Existem temas que provocam, quase sempre, discussões acaloradas, em virtude da sua complexidade. Um deles gira em torno da palavra religião, que muitos estudiosos espíritas evitam usar quando se fala da Doutrina Espírita. Desejo, com este simples trabalho, colaborar com este importante assunto, esclarecendo que as conclusões são absolutamente pessoais e, como espírita respeitarei sempre as opiniões contrárias.
Há muito tempo se fala no meio espírita, que o espiritismo não é uma religião, mas, uma doutrina. E doutrina, é um conjunto de dogmas em que se baseia uma crença religiosa ou um sistema filosófico ou político.
Também dizemos que no espiritismo não existem dogmas. Dogma é o ponto fundamental e indiscutível de uma doutrina ou sistema.
O espiritismo não tem dogmas, pois todos os seus postulados são passíveis de serem discutidos e analisados, mediante a luz que a ciência possa lançar sobre eles.
O espiritismo tem princípios. Princípio é a causa primária, começo, verdade fundamental, base moral e ética. O Espiritismo apresenta vários pontos fundamentais (seriam princípios?), sendo os principais: A existência de Deus, A existência e Imortalidade dos espíritos, A reencarnação, A comunicabilidade dos espíritos, a Pluralidade dos mundos habitados e tendo em Jesus, o exemplo moral a ser seguido. Se o dogma não permite discussão, o princípio, numa primeira análise, também não o permite. Sendo assim, a base do ensinamento espírita também não permite discussão, apesar de Kardec sempre deixar bem claro que, em qualquer tempo, se a ciência provasse algum erro nas afirmações espíritas, deveríamos ficar com ela...
No livro “O que é o Espiritismo”, Allan Kardec diz: “O espiritismo é, antes de tudo, uma ciência,...”. Podemos entender, se o quisermos que antes de ser uma religião, o espiritismo é uma ciência, mas não que “não seja” uma religião.
Em “Obras Póstumas”, encontramos que “O Espiritismo não é propriamente uma religião instituída, mas uma religião natural”. Ora, se o espiritismo não é propriamente uma religião, também não se está negando que, de alguma forma, que ela não o seja.
No livro “Espiritismo-Religião Natural”, Palhano Junior diz que: “Religião Natural nasce naquele que leu os seus princípios e entendeu a natureza Divina, tornando-se assim uma pessoa religiosa”. A chamada Religião Espírita vem de uma conseqüência dos aspectos científico, filosófico e moral da Doutrina Espírita.
A palavra religião vem do Latim “Religionis ou religio”. Acredita-se que a origem desta palavra provém de: religar ou ligação, que é o vínculo ou obrigação para com alguém ou uma entidade superior.
A Religião, segundo os dicionários é: A crença na existência de uma força “sobrenatural”, considerada como criadora do universo e que como tal deve ser adorada e obedecida.
O Espiritismo explica com racionalidade que: “aquilo que não é obra do homem, é obra de alguém ou algo”. Mas, mesmo sem uma prova científica, ainda, que essa força seja Deus, e que Ele criou todas as coisas, não sabemos entender como esse processo ocorreu, mas, sem dúvida nenhuma foi obra de uma inteligência absoluta. Diz ainda que Deus deve ser “Amado” como Pai perfeito que é. “Obedecê-Lo” é absolutamente natural visto que na Sua Suprema Inteligência criou tudo perfeito, portanto, não cabe discutir a Obra Divina, não por medo, mas pelo uso da razão e do bom senso.
Em “Obras Póstumas”, Allan Kardec, no recebimento da primeira revelação, sobre a sua extraordinária missão, lhe é dito: “Não haverá mais religião, mas uma será necessária, porém, verdadeira, grande, bela e digna do criador... os primeiros fundamentos já foram lançados”.
Analisando o seu significado, entendemos que o espírito se referia aos ensinamentos de Jesus, lançando a mais preciosa mensagem que os espíritos do planeta necessitavam ouvir, fazendo surgir o Cristianismo, cuja base é o amor a Deus e ao próximo.
Como espíritas, entendemos que os rótulos religiosos pouco valem, pois um dia irão desaparecer, para ficarem somente os ensinamentos cristãos. Mas, por enquanto, dada a nossa condição de espíritos imperfeitos e as regras da sociedade, precisamos desta rotulagem.
Imaginemos uma pesquisa estatística onde perguntem sobre a religião professada. O que iremos responder? Eu não tenho religião, pois o espiritismo não é uma religião, mas sim uma Doutrina?
Paulo, o apóstolo dos gentios já alertava dizendo: “A Letra é morta e o espírito vivifica” É um ensinamento que nos orienta para tomarmos cuidado com a letra, visto que nem sempre ela pode traduzir com exatidão o fato.
O Espiritismo é uma religião sim, diferente das outras, pois não coloca sobre os ombros dela a tarefa da redenção humana, mostrando que cada um é, individualmente, responsável pelos seus atos. Mas, ainda assim, uma religião, visto que, nos auxilia a aproximarmos de Deus e do próximo, revelando sem sombras, mentiras ou promessas que temos em nossas mãos todas as oportunidades para o crescimento moral e que não é ela, a Religião, que vai fazer isso, mas sim o nosso trabalho, auxiliados pela orientação religiosa.
No livro “Reflexões Espíritas”, com psicografia de Divaldo Pereira Franco, o espírito Vianna de Carvalho, nos fornece uma conclusão perfeita para o assunto ao dizer: “A ciência, iluminada pela Religião Espírita, comandará o cérebro, e esta sob as luzes dos fatos, guiará o amor com segurança, trabalhando juntas pela felicidade das criaturas”.
Jorge Jossi Wagner
Ribeirão Preto SP
jorgewa@estadao.com.br
Abril de 2006, edição n°. 243
Jornal Eletrônico Verdade e Luz
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