NOSSO LAR 07-17
Centro Virtual de Divulgação e Estudo do
Espiritismo - CVDEE
Sala
de Estudos André Luiz
Livro
em estudo: Ação e reação
Tema: Capítulo 17 - Dívida expirante
Era agora num hospital, em triste pavilhão
de indigentes, a nova lição que Silas nos reservava.
Ganhando o interior, diversos companheiros
acolheram-nos, gentis. E, após saudações amigas, um deles, o atendente
Lago, avançou para o mentor de nossos estudos, cientificando:
- Assistente, o nosso Leo parece gastar os
derradeiros recursos da resistência...
Silas agradeceu a informação e explicou que
vínhamos justamente para colaborar no descanso de que se fazia credor.
E atravessando longa fila de leitos pobres,
nos quais enfermos jaziam padecentes, ao pé de alguns desencarnados em trabalho
assistencial, estacamos junto de um doente esquálido e angustiado.
A mortiça claridade de pequena lâmpada,
destinada à vigília da noite, vimos Leo, que uma tuberculose pulmonar arrastava
ao cepo da morte.
Não obstante a dispnéia, Mostrava o olhar
calmo e lúcido, revelando perfeita conformação aos padecimentos que o conduziam
ao termo da experiência.
Recomendou-nos Silas observar-lhe o corpo,
entretanto, não havia muita particularidade a destacar, porquanto os pulmões
quase destruídos, através de sucessivas formações cavitárias, haviam provocado
tamanho abatimento orgânico, que o vaso físico sob nossos olhos não era mais
que um trapo de carne, agora aberto à multiplicação de bacilos vorazes, aliados
a exércitos microbianos de variada espécie, a se apinharem, dominadores, na
intimidade dos tecidos, assim como inimigos implacáveis a se lhe apoderarem dos
restos, senhoreando todos os postos-chaves da defensiva.
Achava-se Leo, desse modo, no veículo denso,
à maneira de um homem irremediavelmente condenado à expulsão da sua própria
casa.
Todos os sintomas da morte patenteavam-se,
iniludíveis.
O coração fatigado assemelhava-se a motor
exausto, incapaz de liquidar os problemas da circulação sangüínea, e todos os
implementos da aparelhagem respiratória esmoreciam, desnorteados, sob
inexorável asfixia.
Leo, moribundo, era um viajante habilitado à
grande romagem, tão-somente à espera do sinal de partida.
Ainda assim, estava sereno e portava-se com
bravura.
Tão acentuada se lhe evidenciava a acuidade
mental, que quase nos percebia a presença.
Silas, que lhe acariciava a fronte com a
destra generosa, disse-nos, atencioso:
- Já que vieram para anotar um processo de
divida expirante, podem algo perguntar ao companheiro, cuja memória se revela,
tanto quanto possível, consciente e vigilante.
- Ouvir-nos-á, porém? - inquiriu Hilário,
entre surpreso e compungido.
- Não com os tímpanos da carne, contudo,
assinalar-nos-á qualquer indagação em espírito - esclareceu o Assistente,
afetuoso.
Dominado de intensa simpatia, inclinei-me
sobre o irmão em rude prova, atraído pela fé que lhe abrilhantava as pupilas e,
abraçando-o, indaguei, em voz alta:
- Leo amigo, reconhece-se você no limiar da
vida verdadeira? Sabe que deixará o corpo em breves horas?
O interpelado, crendo raciocinar por si
mesmo, registrou-me a inquirição, palavra por palavra, qual se lhe fossem
transmitidas ao cérebro por fios invisíveis. E, como se conversasse a sós
consigo, falou findo:
- Oh! sim, a morte!... Sei que,
provavelmente esta noite, chegarei ao justo fim...
Desdobrando o nosso diálogo, acrescentei:
- Não tem receio?
- Nada posso temer... - refletiu muito
calmo.
E, movendo os olhos com esforço, buscou
fitar na alva parede da enfermaria uma pequena escultura do Cristo crucificado,
refletindo de si para consigo:
- Nada posso recear, em companhia do Cristo,
meu Salvador... Ele também foi vilipendiado e esquecido...
Terá vomitado sangue na cruz do martírio,
Ele que era puro, varado pelas chagas da ingratidão... Por que não me resignar
à cruz do meu leito, suportando, sem reclamar, as golfadas de sangue que de
quando em quando me anunciam a morte, eu que sou pecador necessitado da
complacência divina?!...
- Você é católico romano?
- Sim...
