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segunda-feira, 8 de junho de 2015

09  esboço de o livro dos médiuns

C B - Aula 09 - Esboco De # O Livro Dos Mediuns(2).doc 14-33

Allan Kardec - O Livros dos Médiuns - Parte Segunda - Manifestações Espíritas - cap. 3 - Manifestações Inteligentes

COMO OCORRERAM AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES?

Voltaremos a tratar com mais detalhes desse assunto e das causas que muitas vezes tornam os exorcismos ineficazes nos capítulos 9 e 23, dos Lugares assombrados e Obsessão.

91 Esses fenômenos, embora produzidos por Espíritos inferiores, muitas vezes são provocados por Espíritos de uma ordem mais elevada, com o objetivo de demonstrar a existência deles e de um poder superior ao homem. A repercussão que resulta disso e o próprio temor que causam chamam a atenção e acabam por abrir os olhos dos mais incrédulos. Estes acham mais simples considerar os fenômenos à conta da imaginação, explicação mais cômoda e que dispensa outras; entretanto, quando objetos são empurrados ou lançados à cabeça, é preciso ter uma imaginação bem complacente para concluir que semelhantes coisas são imaginárias, quando não o são. Se há um efeito qualquer, esse efeito tem necessariamente uma causa. Se uma observação calma e fria nos demonstra que esse efeito é independente de toda vontade humana e de toda causa material e se além disso nos dá sinais evidentes de inteligência e de livre vontade, o que é o sinal mais característico, forçoso será atribuí-lo a uma inteligência oculta. Quem são esses seres misteriosos? É o que os estudos espíritas nos ensinam do modo claro, graças aos meios que nos dão de nos comunicarmos com eles. Por outro lado, esses estudos nos ensinam a separar o que há de real, falso e exagerado nos fenômenos que não presenciamos. Se um efeito estranho acontece, como ruído, movimento ou a própria aparição, o primeiro pensamento que se deve ter é que se trata de uma causa natural, por ser a mais provável; então, é preciso procurar a causa com muito cuidado e admitir a intervenção dos Espíritos somente após uma averiguação séria; é o meio de não se iludir. Se uma pessoa, por exemplo, sem haver ninguém por perto, recebesse uma bofetada ou uma paulada nas costas, como já aconteceu, não poderia duvidar da presença de um ser invisível.

Devemos nos precaver não somente contra os relatos que podem ser mais ou menos exagerados, mas também contra nossas próprias concepções, criações mentais, e não atribuir origem oculta a tudo o que não se compreende. Uma infinidade de causas muito simples e muito naturais podem produzir efeitos estranhos à primeira vista, e seria verdadeiramente superstição ver em todos os lugares Espíritos ocupados em derrubar móveis, quebrar louças, enfim, suscitar mil e um inconvenientes no lar, quando é mais racional atribuí-los a descuidos.

92 A explicação do movimento dos corpos inertes se aplica, naturalmente, a todos os efeitos espontâneos que acabamos de ver. Os ruídos, embora mais fortes do que as batidas na mesa, têm a mesma origem; a mesma força que desloca pode erguer ou atirar qualquer objeto. Uma circunstância vem em apoio a essa teoria.

Poderíamos perguntar onde está o médium nessa circunstância. Os Espíritos nos disseram que, nesse caso, sempre há alguém cuja mediunidade se exerce sem o seu conhecimento. As manifestações espontâneas se produzem muito raramente em locais isolados; acontecem geralmente em casas habitadas e na presença de algumas pessoas, que exercem uma influência necessária sem o querer; essas pessoas são verdadeiros médiuns que ignoram o dom que possuem e que chamamos, por isso mesmo, de médiuns naturais. São para os outros médiuns o que os sonâmbulos naturais são para os sonâmbulos magnéticos, e do mesmo modo interessantes de observar.

93 A intervenção voluntária ou involuntária de uma pessoa dotada de um dom para a produção dos fenômenos parece ser necessária na maioria dos casos, embora algumas vezes o Espírito parece agir sozinho; mas nesses casos tira o fluido animalizado de outros lugares, e não de uma pessoa presente. Explica-se assim porque os

Espíritos que nos rodeiam não produzem perturbações a cada instante. Primeiramente, é preciso que o Espírito o queira, que tenha um objetivo, um motivo; sem isso, ele não faz nada. Depois, é preciso que encontre exatamente no lugar em que gostaria de agir uma pessoa apta a ajudá-lo, coincidência que ocorre muito raramente. Se essa pessoa aparecer no local inesperadamente, ele tira proveito disso. Apesar do conjunto de circunstâncias favoráveis, ele pode ainda ser impedido por uma vontade superior, que não lhe permite agir a seu modo. Pode ser-lhe permitido fazê-lo apenas dentro de certos limites e caso essas manifestações sejam julgadas úteis, seja como meio de convicção ou como prova para a pessoa.

94 Citaremos a esse respeito o diálogo que mantivemos com o Espírito de São Luís sobre os fatos que se passaram em junho de 1860 na rua de Noyers, em Paris. Os pormenores estão na Revista Espírita, número de agosto de 1860.

1. (A São Luís) Tereis a bondade de nos dizer se os fatos acontecidos na rua de Noyers são reais? Quanto à possibilidade, não temos dúvida.

Sim, são fatos verdadeiros; somente a imaginação das pessoas os exageraram, pelo medo ou pela ignorância; mas, repito, são verdadeiros. Essas manifestações são provocadas por um Espírito que se diverte um pouco à custa dos moradores do local.

