Céu inferno_047_2ª parte
cap. IV - Espíritos Sofredores - O Castigo
TEXTO PARA ESTUDO
Exposição geral do estado dos culpados por
ocasião da entrada no mundo dos Espíritos, ditada à Sociedade Espírita de
Paris, em outubro de 1860.
"Depois da morte, os Espíritos
endurecidos, egoístas e maus são logo presas de uma dúvida cruel a respeito do
seu destino, no presente e no futuro. Olham em torno de si e nada vêem que
possa aproveitar ao exercício da sua maldade - o que os desespera, visto como o
insulamento e a inércia são intoleráveis aos maus Espíritos.
Não elevam o olhar às moradas dos Espíritos
elevados, consideram o que os cerca e, então, compreendendo o abatimento dos
Espíritos fracos e punidos, se agarrarão a eles como a uma presa, utilizando-se
da lembrança de suas faltas passadas, que eles põem continuamente em ação pelos
seus gestos ridículos.
Não lhes bastando esse motejo, atiram-se
para a Terra quais abutres famintos, procurando entre os homens uma alma que
lhes dê fácil acesso às tentações. Encontrando-a, dela se apoderam
exaltando-lhe a cobiça e procurando extinguir-lhe a fé em Deus, até que por
fim, senhores de uma consciência e vendo segura a presa, estendem a tudo quanto
se lhe aproxime a fatalidade do seu contágio.
O mau Espírito, no exercício da sua cólera,
é quase feliz, sofrendo apenas nos momentos em que deixa do atuar, ou nos casos
em que o bem triunfa do mal. Passam no entanto os séculos, e, de repente, o mau
Espírito pressente que as trevas acabarão por envolvê-lo; o circulo de ação se
lhe restringe e a consciência, muda até então, faz-lhe sentir os acerados
espinhos do remorso.
Inerte, arrastado no turbilhão, ele
vagueia, como dizem as Escrituras, sentindo a pele arrepiar-se-lhe de terror.
Não tarda, então, que um grande vácuo se faça nele e em torno dele: chega o
momento em que deve expiar; a reencarnação aí está ameaçadora... e ele vê como
num espelho as provações terríveis que o aguardam; quereria recuar, mas avança
e, precipitado no abismo da vida, rola em sobressalto, até que o véu da
ignorância lhe recaia sobre os olhos. Vive, age, é ainda culpado, sentindo em
si não sei que lembrança inquieta, pressentimentos que o fazem tremer, sem
recuar, porém, da senda do mal. Por fim, extenuado de forças e de crimes, vai
morrer.
Estendido numa enxerga ou num leito, que
importa?
O homem culpado sente, sob aparente
imobilidade, revolver-se e viver dentro de si mesmo um mundo de esquecidas
sensações. Fechadas as pupilas, ele vê um clarão que desponta, ouve estranhos
sons; a alma, prestes a deixar o corpo, agita-se impaciente, enquanto as mãos
crispadas tentam agarrar as cobertas... Quereria falar, gritar aos que o
cercam: - Retenham-me! eu vejo o castigo! - Impossível! a morte sela-lhe os
lábios esmaecidos, enquanto os assistentes dizem: Descansa em paz!
E, contudo ele ouve, flutuando em torno do
corpo que não deseja abandonar.
Uma força misteriosa o atrai; vê, e
reconhece finalmente o que já vira. Espavorido, ei-lo que se lança no Espaço
onde desejaria ocultar-se, e nada de abrigo, nada de repouso.
Retribuem-lhe outros Espíritos o mal que
fez; castigado, confuso e escarnecido, por sua vez vagueia e vagueará até que a
divina luz o penetre e esclareça, mostrando-lhe o Deus vingador, o Deus
triunfante de todo o mal, e ao qual não poderá apaziguar senão à força de
expiação e gemidos.
Georges."
Nota - Nunca se traçou quadro mais terrível
e verdadeiro à sorte do mau; será ainda necessária a fantasmagoria das chamas e
das torturas físicas?
Questões para estudo
1. Este depoimento descreve a sorte do espírito
mau na erraticidade e Kardec faz uma indagação na nota final: seria necessária,
depois desse conhecimento, a fantasia do inferno com suas chamas eternas? O que
você entende com essa indagação?
CONCLUSÃO
1. Este depoimento descreve a sorte do mau
na erraticidade e Kardec faz uma indagação na nota final: seria necessária,
depois desse conhecimento, a fantasia do inferno com suas chamas eternas? O que
você entende com essa indagação?
Quase todas as escolas religiosas falam do
inferno de penas angustiosas e horríveis, onde os condenados experimentam
torturas eternas. São raras, todavia, as que ensinam a verdade da queda
consciencial dentro de nós mesmos, esclarecendo que o plano infernal e a
expressão diabólica encontram início na esfera inferior de nossas próprias
almas. (André Luiz)
O inferno que o próprio homem se impõe é
tão doloroso e aflitivo, mais ainda quando desencarna e vê, numa terrificante
compreensão, o quanto foi imprevidente e descuidado, que não seria necessário
que se concretizasse a ameaça do inferno fantasioso com que a Igreja pretende
chamar o homem para a prática do bem. Ele mesmo já providenciou seu inferno
particular.
O inferno, dessa maneira, no clima
espiritual das várias nações do Globo, pode ser tido na conta de imenso
cárcere-hospital, em que a diagnose terrestre encontrará realmente todas as
doenças catalogadas na patologia comum, inclusive outras muitas, desconhecidas
do homem, não propriamente oriundas ou sustentadas pela fauna microbiana do
ambiente carnal, mas nascidas de profundas disfunções do corpo espiritual e,
muitas vezes, nutridas pelas formas-pensamentos em torturado desequilíbrio,
classificáveis por larvas mentais, de extremo poder corrosivo e alucinatório,
não obstante a fugaz duração com que se articulam, quando não obedecem às
idéias infelizes, longamente recapituladas no tempo. (Evolução em dois mundos -
Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira)
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