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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Entre a Terra e o Céu_19_Dor e Surpresa.txt

Entre a Terra e o Céu_19_Dor e Surpresa.txt

- Julio ! Julio ! Comparece, covarde! ... _ bramia o enfermeiro, possesso.

E percebendo talvez a simpatia que Amaro nos conquistara, à face da serenidade com que suportava a situação, prosseguiu, invocando, revel:

- Comparece para desmascarar o patife que procura comover-nos! Julio, odeio-te! Mas é necessário apareças! Acusa teu desalmado assassino!...

O Ministro procurava contê-lo, bondoso, mas Silva, como potro indomesticado, gesticulava a esmo e continuava, conclamando:

(...)

Sim, Julio não respondeu à chamada, entretanto, alguém surgiu, surpreendendo-nos a atenção.

A irmã Blandina, em pessoa, qual se fora nominalmente intimada, estacou junto de nós.

(...)

- Irmãos, por amor a Jesus, atendei!... Temos Julio, sob a nossa guarda. Acha-se doente, aflito... Vossos apelos individuais alteraram-lhe o modo de ser... Poderia colocar-se mentalmente ao vosso encontro, contudo, atravessa agora difíceis provas de reajuste...

Venho implorar-vos caridade!... Compadecei-vos de quem hoje se esforça por olvidar o que foi ontem para regenerar-se amanhã, com eficiência!...

(...)

Comecei a entender com mais clareza a trama obscura do romance vivo que abordávamos. Julio, o menino doente, era o companheiro que voltava na condição de filho do amigo com quem outrora se desaviera.

Não pude, porém, alongar divagações, porque Silva, provavelmente revoltado contra a emoção que nos senhoreava o espírito, passou a reclamar, de novo:

(...) - Que Julio permaneça no céu ou no inferno, sob a custódia dos arcanjos ou dos demônios, todavia, exijo que a verdade surja, inteira!

Recorro ao testemunho de Lina!
(...)

Nosso instrutor, assumindo a chefia espiritual do grupo, convidou com energia e brandura:

- Lina encontra-se não longe de nós. Entremos.

(...)

Na penumbra do quarto que já conhecíamos a segunda esposa jazia subjugada pela outra.

Enquanto Odila se nos afigurava mais rancorosa e mais dura, Zulmira revelava-se mais abatida.

Clarêncio enlaçou Mario, como um pai que recolhe um filho, carinhosamente, e, apontando a enferma, esclareceu, generoso:

- Amigo, acalma-te! Lina Flores, atualmente, padece na forja da luta e do sacrifício, a fim de recuperar-se. Apaga a labareda de ódio que te requeima o coração! Deixa que nova compreensão te beneficie a alma ulcerada!... Não nos cabe prejudicar o caminho de quem procura a regeneração que lhe é necessária! ...

(...)

- Lina, hoje, com imensas dificuldades, tenta alcançar a altura do casamento digno e, superando tremendos obstáculos, constrói os alicerces da missão de maternidade para a qual se encaminha...

Ajudemo-la com as nossas vibrações de compreensão e carinho. Quando amamos realmente, antes de tudo é a felicidade da criatura amada que nos interessa...

(...)

Junto de nós, Blandina mantinha-se em prece.

(...)

- Zulmira, Zulmira, então é Lina que volta?

O Ministro acariciou-lhe a cabeça e informou, conciso:

- Sim, regressou em companhia de Armando, em dolorosas reparações. O consórcio para eles não foi o castelo de flores de laranjeira, mas sim uma associação de interesses espirituais para o trabalho regenerativo.

Armando, em luta no plano da vida real para reerguer-se, aceitou o compromisso de reconduzi-la à dignidade feminina, amparando-lhe as angústias silenciosas...

Estupefato, Silva exclamou, cambaleante:

- Quer dizer então que Zulmira me traiu duas vezes?

- Não te refiras à traição _ corrigiu Clarêncio, sem alterar-se -, é imprescindível compreender! Armando, ontem, escutou apelos inferiores, incompatíveis com as responsabilidades de que se via depositário. Hoje, é compelido a responder, embora constrangido, a requisições de natureza edificante, às quais, em verdade, não lhe será lícito fugir. Lina Flores reclama alguém que a recambie ao serviço renovador, a fim de que se habilite a auxiliar Julio, devidamente. Todos somos devedores uns dos outros. As almas aprimoram-se, grupo a grupo, à maneira de pequenas constelações, gravitando em torno do Sol Magno, Jesus Cristo!... Como um astro que se distancia do núcleo em que se integra, abandonaste a órbita de velhos companheiros de evolução, caindo, pelas vibrações de afetividade e ódio, no centro de forças em que Leonardo Pires e Lola
Ibarruri aguardam-te a precisa cooperação, de modo a se liberarem perante a Lei. Amaro, noutro tempo, separou Zulmira e Julio, estabelecendo espinheiros dilacerantes entre os dois... Agora, cabe-lhe reuni-los no carinho familiar, para que na posição de mãe e filho se reajustem na afeição santificadora... Antigamente, isolaste Leonardo da afetuosa assistência de Lola, criando embaraços asfixiantes à própria marcha... Prepara-te na fé para congregá-los de novo, no templo doméstico, igualmente na condição de filho e mãe, de maneira a se redimirem para a bênção do amor puro... Nossas ações são pesadas na Justiça Divina... Não podemos enganar o Supremo Senhor. Nossos débitos, por isso mesmo, devem ser resgatados, ceitil a ceitil...