Meditei na sublimidade do sentimento
cristão, vivo e sincero, seja qual for a escola religiosa em que se exprima, e
prossegui, afagando-lhe o peito opresso:
- Nesta hora de tanta significação para o
seu caminho, sinto a ausência de seus familiares humanos...
- Ah! meus familiares... meus afetos. . . -
respondeu, falando mentalmente - meus pais teriam sido no mundo os meus únicos
amigos... No entanto, demandaram o túmulo, quando eu era simplesmente um
jovem enfermo... Separado de minha mãe, vi-me entregue aos desajustes
orgânicos... Logo após, meu irmão Henrique não hesitou em declarar-me
incapaz... Por direito à herança, cabiam-lhe grandes bens, contudo,
prevalecendo-se do meu infortúnio o mano obteve da Justiça, com meu próprio
assentimento, a documentação com que se fazia meu tutor...
Bastou, porém, a consecução dessa medida,
para que se transformasse para mim num verdugo cruel... Apossou-se-me de todos
os recursos... Internou-me num hospício, em que amarguei longos anos de
isolamento... Sofri muito... Alimentei-me com o pão recheado de fel, destinado
pelo mundo aos que lhe penetram as portas como réprobos do berço, porque o
desequilíbrio mental me perseguia desde a idade mais tenra... Quando algo
melhorado, fui constrangido a deixar o manicômio. Recorri-lhe à porta, mas
expulsou-me sem compaixão... Fiquei apavorado, vencido... Õ meu Deus,
como escarnecer assim de um irmão doente e infeliz?
Debalde impetrei socorro à Justiça.
Legalmente, Henrique era o único senhor dos haveres de nossa casa...
Envergonhado, busquei outros climas...
Tentei o trabalho digno, mas apenas obtive, em meu favor, a profissão de vigia
noturno, passando a rondar vasto edifício comercial, amparado por um homem
caridoso, condoído de minha fome... O frio da noite, porém, encontrava-me ao
desabrigo e, a breve tempo, adquiri uma febre insidiosa que passou a devorar-me
devagarinho... Não sei quanto tempo estive, assim, chumbado a indefinível
desânimo...
Certa feita, caí fatigado sobre a poça de
sangue que se me derramava da boca e criaturas piedosas me angariaram o leito
em que me refugio...
- E que opinião mantém você, acerca de
Henrique?
Lembra-se dele com mágoa?
Qual se mergulhasse a memória em ondas de
enternecimento e saudade, Leo deixou que as lágrimas se lhe entornassem dos
olhos, em dolorosa quietude mental.
Em seguida, monologou por dentro; - Pobre
Henrique!... Não deverei, antes, lastimá-lo?
Acaso, não deverá ele igualmente morrer? de
que lhe terá valido a apropriação indébita se será também um dia alijado do
corpo? Por que me reportaria a perdão, se ele é mais infeliz que eu mesmo?
E, tornando a pousar os olhos na figura do
Cristo, continuou
- Jesus, escarnecido e espancado, esqueceu
ofensas e deserções... Içado à cruz, não clamou contra os amigos que o haviam
lançado à humilhação e ao sofrimento...
Não teve uma palavra de censura para os
truculentos algozes... Ao invés de incriminá-los, pedira ao Pai Celeste amorosa
proteção para todos... E Jesus foi o Embaixador de Deus entre os homens...
Com que direito julgarei, assim, meu próprio
irmão, se eu, alma necessitada de luz, não posso penetrar os Divinos Juízos da
Providência?
Aquietara-se Leo em pranto, buscando
internar a mente no templo de amor da prece.
A humildade a que se recolhia tocava-me o
coração.
Ergui-me de olhos úmidos.
Para sondar-lhe a grandeza d_alma, não seria
preciso alongar o interrogatório.
Hilário, que se mostrava comovido até às
lágrimas, desistiu de qualquer consulta, apenas inquirindo ao Assistente
se o agonizante estava te encarnado sob os auspícios da Mansão, ao que Silas
informou, prestativo:
- Sim, Leo vive tutelado por nossa casa.
Aliás, temos algumas centenas de criaturas que, não obstante
materializadas na carne, permanecem ligadas à nossa instituição pelas raízes
dos débitos a que se prendem, geralmente todas elas em estágios difíceis
de regeneração, porque delinqüentes em reajuste. Renascem no mundo sob a guarda
de nosso estabelecimento socorrista, mas naturalmente ainda enleadas, de certo
modo, aos parceiros do pretérito, com cuja influência tomam contacto,
consolidando as qualidades morais de que necessitam, através dos conflitos
interiores que podemos classificar como sendo a forja da tentação.
