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quarta-feira, 10 de junho de 2015

09  esboço de o livro dos médiuns

16-33

Allan Kardec - O Livros dos Médiuns - Parte Segunda - Manifestações Espíritas - cap. 5 - Manifestações Físicas Espontâneas

O FENÔMENO DE TRANSPORTE É UM DOS QUE MAIS SE PRESTAM À FRAUDE

Fenômenos de Transporte

96 O fenômeno de transporte difere dos que acabamos de citar apenas pela intenção benevolente do Espírito que o causa, pela natureza dos objetos quase sempre graciosos e pela maneira carinhosa e muitas vezes delicada com que são transportados. Consiste no transporte espontâneo de objetos que não existem no lugar onde se encontram; muitas vezes são flores; algumas vezes são frutas, bombons, jóias etc.

97 Primeiramente, diremos que esse fenômeno é um dos que se prestam mais à fraude e que por conseguinte é preciso se manter em guarda contra a trapaça. Sabe-se até onde pode chegar a arte da mágica quando se trata de experiências desse gênero; ainda que não tenhamos de enfrentar um profissional nessa arte, podemos ser facilmente enganados numa manobra hábil a serviço de interesse. A melhor de todas as garantias está no caráter, na honestidade notória, no desinteresse absoluto da pessoa que obtém semelhantes efeitos; em segundo lugar, no exame atento de todas as circunstâncias em que e como os fatos se produzem; enfim, no conhecimento esclarecido do Espiritismo, que pode descobrir o que for suspeito.
98 A teoria do fenômeno de transporte e das manifestações físicas em geral se encontra resumida, de maneira notável, na dissertação seguinte, de um Espírito cujas comunicações têm uma marca incontestável de profundidade e lógica. Muitas outras aparecerão no decorrer desta obra. Faz-se conhecer sob o nome de Erasto, discípulo de São Paulo, e como Espírito protetor do médium que lhe serviu de intérprete:

Necessariamente, é preciso, para obter fenômenos dessa natureza, dispor de médiuns que chamaria de sensitivos, ou seja, dotados do mais alto grau das faculdades mediúnicas de expansão e de penetrabilidade; porque o sistema nervoso desses médiuns, facilmente excitável, lhes permite, por meio de algumas vibrações, projetar ao redor de si uma grande quantidade de seu fluido animalizado.

As naturezas impressionáveis, as pessoas cujos nervos vibram ao menor sentimento, à menor sensação, que a influência moral ou física, interna ou externa, sensibiliza, são as mais aptas a se tornarem excelentes médiuns de efeitos físicos de tangibilidade e de transporte. De fato, seu sistema nervoso, quase inteiramente desprovido do envoltório refratário que isola esse sistema na maioria dos outros encarnados, torna-os apropriados para a realização dos diversos fenômenos. Em consequência, com uma pessoa dessa natureza, e cujas outras faculdades não sejam hostis à mediunização, mais facilmente se obterão os fenômenos da tangibilidade, as batidas nas paredes e nos móveis, os movimentos inteligentes e mesmo a suspensão no espaço da matéria inerte mais pesada. Com mais facilidade se obterão esses resultados se, em vez de um só, se tiver à mão muitos outros bons médiuns.

Mas da produção dos fenômenos à obtenção dos transportes há todo um mundo a vencer; porque, nesse caso, não somente o trabalho do Espírito é mais complexo, mais difícil, como também o Espírito só pode atuar por meio de um único aparelho mediúnico, ou seja, muitos médiuns não podem participar simultaneamente para a produção do mesmo fenômeno. Acontece mesmo, ao contrário, de a presença de certas pessoas, antipáticas ao Espírito que atua, impedir radicalmente a ação. É por esse motivo que, como vedes, é importante acrescentar que os transportes necessitam sempre de uma maior concentração e, ao mesmo tempo, uma maior difusão de certos fluidos, que somente podem ser obtidos com médiuns mais bem dotados, aqueles, em uma palavra, cujo aparelho eletromediúnico é o de melhores condições.

Em geral, os fatos de transporte são e serão excessivamente raros. Não tenho necessidade de vos demonstrar porque são e serão menos frequentes do que os outros fatos de tangibilidade; do que disse, vós mesmos o deduzireis. Aliás, esses fenômenos são de uma natureza tal que nem todos os médiuns são próprios nem todos os Espíritos podem produzi-los. De fato, é preciso que entre o Espírito e o médium exista certa afinidade, certa analogia, numa palavra, certa semelhança, que permita à parte expansível do fluido perispirítico do encarnado se misturar, se unir, se combinar com a do Espírito que quer fazer um transporte. Essa fusão deve ser tal que a força dela resultante torne-se, por assim dizer, una; do mesmo modo que uma corrente elétrica, ao agir sobre o eletrodo, produz um foco, uma claridade única. Direis: por que essa união, por que essa fusão? É que, para a produção dos fenômenos de transporte, é preciso que as propriedades essenciais do Espírito agente sejam aumentadas com algumas do mediunizado; isso porque o fluido vital, indispensável para a produção de todos os fenômenos mediúnicos, é uma particularidade exclusiva do encarnado; por conseguinte, o Espírito operador é obrigado a se impregnar dele. Só assim ele pode, por meio de certas propriedades de vosso meio ambiente, desconhecidas para vós, isolar, tornar invisíveis e fazer mover alguns objetos materiais e os próprios encarnados.

