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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Ciência rumo ao Espiritismo

Filosofia da Ciência Espírita – III
A c i ê n c i a

Continuando nossa análise sobre a construção do conhecimento, devemos lembrar que a primeira grande busca do ser humano foi em torno do sobrenatural, com conotações não racionais, desenvolvendo as religiões, que, de modo geral, eram atreladas ao Estado não permitindo ao indivíduo pensar livremente. Daí aparecerem desafiadores propondo um método reflexivo dependente apenas do ser. Através dele (especulum), o filósofo (amigo do saber) pode criar a própria explicação de um fenômeno, agora sempre natural. Porém vimos os " filósofos " da Escolástica no final da Idade Média usando o método aristotélico de forma viciosa, chegando ao ponto de não haver observações da Natureza, mas apenas a leitura dos livros de Aristóteles. Essa forma escolástica, ainda que racional, não é progressivo e paralisa o progresso.
Ao contrário do que muitos pensam, a aquisição do conhecimento segundo a História dos encarnados não se realiza numa forma contínua, acumulativa. O que acreditamos hoje pode ser considerado falso no futuro, pois a visão, a concepção e a interpretação de um certo fenômeno pode mudar radicalmente e um conceito antigo tornar-se insustentável para. Cabe ao pesquisador definir outro conceito sobre o qual serão apoiadas todas as novas idéias, mas o padrão antigo deverá ser ignorado. Desse modo, o conhecimento de hoje não se apóia totalmente numa conquista do passado.

Os períodos de produção acumulativa de informação são intermeados por tempos de discussão de conceitos. Então, por exemplo, um padrão de idéias (paradigma) numa época "sustenta" a produção de explicações até um certo ponto; chegará um momento quando, devido ao avanço da tecnologia e nos instrumentos de pesquisa, esse paradigma não mais será lógico (ponto de crise do paradigma); a seguir, os pesquisadores entrarão num tempo de discussão do padrão adotado (sem muita extração de informação a respeito do fenômeno) até que se defina um novo paradigma, servindo de base para a nova produção de conhecimento.
Um dos fatos mais famosos, que reflete não apenas a opressão da ignorância humana, mas também a crise interna da filosofia viciosa acontece no final do período medieval, com o princípio do Heliocentrismo. Cláudio Ptolomeu que viveu no século II d.C. e, baseando-se em premissas aristotélicas, concluiu que a Terra seria um ponto fixo no Universo e todos os astros (conhecidos com a tecnologia da época) giravam em torno dela. Criou dessa forma o paradigma do Geocentrismo, uma tentativa de explicar através de complicadas fórmulas matemáticas, como os astros movimentam-se em esferas. Essa tentativa possibilitou o desenvolvimento de áreas de Matemática. O problema foi devido aos filósofos do final da Idade Média não aceitarem nenhum novo paradigma. No entanto Nicolau Copérnico ( 1493 - 1543 ) apresentou um modelo astronômico-matemático em seu livro "de Revolutionibus" propondo o Heliocentrismo, no qual o Sol era o centro do Universo e a Terra um dos planetas que giram em torno. Além de explicar mais, era mais simples, comparado ao modelo de Ptolomeu. Foi uma questão de não se renovar paradigmas.
Se recordarmos o estudo anterior (Agosto), o próprio método de Aristóteles (indutivo-dedutivo) indica que o primeiro passo à formação de uma explicação é a observação, então a indução de premissas e, finalmente, as deduções. No final do período medieval, os pensadores faziam um "curto-circuito" nesse método, uma vez que mal se observava o fato, já havia deduções prontas tiradas dos livros de Aristóteles. Havia ainda o problema dos dogmas, as " verdades " inabaláveis da Igreja, impedindo novas idéias de se estabelecerem, com a pena do pesquisador ser excluído, castigado ou morto.
Francis Bacon ( 1561 - 1626 ) é considerado um dos primeiros pensadores atacantes do vício sobre Aristóteles. Afirmava que a fonte de todo o conhecimento deveria ser a própria Natureza e não os livros de Aristóteles. Iniciou, desse modo, um ramo forte na Filosofia que se tornará a base da Ciência moderna: o Empirismo. Este aceita como única fonte de conhecimento humano as observações e os experimentos. O raciocínio não poderia, sozinho, criar teorias, devendo sempre submete-las às experiências sensoriais.
Entretanto, o grande pai de todas as Ciências e o revolucionário dos paradigmas filosóficos foi Galileu Galilei ( 1564 - 1642 ). Assim como Sócrates é considerado o " fundador " da verdadeira Filosofia, Galileu pode ser visto como o criador dessa nova área, desse novo método do conhecimento chamado Ciência. Para excluir definitivamente enganos, deturpações e má interpretações dos fenômenos naturais era necessário adotar o método mais rigoroso, mais sistêmico e regular: a Matemática. Galileu estava convencido de que o livro da Natureza acha-se escrito na língua da Matemática. As qualidades de todos os objetos e fenômenos devem ser necessariamente quantificáveis, de tal forma que dois objetos são diferentes não por possuírem qualidades intrínsecas, próprias, mas sim por serem quantitativamente diferente. Por exemplo, Aristóteles via o Universo formado por quatro elementos primordiais (terra, água, ar e fogo) e a sua combinação geraria qualidades intrínsecas (pesado ou leve, frio ou quente, seco ou úmido). Já para Galileu, a diferença de algo pesado ou leve é quantidade de massa e um corpo é mais quente que outro por quantidade de temperatura (energia térmica), mas na profundidade eles possuem as mesmas qualidades (massa e energia térmica).
Dessa forma, Galileu propôs uma demarcação entre interpretações não-científicas (qualitativas) e científicas (quantitativas), para, nessas últimas, delimitar o que era aceitável e o que não era.