- Como é belo apreciar o amor paternal de
Deus que a tudo atende no lugar próprio!... - clamou Hilário.
- Sem dúvida - considerou Silas,
sensatamente -, a Lei de Deus determina o progresso e a dignidade para todos.
Sabem vocês que, via de regra, os desencarnados que se asilam na Mansão
constituem grande ajuntamento de criminosos e viciados...
E, modificando a inflexão de voz,
acrescentou:
como eu mesmo. Ali recebemos atenção e
carinho, assistência e bondade, reeducando-nos, às vezes, por muitos
anos... Contudo, é imperioso observar que, recolhendo a generosidade dos
benfeitores e instrutores que nos garantem aquele pouso de amor, apenas
acumulamos débitos com a proteção imerecida, compromissos esses que precisamos
resgatar, igualmente em serviço ao próximo. Todavia, a fim de que nos
habilitemos para as tarefas do bem genuíno, é imprescindível purgar a nossa
condição inferior, agravada na culpa, porquanto o conhecimento elevado,
adquirido em nossa organização, vale mais como teoria nobilitante, que
nos cabe substancializar na prática correspondente, para que se incorpore, em
definitivo, ao nosso patrimônio moral. Eis por que, depois do aprendizado breve
ou longo em nosso instituto, somos novamente internados na esfera da carne e,
aí, é óbvio que, apesar de protegidos por nossos mentores, deveremos sofrer a
aproximação dos antigos comparsas de nossos delitos, para demonstrar
aproveitamento e assimilação do amparo recebido.
Ao nosso lado, porém, Leo contava os
derradeiros minutos no veículo denso e notamos que o Assistente não desejava
ausentar-se do caso dele, para que lhe guardássemos a lição.
Talvez por isso mesmo, Silas ministrou-lhe
energias novas ao peito exausto, através de passes balsamizantes,
falando-nos em seguida:
- Vocês ouviram as alegações mentais do
companheiro que se despede...
Hilário, que ardia de curiosidade, tanto
quanto eu faminto de novas elucidações, indagou, reverente:
- Em que ponto será lícito considerar a
presente desencarnação de Leo como débito expirante?
Nosso interlocutor fixou expressivo gesto e
informou:
- Decerto, não me reportarei à conta
integral de nosso amigo, perante a Lei. Não disponho pessoalmente de recursos
informativos para relacionar-lhe as dívidas e créditos no tempo. Referir-me-ei,
por isso, tão-somente à culpa que o atormentava, quando ingressou em nossa
casa, segundo os apontamentos que lá poderemos compulsar.
O agonizante agora, de nervos asserenados
pelo socorro magnético, parecia quase ouvir-nos.
Sustentando-lhe a fronte suarenta, Silas,
atencioso, prosseguiu, depois de leve pausa:
- Leo enfileirou mentalmente para nós as
amargas recordações dos dias recentes que tem vivido, detendo-se
particularmente na enfermidade que o martiriza desde o berço, nos tormentos do
hospício e na dureza de um irmão que o sentenciou à extrema penúria... Vejamos
porém, a razão das dores com que pune a si mesmo e porque mereceu a felicidade
de ressarcir para sempre o débito particular, agora na pauta de nosso estudo...
Em princípios do século passado, era ele filho dileto de abastados fidalgos
citadinos que, desencarnados muito cedo, lhe confiaram o próprio irmão
doente, o jovem Fernando, cuja existência fora marcada por incurável idiotia.
