NOSSO LAR 07-13
Livro : Ação e Reação
Capítulo: 13
Assunto: Débito Estacionário
colaborador: Julian
13 Débito estacionário
Prosseguimos administrando fraterno auxílio
ao lar de Marina, incluindo a assistência ao companheiro que o nosocômio ainda
acolhia, encontrando excelentes oportunidades de estudo e observação.
Conclusões e apontamentos felicitavam-nos a
cada passo.
Tarefas e excursões cobriam-se de êxito
desejável, quando, certa noite, no parlatório, foi Silas procurado por um
companheiro aflito, que avisou, atencioso:
- Assistente, nossa irmã Poliana parece
vergar, em definitivo, ao peso da imensa prova.
- Revoltada? - indagou nosso amigo com
inflexão de paciência e bondade.
- Não - aclarou o interpelado. - Nossa irmã
está enferma e o equilíbrio orgânico declina de hora a hora...
Apesar disso vem lutando heroicamente para
conservar-se ao pé do filho infeliz.
Silas refletiu por momentos rápidos e falou
resoluto:
- É imperioso agir sem demora.
E, qual acontecera em circunstâncias
anteriores, utilizamos a volitação para lograr mais tempo.
A breves minutos, achávamo-nos em paisagem
rural pobre e triste. Num casebre, totalmente exposto à ventania noturna,
infortunada mulher jazia enrolada em farrapos, numa esteira de palha ao rés do
solo e, a poucos metros, mísero anão paralítico exibia o semblante alvar.
Reconhecia-se-lhe, de pronto, a idiotia
completa, sob a vigilância da enferma desditosa, que o fitava entre a aflição e
o desencanto.
Abarcando-os com o olhar, nosso condutor
informou solícito:
- Temos aqui nossa irmã Poliana e Sabino, o
filho desventurado que o Poder Celeste lhe confiou.
Espiritualmente, são ambos tutelados da
Mansão, em pedregoso caminho de reajuste.
Entretanto, o generoso amigo parecia mais
interessado na assistência prática que na obra informativa.
Inclinando-se, atento, para a desventurada
mulher, auscultou-lhe o tórax, explicando algo inquieto:
- Caso urgente.
E, convidados ao concurso imediato,
associamo-nos à minuciosa pesquisa, observando que o coração da enferma
apresentava alarmante arritmia, figurando-se-nos agitado prisioneiro a
emaranhar-se nas artérias estreitadas em estranhas calcificações.
Examinando aquele atormentado quadro
circulatório, o Assistente informou:
- Os vasos enfraquecidos do miocárdio
ameaçam ruptura próxima, porquanto a doente se encontra na tensão de angústia
extrema. A parada súbita do órgão central pode ocorrer de um instante para
outro.
Assim dizendo, relanceou o olhar sobre o
homem-criança, estirado a dois passos, e acrescentou:
- Entretanto, Poliana precisa mais tempo no
corpo, de vez que o filho não lhe dispensa os cuidados. Acham-se não apenas
jungidos à mesma prova, mas imanizados ao mesmo clima fluídico, reciprocamente
alimentados pelas forças que exteriorizam, no campo da afinidade pura.
Dessa maneira, a desencarnação da genitora repercutiria mortalmente sobre o
filho, cuja existência, no estágio de segregação em que se encontra, gravita,
invariável, em derredor da carícia materna. Aflitiva expectação caiu sobre nós.
Silas como que buscava, na choça
desguarnecida de tudo, algo que pudesse funcionar à guisa de socorro, todavia,
somente velho cântaro ali guardava pequena porção d_água.
O Assistente comunicou-nos que a enferma
reclamava medicação imediata, considerando, porém, que naquela hora da noite
não era fácil trazer algum companheiro encarnado ao sítio deserto, nem
dispúnhamos, ali, de recursos quaisquer.
Ainda assim, vimo-lo aplicar-lhe passes à
glote, com desvelada atenção.
Logo após, administrou recursos fluídicos à
linfa pura.
Compreendemos que Silas ativara a sede na
doente, constrangendo-a a servir-se da água simples então convertida em líquido
medicamentoso.
