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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A GÊNESE - CARATER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA (VI)

OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO

CARATER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA (VI)

            O ponto mais importante da revelação do Cristo, no sentido de fonte primária , de base de toda a sua doutrina é o ponto de vista inteiramente novo de que considera Deus cuja justiça já havia sido revelada por Moisés, através do Decálogo, base moral para todo o estabelecimento da fé e da religião. Com Jesus não mais um Deus terrível, vingativo, ciumento, cruel, implacável, que rega a terra com o sangue humano e ordena o massacre e o extermínio dos povos, sem excetuar as mulheres, as crianças e os velhos, e que castiga aqueles que poupam as vítimas; já não é o Deus injusto que pune um povo inteiro pela falta de seu chefe, que se vinga do culpado na pessoa do inocente, que fere os filhos pelas faltas dos pais, um Deus que não se poderia amar e sim unicamente temer; mas um Deus clemente, soberanamente justo e bom, cheio de mansidão e misericórdia, que perdoa ao pecador arrependido e dá a cada um segundo suas obras. Já não é o Deus de um único povo privilegiado, oDeus dos exércitos, presidindo aos combates para sustentar a sua própria causa contra o Deus dos outros povos; mas o Pai comum do gênero humano, que estende sua proteção por sobre todos seus filhos e os chama a todos a si; já não é o Deus que recompensa e pune só pelos bens da Terra, que faz consistir a glória e a felicidade na escravidão dos povos rivais e na multiplicidade da progenitura mas sim um Deus que diz aos homens: A vossa verdadeira pátria não é neste mundo, mas no reino celestial, lá onde os humildes de coração serão elevados e os orgulhosos serão humilhados. É o Deus de misericórdia, que não faz da vingança uma virtude e ordena que se retribua olho por olho, dente por dente, mas sim que diz "perdoai as ofensas se quereis ser perdoados; fazei o bem em troca do mal; não façais o que não quereis que vos façam"

            Todas as crenças religiosas têm como base Deus e o objetivo de todos os cultos , o caráter de todas as religiões é conforme a idéia que elas dão de Deus. Assim há religiões que fazem de Deus um ser vingativo e cruel e julgam honrá-lo com atos de crueldade, com fogueiras, com torturas; outras há que têm um Deus parcial e cioso e são intolerantes e mais ou menos meticulosas na forma, por crerem-no mais ou menos contaminado das fraquezas e ninharias humanas.

            Toda a doutrina do Cristo se funda no caráter que ele atribui à Divindade. Com um Deus imparcial, soberanamente justo, bom e misericordioso, ele fez do amor de Deus e da caridade para com o próximo a condição indeclinável da salvação, dizendo Amai a Deus sobre todas as coisas e o vosso próximo como a vós mesmos; nisto estão toda a lei e os profetas; não existe outra lei. Sobre esta crença assentou o princípio da igualdade dos homens perante Deus e o da fraternidade universal.

            A revelação dos verdadeiros atributos da divindade de par com a imortalidade da alma e da vida futura modificava profundamente as relações mútuas dos homens, impunha-lhes novas obrigações, fazia-os encarar a vida presente sob outro aspecto e tinha, por isso mesmo, de reagir contra os costumes e ralações sociais. É esse o ponto capital da revelação do Cristo, cuja importância não foi suficientemente compreendida e também é ponto de que a Humanidade mais se tem afastado, na interpretação de seus ensinos.

            Mas o Cristo acrescentou: "Muitas das coisas que vos digo ainda não compreendeis e muitas outras teria a dizer, que não compreenderíeis; por isso é que vos falo por parábolas; mais tarde, porém, enviar-vos-ei o Consolador, o Espírito de Verdade, que restabelecerá todas as coisas e vos explicará todas." (S. João, caps.XIV, XVI; S. Mat., cap. XVII.)

            Se o Cristo não disse tudo quanto poderia dizer, é que julgou conveniente deixar certas verdades na sombra, até que os homens chegassem ao estado de conseguir compreendê-las. Como ele próprio confessou, o seu ensino era incompleto, pois anunciava a vinda daquele que o completaria; previra, pois, que suas palavras não seriam bem interpretadas e que os homens se desviariam de seu ensino; em suma, que desfariam o que ele fez, uma vez que todas as coisas hão de ser restabelecidas: ora, só se restabelece o que foi desfeito.

