NOSSO LAR 07-06
CVDEE - Centro Virtual de Divulgação e
Estudo do Espiritismo - www.cvdee.org.br - Sala de estudos das obras de
André Luiz
Livro em estudo: Ação e reação
Capítulo: 8
Tema: Preparativos para o retorno
Texto:
8 -
Preparativos para o retorno
O estudo na Mansão era fascinante, mas
reclamava tempo.
No entanto, a oportunidade que nos fora
oferecida era das mais valiosas.
Hilário
e eu solicitamos o assentimento das autoridades a que devíamos consideração e
efetuamos proveitosa entrosagem de serviços, permanecendo sediados no
instituto por alguns meses, de maneira a recolher ensinamentos e fixar observações.
Foi
assim que nos dispusemos a partilhar com Silas o trabalho atinente ao
"processo Antônio Olímpio", a cuja fase inicial assistíramos com
fervoroso interesse.
Após
seis dias sobre a reunião em que ouvimos a palavra de Sânzio, o grande
Ministro, a irmã Alzira veio ao estabelecimento, em obediência ao programa que
Druso passou a traçar para as tarefas que lhe diriam respeito.
Designado pelo diretor da casa, Silas
recebeu-a em nossa companhia, alegando que, juntos, atenderíamos ao problema,
agindo em cooperação.
A nobre criatura, depois das saudações
usuais, esclareceu-nos que, amparada por amigos de certa colônia
socorrista, fazia o possível por ajudar ao filho que deixara na Terra.
Luís, cujo espírito se afinava com os
antigos sentimentos paternos, apegando-se aos lucros materiais exagerados -
informou-nos a interlocutora -, sofria tremenda obsessão no próprio lar.
Sob teimosa vigilância dos tios
desencarnados, que lhe acalentavam a mesquinhez, detinha larga fortuna, sem
aplicá-la em coisa alguma. Enamorara-se do ouro com extremada volúpia.
Submetia a esposa e dois filhinhos, às mais
duras necessidades, receoso de perder os haveres que tudo fazia por defender e
multiplicar. Clarindo e Leonel, não satisfeitos com lhe seviciarem a mente,
conduziam para a fazenda usurários e tiranos rurais desencarnados, cujos
pensamentos ainda se enrodilhavam na riqueza terrestre, para lhe agravarem a
sovinice. Luís, desse modo, respirava num mundo de imagens estranhas, em que o
dinheiro se erigia em tema constante.
Perdera, por isso, o contacto com a
dignidade social. Tornara-se inimigo da educação e acreditava tão-somente no
poder do cofre recheado para solucionar as dificuldades da vida.
Adquirira o doentio temor de todas as
situações em que pudessem surgir despesas inesperadas.
Possuía grandes somas em estabelecimentos
bancários que a própria companheira desconhecia, tanto quanto mantinha em
custódia no lar enormes bens. Fugia deliberadamente à convivência afetiva,
relaxara a própria apresentação individual e encravara-se em deplorável
misantropia, obcecado pelo pesadelo do ouro que lhe consumia a existência.
Em seguida, a distinta senhora, buscando
orientar as nossas futuras atividades, participou-nos que o afogamento dos
cunhados se verificara em seus tempos de recém-casada, quando o filhinho mal
ensaiava os primeiros passos, e que, após seis anos sobre a dolorosa
ocorrência, encontrara, ela também, a desencarnação no lago terrível.
Antônio Olímpio lhe sobrevivera, na esfera
carnal, quase três lustros e, por vinte anos, precisamente, padecia nas trevas.
Luís, dessa forma, alcançava a madureza plena, tendo atravessado os quarenta
anos de experiência física.
Ante a palavra do Assistente, que indagou
quanto aos seus tentames de socorro ao marido desencarnado,
Alzira declarou que isso lhe fora realmente
impossível, porque as vítimas se haviam transformado em carcereiros ferozes do
infeliz delinqüente, e como, até então, não conseguira escudar-se em qualquer
equipe de trabalho assistencial, não lhe permitiam os verdugos qualquer
aproximação. Ainda assim, em ocasiões fortuitas, dispensava ao filho, à nora e
aos dois netos algum amparo, o que se lhe fazia extremamente difícil, de
vez que os obsessores velavam, irredutíveis, guerreando-lhe as influências.
A vista da pausa espontânea que se fizera
em nosso entendimento, num testemunho de comovedora humildade consultou a Silas
se a Mansão poderia facultar-lhe uma visita ao esposo, antes da viagem à
procura do filho, segundo as tarefas programadas.
O Assistente aquiesceu, com o maior
carinho, e guiamo-la, nós três, até o compartimento em que Antônio
Olímpio repousava.
Avizinhando-se-lhe do leito, e ao vê-lo
ainda prostrado e inconsciente, notei que o semblante da nobre senhora acusava
visível alteração. As lágrimas borbulhavam-lhe, incoercíveis, dos olhos, agora
conturbados por imensa dor. Afagou-lhe a cabeça, em que os traços fisionômicos,
a meu ver, se reajustavam, pouco a pouco, e chamou-o pelo nome várias
vezes.
O enfermo abriu os olhos, pousando-os sobre
nós sem qualquer expressão de lucidez, pronunciando monossílabos desconexos.
Registrando-lhe a ruína mental, a notável
mulher pediu a Silas permissão para orar, em nossa companhia, junto do
esposo, o que lhe foi concedido prazerosamente.
Diante da nossa surpresa, Alzira
ajoelhou-se à cabeceira, conchegou-lhe o busto de encontro ao colo, à maneira
de abnegada mãe procurando conservar entre os braços um filhinho doente, e,
levantando os olhos lacrimosos para o Alto, clamou, humilde, segundo a sua fé:
"Mãe Santíssima!
Anjo tutelar dos náufragos da Terra,
compadece-te de nós e estende-nos tuas mãos doces e puras!...
Reconheço, Senhora, que ninguém te dirige,
debalde, a palavra de aflição e de dor...
Sabemos que o teu coração compassivo é luz
para os que se tresmalham nas sombras do crime, e amor para todos os que
mergulham nos abismos do ódio...
Perdoaste aos que te aniquilaram o Filho
Divino nos tormentos da cruz e, além da paciência com que lhes suportaste os
insultos, vieste ainda do Céu, ofertando-lhes braços protetores!
Mãe Bondosa, tu que ergues os caídos de
tantas gerações terrenas e que saras, piedosamente, as feridas de quantos se
petrificaram na crueldade, lança caridoso olhar sobre nós, meu esposo e eu,
jungidos às conseqüências de duplo homicídio que nos fazem sangrar os corações.
Eu e ele estamos enovelados nas teias de nosso delito. Embora estivesse ele sem
mim, nas águas fatídicas, enquanto nossos irmãos experimentavam a asfixia
mortal, sou-lhe partícipe das responsabilidades e identifico-me associada ao
crime, também eu...