Ernesto, no entanto - pois era esse o nome
de nosso Leo, na existência última -, tão logo se viu sem a presença dos genitores,
deu-se pressa em alijar o irmão do seu convívio, cioso do governo total sobre a
avantajada fortuna de que ambos se faziam herdeiros. Além disso, moço habituado
aos saraus do seu tempo, estimava as recepções esmeradas, nas quais o palacete
da família descerrava as portas brasonadas às relações elegantes, e,
orgulhoso da paisagem doméstica, envergonhava-se de ombrear com o irmão,
por ele proibido de comparecer aos seus ágapes sociais. Todavia, porque
Fernando, mentecapto, não lhe atendesse às ordens, em razão da incapacidade de
apreendê-las, providenciou gradeada prisão, ao fundo da residência, onde o
rapaz enfermo foi excluído da comunidade familiar. Encarcerado e sozinho,
desfrutando apenas a intimidade de alguns escravos, Fernando passou a viver engaiolado,
qual se fora infeliz animal. Enquanto isso, Ernesto, casado, dava largas aos
caprichos da mulher, em extensas viagens de recreio, nas quais desperdiçava
seus bens, em jogatinas e extravagâncias. Depois de algum tempo, esgotado nas
finanças de que podia dispor, apenas conseguiria reequilibrar-se por morte do
mano irresponsável; no entanto, o jovem mentalmente enfermo dava mostras de
grande fortaleza física, não obstante certa bronquite crônica que muito o
incomodava. Observando-lhe o desequilíbrio respiratório, Ernesto planejou
levá-lo a moléstia mais grave, na esperança de remetê-lo com rapidez ao
sepulcro, recomendando aos servos que o libertassem, todas as noites, num
grande pátio, em que Fernando repousasse ao relento. O moço, porém, denotava enorme
resistência e, embora sofresse consecutivas crises de sua moléstia, assim
exposto à intempérie, durante quase dois anos superou valorosamente a provação
a que fora submetido. Entrementes, padecia Ernesto O cerco de angústia
econômica sempre mais grave, que somente o quinhão amoedado de Fernando,
entregue ao comando de velhos amigos, conforme a vontade paterna, poderia
solucionar. Em razão disso, envilecido pela fome de ouro, certa noite liberou
dois escravos delinqüentes, algemados em seu domicílio, sob a condição de
se exilarem para terras distantes e, após vê-loa partir, sob o nevoeiro da
madrugada, buscou o leito do irmão, enterrando-lhe um punhal no peito inerme...
Na manhã seguinte, ante o choro dos servos, a lhe mostrarem o cadáver, fê-los admitir
que os cativos fujões teriam sido os autores do crime e, inocentando-se com
astúcia, entrou na posse dos bens que pertenciam ao morto, com plena aprovação
dos magistrados terrestres. Foi assim que, apesar de regalada existência na
carne, ao aportar no além-túmulo atravessou extensa faixa de expiações.
Fernando, o irmão desditoso, com absoluta magnanimidade esqueceu-lhe as
ofensas; no entanto, vergastado pelos remorsos, Ernesto entrou em comunhão com
impassíveis agentes da sombra, que o fizeram presa de inomináveis torturas, por
se recusar a segui-los nas práticas infernais. Conservando no imo d_alma a
lembrança da vítima, através da percussão mental do arrependimento sobre os
centros perispiríticos, enlouqueceu de dor, vagueando por vários lustros,
em tenebrosas paisagens, até que, recolhido à nossa instituição, foi
convenientemente tratado para o reajuste preciso. Não obstante recuperado,
porém, as reminiscências do crime absorviam-lhe o espírito de tal sorte que,
para o retorno à marcha evolutiva normal, implorou o regresso à carne, a fim de
experimentar a mesma vergonha, a mesma penúria e as mesmas provas por ele
infligidas ao irmão indefeso, pacificando, desse modo, a consciência
intranqüila. Amparado em seus propósitos de resgate por eminentes instrutores,
tornou ao campo físico, carreando na própria alma os desequilíbrios que
assimilou além do sepulcro, com os quais renasceu alienado mental, como O
próprio Fernando no passado recente, tendo amargado, na posição de Leo,
todos os infortúnios por ele impostos ao irmão debilitado e infeliz. Ressurgiu,
dessa forma, na esfera carnal, desditoso e doente. Cedo conheceu a orfandade,
foi colhido de surpresa pela secura e vilania de um irmão insensato que o
filhou no ambiente sombrio de um manicômio e, para não faltar particularidade
alguma ao quadro expiatório, padeceu como guarda-noturno o frio e os temporais
a que expusera a vítima indefesa... Entretanto, pela humildade e paciência com
que tem sabido aceitar os golpes reparadores, conquistou a felicidade de
encerrar em definitivo o débito a que nos reportamos.
Porque emudecesse o orientador, preocupado
em atender ao agonizante, então banhado pelo suor característico da morte,
Hilário indagou:
- Assistente, como entender que o nosso
companheiro está liquidando a dívida a que se refere?
- Pois não vêem? - observou Silas, admirado.