(...)

Amaro dobrara a cerviz, revelando-se disposto a obedecer aos ditames de natureza superior, fossem como fossem.

Silva, no entanto, não parecia desperto para as verdades que Clarêncio pronunciara.

(...)

- Não posso modificar-me, desgraçado de mim!... Odiarei! Odiarei a infame que voltou!... Somente a vingança me convém, não quero perdoar!

Novamente enraivecido e inquieto, como fera solta, erguia os punhos cerrados contra a desditosa mulher que jazia no leito, em lastimável prostração. Seu veículo espiritual rodeava-se agora de um halo cinzento-escuro, que despedia raios desagradáveis e perturbantes.

Nosso orientador libertou-o da influência magnética com que lhe tolhia as energias.

Tão logo se reconheceu sem o controle que lhe sofreava os movimentos, Silva retrocedeu, exclamando:

- Não suporto mais! Não suporto mais!

E correu para o seio da noite.

Clarêncio recomendou-nos seguir-lhe o passo, enquanto prestaria assistência ao ferroviário e à esposa, em colaboração com Blandina. O enfermeiro, decerto _ informou o Ministro prestimoso -, retomaria o corpo denso em aflitivas condições de saúde. Passes anestesiantes deviam favorecê-lo. Não podia lembrar a experiência grave daquela hora.

A aventura provocada pela insistência mental dele mesmo era suscetível de perigosas conseqüências.

Num átimo, Hilário e eu achamo-nos ao lado de Silva, que aderia ao envoltório de carne com o automatismo da molécula de ferro, atraída pelo ímã.

Examinamo-lo atentamente.

O peito arfava-lhe, sibilante.

O coração acusava-se desgovernado, sob o império de insopitável arritmia.

De imediato, entramos em ação, sossegando-lhe o campo mental, quanto possível, através de sedativos magnéticos.

Ainda assim, apesar dos passes, pelos quais foi completamente envolvido de energias revigoradoras, o moço acordou agoniado, hesitante e trêmulo,  como se estivesse fugindo de medonhas tempestades no mundo íntimo.

Semi-inconsciente, despendeu vários minutos para identificar-se.

O pensamento surgia-lhe atormentado, nebuloso...

Tentou locomover-se, mas não conseguiu. Sentia-se chumbado à cama, quase na situação de um cadáver repentinamente desperto.

Buscou alinhar recordações, contudo, não pôde.

Sabia tão somente que atravessara grande pesadelo cujas dimensões lhe não cabiam na memória.

Suarento, aflito, sentia-se morrer...

Instintivamente orou, suplicando a Proteção Divina.

Bastou essa atitude dalma para ligar-se, com mais facilidade, aos fluidos restauradores que lhe administrávamos.

Pouco a pouco, readquiriu os movimentos livres e levantou-se, ingerindo uma pílula calmante.

Amedrontado, sentou-se no leito e, mergulhando a cabeça nas mãos, falou sem palavras, de si para consigo: - Estou evidentemente conturbado.

Amanhã, consultarei um psiquiatra. É a minha única solução.

Sim concordei comigo mesmo -, o ódio gera a loucura. Quem se debate contra o bem, cai nas garras da perturbação e da morte.

Com semelhante raciocínio, afastei-me.

Clarêncio aguardava-nos.

Era preciso continuar na lição.

Questões para estudo:

1) No trecho - O consórcio para eles não foi o castelo de flores de laranjeira, mas sim uma associação de interesses espirituais para o trabalho regenerativo. Reparamos que o casamento na maioria das vezes não é o encontro de almas gêmeas, num caminho de felicidade suprema.

Por que ?

2) Explique os trechos:

a. As almas aprimoram-se, grupo a grupo, à maneira de pequenas constelações, gravitando em torno do Sol Magno, Jesus Cristo!...

b. Como um astro que se distancia do núcleo em que se integra, abandonaste a órbita de velhos companheiros de evolução, caindo, pelas vibrações de afetividade e ódio, no centro de forças em que Leonardo Pires e Lola Ibarruri aguardam-te a precisa cooperação, de modo a se liberarem perante a Lei.