Meu esposo, Mãe do Céu, devia ter o coração
envolvido em pesada nuvem, quando se desvairou na estranha deliberação que nos
chagou as consciências...
Para os outros poderá ele ser tido como um
impenitente que se apropriou de recursos alheios, infligindo a morte aos
próprios irmãos, menos para meu filho e para mim, que lhe recebemos os maiores
testemunhos de amor... Para outros, será réu, diante da Lei... Para nós, porém,
é o companheiro e o amigo fiel... Para os outros, parecerá um egoísta sem
direito à remissão, mas, para nós, é o benfeitor que nos assistiu na Terra, com
imensurável ternura...
Como não ser egoísta e criminosa também eu,
Mãe Querida, se lhe usufruí os bens e me alimentei do carinho de seu coração?
como não ser igualmente responsável na culpa, se toda a culpa dele se prendia
ao propósito, embora louco, de assegurar-me superioridade em minha condição de
mulher e de mãe?! . . .
Advoga-nos a causa, Mediadora Celeste!
Faze-nos voltar, juntos, à carne em que
delinqüimos, para que possamos expiar nossos erros!...
Concede-me a graça de segui-lo. como
servidora contente e agradecida, religada a quem devo tanta felicidade! . . .
Reúne-nos novamente no mundo e auxilia-nos
a devolver com lealdade e valor aquilo que roubamos.
Não permitas, Anjo Divino, que venhamos a
sonhar com o Céu, antes de resgatar nossas contas na Terra, e ajuda-nos a
aceitar, dignamente, a dor que reedifica e salva!...
Mãe, atende-nos!
Estrela de nossa vida, arranca-nos da
escuridão do vale da morte!.. "
Diante de nós, o inesperado compelia-nos ao
êxtase.
Enquanto falava em lágrimas, coroara-se
Alzira de safirino esplendor.
A doce claridade a se lhe irradiar do
coração inundara todo o aposento e, assim que a sua voz emudeceu,
embargada e ofegante, excelso jorro de prateada luz desceu do Alto,
atingindo-nos a todos e comunicando-se especialmente ao enfermo, que desferiu
longo gemido de dor humanizada e consciente.
A prece de Alzira lograra um êxito que as
operações magnéticas de Druso não haviam conseguido alcançar.
Antônio Olímpio descerrou desmesuradamente
as pálpebras e mostrou no olhar a lucidez dos que despertam de longo e
torturado sono... Agitou-se, sentindo na face as lágrimas da esposa que o
beijava, enternecida, e bradou, tomado de selvagem contentamento:
- Alzira! Alzira!...
Ela conchegou-o, de encontro ao peito, com
mais ternura, como quem quisesse pacificar-lhe o espírito atormentado, mas, a
um sinal de Silas, dois enfermeiros aproximaram-se, restituindo-o ao sono.
Tentei algo dizer à sublime mulher, cuja
oração nos erguera a tão culminante emotividade, mas não consegui.
Somente aqueles que viajaram, por muitos e
muitos anos, sob a névoa da saudade e da angústia, poderão entender a comoção
que naquela hora nos dominara, irresistível. Procurei observar o semblante
de Hilário, mas meu companheiro mergulhara a cabeça nas mãos e, fitando o
valoroso Assistente, notei que Silas buscava enxugar as lágrimas dos olhos...
Consolei-me.
Os grandes corações daquela casa de amor
igualmente choravam, tanto quanto eu, mísero pecador, em luta por sanar minhas
deficiências e, contemplando Alzira, que se achava agora de pé, acariciando os
cabelos do infeliz, tive a idéia de que um anjo do Céu visitava um penitente do
inferno.
Foi Silas quem nos arrancou ao silêncio,
oferecendo o braço à abnegada irmã, para a saída, e explicando,
prestimoso - A oração trouxe-lhe imenso bem, mas não lhe convém o
despertamento senão gradativo. O sono natural e reparador ainda é uma
necessidade em sua restauração positiva.
Alzira afastou-se como que mais tranqüila,
apesar da flagelação moral do reencontro.
Minutos de valiosa conversação desfrutamos,
ainda, nos diversos setores de trabalho do grande instituto, até que, no
momento aprazado, nos ausentamos, os quatro, devorando o caminho que para
a nossa companheira representava uma senda de retorno ao antigo lar.
Na paisagem terrestre, enchia-se a
madrugada de névoa rala e fria.
De volta aos velhos sítios que lhe haviam
assinalado a dolorosa experiência, Alzira não disfarçava a emoção e que
se via objeto.
Levemente amparada pelo braço de Silas,
designava, aqui e ali, esse ou aquele trecho dos caminhos e pastagens que lhe
evocavam mais expressivas recordações...
De repente, desvelou-se-nos, em estreita
planície, o casario em que se lhe desenvolvera o drama funesto.
Em verdade, o luar revelava sólida
construção em franca decadência.
Extensos pátios laterais exibiam grandes
jardins arruinados pelo pisoteio constante dos bovinos de grande porte.
Porteiras desconjuntadas, tapumes derruídos
e as varandas imundas falavam, sem palavras, da desídia dos moradores.
E entidades estranhas, embuçadas em largos
véus de sombra, transitavam, absortas, nos grandes terreiros, como se
ignorassem a presença umas das outras.
Com o visível receio de se fazer ouvida, a
esposa de Olímpio notificou-nos, em surdina:
- São onzenários desencarnados, trazidos
sub-repticiamente até aqui por Leonel e Clarindo, de modo a fortalecerem a
usura no espírito de meu filho.
- Não nos enxergam? - perguntou Hilário
compreensivelmente intrigado.
- Não - confirmou Silas. - Com certeza nos
identificam a chegada, entretanto, pelo que deduzo, encontram-se demasiadamente
fixados nas idéias em que se mancomunam.
Não se preocupam com a nossa presença,
desde que lhes não penetremos a faixa mental, comungando-lhes os interesses.
- Isso quer dizer - comentei - que se algo
lhes falássemos acerca da fortuna terrena, excitando-lhes o gosto da posse
humana, indiscutivelmente nos dispensariam a melhor atenção...
- Exatamente.
- E por que não o fazer? -inquiriu meu
companheiro, curioso.
- Não nos seria lícito desperdiçar tempo -
respondeu-nos o amigo -, mesmo porque o trabalho que nos compete espera por nós
a reduzidos passos, e ignoramos, até agora, como se nos desdobrarão as tarefas.
Com efeito, entramos e o movimento no
interior doméstico era de pasmar. Desencarnados de horripilante aspecto iam e
vinham, através dos corredores extensos, conversando, aloucados, como se
estivessem falando para dentro de si próprios.
Tentei algo registrar do que me era dado
ouvir e o ouro constituía assunto fundamental de todos os solilóquios a se
entrechocarem sem nexo.