Despendendo enorme esforço, Poliana
abandonou o leito e buscou o pote humilde.
Após beber ligeiros goles, asserenou as
próprias ânsias, qual se houvera sorvido valiosa poção calmante.
As preocupações obcecantes da hora em curso
cederam lugar à bonança de espírito.
Foi assim que o diretor de nossa excursão,
acariciando-lhe a fronte, pendida nos molambos a se agregarem por travesseiro,
transmitia-lhe forças revigorantes.
Decorridos alguns minutos, Poliana
mostrava-se plenamente fora do vaso físico, mas sem a necessária lucidez
espiritual para identificar-nos a presença. Contudo, subordinada ao comando
magnético de Silas, ergueu-se automaticamente. Enlaçada por ele e seguidos
ambos por nós, demandamos bosque vizinho.
Longe de perceber-se sob a assistência
carinhosa de que era objeto, a enferma ausente do corpo de carne, como num
sonho consolador, foi convenientemente acomodada por Silas no tapete de relva
macia, sentindo-se calma eleve...
Finda essa operação, o Assistente
convocou-nos à prece e, levantando o olhar para o firmamento faiscante de
estrelas, rogou compungidamente:
- "Pai de Infinita Bondade, Tu que dás
provimento às necessidades do verme aparentemente esquecido no ventre do solo,
que vestes a flor anônima, perfumando-lhe a contextura, muitas vezes sobre a
lama do charco, desce compassivo olhar sobre nós, que nos tresmalhamos a
distância de Teu amor!
"Em particular, Pai Justo, compadece-Te
de nossa Poliana, vencida!...
"Ela não é mais, Senhor, a mulher
sequiosa de aventura e de ouro, disposta a lançar lodo e treva no caminho dos
semelhantes, mas sim pobre mãe fatigada, reclamando novas forças para a
renúncia! não é mais a moça vaidosa que tripudiava nos tormentos do próximo,
mas triste mendiga, anulada para o trabalho, que soluça de porta em porta,
esmolando o pão com que deve sustentar o torturado filho de sua dor e nutrir a
própria vida.
"Ó Pai, não a deixes perder agora a
benção do corpo, na senda redentora onde se arrasta!
"Acrescenta-lhe os recursos para que
não interrompa a experiência sublime em que se localiza...
"Tu que nos deste, pelo Cristo, a
divina revelação do sofrimento, como sendo o roteiro de nossa recondução para
os Teus braços, ajuda-a a refazer as energias aniquiladas, a fim de que
não pereça antes de encontrar a nova luz que lhe aguarda o coração para a
subida à Glória Eterna!...
A voz de Silas, tocada de profunda fé,
arrebatava-nos ao pranto insofreável.
Azulíneas cintilações nimbavam-lhe a cabeça
e, como resposta do Alto, ali, na selvagem floração do bosque ermo, vimos, ao
longe, cinco flamas, em pontos diferentes do Espaço, que se aproximavam de nós,
celeremente...
Renteando conosco, transfiguraram-se em
companheiros que nos saudaram regozijantes.
Em rápidos minutos, energias imponderáveis
da Natureza, associadas aos fluidos de plantas medicinais, foram trazidas à
nossa enferma, que as inalava a longos sorvos, e, em tempo breve, vimos Poliana
surpreendentemente refeita, pronta a retomar o envoltório para a necessária
restauração.
- Ricos da Terra - pensei com lágrimas -,
onde o poder das vossas arcas abarrotadas de ouro, ante a simples
fulguração de uma prece? Onde a grandeza de vossos palácios, recheados de
fausto e pedraria, confrontada com um simples minuto de reverência da alma, em
comunhão com a Paternidade de Deus, na majestade do Céu?
Incapaz de raciocinar por si, quanto à
metamorfose experimentada, por força das inibições que sofria na provação
temporária, a doente não conseguia ver-nos, mas sorria, venturosa, sentindo-se
mais robusta e mais ágil.
Novamente amparada, regressou ao tugúrio
infecto e auxiliamo-la a retomar a cápsula física.
