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sábado, 4 de outubro de 2008

FRANCISCO DE ASSIS: 800 ANOS

Ayrton Xavier

Profundo mistério marca a vida de Francisco de Assis ante a inexplicável explosão de luz à volta de seus passos, espalhando-se pelo mundo inteiro.

É praticamente unânime, por toda parte, o reconhecimento de sua contribuição à harmoniosa convivência entre todas as criaturas e povos do planeta. O Pobrezinho de Assis se transformou em símbolo universal de humildade, solidariedade humana, exemplo de verdadeiro amor, modelo de consciência ecológica para os séculos do porvir, expressão renovadora da mensagem do Cristo, fazendo ressurgir a sua revolucionária mensagem mais de um milênio depois da sua crucificação.

Examinando sua trajetória espiritual é possível alcançar alguma compreensão sobre as origens de semelhante fenômeno espiritual, com raízes assentadas nas memórias ancestrais do pensamento cristão.

Seu cântico das criaturas encontra semelhanças marcantes com as lições ensinadas pelo profeta Daniel, precursor do Rabi da Galiléia. Trechos completos do profeta Joel soam como sinais antigos anunciando as palavras do Apocalipse, atribuído ao apóstolo João, encarnação precedente de Francisco.

O mais jovem dos discípulos de Jesus guardava a recordação do momento em que assistiu a seu batismo, no Jordão, cercado de manifestações extraordinárias: o sinal luminoso, em forma de uma pomba, descendo sobre o Messias; a voz direta brotando dos céus (epifania), anunciando ao mundo a presença do Mestre, entre nós.

Na mente poderosa de Francisco estariam guardadas as palavras do Cristo, registradas com intensa emoção, ainda quando encarnado na personalidade do jovem João, quando o Mestre ordenava a seus discípulos: “Ide e pregai, anunciando o Reino dos Céus! Não leveis ouro nem prata, nem duas túnicas, nem sandálias. O trabalhador é digno de seu alimento”.

Francisco guardaria ainda as inesquecíveis palavras de Jesus, na última ceia, ele como o jovem João, de ouvido colado ao peito de seu Mestre amado, acompanhando-lhe o coração a bater forte: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros, como eu muito vos tenho amado! Nisto todos hão de reconhecer que sois meus discípulos”.

Quem poderia avaliar a intensidade da reverberação, na alma de Francisco de Assis, da presença tão viva do Cristo, ecoando em seu coração e no âmago da consciência, mais de um milênio antes. Não seria essa a voz interior que o exortava a manter a alegria, quando aprisionado por quase um ano nas masmorras da Perúsia, derrotado e preso na luta em defesa da gente pobre de Assis contra a nobreza dos perusianos?

 

Adiante, ouviu a Voz a interromper-lhe a primeira noite de repouso, no começo da jornada para alinhar-se em defesa do papa Inocêncio III, na Apúlia, a dizer-lhe: “Francisco, retorna a Assis e aguarda minhas instruções! Deves esquecer o papa, servo do Senhor, para seguir ao próprio Senhor!” Depois, em Espoleto, de olhos fixos na imagem do Cristo crucificado, ouviu-lhe a voz, mais uma vez, a dizer-lhe:

 

“Vê, Francisco, minha igreja está em ruínas. Restaura-a!”

Sob o impulso de tantas memórias e chamadas ostensivas à retomada da caminhada nas mesmas trilhas de seu Mestre, foi que o “Poverello” foi firmando seus passos, até o momento em que, 800 anos atrás, verdadeira explosão de luz eclodiu em seu coração. Foi no ano de 1208, na região da Úmbria, que o jovem Francisco se lançou ao mundo. O fato se deu na capelinha de Santa Maria dos Anjos, minúsculo terreno chamado “Porciúncula”, junto a Assis, que os beneditinos haviam entregue a Francisco, para reforma, depois de concluídos os trabalhos na igrejinha de São Damião e da ermida de São Pedro.

Meses depois, concluída a obra em Porciúncula, o “Pobrezinho” acompanhava a singela cerimônia comemorativa, quando ouviu a leitura do Evangelho (palavras do próprio evangelista João, capítulo 5, versículo 9): “Vão e saiam a pregar! Não levem dinheiro, nem provisões, nem sandálias.

Uma túnica lhes basta. Vivam do próprio trabalho. Procurem famílias honradas e peçam-lhes hospedagem, a dizer: – Que a Paz esteja nesta casa!”

Explodiu-lhe a emoção contida por mais de mil anos. Finda a missa, reuniu os primeiros doze; os seguidores foram se chegando e em poucos anos já eram milhares.

Como dizia Francisco, como passarinhos, o Pai cuidava de cada um deles.

Seria este o segredo daquela multiplicação?

O zelo de Francisco foi recomendar a vivência diária da Boa Nova como regra fundamental de vida, tal como adotado desde a Proto-Régula da Ordem Franciscana, que se alastrou pelo mundo.

Decorridos oito séculos, as homenagens ao Pobrezinho de Assis nos estimulam ao despertar de consciências, na busca da Paz, em todos os quadrantes do mundo.

 

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Sábado, 23/8/2008 no 2108

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