Qual se percebesse, com mais funda
acuidade, as tramas do ambiente, Silas estacou de chofre e, deixando-nos os
três em recuado ângulo de velha sala, ausentou-se, recomendando-nos aguardar-lhe
o retorno, cautelosamente.
Pretendia estudar, com antecipação, nosso
quadro de serviço.
Decorridos alguns minutos, voltou a
buscar-nos.
Conduziu a irmã Alzira para o aposento em
que Adélia, a dona da casa, repousava junto dos filhinhos, explicando que
não era conveniente que Alzira se encontrasse logo com os irmãos transformados
em verdugos, e ali a deixamos sob a custódia de Hilário que,
evidentemente, a contragosto se deixou ficar distanciado de nós,
atendendo aos imperativos de vigilância.
A sós comigo, o Assistente esclareceu que,
para efetuar o socorro com o proveito desejável, precisaríamos, antes de
tudo, saber ouvir e que, em razão disso, procurasse de minha parte não
lhe estorvar as atividades, na hipótese de me sentir assaltado por
qualquer estranheza, diante das atitudes que ele fosse obrigado a assumir.
Compreendi quanto queria Silas dizer e
dispus-me a observar, aprender e contribuir, sem alarde.
Penetramos estreito compartimento, onde
alguém contemplava grandes maços de papel-moeda, acariciando-os com um
sorriso malicioso.
No intuito de trazer-me bem informado, o
Assistente segredou-me ao ouvido:
- Este é Luís, que, desligado do corpo pela
influência do sono, vem afagar o dinheiro que lhe nutre as paixões.
Tínhamos pela frente um homem maduro, mas
de fisionomia ainda moça, relaxado nas maneiras, cujos olhos parados sobre as
cédulas encimavam-lhe a esquisita expressão de cobiça vitoriosa.
Relanceou apressadamente o olhar em volta,
com a indiferença de quem não nos conseguia ver, e, tão logo após um minuto de
observação nossa, qual se estivera ele vigiado por cérberos invisíveis, dois
homens desencarnados, de presença desagradável, penetraram no pequeno recinto
e, dirigindo-se desabridamente para nós, um deles interrogou:
- Quem são? quem são vocês?
- Somos amigos - replicou Silas,
maquinalmente.
- Bem - aventou o outro -, nesta casa
ingressam somente aqueles que saibam valorizar o dinheiro...
E, designando Luís, acrescentou:
- Para que ele não se esqueça de preservar
a fortuna que é nossa.
Intuitivamente concluí que encarávamos com
Leonel e Clarindo, os irmãos espoliados de outro tempo.
Certo, porque lhes devêssemos algum
esclarecimento à expectativa feroz com que nos seguiam os mínimos movimentos,
Silas ajuntou:
- Sim, sim... quem não estimará os haveres
que lhe pertençam?
- Muito bem! muito bem!... - responderam,
satisfeitos, ambos os perseguidores, esfregando as mãos, na alegria de quem
supostamente encontrava mais combustível para a fogueira de vingança a que se
entregavam com desvario espantoso.
E, adquirindo imediata confiança em nós,
ante as palavras com que o Assistente lhes sossegara a inquietação, Clarindo, o
mais brutalizado dos dois, passou a dizer:
- Fomos vítimas de terrível traição e
perdemos o corpo aos golpes de um irmão infeliz que nos pilhou os bens, e aqui
estamos para o desforço justo.
Gargalhou de estranha maneira e acentuou:
- O maldito, porém, acreditou que a morte
lhe apagaria o crime e que nós, os desventurados que lhe sucumbimos às mãos,
estaríamos reduzidos a pó e cinza. Apossou-se-nos dos haveres, depois de
promover um acidente espetacular, no qual fomos por ele assassinados sem
compaixão. De que lhe valeu, no entanto, gozar à nossa custa, se a morte não
existe e se os delinqüentes, no corpo ou fora dele, estão algemados às
conseqüências das suas ações? O bandido sofrerá os resultados da infâmia contra
nós e aqui respira o filho dele, cujos menores movimentos governaremos, até que
nos restitua a fortuna de que somos legítimos senhores...
Por tempo relativamente longo, ambos
despenderam largo repertório de lamentações, reforçando as cores do sinistro
painel mental a que se acomodavam. E, talvez cansados de martelar nas mesmas
alegações, sem qualquer resposta de nossa parte, confiaram-se a pausa mais
dilatada, que Clarindo rompeu, dirigindo-se ao Assistente em tom amargo:
- Não admitem vocês que temos razão?
- Sim - aprovou Silas, enigmático -, todos
temos razão, entretanto...
- Entretanto? - atalhou Leonel, algo cínico
- quererá, porventura, interferir em nossos propósitos?
- Nada disso - consertou meu amigo com
inflexão jovial. - Desejo simplesmente lembrar que por dinheiro já lutei
excessivamente, crendo que o direito prevalecia de meu lado...
Certo porque a observação algo dúbia
chocava os interlocutores, o chefe de nossa expedição valeu-se da
expectativa natural e perguntou:
- Amigos, vemos que esta casa permanece
largamente povoada de irmãos nossos ensandecidos... Serão todos eles credores
desta família infortunada?
O olhar inteligente que o companheiro me
endereçou deu-me a perceber que o inquérito afetuoso guardava o objetivo de
entreter a confiança dos vingadores intrigados.
Leonel, que me parecia o cérebro da empresa
delituosa, foi presto na resposta.
- É que, até agora - falou, impassível -,
precisávamos dividir o tempo entre pai e filho, e, por isso, localizamos aqui,
temporariamente, os onzenários enlouquecidos que, fora do campo carnal,
apenas mentalizam o ouro e os bens a que se afeiçoaram no mundo, de modo a nos
favorecerem a tarefa. Acompanhando o sovina que nos obedece ao comando,
constrangem-no a viver, tanto quanto possível, com a imaginação aprisionada ao
dinheiro que ele ama com tresloucada paixão.
- No entanto, presentemente - informou
Clarindo, magoado -, o criminoso que sitiávamos nas trevas nos foi arrebatado à
vigilância.
Disporemos de mais tempo para acelerar a
nossa desforra. Pagará o filho dobrado preço, já que o assassino foi ocultado
aos nossos olhos...
Longe de qualquer precipitação na defesa da
verdade e do bem, o Assistente falou, calmo:
- O esclarecimento nos faz crer que este
homem, e designou Luís, que prosseguia fascinado pelos maços de cédulas
da gaveta abarrotada -, além do apego enfermiço à precária riqueza humana,
ainda sofre a pressão de outras mentes, alucinadas quanto a dele, nos enganos
da posse material. Neste caso, o doentio desejo de que se sente objeto é
naturalmente elevado à tensão máxima...
