Estudo nr. 05
Capitulo II - O maravilhoso e o sobrenatural.
O maravilhoso sempre fez parte da vida do homem em todos os tempos, motivo pelo qual encontramos seu registro tão vivo em livros santos de religiões tão conhecidas.
E o que vem a ser maravilhoso ? Maravilhoso é tudo aquilo que é sobrenatural. Tudo aquilo que é contrário às leis da natureza, isto é fora da natureza. Desconhecido.
O homem é limitado por sua inteligência, por suas sensações e o que não pode compreender além de certos limites, acaba concluindo que seja sobrenatural.
Partindo do natural, os homens construíram na Terra o seu próprio mundo, artificial.
O desenvolvimento da inteligência humana, cuja característica é o pensamento produtivo, tinha forçosamente que levar os homens pelos caminhos da abstração mental, e conseqüentemente do formalismo.
O mundo é feito de convenções. Sempre que essas convenções contrariam as leis naturais, surge o conflito entre o homem e a natureza. Uma das soluções encontradas para esse conflito foi a concepção do sobrenatural.
Graças a ela os homens puderam se manter ilusoriamente seguros no seu mundo convencional; mas a finalidade do convencionalismo e conseqüentemente do formalismo não é distancia o homem da natureza, e sim facilitar a sua adaptação a ela.
Por isso, mais hoje, mais amanhã, o homem teria que voltar ao natural, destruindo pouco a pouco os excessos do convencionalismo, os exageros perniciosos do seu artificialismo.
O sobrenatural não é, como querem os filósofos materialistas, uma fuga ao real, mas apenas uma deturpação do natural. Os espíritos não foram inventados, como já vimos no capítulo anterior.
Quando os homens primitivos encontravam nas selvas os fantasmas de seus antepassados, não estavam sonhando, nem sofrendo alucinações, e muito menos formulando abstrações que suas mentes rudimentares ainda não comportavam.
O que acontecia era bem mais simples, como simples são os processos da natureza.
Eles apenas se confrontavam com espíritos, que vinham a eles sem a interferência de práticas mágicas ou de ritos sacerdotais, mas por força das leis da natureza.
A Idade Média foi a fase mais aguda de artificialização da vida humana. E isso vale tanto para o medievalismo europeu quanto para os demais. De tal maneira o formalismo europeu se condensou no período medieval, que o sobrenatural se transformou em instrumento de poder absoluto nas mãos das classes sacerdotais e aristocráticas.
O clérigo e o nobre dispunham do poder mágico dos símbolos e dominavam o mundo.
Os espíritos se tornaram propriedade das classes dominantes e as classes inferiores sofreram a asfixia espiritual do poder convencional. Toda manifestação ocorrida entre o povo estava condenada.
Os médiuns eram bruxos e deviam ser torturados ou queimados.
Os excessos do formalismo, tanto social como religioso teriam que chegar, como realmente chegaram, a um ponto máximo de condensação. E, quando atingiram esse ponto,
como acontece com os materiais radioativos, começaram a libertar as suas próprias energias.
Estão errados aqueles que pensam que as comunidades mediúnicas só ocorreram de maneira mais intensa em meados do século XIX, dando origem ao Espiritismo.
Talvez tenham ocorrido em maior número na Idade Média. Os espíritos se manifestavam por toda a parte, provocando horrorosos processos contra os bruxos, de que os arquivos da justiça eclesiástica estão cheios.
Asfixiada a mediunidade natural, pela proibição clerical, pela condenação das autoridades e da Igreja, os médiuns eram dominados por entidades rebeldes, que desejavam a todo custo, romper com círculo de ferro das proibições.
A Mediunidade irradiava por si mesma. na crosta mineral das condensações do formalismo. As celas dos conventos e dos mosteiros se transformavam em câmaras mediúnicas que antecipavam as câmaras de tortura.
Conan Doyle, o autor do livro História do Espiritismo, entendeu que se tratava de “casos esporádicos extraviados de uma esfera qualquer”. Espíritos extraviados que mergulharam na terra e provocavam as tragédias mediúnicas.
Na verdade não eram extraviados, eram espíritos apegados à terra, ligados à vida humana, sintonizados com a esfera dos homens, e que legitimamente reivindicavam a comunicação.
As leis naturais reagiam contra o artificialismo das convenções religiosas. Quanto mais se queimavam os bruxos, mais eles surgiam, no próprio seio das ordens religiosas.
Tornou-se necessário admitir-se a realidade de algumas visões, de algumas comunicações e intensificar-se a aplicação do exorcismo, para afastar os demônios dos conventos, evitando a ceifa exagerada de vidas humanas.
Mas isso não impediu que os demônios intensificassem suas manifestações, ostensivas ou ocultas, gerando as numerosas formas de heresias que a Inquisição teve de liquidar a ferro e fogo, num desmentido flagrante aos ensinos cristãos de fraternidade universal.
Somente o desenvolvimento científico, segundo assinala Allan Kardec em A Gênese, poderia libertar a mente humana dos fantasmas teológicos. Prepará-la para enfrentar de maneira positiva a realidade da sobrevivência humana, em sua simplicidade natural.
A volta à natureza começou pelo exterior, no campo dos fenômenos.
A investigação científica mostrou o absurdo dos convencionalismos dominantes e fulminou as superstições seculares. O século dezoito, considerado o século de ouro da ciência, já prenunciava o advento do Espiritismo.
Os espíritos já não eram encarados como deuses ou demônios, mas como seres humanos desprovidos de corpo material.
Se refletirmos sobre tudo isso, podemos observar que para o homem que pensa a palavra sobrenatural não é definitiva, pode ser vaga, mas faz pressentir.
A natureza tem para nós, manifestações sublimes, certamente, mas muito restritas se entrarmos no domínio do desconhecido.
Se atentarmos para a Doutrina Espírita, veremos no seu desencadeamento que as leis da natureza apresentam todas as características de uma lei natural, que resolve tudo que os princípios filosóficos até agora não puderam resolver.
Bibliografia Kardec, Allan – O Livro dos Médiuns,
Kardec, Allan - A Gênese,
Kardec, Allan - Revista Espírita – 1862
Pires, J.Herculano - O Espírito e o Tempo.
Elisabeth Maciel
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