Enquanto descerrava os olhos, reconfortada,
Silas esclareceu:
- As melhoras adquiridas pela organização
perispirítica serão apressadamente assimiladas pelas células do equipamento
fisiológico.
E acentuou:
- Sabem os médicos terrenos que o sono é um
dos ministros mais eficientes da cura. É que, ausente do corpo, muitas vezes
consegue a alma prover-se de recursos prodigiosos para a recuperação do veículo
carnal em que estagia no mundo.
Após a elucidação, afagou os cabelos
grisalhos da pobre doente e prometeu-lhe em voz alta; - Descanse. Quando o dia
ressurgir, nossos companheiros trarão até aqui o socorro da caridade fraternal,
valendo-se de algum samaritano das redondezas... Permitirá o Senhor que você
continue...
Em seguida, convidou-nos a observar o campo
orgânico de Sabino.
Por fora, sim, era ele dolorosa máscara de
anormalidade e aberração. Mirrado, nada medindo além de noventa centímetros e
apresentando grande cabeça, aquele corpo disforme, tresandando odores fétidos,
inspirava compaixão e repugnância.
A fisionomia denotava configuração
macacóide, exibindo, porém, no sorriso inconsciente e nos olhos semilúcidos, a
expressão de um palhaço triste.
Recomendou-nos o Assistente auscultar-lhe o
campo íntimo, e, em razão disso, findos alguns minutos de reflexão,
assimilei-lhe a faixa mental, observando-lhe as singulares reminiscências...
Demonstrando viver essencialmente distante
da realidade, a memória de Sabino mergulhava, toda, em quadros estranhos.
Corporificados ante a nossa visão
espiritual, os pensamentos dele tomavam consistência, compelindo-nos a
enxergá-lo qual se sentia em verdade. Víamo-lo em trajes de palaciano
bem-posto, influenciando pessoas categorizadas para a consumação de crimes
ocultos, a culminarem sempre na flagelação do povo. Viúvas e órfãos, trabalhadores
humildes e escravos misérrimos desfilavam nas telas de suas complicadas
recordações. Palacetes aristocráticos e mesas opíparas constavam por detalhes
faustosos das lembranças que lhe povoavam o espírito... E, ao seu lado, sempre
a mesma mulher, cujo porte soberbo revelava Poliana, aquela mesma Poliana que
jazia inerme na esteira de palha... Assombrados, identificávamos ambos cercados
de luxo e ouro, manchados, porém, de sangue, ao qual se faziam plenamente
insensíveis...
Reconhecíamos sem dificuldade que mantinham
consigo escusos compromissos um com o outro, no terreno da crueldade.
Sabino, o fidalgo orgulhoso, não tomava
conhecimento de Sabino, o anão paralítico. Em absoluta introspecção, revivia o
pretérito, com requintes de egolatria, demonstrando-se na posição do homem
iludido por mentirosa superioridade à frente dos semelhantes.
Percebendo-nos a perplexidade, Silas
observou:
- Decerto, não lhe ouviremos a palavra
articulada, mudo e surdo qual se encontra, mas podemos consultar-lhe o
pensamento, porquanto reagirá em pensamento, respondendo-nos às interpelações,
através da conversação ideada. Para isso, porém, é imprescindível lhe
dispensemos o tratamento devido à personalidade que julga viver...
Mentalizemo-lo como sendo o Barão de S..., titulo que exibiu na existência
última e com o qual se desvairou calamitosamente nas trevas da delinqüência e
da vaidade.
Observando as manchas rubras nos quadros
vivos das vivas reminiscências em que se enclausurava, perguntei com a
gravidade natural que a experiência exigia:
- Barão, por que tanto sangue em seu
caminho? Terão muitos chorado, em torno de sua marcha?
Notei, perfeitamente, que ele não recolhera
a interrogação com os tímpanos comuns, mas a apreendera em forma de idéia,
formulada de si para consigo, devolvendo-nos a seguinte ponderação pelos fios
mentais, em que comungávamos um com o outro, sem que me identificasse por seu
interlocutor invisível: - "Sangue e lágrimas, sim!...
