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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Entre a Terra e o Céu_18_Confissão


Entre a Terra e o Céu_18_Confissão

CVDEE - Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo
 - Sala Virtual de Estudos Nosso Lar
Estudo das obras de André Luiz


Livro: Entre a Terra e o Céu

Capítulo XVIII Confissão

TRANSCRIÇÃO DO CAPÍTULO

Amaro, cujo semblante exibia os sinais de renovação a que nos reportamos, comecóu a dizer, comovido:

- Sim, recordo-me perfeitamente... A madrugada do Ano Bom de 1869 ficou marcada para sempre em nossa memória..  Abordaríamos Assunção, procedendo de Santo Antonio, em angustiosa expectativa... A curiosidade abafava a exaustão... Lembro-me de que, antecedendo-se ao desembarque, Esteves solicitando-nos o concurso fraterno para a solução de um problema que reputava importante para o futuro que o aguardava...Éramos três amigos inseparáveis na caserna e achávamo-nos os três juntos... Ele, Júlio e eu...  Na incerteza das ocorrências que nos esperavam, pedia-nos, na hipótese de perecer em combate, notificar sua morte à jovem Lina Flores, que conhecera, dias antes, em Villeta... Referiu-se, entusiástico, ao amor que os ligava e aos projetos que formavam, considerando o porvir... Preocupados com a aflição do companheiro, reconfortámo-lo com palavras de compreensão e esperança, colocando-nos em guarda... A capital paraguaia, porém, revelava-se fatigada e desprevenida... Jamais olvidarei a gritaria dos nossos, triunfantes, em se vendo seguros sobre a presa, criando aflitivos problemas para as autoridades... Revejo ainda a fisionomia risonha de Esteves, quando se reconheceu são e salvo... Em breve, comunicava-nos o consórcio.  Ninguém realmente podia casar-se em campanha, mas o enlace efetuou-se às ocultas, sob a bênção de um sacerdote e com a tolerância dos dirigentes da ocupação, atendendo-se à circunstância de que a noiva era uma pobre menina brasileira, desde muito aprisionada...

    Amaro fez pequena pausa, recobrando energias e continuou:

- Recordo-me de que Júlio e eu fomos em visita ao lar de Esteves, pela primeira vez, em fevereiro do mesmo ano, contudo, colocados à frente de Lina, ambos nos sentimos incompreensivelmente ligados àquela jovem bela e simples, cuja presença exerceu, de imediato, sobre nós, intraduzível atração...Guardei comigo a surpresa que me possuia, mas Júlio, impulsivo e irrequieto, veio a mim, extravasando o coração... A esposa de Esteves dominara-lhe a mente, de súbito...

Se pudesse haver chegado antes do companheiro - acentuava enamorado - não lhe cederia o lugar... Sustentava a impressão de que Lina já lhe havia surgido em sonhos... E, desse modo, várias vezes repetiu confidências que me tocavam as fibras mais íntimas.  Anotando-lhe o estado dalma e reconhecendo o direito de Esteves sobre a mulher que desposara, tentei retrair-me... Calquei o sentimento e procurei o olvido necessário... A paixão de Júlio era demasiado forte para resignar-se.  Insinuou-se junto à recém-casada, cobriu-a de gentilezas e, provavelmente, quem sabe ? nas vicissitudes da guerra e quase criança para guardar-se, como era preciso, nas responsabilidades do casamento, Lina envolveu-se nas atenções do rapaz, fazendo-lhe concessões... Recordo-me do dia em que Esteves me procurou, desolado, comentando o golpe que recebera... Chorou debruçado nos meus ombros.  Desejava desaparecer, aniquilar-se... Fiz-lhe observar, porém, a inoportunidade de qualquer violência... Enfermeiro bem conceituado e protegido do Conselheiro Silva Paranhos, nosso embaixador em missão extraordinária, junto às Repúblicas do Prata, não lhe seria difícil a retirada de Assunção...  Assim aconteceu.  Esteves afastou-se, primeiramente rio abaixo, na direção de Villeta, de onde havia trazido a esposa e onde se achavam, retardados, alguns camaradas enfermos, aos quais prestaria assistência... Nada mais soube dele, a não ser que havia morrido misteriosamente em Piraju...

Evidenciando enorme padecimento moral, diante daquelas evocações, Silva estremeceu e, aproveitando o intervalo que se fizera, bradou, agoniado:

- E a tua participação no infortúnio de minha casa? Quem me convencerá de que também não te achavas de parceria com Júlio, na destruição de minha felicidade? Infames!...