2. Há, na casa, uma pessoa que seja a causa dessas manifestações?

Elas sempre são causadas pela presença da pessoa visada; é que o Espírito perturbador se irrita com o habitante do lugar e quer lhe fazer maldades ou mesmo procurar desalojá-lo.

3. Perguntamos se, entre os habitantes da casa, há algum que seja a causa desses fenômenos por efeito de mediunidade espontânea e involuntária?

É necessário; sem isso o fato não poderia acontecer. Um Espírito habita um endereço de sua predileção e permanece inativo enquanto não encontra uma natureza que lhe seja conveniente nesse lugar; quando essa pessoa chega, então se diverte o quanto pode.

4. A presença dessa pessoa no próprio lugar é indispensável?

Esse é o caso mais comum, e é o do caso citado; por isso disse que sem ela o fato não poderia acontecer; mas não quis generalizar; pode acontecer de a presença no local não ser necessária.

5. Sabendo que esses Espíritos são sempre de uma ordem inferior, a aptidão de lhes servir de auxiliares é uma indicação desfavorável para a pessoa? Isso anuncia uma simpatia para com os seres dessa natureza?

Não necessariamente, porque essa aptidão está ligada a uma disposição física; entretanto, isso muitas vezes anuncia uma tendência material que seria preferível não ter; pois, quanto mais elevado moralmente, mais o homem atrai bons Espíritos, que afastam necessariamente os maus.

6. Onde os Espíritos conseguem os objetos para atirar?

Esses diversos objetos são, na maioria das vezes, apanhados nos próprios lugares ou na vizinhança; uma força do Espírito os lança no espaço, e eles caem no local que ele quer.

7. Uma vez que as manifestações espontâneas geralmente são permitidas e até mesmo provocadas com o objetivo de convencer, parece-nos que, se alguns incrédulos as vivessem pessoalmente, seriam forçados a se render à evidência. Algumas vezes, queixam-se de não poderem testemunhar fatos conclusivos; não dependeria dos Espíritos lhes dar alguma prova sensível?

Os ateus e os materialistas não são a cada instante testemunhas dos efeitos do poder de Deus e do pensamento? Isso não os impede de negar Deus e a alma. Os milagres de Jesus converteram todos os seus contemporâneos? Os fariseus que lhe diziam: Mestre, fazei-nos ver algum prodígio não se parecem com os que, em vossa época, pedem para que lhes façais ver manifestações? Se não são convencidos pelas maravilhas da criação, não o seriam mesmo se os Espíritos lhes aparecessem do modo mais evidente, porque seu orgulho os torna como animais empacados. Ocasiões de ver não lhes faltarão, se as procurarem de boa-fé, e é por isso que
Deus não julga fazer por eles mais do que faria pelos que procuram se instruir sinceramente, porque Ele recompensa apenas os homens de boa vontade. Sua incredulidade não impedirá que a vontade de Deus se realize. Vede bem que ela não impediu que a Doutrina se expandisse. Parai de vos inquietar com a oposição que vos fazem; ela está para a Doutrina como a sombra está para uma pintura em tela: só lhe dá maior realce. Que méritos teriam ao serem convencidos pela força? Deus lhes deixa toda a responsabilidade por sua teimosia, e a responsabilidade será mais terrível do que pensais. Bem-aventurados os que crêem sem ter visto, disse Jesus, porque esses não duvidam do poder de Deus.

8. Poderia nos ser útil evocar aquele Espírito para lhe pedir algumas explicações?

Evocai-o, se quiserdes; mas é um Espírito inferior, que dará apenas respostas bastante insignificantes.

95 Entrevista com o Espírito perturbador da rua de Noyers.

1. Evocação.

O que quereis para me chamar? Quereis que vos jogue pedras? Então se veria um belo salve-se-quem-puder, apesar de vosso ar de bravura.

2. Se atirásseis pedras aqui, isso não nos assustaria, e pedimos, positivamente, que as arremessais.

Aqui talvez não pudesse; tendes um guardião que cuida bem de vós.

3. Na rua de Noyers, havia uma pessoa que te servia de auxiliar para te facilitar as malvadezas que cometias com os moradores da casa?

Certamente; encontrei um bom instrumento e nenhum Espírito instruído, sábio e virtuoso para me impedir, pois sou alegre e, às vezes, adoro me divertir.

4. Quem foi a pessoa que te serviu de instrumento?
Uma criada.

5. Era sem o saber que ela te servia de auxiliar?

Oh, sim. Pobre moça! Era a mais assustada.

6. Agias com um objetivo hostil?

Eu não tinha nenhum objetivo hostil; mas os homens, que se apoderam de tudo, torceram os fatos em seu proveito.

7. O que entendes por isso? Não te compreendemos.

Procurava me divertir, mas vós outros estudareis a coisa e tereis um fato a mais para mostrar que existimos.

8. Dizes que não tinhas um objetivo hostil e, no entanto, quebraste todos os vidros do apartamento, causando um prejuízo real?

É um detalhe.

9. Onde conseguiste arranjar os objetos que atiraste?

São muito comuns; encontrei-os no pátio, nos jardins vizinhos.

10. Encontraste-os todos ou fabricaste algum? (Veja o capítulo 8,

Laboratório do mundo invisível).

Não criei nada, não compus nada.

11. Se não os tivesses encontrado, poderias fabricá-los?

Teria sido mais difícil; mas, a rigor, misturam-se matérias, e isso faz qualquer coisa.

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