Precisei de grande dose de semelhante
material em meus empreendimentos... Que triunfador do mundo não terá sangue e
lágrimas, na base das pirâmides da fortuna ou da dominação política em que
todos eles se apóiam? A vida é um sistema de luta, no qual a Humanidade se
divide em dois campos opostos - aquele dos que conquistam e aquele dos que são
conquistados... Sou um nobre... Não guardo a vocação de perder_ Que importa a
aflição dos fracos, se a morte para eles significa descanso e mercê?
Desliguei-me do foco mental em que se lhe
exprimiam os pensamentos e, depois de alguns instantes, nos quais se consagrava
Hilário ao mesmo exame que me tomara a atenção, o Assistente esclareceu:
- Segundo é fácil de concluir, ante a
perquirição da ciência terrestre vulgar, Sabino será o idiota paralítico, surdo
e mudo de nascença... Para nós, no entanto, é um prisioneiro ainda perigoso,
engaiolado nos ossos físicos, de cuja tessitura, por agora, não tem qualquer
noção, tal o egoísmo que ainda lhe turva a alma, em processo de incontrolável
hipertrofia... A sede da posse ignóbil e o orgulho virulento perverteram-lhe a
vida íntima, fixando-o em pavoroso labirinto de sinistros enganos, que resultam
para ele em completa alienação mental no tempo, de vez que o relógio avança na
contagem dos dias, enquanto se mantém parado nas reminiscências em que se supõe
dominador na Terra, vivendo o pesadelo criado por si próprio...
Diante dos problemas que o estudo suscitava,
indagou Hilário, surpreso:
- Mas... onde a vantagem de semelhantes
padecimentos?
Silas esboçou leve expressão de tristeza e
considerou:
- Temos sob nossa atenção lamentável débito
congelado. Nosso pobre companheiro, deploravelmente tombado, praticou numerosos
delitos na Terra e no Plano Espiritual e, há mais de mil anos, vem sucumbindo,
vaidoso e desprevenido, às garras da criminalidade... De existência a
existência, não soube senão consumir os recursos do campo físico, tumultuando
as paisagens sociais em que o Senhor lhe concedeu viver. Calamidades diversas,
como sejam homicídios, rebeliões, extorsões, calúnias, falências, suicídios,
abortos e obsessões foram por ele provocados, desde muitos séculos, porquanto
nada viu à frente dos olhos senão o seu egoísmo a saciar... Entre o berço e o
túmulo, é o desatino incessante, e, do túmulo para o berço, é a maldade fria e
inconseqüente, apesar das intercessões de amigos abnegados, que o amparam em
novas tentativas de regeneração e levantamento. Quase sempre inspirado nos
pontos de vista de Poliana, que lhe vem sendo a companheira de múltiplas
jornadas, cristalizou-se como infeliz empresário do crime, agigantando-se-lhe
de tal modo o desequilíbrio na existência última, terminada no suicídio
indireto através do mergulho deliberado na viciação, que não houve outro
remédio para ele senão o insulamento absoluto na carne, ao nevoeiro da romagem
presente, na qual o identificamos, assim, como fera enjaulada na armadura de
células aviltantes, sob a custódia da mulher que o ajudou nas quedas
sucessivas, erigida agora à posição de enfermeira maternal do seu longo
infortúnio.
Poliana, a companheira fútil e transviada do
bem, que habitualmente escolheu para si a condição de boneca do prazer
delituoso, acordou, além-túmulo, para as realidades da vida, antes dele...
Despertou e sofreu muito, aceitando a tarefa de auxiliá-lo na recuperação em
que, por certo, despenderão muito tempo ainda...
No campo perispiritual do anão ensimesmado,
observamos, através da sua aura verde-trevosa, que todas as energias dos seus
fulcros vibratórios refluíam sobre os pontos de origem, dando-nos a impressão
de que Sabino estava enovelado inteiramente em si mesmo, à maneira da lagarta
ilhada no casulo dela própria nascido.