Leonel, percebendo que Silas penetrava o
âmago do problema com surpreendente facilidade, explicou, entusiasmado:
- Sim, aprendemos nas escolas de vingadores
(4) que todos possuímos, além dos desejos imediatistas comuns, em qualquer fase
da vida, um "desejo-central" ou "tema básico" dos
interesses mais íntimos. Por isso, além dos pensamentos vulgares que nos
aprisionam a experiência rotineira, emitimos com mais freqüência os pensamentos
que nascem do "desejo-central" que nos caracteriza, pensamentos esses
que passam a constituir o reflexo dominante de nossa personalidade. Desse modo,
é fácil conhecer a natureza de qualquer pessoa, em qualquer plano, através das
ocupações e posições em que prefira viver. Assim é que a crueldade é o reflexo
do criminoso, a cobiça é o reflexo do usurário, a maledicência é o reflexo do
caluniador, o escárnio é o reflexo do ironista e a irritação é o reflexo do
desequilibrado, tanto quanto a elevação moral é o reflexo do santo...
Conhecido o reflexo da criatura que nos propomos retificar ou punir é,
assim, muito fácil superalimentá-la com excitações constantes, robustecendo-lhe
os impulsos e os quadros já existentes na imaginação e criando outros que se
lhes superponham, nutrindo-lhe, dessa forma, a fixação mental. Com esse
objetivo, basta alguma diligência para situar, no convívio da criatura malfazeja
que precisamos corrigir, entidades outras que se lhe adaptem ao modo de sentir
e de ser, quando não possamos por nós mesmos, à falta de tempo, criar as telas
que desejemos, com vistas aos fins visados, por intermédio da determinação
hipnótica. Através de semelhantes processos, criamos e mantemos facilmente o
"delírio psíquico" ou a "obsessão", que não passa de um
estado anormal da mente, subjugada pelo excesso de suas próprias criações a
pressionarem o campo sensorial, infinitamente acrescidas de influência direta
ou indireta de outras mentes desencarnadas ou não, atraídas por seu próprio
reflexo.
(4) Refere-se a entidade a organizações
mantidas por Inteligências criminosas, homiziadas temporariamente nos planos
inferiores. - (Nota do Autor espiritual.)
E, sorrindo, o inteligente perseguidor
disse, sarcástico:
- Cada um é tentado exteriormente pela
tentação que alimenta em si próprio.
De mim mesmo, achava-me perplexo. Nunca
ouvira um verdugo, aparentemente vulgar, com tanto conhecimento e consciência
de seu papel.
Figurava-se-me assistir a um curso rápido
de sadismo mental, extravagante e frio.
Silas, mais treinado que eu, no trato com
os amigos daquela condição, não exteriorizou qualquer sentimento de pesar ou de
assombro, na fisionomia serena.
Entremostrando, porém, grande interesse em
torno da preleção, considerou:
- Indiscutivelmente, a exposição é
perfeita. Cada qual de nós vive e respira nos reflexos mentais de si mesmo,
angariando as influências felizes ou infelizes que nos mantêm na situação que
buscamos... Os Céus ou as Esferas Superiores são constituídos pelos reflexos
dos Espíritos santificados e o inferno...
- É o reflexo de nós mesmos - completou
Leonel com uma gargalhada.
Creio que, em me assinalando o interesse no
aprendizado em curso, o Assistente pediu ao irmão de Clarindo alguma
demonstração prática do que afirmara teoricamente para nosso estudo, ao que ele
assentiu com prazer, informando:
- O avarento sob nossa vista guarda o
propósito de comprar ou extorquir determinada gleba vizinha, a qualquer preço,
mesmo em se tratando de transação criminosa, para valorizar as aguadas da
propriedade que nos pertence. Tratando-se de assunto no tema essencial da
existência dele, que é a cobiça, facilmente recolherá as imagens que eu lhe
deseje transmitir, utilizando-me da própria onda mental em que as suas idéias
habitualmente se exprimem...
E, passando das palavras para a ação,
colocou a destra sobre a fronte de Luís, mantendo-se na profunda atenção do
hipnotizador governando a presa.
Vimos o pobre amigo, desligado do corpo
físico, arregalar os olhos com a volúpia do faminto que contempla um
prato saboroso, a distância, e exibir uma carantonha de maldade satisfeita,
falando a sós:
- Agora! agora! as terras serão minhas!
muito minhas! Ninguém concorrerá com meus preços! ninguém!...
Logo após, afastou-se, lépido, com a
expressão indefinível de um louco.
Acompanhamo-lo até à saída e, da extensa
varanda, podíamos vê-lo, avançando, à pressa, desaparecendo, por
fim, no grande maciço de arvoredo próximo, na direção de fazendola fronteiriça.
- Viram? - exclamou Leonel, contente - transmiti-lhe
ao campo mental um quadro fantástico, através do qual as terras do vizinho
estariam em leilão, caindo-lhe, enfim, nas unhas. Bastou que eu mentalizasse
uma tela nesse sentido, arquitetando o sítio à venda, para que ele a tomasse
por realidade indiscutível, porquanto, em se tratando de nosso reflexo
fundamental, somos induzidos a crer naquilo que desejamos aconteça...
Tão logo termine o fluxo controlado de
minha influenciação hipnótica, retomará o corpo carnal, lambendo os beiços, na
certeza de haver sonhado com a falência da granja sobre a qual pretende um
título de posse.
Silas, com manifesta intenção, ajuntou,
sereno:
- Ah! sim!... Estamos diante de um processo
de transmissão de imagens, até certo ponto análogo aos princípios dominantes na
televisão, no reino da eletrônica, atualmente em voga no plano terrestre.
Sabemos que cada um de nós é um fulcro gerador de vida, com qualidades
específicas de emissão e recepção. O campo mental do hipnotizador, que cria no
mundo da própria imaginação as formas-pensamentos que deseja exteriorizar, é
algo semelhante à câmara de imagem do transmissor comum, tanto quanto esse
dispositivo é idêntico, em seus valores, à câmara escura da máquina
fotográfica. Plasmando a imagem da qual se propõe extrair o melhor
efeito, arroja-a sobre o campo mental do hipnotizado que, então, procede à
guisa do mosaico em televisão ou à maneira da película sensível do serviço
fotográfico. Não ignoramos que na transmissão de imagens, a distância, o
mosaico, recolhendo os quadros que a câmara está explorando, age como um
espelho sensibilizado, convertendo os traços luminosos em impulsos elétricos e
arremessando-os sobre o aparelho de recepção que os recebe, através de antenas
especiais, reconstituindo com eles as imagens pelos chamados sinais de vídeo, e
recompondo, dessa forma, as cenas televisadas na face do receptor comum. No
problema em estudo, você, Leonel, criou os quadros que se propôs transmitir ao
pensamento de Luís, e, usando as forças positivas da vontade, coloriu-os com os
seus recursos de concentração na sua própria mente, que funcionou como câmara
de imagem. Aproveitando a energia mental, muito mais poderosa que a força
eletrônica, projetou-os, como legítimo hipnotizador, sobre o campo mental de
Luís, que funcionou qual mosaico, transformando as impressões recebidas em
impulsos magnéticos, a reconstituírem as formas-pensamentos plasmadas por você
nos centros cerebrais, por intermédio dos nervos que desempenham o papel de
antenas específicas, a lhes fixarem as particularidades na esfera dos sentidos,
num perfeito jogo alucinatório, em que o som e a imagem se entrosam
harmoniosamente, como acontece na televisão, em que a imagem e o som se
associam com o apoio eficiente de aparelhos conjugados, apresentando no
receptor uma seqüência de quadros que poderíamos considerar como sendo
"miragens técnicas".
