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segunda-feira, 29 de junho de 2015


 Léon Denis

A fé é a confiança da criatura em seus destinos, é o sentimento que a eleva à infinita Potestade, é a certeza de estar no caminho que vai ter à verdade. A fé cega é como o farol cujo vermelho clarão não pode traspassar o nevoeiro; a fé esclarecida é foco elétrico que ilumina com brilhante luz a estrada a percorrer.
Ninguém adquire essa fé sem ter passado pelas tribulações da dúvida, sem ter padecido as angústias que embaraçam o caminho dos investigadores. Muitos param em esmorecida indecisão e flutuam longo tempo entre opostas correntezas. Feliz quem crê, sabe, vê e caminha firme. A fé então é profunda, inabalável, e o habilita a superar os maiores obstáculos. Foi neste sentido que se disse que a fé transporta montanhas, pois, como tais, podem ser consideradas as dificuldades que os inovadores encontram no seu caminho, ou sejam as paixões, a ignorância, os preconceitos e o interesse material
Geralmente, considera-se a fé somente como crença em certos dogmas religiosos, aceitos sem exame. Mas a verdadeira fé está na convicção que nos anima e nos arrebata para os ideais elevados. Há a fé em si próprio, em uma obra material qualquer, a fé política, a fé na pátria. Para o artista, para o pensador, a fé é o sentimento do ideal, é a visão do sublime fanal aceso pela mão divina, nos alcantis eternos, a fim de guiar a Humanidade ao Bem e à Verdade.
E' cega a fé religiosa que anula a razão e se submete ao juízo dos outros, que aceita um corpo de doutrina verdadeiro ou falso, e a ele se cativa totalmente Na sua impaciência e nos seus excessos, a fé cega recorre facilmente à perfídia, à subjugação, e conduz ao fanatismo.
Ainda sob este aspecto, ela é um poderoso incentivo, pois tem ensinado os homens a se humilharem e a sofrerem. Pervertida pelo espírito de domínio, ela tem sido a causa de muitos crimes , mas, em suas conseqüências funestas , também deixa transparecer as suas grandes vantagens.
Ora, se a fé cega pôde produzir tais efeitos, o que não fará a fé esclarecida pela razão, a fé que julga, discerne e compreende? Certos teólogos nos exortam a desprezar a razão, a renegá-la, a rebatê-la.
Deveremos por isso repudiá-la, mesmo quando ela nos mostra o bem e o belo? Esses teólogos alegam os erros em que a razão caiu e parecem esquecer lastimosamente que a razão foi quem descobriu esses erros e nos ajudou a corrigi-los.
A razão é uma faculdade superior, destinada a esclarecer-nos sobre todas as coisas e que, como todas as outras faculdades, se desenvolve e se aumenta pelo exercício. A razão humana é um reflexo da Razão eterna. E, Deus em nos. disse S. Paulo. Desconhecer-lhe o valor e a utilidade é menosprezar a natureza humana, é ultrajar a própria Divindade. Querer substituir a razão pela fé é ignorar que ambas são solidárias e inseparáveis, que se consolidam e se vivificam uma à outra. A união de ambas abre ao pensamento um campo mais vasto: harmoniza as nossas faculdades e nos traz a paz interna.
A fé é mãe dos nobres sentimentos e dos grandes feitos. O homem profundamente firme e convicto é imperturbável diante do perigo, do mesmo modo que nas tribulações. Superior às lisonjas, às seduções, às ameaças, ao bramir das paixões, ele ouve uma voz ressoar nas profundezas da sua consciência, instigando-o à luta, encorajando-o nos momentos perigosos.
Para produzir tais resultados, a fé precisa repousar na base sólida que lhe oferecem o livre exame e a liberdade de pensamento. Em vez de dogmas e mistérios, cumpre que ela só reconheça princípios decorrentes da observação direta, do estudo das leis naturais. Tal é o caráter da fé espírita.

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