
bom, Ele não poderia conter a mais insignificante parcela do mal. Assim,
Dele não pode provir a origem do mal. Mas o mal existe e deve ter uma origem.
Onde estaria? (Kardec, 1975, cap. III)
4.2. A
CAUSA DO MAL
O mal
existe e tem uma causa. Há, porém, males físicos e morais. Há os que não se
pode evitar (flagelos) e os que se podem evitar (vícios.) Porém, os males mais
numerosos são os que o homem cria pelos seus vícios, os que provêm do seu
orgulho, do seu egoísmo, da sua ambição, da sua cupidez, de seus excessos em
tudo. No que tange aos flagelos naturais, o homem recebeu a inteligência e com
ela consegue amenizar muito desses problemas.
No
sentido moral, o mal só pode estar assentado numa determinação humana, que se
fundamenta no livre-arbítrio. Enquanto o livre-arbítrio não existia, o homem
não cometia o mal, porque não tinha responsabilidades pelas suas ações. Conforme
os amigos espirituais foram nos facultando tal liberdade, tivemos que fazer
escolhas e com isso errar e conseqüentemente praticar o mal.
4.3. O
PRINCÍPIO DO BEM E DO MAL
O bem e o
mal como princípios podem ser encontrados no livro da natureza. O conhecimento
deles requer experiência. Tomemos as figuras de Adão e Eva. Eles comeram o
fruto proibido, instigados pela serpente. Para conhecerem o bem e o mal,
tiveram de prová-los. Mas Adão pode ter pensado: não vou ligar para isso, pois
foram a serpente e a Eva que me tentaram. Porém, nesse momento, Deus passa-lhe
a noção de responsabilidade. A "consciência moral"
começa com a responsabilidade.
Quando
começarmos a dar valor à moral, nosso progresso começa a se fundamentar. O
Espírito André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos, psicografado por
Francisco Cândido Xavier, traça-nos a trajetória do princípio inteligente
através dos vários reinos da natureza. O princípio inteligente é conduzido
pelos "Operários Espirituais". A repetição dos atos cria a herança e
o automatismo. Ao adentrar na fase hominal, ele adquire o pensamento contínuo,
o livre-arbítrio e a razão. Aos poucos esses operários espirituais vão
entregando o aprendizado ao livre-arbítrio, sob a própria responsabilidade.
5.
NECESSIDADES HUMANAS
5.1. O
QUE É UMA NECESSIDADE?
Necessidade
é a consciência de que nos falta algo. Por que nos falta algo? Porque a
necessidade, sendo um estado de espírito e um atributo do homem subjetivo,
impõe ao homem este ou aquele desejo. As necessidades podem ser: a) prioritárias:
comer, beber, dormir etc.; b) secundárias: vestir-se bem, passear,
cinema etc.
Em termos
espirituais, as necessidades vão se depurando conforme vamos galgando novos
degraus de evolução espiritual. Há, assim, muita sabedoria no provérbio:
"Deus, livra-me das minhas necessidades". Deveríamos deixar de lado
os apetites da carne e nos direcionarmos para os anseios do Espírito.
5.2.
VÍCIOS
Os vícios
são as ações que tendem para mal. Allan Kardec diz: "Se o homem se
conformasse rigorosamente com as leis divinas, não há duvidar de que se
pouparia aos mais agudos males e viveria ditoso na Terra". O animal, por
exemplo, só come para preservar a sua vida; o homem, dotado de inteligência,
come mais com os olhos do que com a boca. O vício surge não pelo fato de
atender a necessidades, mas no excesso que com que se atende a necessidades. Há
um ditado que diz: "devemos comer para viver e não viver para comer".
Nesse sentido, a pessoa que se alimenta em demasia acaba se tornando glutão, o
que lhe impede de estar bem com o seu físico. O mesmo se diz daquele que se
excede nas bebidas alcoólicas, na sexualidade etc. É preciso, pois, relembrar
que todos sofreremos as conseqüências de nossas ações, quer sejam boas ou más.