Os vingadores, tanto quanto eu mesmo,
registraram o esclarecimento, sumamente surpreendidos.
O Assistente, psicólogo, valera-se de
argumentação à altura da que assinaláramos na boca de Leonel, certamente
para cientificá-lo de que ele também, Silas, conhecia os processos da obsessão
em suas minudências.
Leonel, admirado, abraçou-o e exclamou:
- Companheiro, companheiro, de que escola
procede você? Sua inteligência interessa-nos.
O chefe de nossa expedição pronunciou
alguns monossílabos e chamou-me à retirada, pretextando serviço a fazer.
Os irmãos, avezados à rebeldia, permutaram
estranho olhar, como a dizerem entre si que pertencíamos a algum núcleo
infernal distante e que lhes não convinha molestar-nos.
Insistiram, porém, conosco a que
retornássemos no dia seguinte para a troca de idéias, ao que Silas anuiu com
evidente satisfação.
Mais alguns minutos e o Assistente, em
minha companhia, retirou Alzira e Hilário para o exterior, colocando-nos
todos de regresso à Mansão.
O prestimoso servidor do bem, na viagem de
volta, mantinha-se silencioso, pensando, pensando...
Contudo, diante de minha perplexidade,
aclarou, fraterno:
- Não, André. Ainda é cedo para apresentar
Alzira aos infortunados verdugos. Pela conversação de Leonel, percebi que
cruzamos o caminho de duas vigorosas inteligências, cuja modificação inicial há
de ser feita com amor para realizar-se com segurança. Voltaremos amanhã, sem a
presença de nossa amiga, para um entendimento mais estável e, por isso mesmo,
mais valioso.
Passei, desse modo, a esperar ansiosamente
pelo dia seguinte.
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Questões
O capítulo nos relata
basicamente a história causal para a preparação de novas experiências.
O relato se dá, em face da
lei de causa e efeito, aos aspectos de nossos pensamentos, nossas afinidades,
nosso apego aos bens materiais, nossas atitudes e nossas livres escolhas
gerando as consequências que lhe são pertinentes.
Dentro do capítulo percebemos
alguns vários assuntos: afinidade, vibração, pensamento, fixação mental, apego
material, conhecimento "intelectual", influenciação hipnótica,
formas-pensamento, o desejo, obsessão, oração, intercessão.
QUESTÕES
PROPOSTAS PARA ESTUDO:
1) "Luís, cujo espírito se afinava com
os antigos sentimentos paternos, apegando-se aos lucros materiais exagerados -
informou-nos a interlocutora -, sofria tremenda obsessão no próprio lar. "
1a - Comentar sobre afinidade: o que é?
como se dá? quais seus efeitos?
1b - Comentar sobre obsessão: o que é? como
se dá? que tipo podemos perceber no caso narrado no capítulo? Quais suas
consequências?
1c - Comentar sobre o apego excessivo aos
bens materiais
2) " Registrando-lhe a ruína mental, a
notável mulher pediu a Silas permissão para orar, em nossa companhia,
junto do esposo, o que lhe foi concedido prazerosamente."
2a - Comente a oração: o que é? quais seus
benefícios? quais seus efeitos?
3) " E entidades estranhas, embuçadas
em largos véus de sombra, transitavam, absortas, nos grandes terreiros,
como se ignorassem a presença umas das outras.
Com o visível receio de se fazer ouvida, a
esposa de Olímpio notificou-nos, em surdina:
- São onzenários desencarnados, trazidos
sub-repticiamente até aqui por Leonel e Clarindo, de modo a fortalecerem a
usura no espírito de meu filho.
- Não nos enxergam? - perguntou Hilário
compreensivelmente intrigado.
- Não - confirmou Silas. - Com certeza nos
identificam a chegada, entretanto, pelo que deduzo, encontram-se demasiadamente
fixados nas idéias em que se mancomunam.
Não se preocupam com a nossa presença,
desde que lhes não penetremos a faixa mental, comungando-lhes os interesses.
- Isso quer dizer - comentei - que se algo
lhes falássemos acerca da fortuna terrena, excitando-lhes o gosto da posse
humana, indiscutivelmente nos dispensariam a melhor atenção...
- Exatamente."
3a - comente sobre a fixação mental: o que
é? quais seus efeitos?
3b - comente sobre faixa mental.
4) "Com efeito, entramos e o movimento
no interior doméstico era de pasmar. Desencarnados de horripilante aspecto iam
e vinham, através dos corredores extensos, conversando, aloucados, como
se estivessem falando para dentro de si próprios."
4a - comente sobre ambiente espiritual
doméstico
5) "- Este é Luís, que, desligado do
corpo pela influência do sono, vem afagar o dinheiro que lhe nutre as
paixões."
5a - comente sobre desligamento do corpo
pela influência do sono: o que é? como ocorre? quais seus aspectos?
6) " - Sim, aprendemos nas escolas de
vingadores (4) que todos possuímos, além dos desejos imediatistas comuns, em
qualquer fase da vida, um "desejo-central" ou "tema
básico" dos interesses mais íntimos. Por isso, além dos pensamentos
vulgares que nos aprisionam a experiência rotineira, emitimos com mais
freqüência os pensamentos que nascem do "desejo-central" que nos
caracteriza, pensamentos esses que passam a constituir o reflexo dominante de
nossa personalidade. Desse modo, é fácil conhecer a natureza de qualquer
pessoa, em qualquer plano, através das ocupações e posições em que prefira
viver. Assim é que a crueldade é o reflexo do criminoso, a cobiça é o reflexo
do usurário, a maledicência é o reflexo do caluniador, o escárnio é o reflexo
do ironista e a irritação é o reflexo do desequilibrado, tanto quanto a
elevação moral é o reflexo do santo... Conhecido o reflexo da criatura
que nos propomos retificar ou punir é, assim, muito fácil superalimentá-la com
excitações constantes, robustecendo-lhe os impulsos e os quadros já existentes
na imaginação e criando outros que se lhes superponham, nutrindo-lhe, dessa
forma, a fixação mental. Com esse objetivo, basta alguma diligência para
situar, no convívio da criatura malfazeja que precisamos corrigir, entidades
outras que se lhe adaptem ao modo de sentir e de ser, quando não possamos por
nós mesmos, à falta de tempo, criar as telas que desejemos, com vistas aos fins
visados, por intermédio da determinação hipnótica. Através de semelhantes
processos, criamos e mantemos facilmente o "delírio psíquico" ou a
"obsessão", que não passa de um estado anormal da mente, subjugada
pelo excesso de suas próprias criações a pressionarem o campo sensorial, infinitamente
acrescidas de influência direta ou indireta de outras mentes desencarnadas ou
não, atraídas por seu próprio reflexo.