As perguntas que não nos foi possível
sopitar, respondeu Silas com presteza:
- Nosso amigo, até que se amadureça em
espírito para a renovação necessária, guarda a mente trabalhando em circuito
fechado, isto é, pensa constantemente para si mesmo, incapaz da permuta de
vibrações com os semelhantes, exceção feita com Poliana, de quem se fez
satélite mudo e expectante, como parasita em fronde seivosa. Sabino é um
problema de débito estacionário, porque jaz em processo de hibernação
espiritual, compulsoriamente enquistado no próprio íntimo, a benefício da
comunidade de Espíritos desencarnados e encarnados, porquanto tão expressivos
se lhe destacam os gravames de ordem material e moral que a sua presença
consciente, na Terra ou no Espaço, provocaria perturbações e tumultos de
conseqüências imprevisíveis. Desfruta, desse modo, uma pausa na luta, como
ensaio de esquecimento, a fim de que possa, de futuro, encarar o montante dos
compromissos em que se enleia, promovendo-lhes solução digna nos séculos
próximos, a golpes de férrea vontade na renunciação de si mesmo.
- Mas - indagou Hilário, inquieto - não
disporia a Espiritualidade Superior de elementos para encarcerá-lo, a distância
da carne?
- Sim - confirmou Silas -, isso não é
impossível.
Entretanto, se temos enxovias pungentes para
a expiação dos crimes que entenebrecem a mente humana, muitas delas a se
expressarem por vales de miséria e de horror, é preciso considerar que os
delinqüentes aí segregados atraem-se uns aos outros, contagiando-se mutuamente
das chagas morais de que são portadores, gerando o inferno em que passam transitoriamente
a viver. Por outro lado, contamos com muitas instituições, funcionando à
semelhança de estufas, nas quais criaturas desencarnadas dormem pacificamente
largos sonos, mergulhadas nos pesadelos que merecem até certo ponto, depois de
efetuada a travessia do sepulcro...
Em Sabino, contudo, encontramos um caso
excepcional de rebeldia e delinqüência sistemáticas, em cujas sombras, um dia,
sentiu baquearem-se-lhe as forças. O remorso feriu-lhe o coração como a bala
mortífera assalta um tigre solto... A prece fulgurou- lhe na consciência e,
antes que a sua nova atitude provocasse reações e vinditas soezes, entre os que
lhe seguiam os passos na rota perversa, recolheram-no à Mansão, onde foi
naturalmente magnetizado, caindo em hipnose de longo curso, sendo recebido mais
tarde pelo carinho de Poliana, então segregada em campo de regeneração pelo
sacrifício. Como vemos, tamanhas são as ligações de nosso companheiro nos
planos infernais que, por mercê de Jesus, foi ele ocultado provisoriamente
neste corpo monstruoso em que se faz não apenas incomunicável, mas também de
algum modo irreconhecível, em favor dele próprio.
É indispensável que o tempo com a Bondade
Divina lhe amparem os problemas aflitivos e complexos. E, fitando-nos
serenamente, ajuntou:
- Compreenderam? Sim, havíamos entendido.
A experiência, aos nossos olhos, era dura
mas lógica, terrível mas justa.
E como quem nada mais podia dar ao triste
amigo, além do coração, Silas afagou-lhe a cabeça imunda e ofertou-lhe,
comovido, a bênção de uma prece.
Questões para o Estudo
O tema apresentado pelo nosso Instrutor noas
chama para uma realidade distinta em torno às afinidades, ajuste e
conseqüências no desenrolar das existências. Cabe-nos refletir e perguntar-nos:
1.- Os Espíritos que voltam para a Terra em
prova de expiação, contam com certeira ajuda para desfazer-se de seus débitos.
Quais os mecanismos dessa ajuda?
2.- Os mecanismos das liações entre os
espíritos em prova se dão no âmbito da _afinidade pura_ e continuam durante o
tempo em que a afinidade os ligue. Nestes casos em que as criaturas permanecem
ligadas entre elas, haverá dificuldade quando se intentar modificar pela ajuda,
a extensão da prova?
3.- Como entender:
a) _reciprocamente alimentados pelas forças
que exteriorizam_? b) esta simbiose é natural?