E, indicando a grande hemoptise que
começava, ajuntou:
- Qual Fernando, que desencarnou com o tórax
perfurado por lâmina assassina, Leo igualmente se despede do corpo com os
pulmões em frangalhos. Contudo, pelo procedimento correto que adotou
perante a Lei, atravessa o mesmo suplício, mas no leito, sem escândalos
destrutivos, embora esteja vertendo o próprio sangue pela boca, tal qual
sucedeu ao mano espezinhado e vencido. Cumpre-se o aresto da justiça, apenas
com a diferença de que, em vez do gládio de ferro, temos aqui batalhões de
bacilos assassinos...
Talvez porque nos visse o assombro, ante a
lição, ocupado embora na assistência ao moribundo, rematou com grave tom de
voz:
- Quando a nossa dor não gera novas dores e
nossa aflição não cria aflições naqueles que nos rodeiam, nossa dívida
está em processo de encerramento. Muitas vezes, o leito de angústia entre os
homens é o altar bendito em que conseguimos extinguir compromissos ominosos,
pagando nossas contas, sem que o nosso resgate a ninguém mais prejudique.
Quando o enfermo sabe acatar os Celestes Desígnios, entre a conformação e a
humildade, traz consigo o sinal da dívida expirante...
Silas, contudo, não pôde continuar.
Leo, em oração, debatia-se nos estertores da
morte.
O Assistente enlaçou-o, com carinhoso
enternecimento e exorou o Amparo Divino, como se o doente desventurado lhe
fosse um filho do coração.
Envolvido nas irradiações suaves da prece,
Leo adormeceu, diante de nossas lágrimas.
Porque perguntássemos quanto ao motivo pelo
qual não o arrebataríamos, de imediato, ao vaso cadavérico, para
transportá-lo conosco à Mansão, o Assistente informou-nos, conciso:
- Não dispomos de autoridade para desligá-lo
do corpo. Semelhante responsabilidade não nos compete.
E, comunicando aos vigilantes que
missionários da libertação viriam, em breves horas, em socorro do companheiro
que descansava, meditativo e emocionado propôs-nos regressar à Mansão.
QUESTÕES PARA ESTUDO
1 - Leo, o paciente visitado pelo trio de
benfeitores, encontrava-se agonizante, com seu organismo físico de tal modo
debilitado que sequer o permitia perceber o que se passava à sua volta. No
entanto, André Luiz manteve um diálogo com ele, em espírito. Como explicar esse
fato, considerando que e enfermo ainda não desencarnara nem se encontrava
emancipado pelo sono?
2 - Em que a compreensão de Leo para com o
irmão que o levara àquela situação ajudou a suportar a expiação?
3 - Que lições podemos extrair das seguintes
assertivas do Assistente Silas:
3.a- "Eis por que, depois do
aprendizado breve ou longo em nosso instituto, somos novamente internados na
esfera da carne e, aí, é óbvio que, apesar de protegidos por nossos mentores,
deveremos sofrer a aproximação dos antigos comparsas de nossos delitos, para
demonstrar aproveitamento e assimilação do amparo recebido."
3.b- "Não obstante recuperado, porém,
as reminiscências do crime absorviam-lhe o espírito de tal sorte que, para o
retorno à marcha evolutiva normal, implorou o regresso à carne, a fim de
experimentar a mesma vergonha, a mesma penúria e as mesmas provas por ele
infligidas ao irmão indefeso, pacificando, desse modo, a consciência intranqüila."
4 - Jesus ensinou que "todos os que
lançarem mão da espada, à espada morrerão". Na última encarnação, Leo
assasinara o irmão a golpes de faca. Como considerar cumprido o resgate, se não
passou por semelhante situação?
5 - Como podemos reconhecer que um débito
contraído no passado esteja sendo liquidado na atual encarnação?
Conclusão:
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1 - Leo, o paciente visitado pelo trio de
benfeitores, encontrava-se agonizante, com seu organismo físico de tal modo debilitado
que sequer lhe permitia perceber o que se passava à sua volta. No entanto,
André Luiz manteve um diálogo com ele, em espírito. Como explicar esse fato,
considerando que o enfermo ainda não desencarnara nem se encontrava emancipado
pelo sono?
R - No estado de agonia em que o enfermo se
encontrava, os laços fluídicos que o mantinham preso ao organismo físico
estavam em processo de afrouxamento. A vida orgânica estava prestes a se
extinguir. Ensinam os Espíritos que, na agonia, algumas vezes, o espírito
começa a deixar o corpo antes mesmo que se esgote a vida orgânica. "O
corpo é a máquina que o coração põe em movimento. Existe, enquanto o coração
faz circular nas veias o sangue, para o que não necessita da alma"
(questão 156 do Livro dos Espíritos).