(...)
- Cada um é tentado exteriormente pela
tentação que alimenta em si próprio."
6a - comente sobre desejo: o que é? qual
sua ligação com o pensamento? quais suas consequências?
7) "- Viram? - exclamou Leonel,
contente - transmiti-lhe ao campo mental um quadro fantástico, através do
qual as terras do vizinho estariam em leilão, caindo-lhe, enfim, nas unhas.
Bastou que eu mentalizasse uma tela nesse sentido, arquitetando o sítio à
venda, para que ele a tomasse por realidade indiscutível, porquanto, em se
tratando de nosso reflexo fundamental, somos induzidos a crer naquilo que
desejamos aconteça... "
7a - Comente sobre: (a) transmissão de imagens,
(b) formas-pensamento, (c) influenciação hipnótica.
8) Comente sobre a seguinte
assertiva: "Pela conversação de Leonel, percebi que cruzamos o caminho de
duas vigorosas inteligências, cuja modificação inicial há de ser feita com amor
para realizar-se com segurança"
Lembrando que vc pode participar:
respondendo às questões propostas( a uma, a duas, a mais e/ou a todas); pode
trazer seu comentário sobre o capítulo estudado; pode fazer novas indagações;
trazer suas dúvidas; trazer textos elucidativos sobre o assunto estudado;
enfim, desde que dentro do tema proposto, pode participar como achar melhor,
ok?;-)
Conclusão:
Livro em estudo: Ação e reação
Tema: Capítulo 8 -
Preparativos para o retorno (Conclusão)
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1) "Luís, cujo espírito se afinava com
os antigos sentimentos paternos, apegando-se aos lucros materiais exagerados - informou-nos
a interlocutora -, sofria tremenda obsessão no próprio lar. "
1a) Comentar sobre afinidade: o que é? Como
se dá? Quais seus efeitos?
R - Em Espiritismo, podemos definir
afinidade como uma relação resultante da semelhança de ações e pensamentos
praticados por dois ou mais espíritos, estejam eles encarnados ou
desencarnados. Diz-se, então, que se tratam de espíritos afins, pois alimentam
idéias da mesma natureza, coincidindo os mesmos gostos e sentimentos. O efeito
da relação de afinidade entre os espíritos é a sintonia mental, que é a
ressonância psíquica entre espíritos afins, imantando-se pelo pensamento e
vinculando-se magneticamente uns aos outros. Dessa forma, identificam-se quanto
à faixa vibratória em que transitam. Conforme ensinamento dos Espíritos, pela
Lei de Afinidade, os semelhantes se atraem, os diferentes se repulsam e os
positivos predominam sobre os negativos.
1b) Comentar sobre obsessão: o que é? Como
se dá? Que tipo podemos perceber no caso narrado no capítulo? Quais suas
conseqüências?
R -
Podemos definir a obsessão como a ação persistente que um espírito mau,
encarnado ou desencarnado, exerce sobre outro, que também pode se encontrar
encarnado ou não, levando-o a adotar pensamentos diferentes dos que
habitualmente pratica.
Apresenta características que vão desde as
simples influência moral, sem sinais exteriores, até a perturbação completa do
organismo físico e das faculdades mentais da vítima. Decorre sempre de uma
imperfeição moral do obsidiado, que permite, pela sintonia, a ascendência de um
espírito mau. No caso em questão, Luís, por seus pensamentos e sentimentos
apegados aos valores materiais, sem qualquer preocupação com os valores morais,
permitiu a sintonia e, em conseqüência, a influência de espíritos que, como
ele, sustentavam paixões de natureza inferior.
1c) Comentar sobre o apego excessivo aos
bens materiais.
R - O apego excessivo aos bens materiais,
ainda muito presente na humanidade terrena, é reflexo do estágio evolutivo em
que se encontram os espíritos a ela vinculados. É irmão siamês do egoísmo. Do
ponto de vista espiritual, as suas conseqüências estendem-se até após a
desencarnação, provocando um desequilíbrio no espírito que está iniciando uma
nova passagem pelo mundo espiritual. Para aqueles cuja vida foi toda voltada
para as coisas materiais, às quais se manteve excessivamente apegado, o
desprendimento do espírito em relação ao corpo físico é mais demorado e penoso.
Pode durar dias, semanas e até meses ou anos. O caso de Luís é um exemplo
disso. Desdobrado em relação ao corpo físico pelo sono, quando o espírito vive,
temporariamente, uma vida semelhante à que levará após deixar a matéria, buscou
a companhia do dinheiro, sinalizando o que certamente viria acontecer após a
desencarnação, caso não se modificasse. Devemos usufruir, sim, dos bens
materiais, utilizando-os como instrumentos indispensáveis ao cumprimento dos
nossos compromissos terrenos e ao nosso progresso. Porém, devemos estar sempre
conscientes de que esta é uma circunstância passageira e de que, a qualquer
momento, podemos ser chamados a partir para uma nova forma de vida, deixando na
Terra todos os bens materiais que acumulamos. Devemos utilizá-los, sim, mas sem
apego, atribuindo-lhes um valor relativo às nossas necessidades, para que não
fiquemos presos a eles e tornemos o momento da partida um instante de
sofrimento, que se prolongará durante a vida no plano espiritual.
2) "Registrando-lhe a ruína mental, a
notável mulher pediu a Silas permissão para orar, em nossa companhia,
junto do esposo, o que lhe foi concedido prazerosamente."
2a) Comente a oração: o que é? Quais seus
benefícios? Quais seus efeitos?
R - A prece é um dos modos de nos
comunicarmos com o plano espiritual superior para (a) pedir, por nós ou por
outros, (b) agradecer pelo que já recebemos ou estamos recebendo e (c) para
louvar, quando, sentindo e entendendo a sabedoria, bondade e poder de Deus,
manifestamos-lhe nossa admiração, contentamento, confiança.
