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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

4 - O C É U E O I N F E R N O

UMA QUESTÃO DE FIDELIDADE…
"12. - Todas as religiões houveram de ser em sua origem relativas ao grau de adiantamento moral e intelectual dos homens: estes, assaz materializados para compreenderem o mérito das coisas puramente espirituais, fizeram consistir a maior parte dos deveres religiosos no cumprimento de fórmulas exteriores. Por muito tempo essas fórmulas lhes satisfizeram a razão; porém, mais tarde, porque se fizesse a luz em seu espírito, sentindo o vácuo dessas fórmulas, uma vez que a religião não o preenchia, abandonaram-na e tornaram-se filósofos."
Quantas formas não encontrou o homem para retratar a sua compreensão acerca da realidade, da vida, de si mesmo! Daí as diversas manifestações da Filosofia, da Arte, da Cultura, da Ciência, e, principalmente, da espiritualidade. O panorama das expressões religiosas, por exemplo, é tão variado quanto o inventário de significações para o que chamamos de verdade. Por ela muitos já morreram e muitos já mataram. Qual tesouro incalculável, tem sido "defendida" há milhares de anos, em todas as culturas e civilizações. "Onde ela se encontra?" - poderíamos perguntar. E, lembrando Tamassia, dizer: "Para o sábio a verdade se encontra em toda a parte, enquanto que para o sectarista, ela deve achar-se estritamente dentro do círculo em que se colocou. (...) Assim, o verdadeiro não é o meu, nem o vosso, nem o dele. E, por não ser de ninguém, os homens disputarão o seu cadáver, à maneira de chacais.Carregarão tais despojos e torná-los-ão sagrados, julgando-se, eles próprios ungidos. (...)"

Ora, o querem dizer tais palavras? Elas retratam bem a condição de um dos estágios do ser humano no seu processo de desenvolvimento multidimensional: antropológico-sociológico-psicológico. Poderíamos dizer que a história do homem é a história do próprio pensamento psicológico (entendendo psicologia como a ciência da alma). Assim a idéia que faz da própria alma retrata o estágio em que se encontra a criatura humana. E como tal idéia tem se modificado principalmente nesses últimos cem anos! Os avanços da Física Quântica, a Teoria da Relatividade do Tempo e do Espaço, a Teoria da Incerteza, a Teoria Sistêmica, entre outros, "abriram perspectivas psicológicas dantes sequer sonhadas, tendo-se em vista o conceito do vir-a-ser" - o ser que não cessa de se transformar.

E, além dessas preciosas elaborações do pensamento científico, devemos destacar, e sem medo de incorrermos em exageros, a impressionante abrangência do pensamento espírita, onde fica, muitas vezes, difícil "rotular" Espiritismo simplesmente de religião. Vejamos o porquê.

Ken Wilber, psicólogo transpessoal , divide a expressão religiosa da humanidade em dois grupos: a religião estreita (narrow religion) expressando uma espiritualidade horizontal, de tradução, que procura dar significado (e conforto) ao ser tal qual ele se encontra, tentando fortalecê-lo, sem que tenha que mudar algo em si (na sua psicologia), numa palavra, basta mudar as crenças. E a religião de profundidade (deep religion) expressando uma espiritualidade transformativa, i.e., que leva o ser a buscar a superação do seu estágio de amadurecimento, ou seja, é preciso mudar o sujeito que crê. Acrescenta o autor, ainda, que essa religião de profundidade incluiria, entre outras coisas, igualmente uma ciência de profundidade, capaz de descrever os níveis superiores do desenvolvimento humano e, também, uma prática cuidadosa, sincera, prolongada, que acaba por propiciar uma experiência direta de uma Realidade viva, que se abre ao coração e à consciência do indivíduo: a experiência do Espírito que é e se manifesta através do corpo (lembrando o filósofo e professor Herculano Pires em seu livro Mediunidade).

Como poderíamos entender essas idéias, e também tal prática, em relação ao Espiritismo? Diz o Espírito Batuíra num comentário sobre Aqueles que desertam: "O núcleo de trabalho em sua estrutura ideológica introduz nos seus adeptos um modelo de crescimento. Ele propõe basicamentetrês itens: - uma noção de onde nos encontramos; - um ideal maior para onde deveremos ir; - e um caminho de excelências que nos leva do primeiro para o segundo. Em todos os itens, a principal ocupação é a melhoria e o aprimoramento de nossa condição evolutiva. O crescimento dos obreiros consiste em sua autodeterminação, ou seja, na permanência que leva ao item final."

Poderíamos, então, destacar o aspecto de religião transformativa pela preocupação em estabelecer um modelo de crescimento, onde uma noção de onde nos encontramos é obtida com o estudo sobre os princípios fundamentais do Espiritismo, acompanhado da reflexão sobre o impacto que produzem quando experimentados na nossa vida (não na do outro). E, ao abordar um ideal maior para onde deveremos ir, poe em realce um critério para avaliarmos (validarmos como verdadeira dentro dos objetivos) a nossa experiência. Resumindo, estudo, experiência e validação a constituírem os três aspectos da ciência de profundidade.

Por fim, um caminho de excelências entendido como o campo de ação útil do sujeito nos setores vitais da existência da alma: o social, o físico e o espiritual. De excelências porque propicia maior soma de resultados favoráveis ao próprio sujeito (na sua evolução), onde vai buscando incorporar em si não fazer ao próximo o que não deseja que lhe faça, como condição de segurança para a identificação do indivíduo consigo mesmo, com o seu irmão e com o mundo no qual se encontra, sem conflito nem culpa.

Assim, o Espiritismo propõe a visão do ser humano como "o mais alto e nobre investimento da vida, momento grandioso do processo evolutivo que para atingir a sua culminância, atravessa diferentes fases que lhe permitem a estruturação psicológica, seu amadurecimento, sua individuação”. Daí surgirem tantas religiões, "retalhos de um vasto continente, que ninguém sabe onde começa, nem onde acaba".

Para o leitor que possa estar um tanto cansado com essa aridez de idéias, adiantamos que trataremos delas com mais detalhes nos próximos artigos sobre o nosso livro de estudo - quando procuraremos desdobrar os itens acima apresentados. Por hora retomemos o texto do início quando, novamente observa Tamassia, que "O homem comum não poderia aderir a todas as verdades enunciadas, pois se o fizesse, sentir-se-ia insatisfeito como se não estivesse seguindo verdade alguma. Bom, utilitariamente, é que então eleja um Mestre, converta-o em modelo vivo, para que autoplasme o seu próprio material, no sentido da elevação. "(grifos nossos) Lembramos, então, que a Doutrina dos Espíritos "veio ensinar um novo caminho para que a vida terrestre ofereça mais ampla criação de valores espirituais para a Vida Maior (...)", onde, "viver como vivemos outras vidas ou à maneira daqueles que ainda ignoram a verdade (a do Espírito que somos) será sempre fácil" . A hora grave pede para que atentemos ao que Caírbar Schutel resume com simplicidade - já que temos em Jesus o modelo vivo de que necessitamos:
"Sede leais à própria fé."

Vanderlei Luiz Daneluz Miranda

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