Já em parte desprendido da matéria, face à
debilidade do organismo físico, o espírito tem as suas faculdades espirituais
ampliadas, pois o obstáculo que o impedia de manifestá-las mais livremente
perde gradativamente a sua força, tornando-o cada vez mais desimpedido. Com a
influência da matéria praticamente aniquilada pela fragilidade do organismo
físico, Leo pôde exercer mais amplamente a faculdade de se comunicar pelo
pensamento com o plano espiritual, por intermédio de André Luiz.
2 - Em que a compreensão de Leo para com o
irmão que o levara àquela situação ajudou a suportar a expiação?
R - Leo praticou o verdadeiro perdão, que
envolve a compreensão para com o ofensor. Não se limitou a relevar o
comportamento de seu irmão. Entendeu que ele agira daquela forma porque era um
enfermo moral. Como tal, compreendeu que o irmão era mais infeliz que ele, que
padecia de enfermidade puramente material, pois, moralmente, demonstrava haver
se transformado o suficiente para aceitar o padecimento com resignação e fé na
vida futura.
3 - Que lições podemos extrair das seguintes
assertivas do Assistente Silas:
3.a- "Eis por que, depois do
aprendizado breve ou longo em nosso instituto, somos novamente internados na esfera
da carne e, aí, é óbvio que, apesar de protegidos por nossos mentores,
deveremos sofrer a aproximação dos antigos comparsas de nossos delitos, para
demonstrar aproveitamento e assimilação do amparo recebido."
R - A vida no mundo espiritual é importante
para o progresso do espírito. Mas é na vida corporal que ele deve colocar em
prática suas conquistas morais. Silas explica que, embora assistidos por
benfeitores espirituais, ao retornarmos ao mundo material, temos que nos
submeter à prova da convivência com antigos parceiros de atos delituosos do
passado, que poderão tentar nos arrastar para a prática de novos delitos. Este
é um dos objetivos da reencarnação: passarmos pelas provas que demonstrarão ou
não nosso "aproveitamento e assimilação do amparo recebido".
3.b- "Não obstante recuperado, porém,
as reminiscências do crime absorviam-lhe o espírito de tal sorte que, para o
retorno à marcha evolutiva normal, implorou o regresso à carne, a fim de
experimentar a mesma vergonha, a mesma penúria e as mesmas provas por ele
infligidas ao irmão indefeso, pacificando, desse modo, a consciência intranqüila."
R - O arrependimento, conquanto concorra
para a melhoria do espírito, não basta por si só. Quando sincero, faz com que o
espírito sinta a necessidade de sofrer o mesmo mal que causou, para que sua
consciência se liberte do sentimento de culpa. Leo, recuperado moralmente
graças à assistência recebida na Mansão Paz, compreendeu a necessidade de
passar pela expiação que o libertaria das malhas a que se aprisionara pelo
crime cometido na experiência física passada e, por isso, rogou nova encarnação
a fim de experimentar sofrimento idêntico ao que ocasionou.
4 - Jesus ensinou que "todos os que
lançarem mão da espada, à espada morrerão". Na última encarnação, Leo assassinara
o irmão a golpes de faca. Como considerar cumprido o resgate, se não passou por
semelhante situação?
R - O resgate através da expiação se dá
pelos efeitos que repercutem naquele que provocou a ação da lei de causa e
efeito. Não importa o ato que venha dar causa ao resultado. Leo, na encarnação
em que se comprometera, provocou a desencarnação de seu irmão devido à hemorragia
originada pela perfuração do tórax, devido às facadas por ele desferidas. Na
existência física atual, pereceu pelo mesmo mal, embora a causa que o gerou
tenha sido diferente. Se o resgate tivesse que se dar nas mesmas
circunstâncias, ou seja, através de homicídio a facadas, seríamos forçados a
admitir que alguém reencarnaria com esta tarefa, o que viria contraria os
objetivos da reencarnação, que é fazer o espírito chegar à perfeição.
5 - Como podemos reconhecer que um débito
contraído no passado esteja sendo liquidado na atual encarnação?
R - Conforme esclarece o instrutor Silas,
"quando a nossa dor não gera novas dores e nossa aflição não cria aflições
naqueles que nos rodeiam, nossa dívida está em processo de encerramento....
Quando o enfermo sabe acatar os Celestes Desígnios, entre a conformação e a
humildade, traz consigo o sinal da dívida expirante...".
Equipe CVDEE
Sala André Luiz
Coordenação: eqpal@cvdee.org.br
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