4.- Quando Silas diz: _Tu que nos deste,
pelo Cristo, a divina revelação do sofrimento, como sendo o roteiro de nossa
recondução para os Teus braços..._ reconhece a dor, como à única libertadora da
alma?
5.- A prece formulada pelo Instrutor e
atendida depressa pelos envidados do Céu. Temos a certeza de que nossos apelos
serão assim respondidos?
6.- Silas afirma que _as melhoras adquiridas
pela organização perispirítica serão apressadamente assimiladas pelas células
do equipamento fisiológico_. Podemos ajuntar alguma outra idéia para encher o
conceito?
7.- Sabino permanece engaiolado a um corpo,
preso das suas recordações, respondendo-se a si mesmo. Como descortina André
Luiz os refolhos da sua alma?
8.- O Débito Congelado é para o Espírito um
estagio isolado onde a Lei da Justiça dá espaço à Lei da Clemência. Podemos
refletir nesta situação e formular considerações?
Conclusão:
QUESTÕES
PROPOSTAS PARA ESTUDO
O tema apresentado pelo nosso Instrutor nos
chama para uma realidade distinta em torno às afinidades, ajuste e
conseqüências no desenrolar das existências. Cabe-nos refletir e perguntar-nos:
1.- Os Espíritos que voltam para a Terra em
prova de expiação, contam com certeira ajuda para desfazer-se de seus débitos.
Quais os mecanismos dessa ajuda?
R - A misericórdia divina é infinita, quando
se trata de colocar à nossa disposição mecanismos de ajuda em nossa passagem pelas
provas da vida física. Desde o nascimento, contamos com um espírito protetor,
pertencente a uma ordem elevada, que tem a missão de nos assistir durante a
jornada terrena, acompanhando-nos desde a nossa chegada até a morte do corpo.
Além desse anjo guardião, uma falange de Espíritos benfeitores está
permanentemente à nossa disposição para nos socorrer sempre que nos sentimos
enfraquecidos para o enfrentamento das provas, bastando, para tanto, que
saibamos buscar a ajuda e que façamos por merecê-la, pela sintonia com o plano
espiritual superior. Enfim, são muitos os mecanismos de auxílio que o Alto nos
oferece, como a intercessão, de que temos um exemplo no caso narrado no
presente capítulo.
2.- Os mecanismos das liações entre os
espíritos em prova se dão no âmbito da "afinidade pura" e continuam durante
o tempo em que a afinidade os ligue. Nestes casos, em que as criaturas
permanecem ligadas entre elas, haverá dificuldade quando se intentar modificar,
pela ajuda, a extensão da prova?
R - A dificuldade é sempre maior quando o
espírito em prova, ao invés de se situar como o devedor resignado, que está
tendo a oportunidade do ressarcimento através da reencarnação, mantém-se
psiquicamente ligado às zonas inferiores, onde estagiam entidades perseverantes
na prática do mal, sem nutrir qualquer pensamento que sinalize o desejo de
transformação. Como no caso em estudo, Sabino vivia distante da realidade atual,
com seu pensamento ainda mergulhado num passado em que vivenciou, existência
após existência, numerosos delitos. Mantinha-se preso às garras da
criminalidade e, em semelhante estado mental, dificultava o amparo do Alto,
que, como dissemos acima, depende da disposição íntima do espírito em prova
para que possa dele desfrutar. A única ajuda que naquele momento lhe
aproveitaria era a sua internação num corpo físico inteiramente desorganizado,
que lhe servisse como pausa na seqüência de desatinos a que vinha se dedicando
e que o protegesse do assédio das entidades malignas do plano espiritual, com
as quais se sintonizava.
3.- Como entender:
a) "reciprocamente alimentados pelas
forças que exteriorizam"? b) Esta simbiose é natural?
R - As forças a que se refere o assistente
Silas são os fluidos que emanam do nosso pensamento. Estes fluidos formam uma
atmosfera espiritual e combinam-se pela semelhança de suas naturezas. Os
semelhantes se agregam; os diferentes se repelem. O pensamento, portanto,
produz uma espécie de efeito físico que reage sobre o moral. O perispírito, que
é formado de elementos extraídos dos fluidos espirituais, absorve os fluidos à
sua volta, como uma esponja absorve um líquido, na comparação de Kardec, ao
estudar o tema em "A Gênese".