Clarêncio, afetuoso, acomodou o enfermeiro irritado, recomendando-lhe esperar a narração, até o fim.

Amaro não perdera a calma.

Assinalou a objurgatória do adversário, fixando triste sorriso, e continou:

- Sim, minha confissão deve ser exata e completa... Entendendo que Lina e Júlio se haviam ajustado para a vida comum, tentei distanciar-me... Temia por mim mesmo.  Lina, no entanto, como que me registrava a inclinação imanifesta... Deitava-me olhares que me acordavam, simultaneamente, para a alegria e para a dor.  Queria aproximar-me e fugir dela, ao mesmo tempo... A princípio, tentei evitá-la;  contudo, o afastamento do Marquês de Caxias deixava as tropas com larga provisão de tempo para diversões... Instado talvez pela companheira, Júlio constrangia-me a frequentar-lhe a casa.  O jogo alegre e o chá saboroso reuniam-nos os três, noite a noite...
Amedrontado, ante o sentimento que a moça despertava em meu coração, não somente porque não devia perturbar-lhe a harmonia doméstica, mas também porque possuía uma noiva no Brasil, busquei isolar-me de novo... Reparando, todavia, o assédio de Lina, resolvi asilar-me no trabalho mais intenso e consegui a designação para servir na vigilância noturna do Palacete Resquin, onde a ocupação concentrava todos os assuntos e documentos de interesse do nosso País... Ela, entretanto, não desistiu do propósito de que se animava.  Certa noite, procurou-me, disfarçada em mulher do povo... A sós comigo, confessou-se... Declarava-se atormentada, aflita... Sentira-se amada por Esteves e via-se ardentemente querida por Júlio, mas não pudera interessar-se pela felicidade junto deles, odiando-os por fim...

Amaro confiou-se a longa pausa e continuou...

- Quem poderá explicar os enigmas do coração humano? Quem possuirá bastante visão para surpreender os caminhos da alma? Incapaz de dominar-me, cometi a falta de assumir um compromisso espiritual que não me competia... Lina agarrou-se ao meu afeto com o vigor da hera numa construção sem defesa... E foi assim que, em certa manhã de maio, meu companheiro encontrou-nos juntos... Desesperado, Júlio ingeriu grande quantidade de corrosivo, mas, amparado suficientemente, foi salvo... Debalde, porém, submeteu-se ao tratamento na caserna.  Adquiriu estranhos padecimentos da garganta e do esôfago e, não sabendo como suportar as provações físicas e morais, arrastou-se, um dia, até as águas do Paraguai, supondo encontrar na morte a paz que procurava... Experimentando pesados remorsos, por minha vez perdi a afeição que me algemava à mulher que nos atraíra e infelicitara e fugi dela, fugi incorporando-me às tropas que combateriam os derradeiros remanescentes de Solano López, na Cordilheira...  Prometi-lhe a volta, todo dia, terminada a luta, tornei à pátria por outros caminhos, decidido a jamais reencontrá-la...

    Amaro, mais comovido, passou a destra pelo rosto e prosseguiu, depois de breve pausa:

    - Dez anos correram, apressados... Novamente no Rio, casei-me e fui feliz... Numa noite de chuva forte, minha esposa e eu retornávamos do teatro, quando os cavalos em disparada colheram pobre mulher embriagada na via pública... O cocheiro sofreou os animais e desci a socorrê-la... E enquanto minha companheira continuava o trajeto para a casa, procurei internar a mísera criatura passa a assistência imediata... Guardas e  populares auxiliaram-me a empresa, com inesquecível assombro, quando a mulher foi recolhida ao leito, de ventre rasgado a esvair-se em sangue, nela identifiquei Lina Flores... Por dois dias lutou contra a morte... A infeliz reconheceu-me, relacionou as desditas que atravessara, desde que se viu sozinha no Paraguai, esclareceu que viera ao Rio à minha procura e emocionou-me com a narração do drama angustioso em que vivia, tentando a recuperação da felicidade que perdera para sempre... Morreu revoltada e sofredora, amaldiçoando o mundo e as criaturas...

Amaro interrompeu-se titubeante.

Mário Silva, estupefato, fixava-o, entre o desespero e o pavor.