Estando Deus em toda a parte e ligado
diretamente ao nosso pensamento, a prece nunca se perde e sempre chega ao seu
destino. Deve refletir um sentimento sincero, vindo de dentro. Não é necessário
proferir palavras convencionais. Como ensinou Jesus, "quando orares,
entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está oculto; e teu
Pai, que vê em segredo, te recompensará." Praticando a prece,
estaremos sempre em contato com o Criador e receberemos a influência dos
benfeitores espirituais que estão a seu serviço. É abençoada luz, assimilando
correntes superiores de força mental que nos auxiliam no resgate ou na
ascensão, ou seja, quando estamos expiando algum equívoco do passado, a prece
nos auxilia, nos conforta, dando-nos força e resignação para suportar a
provação; quando estamos no serviço edificante que nos elevará, não só nos
fortifica para que prossigamos no trabalho, como nos dá a intuição e a
inspiração para que melhor possamos desempenhar nossa missão.
A prece, por si só, não modifica nem
soluciona as dificuldades por que temos que passar, em decorrência das leis de
causa e efeito. As leis Naturais são inflexíveis e se fazem cumprir
automaticamente, por força de um magnetismo que ainda não estamos capacitados a
compreender inteiramente. No entanto, quando oramos, reunimos energias que nos
fortalecem para o enfrentamento das provas. Não logramos nos furtar delas, mas,
certamente, estaremos nos habilitando para poder enfrentá-las com outra
disposição e, até, atenuá-las. Não derroga mesmo nenhuma das leis divinas. Mas
pode acioná-las em nosso favor. Ao orar, usamos a capacidade de agir e pensar
que Deus nos concede. Se obtivermos resultado favorável é porque o que havíamos
pedido era possível, faltando apenas que movimentássemos nossas forças nesse
sentido, o que fizemos com a oração.
3) "E entidades estranhas, embuçadas
em largos véus de sombra, transitavam, absortas, nos grandes terreiros,
como se ignorassem a presença umas das outras.
Com o visível receio de se fazer ouvida, a
esposa de Olímpio notificou-nos, em surdina:
- São onzenários desencarnados, trazidos
sub-repticiamente até aqui por Leonel e Clarindo, de modo a fortalecerem a
usura no espírito de meu filho.
- Não nos enxergam? - perguntou Hilário
compreensivelmente intrigado.
- Não - confirmou Silas. - Com certeza nos
identificam a chegada, entretanto, pelo que deduzo, encontram-se demasiadamente
fixados nas idéias em que se mancomunam.
Não se preocupam com a nossa presença,
desde que lhes não penetremos a faixa mental, comungando-lhes os interesses.
- Isso quer dizer - comentei - que se algo
lhes falássemos acerca da fortuna terrena, excitando-lhes o gosto da posse
humana, indiscutivelmente nos dispensariam a melhor atenção...
- Exatamente."
3a) Comente sobre a fixação mental: o que
é? Quais os seus efeitos?
R - Fixação mental, como a própria
expressão dá a entender, é a atitude adotada pelo espírito que o leva a deter
seu psiquismo em determinado fato do passado. Quando ocorre, o espírito abstrai-se
de tudo o mais acontecido em sua existência para viver unicamente em função
desse fato. Para o espírito se encontra nessa situação, a presença da
vítima é constante em seu pensamento, com os fatos passados aparecendo com
freqüência em sua tela mental. Abstrai-se de tudo o mais que acontece em sua
existência, mantendo seu psiquismo fixado unicamente em torno do fato que a
gerou.
3b) Comente sobre faixa mental.
R - Podemos entender como "faixa
mental" a zona fluídica em que o espírito se situa em razão dos atos e
pensamentos que pratica. De acordo com a faixa mental em que se situará, o
espírito irá se sintonizar com espíritos bons ou com maus espíritos,
por eles sendo influenciados. O espírito,
mesmo enquanto encarnado, irradia ao seu redor, envolvendo-se numa espécie de
atmosfera fluídica. Através do pensamento, o espírito atua sobre esses fluidos.
Os fluidos que o envolvem guardam relação direta com a natureza de seus
pensamentos. Os maus pensamentos corrompem os fluidos que estão à sua volta, do
mesmo modo que os pensamentos bons, resultantes de seu adiantamento moral, são
tão puros quanto o seu grau de perfeição. A faixa mental em que o espírito se
situará, portanto, é definida pela natureza de seus pensamentos. Essa
identidade se dá através do perispírito, cuja constituição é formada de
elementos extraídos dos fluidos espirituais.
4) "Com efeito, entramos e o movimento
no interior doméstico era de pasmar. Desencarnados de horripilante aspecto iam
e vinham, através dos corredores extensos,
conversando, aloucados, como se estivessem falando para dentro de si
próprios."
4a) Comente sobre ambiente espiritual
doméstico
R - Segundo André Luiz, no livro
"Nosso Lar", "o lar é o sagrado vórtice onde o homem e a mulher
se encontram para o entendimento indispensável." Assim, são reunidos no
mesmo ambiente familiar devedores em resgate de antigos compromissos para o
reajuste indispensável. Para que esses compromissos sejam atendidos, é
importante que os espíritos envolvidos contem
com um ambiente espiritual que favoreça aos
ajustes devidos. A manutenção de uma psicosfera propícia se consegue através da
sintonia com os bons espíritos, o que somente obtemos se praticarmos
pensamentos e sentimentos elevados, abstermo-nos de conversas infamantes,
programas televisivos apelativos ao sexo ou à violência e de hábitos viciosos.
É importante, também, dedicarmo-nos diariamente à prece e nos habituarmos ao
culto do Evangelho no lar, que é também um instrumento poderoso de,
transformação do lar numa fortaleza espiritual, trazendo para a nossa
convivência os bons espíritos.
5) "- Este é Luís, que,
desligado do corpo pela influência do sono, vem afagar o dinheiro que lhe nutre
as paixões."
5a) Comente sobre desligamento do corpo
pela influência do sono: o que é? Como ocorre? Quais seus aspectos?
R - Todos os dias, enquanto o corpo físico
dorme, afrouxam-se os laços fluídicos que o prendem ao espírito, que dele se
desprende, temporariamente. O espírito, então, fica ligado ao corpo físico por
um laço fluídico conhecido como "cordão de prata", indispensável para
mantê-lo reencarnado e que somente é rompido no momento da desencarnação.
Durante esse período, o espírito passa a viver a verdadeira vida, que é a
espiritual, lançando-se ao espaço e indo a vários lugares, onde pode se
encontrar com aqueles que lhe são afins por afeição ou desafeição, encarnados
também liberados pelo sono físico ou desencarnados. As companhias espirituais
bem como as ações que praticaremos durante o sono serão aquelas com as quais
mantemos afinidades de pensamentos, sentimentos e desejos. No caso que estamos
estudando, Luís, devido ao seu apego aos valores materiais, foi ao encontro do
dinheiro que guardava, pois, como ensinou Jesus, "onde está o teu tesouro,
aí está o teu coração".