3) Neste capítulo, verificamos as conseqüências de um sono conturbado mediante experiências de nosso espírito quando _mais liberto. Como devemos nos preparar para um bom sono? De que depende a garantia de um sono tranqüilo e renovador?

Conclusão:

Após ouvir as explicações de Amaro, Mário Silva, agora, volta-se contra Júlio, o outro partícipe da trama do passado que originou todos esses desajustes. Não podendo Júlio acudir à evocação que lhe foi dirigida pelo enfermeiro,  por se encontrar ainda em processo de recuperação após sua desencarnação, compareceu a  benfeitora Blandina,  que dele cuidava no plano espiritual. Mário Silva, após lhe ser revelado que a amada do passado era a atual esposa de Amaro, abandonou o local, indo retomar o corpo físico que repousava. Clarêncio ministrou-lhe passes anestesiantes para que pudesse tranquilizar-se e despertar para a vida física.

QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO

1)  No trecho: "O consórcio para eles não foi o castelo de flores de laranjeira, mas sim uma associação de interesses espirituais para o trabalho regenerativo." Reparamos que o casamento, na maioria das vezes,  não  é  o  encontro  de almas gêmeas, num caminho de felicidade suprema. Por quê?

Esse chamado "encontro de almas gêmeas" é uma imagem poética, criada para designar a união de duas pessoas que se amam. A nossa realidade, contudo, é bem diferente. Richard Simonetti, em um de seus livros, afirma,  com  o bom humor de sempre, que, na maioria dos matrimônios, não existe "alma gêmea", mas "algema".  É claro que há uniões por afinidades amorosas, que significam a consolidação de afetos. Todavia, dado às vibrações do planeta e sua destinação como habitação de espíritos ainda muito imperfeitos, a grande maioria das uniões que aqui acontecem é de caráter provacional. São espíritos que se reencontram para os reajustes necessários à evolução de ambos.

Esse é o caso de Amaro, que desposou Zulmira, com quem tivera um romance mal resolvido no passado, para, juntos, reajustarem-se e receberem Júlio, o outro protagonista do triângulo amoroso de ontem, como filho. Unidos pelo vínculo da família, os  três  deveriam  superar  os  ressentimentos  do  passado  e  se  reajustarem  na  afeição  regeneradora, aprendendo a praticar o verdadeiro amor. Por isso, Clarêncio afirmou que, para eles, o casamento "não foi o castelo de flores de laranjeira", que simboliza a felicidade, mas uma união para o trabalho regenerativo.

2) Explique os trechos:

a.  "As almas aprimoram-se, grupo a grupo, à maneira de pequenas constelações, gravitando em torno do Sol Magno, Jesus Cristo!..."

Ninguém evolui sozinho. A evolução do espírito é feita junto aos que lhe são afins, uns colaborando com o progresso dos outros e todos iluminados pelo farol amoroso do Cristo. A imagem criada por Clarêncio define bem esse processo: somos pequenos astros de uma constelação que se forma pelas afinidades, gravitando em torno do Astro Rei, Jesus, o governador do Planeta.


b. "Como um astro que se distancia do núcleo em que se integra, abandonaste a órbita  de  velhos  companheiros  de evolução, caindo, pelas vibrações de afetividade e ódio, no centro de forças em  que  Leonardo  Pires  e  Lola  Ibarruri aguardam-te a precisa cooperação, de modo a se liberarem perante a Lei."

Como se disse, os espíritos evoluem em grupos que se formam por afinidades, resultantes, na maioria das vezes, de desajustes ocorridos em outras passagens. Prosseguem juntos a caminhada para pode se hamonizarem.  Amaro se afastou do núcleo em que se inserira e se envolveu com espíritos com quem nada tinha a ver. Ao se envolver naquele triângulo amoroso, contraiu novos comprometimentos, criando um vínculo espiritual de ódio e ressentimentos,  cujo reparo deveria ser feito na atual encarnação.

3) Neste capítulo, verificamos as conseqüências de um sono conturbado  mediante  experiências  de  nosso  espírito quando mais liberto. Como devemos nos preparar para um bom sono? De que depende a garantia de um sono tranqüilo e renovador?


Praticando, durante o dia, a lei de justiça, de amor e de caridade, de modo que,  ao  nos  deitar,  possamos  seguir  a recomendação de Santo Agostinho na questão 919 do Livro dos Espíritos: fazermos um  balanço  das  nossas  ações naquele dia e examinarmos se praticamos algum ato que possa ter prejudicado  algum  irmão  de  caminhada.  Depois disso, dirigirmos uma prece sincera aos benfeitores espirituais rogando que sejamos bem assistidos nos momentos de desprendimento do corpo físico.

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