Notava-se que o ferroviário esforçava-se, em vão, para reaver novas faixas da memória.

Nosso instrutor, contudo, afagou-lhe a fronte, envolvendo-o em renovadas forças magnéticas, e perguntou:

- Onde voltaste a vê-la?

O interpelado esboçou o sorriso de quem recolhera a resposta em si mesmo e informou:

- Ah ! Sim... reencontrei-a na vida espiritual.  Achava-se unida a Júlio em aflitivas condições de sofrimento depurador... Compreendi a extensão do meu débito e prometi ressarci-lo...  Ampará-los-ia... Auxiliaria os dois na senda terrestre... Lutaríamos, lado a lado, para conquistar a coroa da redenção... Sim, sim, o destino!... É preciso solver os compromissos do passado, conquistando a futuro! ...

Calou-se o esposo de Zulmira, visivelmente fatigado, mas o enfermeiro, não obstante contido pela força paternal de Clarêncio, começou a chamar por Júlio, emitindo brados terríveis.

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO:

1) O que se pode deduzir da seguinte afirmação:  "(...) Incapaz de dominar-me, cometi a falta de assumir um compromisso espiritual que não me competia..."  Pode-se assumir um compromisso que não esteja no planejamento da nossa reencarnação ?

2) Teria sido possível evitar-se o envolvimento dos personagens em questão, do modo como acontece nesta estória?  De que maneira?

3) No que difere a atitude mental dos personagens envolvidos? Quem mostra maior entendimento das Leis Divinas?

4) Partindo-se do princípio de que as uniões matrimoniais constam do planejamento da reencarnação de cada um, como explicar a atração entre pessoas já comprometidas, como no caso de Júlio que achava que "Lina já lhe havia surgido em sonhos..." ?  Todas as uniões são anteriormente planejadas?

5) Explique este parágrafo: "(...) reencontrei-a na vida espiritual.  Achava-se unida a Júlio em aflitivas condições de sofrimento depurador... Compreendi a extensão de meu débito e prometi ressarci-lo... Ampara-los-ia... Auxiliaria os dois na senda terrestre... Lutaríamos, lado a lado, para conquistar a coroa de redenção... Sim, sim, o destino !... É preciso solver os compromissos do passado, conquistando o futuro !..."

Conclusão:

Depois de ouvirem por parte de Esteves, o atual Mário Silva, a versão dos fatos que originaram as dificuldades atuais por que passavam, o Ministro Clarêncio deliberou que Amaro, o Armando da trama do passado, demonstrasse como encarava a história, forçando Silva a ouvi-lo.

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

1) O que se pode deduzir da seguinte afirmação:  " (...)  Incapaz  de dominar-me,  cometi  a  falta  de  assumir  um compromisso espiritual que não me competia..." Pode-se assumir um compromisso que não esteja no planejamento da nossa reencarnação?

Antes de reencarnar, como ensinam os Espíritos, é feito um planejamento reencarnatório, que pautará os principais acontecimentos da nova experiência terrena do reencarnante. São definidas as provas necessárias ao seu progresso, a família e o meio no qual renascerá. Todavia, o espírito não se torna um autômato, amarrado a um script do qual não pode se livrar. Ao contrário, continua ele detentor de seu livre-arbítrio, do qual jamais é despojado, pois inerente à sua condição de ser inteligente da Criação. Sendo assim, o cumprimento ou não do planejamento  elaborado  para  a reencarnação, no plano espiritual, com exceção das provas a que terá de se  submeter,  independentemente  de  sua vontade, dependerá sempre do espírito reencarnante, ao usar seu livre-arbítrio.

No trecho acima citado, a personagem em questão - Amaro - reconhece que se envolveu numa trama para a qual não estava programado. Os espíritos fazem suas evoluções em grupos afins, reajustando-se uns com os outros, devedores mútuos. Amaro nada tinha a ver com aqueles espíritos. Ao estabelecer uma relação amorosa  com  Lina,  traindo  a confiança do amigo Julio, Amaro criou entre os três um vínculo espiritual eivado de ódio, mágoa  e  ressentimentos,  a exigir o devido reajuste. Ou seja, deixando-se levar por uma atração física momentânea, como ele próprio afirmou, assumiu um compromisso espiritual que não lhe competia, que poderia ser evitado, atrasando o seu adiantamento.

2) Teria sido possível evitar-se o envolvimento das personagens em questão, do modo como acontece nesta história?