(Kardec, 1975, cap. III)
5.3. DOR
A dor é
teleológica e leva consigo um destino. É um alerta da natureza, que anuncia
algum mal que está nos atingindo e que precisamos enfrentar. Se não fosse a
dor, sucumbiríamos a muitas doenças sem sequer nos dar conta do perigo. Por ela
podemos saber o que fomos e, também, o que tencionamos ser. Ela é sempre
positiva; no sofrimento, estamos purgando algo ou preparando-nos para o futuro.
De acordo com Allan Kardec, "A dor é o aguilhão que impele o Espírito para
frente, na senda do progresso". Se o Espírito nada tivesse a temer,
nenhuma necessidade o induziria a procurar o melhor; ficaria inativo, como
entorpecido. Reportando-nos à alimentação, poder-se-ia dizer que ao ingerirmos
alimentos em excesso, teríamos um mal-estar físico, uma espécie de sentinela do
equilíbrio.
6. BEM
VERSUS MAL
6.1.
ESTENDER O BEM
"Não
te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem".
— Paulo.
(Romanos, 12, 21)
O
Espírito Emmanuel lembra-nos de que a natureza é pródiga em nos oferecer
exemplos vivos para a nossa mudança comportamental. Depois de um temporal
(mal), em que parece ter destruído a paisagem, novas forças congregam-se para a
obra de refazimento: "O sol envia luz sobre o lamaçal, curando as chagas
do chão, o vento acaricia o arvoredo e enxuga-lhe os ramos, o cântico das aves
substitui a voz do trovão... A árvore de frondes quebradas ou feridas
regenera-se, em silêncio, a fim de produzir novas flores e novos frutos".
Incita-nos, com isso, a aprender com a natureza, ou seja, mesmo sofrendo os
maiores dos males, deveríamos nos concentrar no bem, estendendo-o ao infinito,
porque o mal é passageiro e fruto da ignorância humana. (Xavier, sdp, cap. 35)
6.2.
DESERTOR DO BEM
Se
soubéssemos, de antemão, o tributo de dor que a vida nos cobrará, evitaríamos o
homicídio, a calúnia, a ingratidão e o egoísmo. O mesmo sucede com aquele que
se esquiva do bem. O Espírito Emmanuel diz: "Se o desertor do bem
conseguisse enxergar as perigosas ciladas com que as trevas lhe furtarão o
contentamento de viver, deter-se-ia feliz, sob as algemas santificantes dos
mais pesados deveres". Lembremo-nos de que viemos a este mundo para
cumprir uma missão, um dever. Nesse sentido, a esposa de Heidegger dizia que
Deus tinha condenado o seu marido a ser filósofo. Para nós outros, que nos
compenetramos da necessidade de praticar o bem, poderíamos dizer que Deus nos
condenou a ser benevolente. (Xavier, sdp, cap. 38)
6.3.
RESISTIR AO MAL
Jesus
dizia que o joio deveria crescer junto com o trigo. Contudo, no momento
aprazado separaria um do outro. O trigo representa o bem; o joio, o mal. Os
dois devem crescer juntos, ou seja, não há dualismo entre um e outro, pois o
mal é sempre visualizado como a ausência do bem. Ele só surge quando o bem não
se fez presente. É como o ladrão que rouba. Ele só rouba porque não houve antes
uma prevenção.
Resistir
ao mal significa suportar pacientemente a sua presença, mas sem perder de vista
o bem. Haverá tentações, desânimo, mal-entendidos e incompreensões alheias.
Nada disso deve tirar o ensejo de continuarmos firmes em nossa jornada evolutiva,
pois "a seu tempo ceifaremos se não houvermos desfalecidos".
7.
CONCLUSÃO
Não nos
detenhamos apenas em praticar atos de caridade; sejamos também caridosos.
Auxiliemos o próximo, não por uma espécie de convenção social, mas como um
arroubo que parte do íntimo de nosso coração.
8.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
KARDEC,
A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 1975.XAVIER, F. C. Fonte Viva, pelo Espírito
Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, [s.d.p.]
São
Paulo, maio de 2005
Nenhum comentário:
Postar um comentário