CAPÍTULO V: BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
ITENS 12 e 13: MOTIVOS DE RESIGNAÇÃO
Segundo dicionários, resignação é ( Houais) " submissão à vontade de alguém ou ao destino". ( Caldas Aulete) (Fig) " Submissão aliada à constância e paciência em face dos infortúnios, coragem para suportar os rigores dos infortúnios, constância numa situação sem que se reaja contra ela, ou sem que o paciente se lamente dela." (Aurélio ).. "Submissão paciente aos sofrimentos da vida."
Submissão é (Houais) "disposição para obedecer, para aceitar uma situação de subordinação, docilidade, obediência, subalternidade. ( Aurélio) "disposição para aceitar um estado de dependência."
Como vemos, a resignação implícita nas Bem-Aventuranças de Jesus e mais esclarecidas pelo espiritismo não está em desacordo com as definições acima.
Resignar-se é submeter-se, voluntariamente, às leis de Deus, por reconhecer que sendo Ele, o Absoluto na perfeição, causa de tudo que existe, não comete erros ou enganos e Suas leis sábias e amorosas são as que nos levam à felicidade.
Embora possam essas definições ser interpretadas pela aceitação passiva, podem também ser interpretadas pela submissão racional, lógica e ativa de quem se sente seguro e confiante no Pai e Criador.
Mesmo na definição de Caldas Aulete, a frase “sem que se reaja contra ela" pode ser interpretada como não reagir com revolta, com desespero, mas não coibindo ações para resolver a situação de infortúnio, para tentar amenizá-la, superá-la.
Se assim não fora, Deus não teria dado a seus filhos a inteligência, a razão, que os levam a querer tudo conhecer, a transformar, a criar.
A resignação preconizada pelo espiritismo é submissão ativa, fruto do entendimento dos objetivos da vida e dos seres. Submeter-se aos sofrimentos próprios da vida, compreendendo-os como merecidos e necessários ao desenvolvimento do Espírito imortal é viver, otimisticamente, pela certeza da justiça das leis naturais e do futuro de felicidade que o espera.
É compreender a promessa de Jesus quando oferta as bem-aventuranças aos que sofrem, aos aflitos. É chorar pela dor, mas sorrir pela benção da oportunidade de ressarcimento de dívidas do passado, entregando-se à vontade do Pai.
É colocar o pensamento na libertação que virá após, amenizando, somente com essa certeza, as agruras do momento.
"A resignação é a coragem da virtude." (Cairbar Schutel: Parábolas e Ensinos de Jesus, Clarim, décima edição, pag.137.)
São, pois vários os motivos que podem levar o homem à resignação nos sofrimentos e dificuldades da vida. Resumindo-os:
- Confiança em Deus e na Sua sabedoria e amor. Se nós, homens ainda tão imperfeitos, queremos o melhor para nossos filhos, Ele, A Perfeição absoluta, não pode querer menos. Se nós, pela nossa imperfeição, nem sempre sabemos, exatamente, o que é melhor para nossos filhos, Ele sabe, pela Sua onisciência, e faz pela Sua onipotência. Aceitar e compreender - o quanto possível - Deus “inteligência suprema e causa primária de todas as coisas” parece-me ser a primeiro motivo para ser resignado nas dificuldades naturais do viver na Terra.
- Compreender e aceitar a imortalidade do Espírito, que nos leva a enxergar todos os acontecimentos e situações da vida como coisas passageiras, importantes sim, mas nada catastróficas ou milagrosas.
- Aceitar e compreender a lei das vidas sucessivas, através das quais vamos evoluindo de Espíritos simples e ignorantes a Espíritos angélicos, sábios e amorosos, precisando, pois das dificuldades da vida material para que essa evolução intelectual e moral se processe.
- Aceitar e compreender a lei de ação e reação, através da qual vamos corrigindo nossos equívocos e omissões, conhecendo as causas dos nossos sofrimentos pelos efeitos que sentimos e recebemos, no uso da nossa inteligência e raciocínios, aprendendo assim a evitar as causas que os provocam.
- Entender as promessas de Jesus, nas Bem-aventuranças, promessas essas que só podem ser cumpridas no decorrer da vida eterna, no processo evolutivo do Espírito imortal.
- Aceitar a perfectibilidade do homem que pode realizar seu desenvolvimento com muito mais facilidade e menos sofrimento, se for submisso às leis de Deus, aproveitando as dificuldades e dores para conhecer-se e desenvolver toda a potencialidade divina que traz inserida em si.
- Compreender e aceitar que o homem é um ser em trânsito na Terra, onde faz sua evolução, e que depende de cada um sofrer mais ou menos, na dependência do entendimento das leis divinas e na sua aplicação no seu sentir, pensar e agir.
Nessa compreensão e aceitação desses princípios, confiando nas palavras de Jesus "Bem- aventurados os aflitos porque serão consolados", os inevitáveis infortúnios da vida poderão ser recebidos como oportunidades de testes de avaliação do processo evolutivo, de liberação de dívidas, portanto com alegria, com confiança, com certeza de que são experiências saudáveis, necessárias e úteis ao nosso progresso espiritual.
Daí a importância da resignação compreensiva e ativa, sempre!
Leda de Almeida Rezende Ebner
Novembro / 2004
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