Não me é permitido, no momento, vos revelar as leis particulares que regem os gases e os fluidos que vos rodeiam; mas, antes que os anos sejam decorridos, antes que uma existência do homem se tenha esgotado, a explicação das leis e dos fenômenos vos será revelada, e vereis surgir e se desenvolver uma nova variedade de médiuns, que cairão num estado cataléptico* particular desde que sejam mediunizados.

Vede de quantas dificuldades a produção de transportes se encontra cercada; disso podeis concluir muito logicamente que os fenômenos dessa natureza são excessivamente raros, como já disse, e com maior razão porque os Espíritos a eles se prestam muito pouco, porque isso necessita, por parte deles, de um trabalho quase material, o que causa aborrecimento e fadiga. De outro lado, ainda ocorre que, apesar de sua energia e de sua vontade, frequentemente o próprio estado do médium lhe opõe uma barreira intransponível.

É, portanto, evidente, e vosso raciocínio compreenderá, não duvido disso, que os fatos tangíveis das pancadas, dos movimentos e da suspensão são fenômenos simples, que se realizam pela concentração e dilatação de certos fluidos e que podem ser provocados e obtidos pela vontade e pelo trabalho dos médiuns que são aptos para isso, ajudados pelos Espíritos amigos e benevolentes; ao passo que os fatos de transporte são múltiplos, complexos, exigem uma condição de circunstâncias especiais, podem se operar apenas por um único Espírito e um único médium e necessitam, além da tangibilidade, de uma combinação toda particular de recursos para isolar e tornar invisível o objeto, ou os objetos, em ação no transporte.

Todos vós, espíritas, compreendeis minhas explicações e aprendeis perfeitamente o que seja essa concentração de fluidos especiais para a locomoção e a tatilidade da matéria inerte; acreditais nisso, como acreditais nos fenômenos da eletricidade e do magnetismo, com os quais os fatos mediúnicos são plenos de analogia e dos quais são, por assim dizer, a confirmação e o desenvolvimento. Quanto aos incrédulos e aos sábios, estes piores do que os incrédulos, não tenho que os convencer e não me ocupo com eles; um dia serão convencidos pela força da evidência; será preciso então que se inclinem diante do testemunho unânime dos fatos espíritas, como foram forçados a fazer diante de tantos outros fatos que de início rejeitaram.

Para resumir: enquanto os fatos da tangibilidade são frequentes, os de transporte são muito raros, porque as condições para se realizarem são muito difíceis; por conseguinte, nenhum médium pode dizer: a qualquer hora, em qualquer momento, obterei um transporte; porque muitas vezes o próprio Espírito se encontra impedido de fazê-lo. Devo acrescentar que esses fenômenos são duplamente difíceis de se realizar em público, onde quase sempre se encontram elementos energicamente refratários, que anulam os esforços do Espírito e, com maior razão, a ação do médium. Tende, ao contrário, a certeza de que eles se produzem quase sempre em particular, espontaneamente, muitas vezes à revelia do médium e sem premeditação e muito raramente quando estes estão prevenidos. Por isso deveis concluir que há motivo legítimo de suspeita toda vez que um médium se gabar de obtê-los à vontade ou dizer que comanda os Espíritos como servidores, o que é simplesmente absurdo. Tende, ainda, como regra geral, que os fenômenos espíritas não são fatos para serem dados em espetáculo e para divertir os curiosos. Se alguns Espíritos se prestam a dar espetáculos, só pode ser para os fenômenos simples, e não para aqueles que, como o de transporte e outros semelhantes, exigem condições excepcionais.

Lembrai-vos, espíritas, que é absurdo repelir sistematicamente todos os fenômenos do além-túmulo e que também não é prudente aceitá-los cegamente. Quando um fenômeno de tangibilidade, de aparição, de visibilidade ou de transporte se manifesta espontaneamente e de forma instantânea, aceitai-o; mas nunca será demais vos repetir para não aceitar nada cegamente; que cada fato seja analisado num exame minucioso, aprofundado e severo; porque, crede, o Espiritismo, tão rico em fenômenos sublimes e grandiosos, não tem nada a ganhar com essas pequenas manifestações que hábeis mágicos podem imitar.
Sei muito bem o que ides dizer-me: é que esses fenômenos são úteis para convencer os incrédulos; mas sabei que, se não tivésseis outros meios de convicção, não teríeis hoje a centésima parte dos espíritas que tendes.

Falai ao coração, é por aí que fareis mais conversões sérias. Se acreditais útil, para algumas pessoas, agir pelos fatos materiais, apresentai-os pelo menos em circunstâncias que não possam dar lugar a nenhuma falsa interpretação e, principalmente, não vos afasteis das condições normais e desses fatos, porque os fatos apresentados em condições que geram dúvidas fornecem argumentos aos incrédulos, em vez de os convencer.

Erasto

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