Como narra André Luiz ao longo do capítulo,
Poliana e Sabino há séculos eram parceiros em atos criminosos, aquela sempre
inspirando e servindo de companheira a este. Encontravam-se de tal modo
imantados pela natureza de seus pensamentos, que criaram uma espécie de
"dependência psíquica", em que buscavam mutuamente se nutrir das
energias emanadas do outro. Sem dúvida, a situação caracterizava um processo de
simbiose espiritual, atendendo à lei natural de sintonia, que vigora no
Universo. Poliana, contudo, dava sinais de que sua transformação se avizinhava.
Como a Natureza não dá saltos, os séculos em que juntos perseveraram na prática
criminosa deixaram raízes que a imantavam a Sabino, que somente o tempo e uma
vontade firme e determinada são capazes de extirpar.
4.- Quando Silas diz: "Tu que nos
deste, pelo Cristo, a divina revelação do sofrimento, como sendo o roteiro
de nossa recondução para os Teus
braços...", reconhece a dor como a única libertadora da alma?
R - No estágio evolutivo em que nos situamos,
a dor ainda exerce um relevante papel no nosso progresso. Seria negar a bondade
divina se admitíssemos que a dor é o único instrumento para a libertação do
espírito. No entanto, é preciso entender o momento em que nos encontramos,
ainda situados num patamar de progresso inferior, presos a paixões e vícios
enraizados há séculos em nosso psiquismo. Assim, os resgates pela dor são
feitos na medida exata da necessidade de cada um. A resignação e a aceitação do
sofrimento são, portanto, elementos de impulsão para o nosso crescimento. Jesus
ensinou que bem-aventurados seriam os aflitos, porque serão consolados. Acena,
através desse ensinamento, com uma compensação aos que sofrem com resignação,
ensinando que o sofrimento trazido pela dor deve ser bendito, pois é o início
da cura. Como explica Allan Kardec em "O Evangelho segundo o
Espiritismo", "as dores deste mundo são o pagamento da dívida que as
vossas passadas faltas vos fizeram contrair; suportadas pacientemente na Terra,
essas dores vos poupam séculos de sofrimentos na vida futura. Deveis, pois,
sentir-vos felizes por reduzir Deus a vossa dívida, permitindo que a saldeis
agora, o que vos garantirá a tranqüilidade no porvir".
5.- A prece formulada pelo Instrutor é
atendida depressa pelos envidados do Céu. Temos a certeza de que nossos apelos
serão assim respondidos?
R - A prece, como sabemos, é um dos modos de
nos comunicarmos com o plano espiritual superior para (a) pedir, por nós ou por
outros, (b) agradecer pelo que já recebemos ou estamos recebendo ou (c) para
louvar, quando, sentindo e entendendo a sabedoria, bondade e poder de Deus,
manifestamos-lhe nossa admiração, contentamento e confiança. Estando Deus em
toda a parte e ligado diretamente ao nosso pensamento, a prece nunca se perde e
sempre chega ao seu destino. Praticando-a com sinceridade, estaremos sempre em
contato com o Criador e receberemos a influência dos benfeitores espirituais
que estão a seu serviço. É abençoada luz, assimilando correntes superiores de
força mental que nos auxiliam no resgate ou na ascensão. Quando estamos
expiando algum equívoco do passado, a prece nos auxilia e nos conforta,
dando-nos força e resignação para suportar a provação..
Todavia, é preciso entender que a prece, por
si só, não modifica nem soluciona as dificuldades por que temos que passar, em
decorrência da leis de causa e efeito. As leis Naturais são inflexíveis e se
fazem cumprir automaticamente, por força de um magnetismo que ainda não estamos
aptos a compreender inteiramente. Quando oramos, reunimos energias que nos
fortalecem para o enfrentamento das provas. Não logramos nos furtar delas, mas,
certamente, estamos nos habilitando a poder enfrentá-las com outra disposição
e, até, a obter a sua atenuação. Não derroga mesmo nenhuma das leis divinas. Mas
pode acioná-las em nosso favor. Ao orar, usamos a capacidade de agir e pensar
que Deus nos concede. Se obtivermos resultado favorável é porque o que havíamos
pedido era possível, faltando apenas que movimentássemos nossas forças nesse
sentido, o que fizemos através da prece.