De que maneira?

Como vimos, o envolvimento entre essas personagens deveu-se ao uso equivocado que fizeram de seus livre-arbítrio.

Estamos vendo que houve uma série de traições seguidas. Ninguém reencarna para isso. A traição não faz parte dos compromissos reencarnatórios de ninguém. Se as personagens se envolveram  dessa  maneira  condenável,  criando entre elas vínculos espirituais negativos, deve-se, tão somente, a elas próprias. É claro que essa situação poderia ter sido evitada, se não agissem da maneira como o fizeram, movidas por sentimentos unicamente relativos à matéria e pouco nobres.

3) No que difere a atitude mental dos personagens envolvidos?

Quem mostra maior entendimento das Leis Divinas?

Estamos diante de espíritos com grandes dificuldades, cada um se encontrando  numa  situação  psíquica  diferente.

Júlio encontra-se na erraticidade, submetendo-se a tratamento espiritual para readquirir equilíbrio e, então, começar a se preparar para uma nova oportunidade reencarnatória. Os outros três participantes do drama estão encarnados, porém em condições diversas. Mário Silva, o Esteves de ontem,  ainda  se  mantém  preso  aos  acontecimentos pretéritos. Demonstra esta ainda dominado pelo ódio e ressentimento, desejando vingança contra os que consideram seus desafetos. Lina, hoje Zulmira, embora sem demonstrar os mesmos sentimentos de Esteves, também ainda não
despertou para a necessidade de se sintonizar com as leis divinas. Facilitou a desencarnação do pequeno Júlio, por quem nutria ciúme, devido ao amor que Amaro lhe dedicava. Hoje, passa pelo sofrimento reparador, fortemente obsidiada pela ex-esposa de Amaro. Este, o Armando dos acontecimentos do passado que geraram a atual situação, já não nutre os mesmos sentimentos pouco elevados dos outros dois. Reconhece os erros do passado e, entendendo a necessidade do reajuste, busca a reparação. Demonstra indulgência para com o desafeto de ontem, que o agride impiedosamente, como vimos nesse capítulo. É, sem dúvida, quem mostra melhor entendimento das Leis de Deus e quem mais se adiantou depois do ocorrido na existência física anterior.

4) Partindo-se do princípio de que as uniões matrimoniais constam do planejamento da reencarnação  de  cada  um, como explicar a atração entre pessoas já comprometidas, como no caso de Júlio, que achava que " Lina já lhe havia surgido em sonhos..."?  Todas as uniões são anteriormente planejadas?

Na maioria das vezes, sim. Porém, nem todas o são. Muitas uniões matrimoniais se dão na Terra sem que tenha havido qualquer planejamento no mundo espiritual. São uniões acidentais, resultantes do encontro de espíritos ainda em níveis evolutivos inferiores, que se atraem por atração momentânea, geralmente motivadas pelo corpo físico, sem qualquer ascendente espiritual. Isso é comum num planeta como esse em que estamos reencarnados, de expiações e provas. São espíritos que se encontram e que sentem, um pelo outro, uma atração física, um sentimento baseado unicamente na matéria. Constituem uma união de corpos, sem qualquer vínculo pelo verdadeiro amor, que  é  o espiritual. Nesses casos, nenhum compromisso prévio houve, tendo funcionado, no caso, tão somente, o livre-arbítrio de ambos.

5) Explique este parágrafo: " (...) reencontrei-a na vida espiritual.

Achava-se unida a Júlio em aflitivas condições de sofrimento depurador... Compreendi a extensão de meu débito e prometi ressarci-lo... Ampara-los-ia... Auxiliaria os dois na senda terrestre ....  Lutaríamos, lado a lado, para conquistar a coroa de redenção ...  Sim, sim, o destino!...

É preciso solver os compromissos do passado, conquistando o futuro!..."

Amaro recordava o compromisso assumido, no plano espiritual, de se unirem em matrimônio ele e Lina, para, juntos, receberem Julio como filho. Constituída a família, procederiam ao necessário reajuste entre os  três,  resgatando-se, mutuamente, os débitos que contraíram no passado. Sem que venhamos a nos redimir dos nossos desajustes, nossa evolução fica paralisada. Para conquistarmos o futuro, necessário é resgatar os  compromissos  do  passado,  como bem acentuou o instrutor Clarêncio.


Muita paz a todos.

Sala Nosso Lar

CVDEE

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