Assim, para pensar cientificamente não basta observar, fazer experimentos e tirar conclusões, como prega o Empirismo puro. É necessário observar quantificando o que se vê (o quanto for possível), elaborar hipóteses, testa-las, associa-las para formular explicações com idéias matemáticas implícitas. Mais tarde, John Herschel ( 1792 - 1781 ) afirmou que o cientista deve combinar as explicações para determinar Leis da Natureza, ou seja, as propriedades dos fenômenos bem como a seqüência de eventos. A associação das Leis Naturais deve levar às Teorias, isto é, inter-relações das leis desconexas através de criação de hipóteses ousadas.

Galileu foi o primeiro "cientifizador" da História. Particularmente, seus objetos de estudo eram relacionados com a Astronomia e a Física. Mas para cada área do conhecimento estudado pela Filosofia ou outros métodos racionais ou não, têm surgido "cientifizadores" dando um caráter científico a um determinado objeto (assunto) de estudo. Desse modo, vemos ao longo da História as diferentes ciências surgindo, elevando os diversos assuntos relacionados com a Natureza à categoria de um método experimental, quantitativo e rigoroso. Para citar, como exemplo algumas, lembramos:
• Física (objeto: matéria de um modo geral e suas transformações reversíveis): uma das Ciências mais antigas, mesmo considerando o período quando era estudada apenas pela filosofia; Galileu lançou os primeiros argumentos quantitativos, mas Isaac Newton
( 1642 - 1727 ) formulou as teorias (quantitativas) sobre a gravidade e outras leis da dinâmica, óptica, cinemática, etc.
• Química (objeto: composição íntima da matéria e suas reações): antigamente estudada pela filosofia e Alquimia; Antoine Laurent Lavosier ( 1743 - 1794 ) demonstrou a conser-
vação das massas numa reação química; mais tarde, Dalton elaborou a teria do átomo, propondo que numa reação química, os átomos das substâncias envolvidas apenas reorganizam-se quantitativamente.
• Biologia (objeto: seres vivos): em 1735, o botânico sueco Karl Von Lineu propõe regras de classificação dos seres vivos, considerando suas semelhanças e diferenças quantitativas; mais tarde, as teorias evolucionistas de Charles Darwin colocam a Biologia nos trilhos da ciência.
• Medicina (objeto: doenças): no começo do século XIX, apesar das demonstrações e teorias de Hanemman, ainda a maior parte dos médicos estudavam as doenças como se fosse uma qualidade ruim exterior adquirida; então Claude Bernard publicou um método de investigação dependente da visão das doenças como uma variação quantitativa do estado fisiológico normal.
• Ciências humanas: também no século XIX, houve uma conceituação científica a respeito da Sociedade, da História, Antropologia, etc. Karl Marx, Augusto Comte e outros foram os "cientifizadores".

Em síntese, depois do período medieval, Galileu inicia o processo de "cientifização" (quantificação das diferenças) na área de Física. Depois dessa Renascença Cultural (século XVI), houve o Iluminismo (século XVIII) em que filósofos renovavam os antigos conceitos e novas ciências apareceram. Foi uma época de contestação política e vários filósofos e cientistas foram mortos, como Lavosier, guilhotinado na Revolução Francesa. No século XIX, novas ciências afirmaram-se em torno do Positivismo, uma corrente filosófica cujo objetivo era "alcançar a felicidade plena do ser humano" através da prática da mais rigorosa ciência. Muitos positivistas excederam-se em seu orgulho e até mesmo "fanatismo" científico e fecharam os olhos para diversos fenômenos "tradicioanlemente" considerados naturais.
Aliás, havia uma grande parte do conhecimento, crucial para o desenvolvimento sociológico e antropológico da criatura humana, que ainda estava sob as trevas da ignorância em pleno século XIX: as religiões. Conceitos como moral, por exemplo, eram vistos na forma antiga qualitativa. Assim como, na interpretação antiga, a "coisa" Luz era diferente da "coisa" Sombra, o Leve diferente do Pesado, o Quente diferente do Frio, etc., o Bem seria uma força na Natureza totalmente oposta à a força do Mal. Dificilmente através dos paradigmas antigos (dogmas) das religiões, seria concebido que, como a sombra é a ausência da luz, frio é a ausência do calor, o leve é a falta de massa, o mal é a ausência do bem.
Devemos entender, portanto, as Ciências como uma imensa porta que se abre diante da Verdade Real, base de qualquer descoberta, primeiro passo ao processo de auto-encontro. Contudo, se os fatos se sucedessem como os orgulhosos positivistas do século XIX, muitas verdades seriam abandonadas. Houve será um "cientifizador" da religião e, por conseqüência, do fenômeno mediúnico associado à suas verdades (ver estudo de Julho)? Descobriremos nas próximas páginas.
Referências Bibliográficas:
• Abbagnano, Nicola (2000). Dicionário de Filosofia, 4a Edição. Martins Fontes.
• Abrão, Bernadette Siqueira (1999). História da Filosofia. Nova Cultura.
• Durozoi, Gerard & Boussel, André. Dicionário de Filosofia, 2a Edição. Papirus.
• Losee, John (1979). Filosofia da Ciência. Itatiaia.
• Kardec, Allan (1999). A Gênese, 19a Edição. LAKE. Capítulo 1.

Matheus Artioli Firmino

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