6.- Silas afirma que "as melhoras
adquiridas pela organização perispirítica serão apressadamente assimiladas
pelas
células do equipamento fisiológico".
Podemos ajuntar alguma outra idéia para encher o conceito?
R - O corpo físico é uma organização
material plasmada pelo espírito por intermédio de seu perispírito. Pela
identidade com o perispírito quanto à sua natureza, o fluido cósmico universal
pode lhe fornecer princípios reparadores, que refletirão no corpo físico,
propiciando a sua cura. A cura ou a melhora de uma enfermidade física através
do magnetismo, como o fez Silas em relação a Poliana, pode ser conseguida
através de uma transfusão de energias, por meio do passe magnético e da
magnetização da água. Os fluidos doados ao enfermo fornecem princípios
reparadores ao perispírito, que os repassa ao corpo, mediante a substituição de
uma molécula malsã por uma molécula sadia. O poder curativo está na razão
direta da pureza da substância transfundida. Esse fenômeno se explica pelo fato
de serem o corpo carnal e o perispírito constituídos de elementos extraídos do
fluido cósmico universal, do qual são simples transformações e de onde
também são tirados os fluidos curadores.
A ação curadora é condicionada à energia da
vontade, conforme as intenções do agente que opera a emissão fluídica e a
disposição do enfermo em recebê-la. Quanto maior for a vontade de curar e mais
puros forem os fluidos doados, mais abundante será a emissão fluídica e com
maior poder de penetração. No caso em exame, o agente das energias curadoras
era um espírito dedicado ao bem, que se dedicava com amor ao trabalho de
socorro espiritual. Poliana, por sua vez, tinha consciência do seu papel na
assistência a Sabino e, por isso, desejava a melhora para poder continuar a
servi-lo. Silas aplicou na doente passe magnético e depositou na água que seria
por ela ingerida fluidos medicamentosos, transformando-a no remédio de que
necessitava para obter a melhora desejada.
7.- Sabino permanece engaiolado a um corpo,
preso das suas recordações, respondendo-se a si mesmo. Como descortina André
Luiz os refolhos da sua alma?
R - Sabino se mantinha encapsulado no
próprio íntimo, incapaz de adotar qualquer pensamento que não se reportasse ao
passado que o levou àquela situação. Não foi difícil ao benfeitores, nestas
condições, penetrarem-lhe o pensamento e recolherem as informações necessárias,
através de uma conversa mental. O enfermo percebeu, através das ondas mentais,
as indagações que lhe eram dirigidas por André Luiz e, imediatamente,
respondeu-as através do pensamento.
8.- O Débito Congelado é para o Espírito um
estagio isolado onde a Lei da Justiça dá espaço à Lei da Clemência.
Podemos refletir nesta situação e formular
considerações?
R - Conforme explicou Silas, Sabino se
encontrava de tal modo enclausurado em seu próprio íntimo e em seu pretérito
delituoso que ainda não deixara amadurecer a vontade da renovação que se fazia
necessária. Sua presença consciente na Terra ou no Espaço, explica o
Assistente, provocaria perturbações e tumultos de conseqüências imprevisíveis
para encarnados e desencarnados que com ele viessem a conviver. Em tais
condições, a misericórdia de Deus lhe propiciou desfrutar uma pausa em sua
trajetória de crimes, que lhe serviria como um ensaio de esquecimento, para
que, no futuro, possa se habilitar a resgatar o imenso débito acumulado durante
anos de desatino. Iniciará, então, o seu processo de recuperação, que,
certamente, será feito através de duras expiações que terá de suportar com
resignação e paciência.
Um grande abraço a todos
Equipe CVDEE
Sala André Luiz
Coordenação: eqpal@cvdee.org.br
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