6) "- Sim, aprendemos nas escolas de
vingadores (4) que todos possuímos, além dos desejos imediatistas comuns, em
qualquer fase da vida, um "desejo-central" ou "tema
básico" dos interesses mais íntimos. Por isso, além dos pensamentos
vulgares que nos aprisionam a experiência rotineira, emitimos com mais
freqüência os pensamentos que nascem do "desejo-central" que nos
caracteriza, pensamentos esses que passam a constituir o reflexo dominante de nossa
personalidade. Desse modo, é fácil conhecer a natureza de qualquer pessoa, em
qualquer plano, através das ocupações e posições em que prefira viver. Assim é
que a crueldade é o reflexo do criminoso, a cobiça é o reflexo do usurário, a
maledicência é o reflexo do caluniador, o escárnio é o reflexo do ironista e a
irritação é o reflexo do desequilibrado, tanto quanto a elevação moral é o
reflexo do santo... Conhecido o reflexo da criatura que nos propomos
retificar ou punir é, assim, muito fácil superalimentá-la com excitações
constantes, robustecendo-lhe os impulsos e os quadros já existentes na
imaginação e criando outros que se lhes superponham, nutrindo-lhe, dessa forma,
a fixação mental. Com esse objetivo, basta alguma diligência para situar, no
convívio da criatura malfazeja que precisamos corrigir, entidades outras que se
lhe adaptem ao modo de sentir e de ser, quando não possamos por nós mesmos, à
falta de tempo, criar as telas que desejemos, com vistas aos fins visados, por
intermédio da determinação hipnótica. Através de semelhantes processos, criamos
e mantemos facilmente o "delírio psíquico" ou a "obsessão",
que não passa de um estado anormal da mente, subjugada pelo excesso de suas
próprias criações a pressionarem o campo sensorial, infinitamente acrescidas de
influência direta ou indireta de outras mentes desencarnadas ou não, atraídas
por seu próprio reflexo.
(...)
- Cada um é tentado exteriormente pela
tentação que alimenta em si próprio."
6a) Comente sobre desejo: o que é? Qual sua
ligação com o pensamento? Quais suas conseqüência?
R - O desejo é a vontade de possuir ou de
gozar de determinada coisa. Como bem frisou o obsessor no trecho acima citado,
demonstrando conhecer o psiquismo humano, além do desejo que manifestamos
conscientemente, alimentamos o que ele denominou um "desejo central"
ou "tema básico dos interesses mais íntimos". Esse desejo, que se
manifesta de modo inconsciente e, às vezes, até contrariamente aos nossos
objetivos imediatos, reflete a natureza dos nossos pensamentos e o nível de
evolução em que nos situamos, tornando-se um espelho da nossa personalidade.
Através das nossas ações e dos nossos pensamentos, é possível conhecer esse
"desejo central" e, em conseqüência, a nossa natureza. Esta
circunstância é decisiva para definir as nossas companhias espirituais e as
influências às quais estaremos sujeitos, do que podem se aproveitar espíritos
obsessores. Com efeito, os espíritos obsessores não nos criam imperfeições para
dela se utilizarem. Simplesmente, utilizam-se das imperfeições que cultivamos
ao longo de nossas existências físicas. O caso em estudo é um exemplo disso.
Leonel, o principal agente obsessor de Luis, explica que se aproveitará de seu
apego ao dinheiro para nutrir a fixação mental em torno dele,
"robustecendo-lhe os impulsos e os quadros já existentes na imaginação e
criando outros que se lhes superponham".
Conclui afirmando que "através de
semelhantes processos, criamos e mantemos facilmente o delírio psíquico ou a
obsessão."
7) "- Viram? - exclamou Leonel,
contente - transmiti-lhe ao campo mental um quadro fantástico, através do
qual as terras do vizinho estariam em leilão, caindo-lhe, enfim, nas unhas.
Bastou que eu mentalizasse uma tela nesse sentido, arquitetando o sítio à
venda, para que ele a tomasse por realidade indiscutível, porquanto, em se
tratando de nosso reflexo fundamental, somos induzidos a crer naquilo que
desejamos aconteça... "
7a) Comente sobre: (a) transmissão de
imagens, (b) formas-pensamento, (c) influenciação hipnótica.
R - Segundo explicação do assistente Silas,
a transmissão de imagens se dá através da energia mental, por meio da qual o
obsessor, agindo como hipnotizador, projeta sobre o campo mental do obsidiado
os quadros que deseja transmitir. O campo mental do obsidiado funciona
"qual mosaico, transformando as impressões recebidas em impulsos
magnéticos, a reconstituírem as formas-pensamentos plasmadas nos centros
cerebrais, por intermédio dos nervos que desempenham o papel de antenas
específicas, a lhes fixarem as particularidades na esfera dos sentidos, num
perfeito jogo alucinatório, em que o som e a imagem se entrosam
harmoniosamente, como acontece na televisão, em que a imagem e o som se
associam com o apoio eficiente de aparelhos conjugados, apresentando no
receptor uma seqüência de quadros que poderíamos considerar como sendo miragens
técnicas."
Formas-pensamento são criações mentais do
espírito, que se materializam através do fluido vital e se exteriorizam por
meio de ondas magnéticas que se propagam pelo espaço como raios. Os fluidos são
o veículo do pensamento, que atua sobre eles como o som sobre o ar. Mergulhando
no fluido cósmico universal, as formas-pensamento são transportadas a
distâncias ilimitadas, chegando às mentes de encarnados e desencarnados. Com
isso, cria um vínculo fluídico entre os que têm afinidade por pensamentos da
mesma natureza, numa troca de valores mentais de idênticas qualidades.
A influencia hipnótica é a ação de um
agente ativo em relação ao passivo, sugestionando-lhe uma ação ou um
pensamento.
8) Comente sobre a seguinte assertiva:
"Pela conversação de Leonel, percebi que cruzamos o caminho de duas vigorosas
inteligências, cuja modificação inicial há de ser feita com amor para
realizar-se com segurança"
R - Como comentou André Luiz, os
benfeitores espirituais não estavam, ali, lidando com um obsessor comum.
Tratava-se de obsessor que conhecia o psiquismo humano, suas fraquezas e a
forma de utilizá-las para atingir o seu intento. Era um espírito endurecido e
fixado no desejo de vingança, porém não um ignorante. Pela força da palavra,
com argumentos puramente racionais e ainda que com fundamentos evangélicos, o
Assistente percebeu que nada conseguiria de positivo. Somente através da
poderosa arma do amor os obsessores poderiam ser vencidos. Apenas os envolvendo
num sentimento que talvez jamais tenham experimentado poderiam ser convencidos
da necessidade de mudança de comportamento, o que beneficiaria não somente
Luis, a vítima de suas ações mas a eles próprios, pois fomos criados para
amarmos uns aos outros e é no amor que encontraremos a felicidade definitiva
acenada por Jesus.
Um grande abraço a todos e muita paz.
Equipe CVDEE
Sala André Luiz
Coordenação: eqpal@cvdee.org.br
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