CAPÍTULO V: BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
PROVAS VOLUNTÁRIAS E VERDADEIRO SILÍCIO
28 - Um homem agoniza, preso de cruéis sofrimentos. Sabe-se que o seu estado é sem esperança. É permitido poupar-lhe alguns instantes de agonia, abreviando-lhe o fim?
Esta é uma pergunta atualíssima, visto que muita gente considera um ato de misericórdia provocar a "boa morte", o enganoso significado da palavra eutanásia, sendo discutida em nível de legislação de países, sendo que alguns já a dotam.
Para o materialista, que vê na morte do corpo físico o fim da vida do ser, a eutanásia pode até ser considerada um ato de piedade.
Para o espiritualista em geral, ninguém, nem a pessoa enferma tem o direito de eliminar a vida, visto que esta é uma dádiva de Deus e só Ele pode tirá-la.
O espiritismo, demonstrando que o homem é um Espírito eterno, encarnado na Terra para fazer sua evolução em direção à perfeição e à felicidade; que a morte elimina apenas a vida do corpo físico; que o Espírito continua vivo, no plano espiritual, onde estuda, trabalha, aprende com novas experiências, mantendo sua individualidade; que retorna à vida material, tantas vezes quantas forem necessárias, para que esse desenvolvimento se faça de dentro para fora, esclarece que toda experiência na Terra é necessária à alma.
A eutanásia, ao invés de abreviar os sofrimentos do agonizante, aumenta-os, porque o corpo perispiritual, que acompanha sempre o Espírito, é expulso ainda com fluido vital, causando perturbações ao mesmo, que retorna de forma abrupta.
"Quando o Espírito tem de encarnar num corpo humano, em vias de formação, um laço fluídico, que nada mais é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao gérmen, que o atrai por uma força irresistível, desde o momento da concepção. À medida que o gérmen se desenvolve, o laço se encurta. Sob a influência do princípio vito-material do gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une, molécula a molécula, ao corpo em formação, donde o poder-se dizer que o Espírito, por intermédio do seu perispírito, se enraíza, de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na terra. Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união; nasce então o ser para a vida exterior.
Por um efeito contrário, a união do perispírito e da matéria carnal, que se efetuara sob a influência do princípio vital do gérmen, cessa, desde que esse princípio deixa de atuar, em conseqüência da desorganização do corpo. Mantida que era por uma força atuante, tal união se desfaz, logo que essa força deixa de atuar. Então o perispírito se desprende, molécula a molécula, conforme se unira, e ao Espírito é restituída a liberdade. Assim, não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo, mas esta é que determina a partida do Espírito."(1)
Enquanto o homem ignorar o ser espiritual, independente da matéria e o plano espiritual, com suas leis próprias, vai agir sempre com a mentalidade estreita que a concepção da vida do nascimento à morte lhe proporciona.
Somente o espiritismo mostra a importância das experiências agradáveis ou não, do viver na Terra para o homem e para o ser espiritual que existe em cada um e que sobrevive à morte do corpo.
São Luís, respondeu a essa pergunta em Paris, em 1860, iniciando com outras perguntas: "- Mas quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir um homem até a beira da sepultura, para em seguida, retirá-lo, com o fim de fazê-lo examinar-se a si mesmo e modificar-lhe os pensamentos? A que extremos tenha chegado um moribundo, ninguém pode dizer com certeza que soou a sua hora final. A ciência nunca se enganou nas suas previsões?”
Mesmo quando o desenlace parece inevitável, ainda assim, quantas e quantas vezes o moribundo tem momentos de lucidez, podendo preparar-se melhor para a partida, num arrependimento de faltas, numa aceitação da vontade de Deus, numa entrega a essa vontade, facilitando, em muito, a inevitável partida, não só pela sua disposição interna como por atrair, através dos novos sentimentos e pensamentos, seus Protetores Espirituais, que então podem auxiliá-lo, com mais facilidade.
Como se pode saber as reações dos homens quando se vêem prestes a sair do corpo ?
Deixemos às leis da natureza o desenlace, após haver-se dado à medicina a oportunidade de afastá-la, confiando-nos a Deus e às Suas Leis.
Termina São Luís: "Mas o espírita, que sabe o que se passa além-túmulo, conhece o valor do último pensamento. Aliviai os últimos sofrimentos o mais que puderdes, mas guardai-vos de abreviar a vida, mesmo que seja em apenas um minuto, porque esse minuto pode poupar muitas lágrimas no futuro."
(1) - A Gênese, Allan Kardec, cap. XI, item 18, pag. 214, FEB, 1944, 28
Leda de Almeida Rezende Ebner
Dezembro / 2005
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