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sábado, 29 de novembro de 2008

19 A GÊNESE

OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO

ALLAN KARDEC


DEUS


A VISÃO DE DEUS


             
Por que não vemos Deus? Se ele está em toda parte, por que não o vemos? Dar-se-á possamos vê-lo quando deixarmos a Terra? São perguntas que se formulam todos os dias, partindo-se do princípio que se crê em Deus e na alma.

             Facilmente se pode responder a primeira questão. Os nossos órgãos visuais possuem percepções limitadas e por isso são inaptos à visão de certas coisas, mesmo materiais. Alguns fluidos nos fogem totalmente à visão e aos instrumentos de análise e não duvidamos da existência deles; vemos, por exemplo,os corpos em movimentos sob a influência da força de gravitação, mas não vemos essa força.

             Assim também os nossos órgãos materiais não podem perceber as coisas de essência espiritual. Unicamente com a visão espiritual podemos ver as coisas do mundo imaterial. Portanto, somente a nossa alma pode ter a percepção de Deus. Dar-se-á que ela o veja logo após a morte? Como saber? Somente as comunicações de além túmulo podem nos instruir. Por elas sabemos que a visão de Deus constitui privilégio das almas purificadas e que bem poucas ao deixarem o envoltório terrestre, se encontram no grau de desmaterialização necessária a tal efeito.

              Assim como uma pessoa que se encontre no fundo de um vale envolvido por densa bruma não vê o Sol, mas pela luz difusa percebe que está fazendo sol e, ao subir a montanha, à medida que vai ascendendo o nevoeiro se torna menos denso até que finalmente ao passar a camada brumosa vê o Sol em sua plenitude, o Espírito, também vai se elevando em moralidade. As imperfeições da alma são quais camadas nevoentas que lhe obscurecem a visão. Cada imperfeição de que ela se desfaz é uma mácula a menos; todavia, só depois de se haver depurado completamente é que goza da plenitude de suas faculdades. Há que se fazer menção para o entendimento do exemplo da existência do perispírito invólucro constituído de matéria quitessenciada, isto é sutil, diferente da matéria bruta e que por isso que escapa aos nossos sentidos e que é o liame, laço fluídico através do qual o espírito se liga ao seu corpo material, isto é o corpo de matéria bruta e com ele interage. Com a evolução do espírito em moralidade, o que se dá nas suas múltiplas encarnações esse invólucro também vai se tornando menos denso, menos grosseiro.

             "Sendo Deus a essência divina por excelência, unicamente os Espíritos que atingiram o mais alto grau de desmaterialização o podem perceber. Pelo fato de não o verem não se segue que os Espíritos imperfeitos estejam mais distantes dele do que os outros; esses Espíritos, como os demais, como todos os seres da Natureza se encontram mergulhados no fluido divino, do mesmo modo que nós o estamos na luz. O que há é que as imperfeições daqueles espíritos são vapores que os impedem de vê-lo. Quando o nevoeiro se dissipar, vê-lo-ão resplandecer. Para isso não é preciso subir nem procura-lo nas profundezas do infinito. Desimpedida a visão espiritual eles o verão de todo lugar onde se achem, mesmo da Terra, porque Deus está em toda parte.

             O Espírito só se depura com o tempo, sendo as diversas encarnações o alambique em cujo fundo deixa de cada vez algumas impurezas. Com o abandonar seu corpo material, não se despoja instantaneamente de suas imperfeições, razão porque , depois da morte não vêem a Deus mais do que viam quando vivos. Não o vêem, mas compreendem-no melhor; é a luz menos difusa.

             Nenhum homem, conseguintemente, pode ver a Deus com os olhos da carne. Se essa graça fosse concedida a alguns, só o seria no estado de êxtase, quando a alma se acha tão desprendida dos laços da matéria que torna possível o fato durante a encarnação. Tal privilégio, aliás, exclusivamente pertenceria a almas de eleição, encarnadas em missão e não em expiação. Mas como os Espíritos da mais elevada categoria refulgem de ofuscante brilho, pode dar-se que Espíritos menos elevados, encarnados ou desencarnados, maravilhados com o esplendor de que aqueles se mostram cercados, suponham estar vendo o próprio Deus.

             Sob que forma se apresenta Deus aos que se tornaram dignos de vê-lo? Será sob uma forma qualquer? Sob uma figura humana ou como um foco resplendente de luz? A linguagem humana é impotente para dize-lo, porque não existe para nós nenhum ponto de comparação capaz de nos facultar uma idéia de tal coisa. Somos quais cegos de nascença a quem procurassem inutilmente fazer compreendessem o brilho do Sol. A nossa linguagem é limitada pelas nossas necessidades e pelo círculo de nossas idéias; a dos selvagens não poderia descrever as maravilhas da civilização; a dos povos mais civilizados é extremamente pobre para descrever os esplendores dos céus, a nossa muito restrita para compreender e a nossa vista, por muito fraca, ficaria deslumbrada."

Denizart Castaldeli
Outubro 2003

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