            Porque chama ele Consolador esse novo messias? Este nome significativo e sem ambigüidade encerra toda uma revelação. Assim ele previa que os homens teriam necessidade de consolações, o que implica a insuficiência na crença que eles haveriam de fundar. Talvez nunca o Cristo fosse tão claro, tão explicito como nestas últimas palavras às quais poucas pessoas deram atenção bastante, provavelmente porque evitaram esclarecê-las e aprofundar-lhes o sentido profético.

            Hoje pode-se compreender que se o Cristo não pode desenvolver seu ensino de maneira completa, é que faltavam aos homens conhecimentos que eles somente poderiam adquirir com o tempo e sem os quais não o compreenderiam. Com o desenvolvimento das ciências como a Física, a Química, a Astronomia, a Geologia, a Biologia e principalmente o desenvolvimento do Pensamento com as correntes Filosóficas na busca pelo entendimento da natureza íntima do homem, muitas coisas que antes pareceriam absurdas, no estado de conhecimento de então, tornaram-se de mais fácil compreensão. Completar o seu ensino, pois, deve entender-se no sentido de explicar e desenvolver, não no de ajuntar-lhe verdades novas, porque tudo nele se encontra em estado de gérmen, faltando-lhe só a chave para se apreender o sentido das palavras.

            Mas questiona-se: Quem tem o direito de interpretar as Escrituras Sagradas? Quem possui as necessárias luzes, senão os teólogos? Quem ousa? - Primeiro, a Ciência, que a ninguém pede permissão para dar a conhecer as leis da Natureza e que salta sobre os erros e preconceitos. - Quem tem esse direito? Neste momento de emancipação intelectual e de liberdade de consciência, o direito de exame pertence a todos. Sem contestar as luzes dos teólogos, que por mais esclarecidos que fossem, no passado, não o foram, contudo, o bastante para não condenarem, como heresia o movimento da Terra e bem assim outras verdades incontestes e, para não se ir tão longe, não lançaram, a pouco mais de um século, contradição à teoria dos períodos de formação da Terra? Os homens só puderam explicar as Escrituras com o auxílio do que sabiam, das noções falsas ou incompletas que tinham das leis da Natureza, mais tarde reveladas pela Ciência e, por isso mesmo, de muito boa fé os teólogos se enganaram sobre o sentido certo das palavras do Evangelho. Querendo, a todo custo encontrar nele a confirmação de uma idéia preconcebida, giraram sempre no mesmo círculo, sem abandonar o mesmo ponto de vista, onde só viam o que queriam. Por mais esclarecidos que fossem, eles não podiam compreender causas dependentes de leis que lhes eram desconhecidas.

            Então, quem julgará das interpretações diversas, muitas vezes contraditórias, fora do campo da teologia. O futuro, a lógica e o bom senso. Os homens, cada vez mais esclarecidos, à medida que novos fatos e novas leis se forem revelando, saberão separar da realidade os sistemas utópicos. Ora, as ciências tornam conhecidas algumas leis; o Espiritismo revela outras; todas indispensáveis à inteligência dos textos sagrados de todas as religiões, desde Confúcio e Buda até o Cristianismo.

            O Espiritismo, partindo das próprias palavras do Cristo com este partiu das Moisés, é conseqüência direta da sua doutrina. À idéia vaga da vida futura acrescenta a revelação da existência do mundo invisível, que nos rodeia e povoa o espaço, e com isso torna precisa a crença, dá-lhe um corpo, uma consistência, uma realidade à idéia. Define os laços que unem a alma ao corpo e levanta o véu que ocultava aos homens os mistérios do nascimento e da morte. Pelo Espiritismo o homem sabe donde vem, para onde vai, porque está na Terra, porque sofre temporariamente e vê, por toda parte a justiça de Deus. Sabe que a alma progride incessantemente através de uma série de existências sucessivas, até atingir o grau de perfeição que a aproxima de Deus. Sabe que todas as almas, tendo um mesmo ponto de origem, são criadas iguais, com idêntica aptidão para progredir, em virtude de seu livre arbítrio; que todas são da mesma essência e que não há entre elas, diferença, senão quanto ao progresso realizado; que todas têm o mesmo destino e alcançarão a mesma meta, mais ou menos rapidamente, pelo trabalho e boa vontade.

            Sabe que não há criaturas deserdadas, nem mais favorecidas umas que outras; que Deus a nenhuma criou privilegiada a dispensada do trabalho imposto às outras para progredirem; que não há seres perpetuamente votados ao mal e ao sofrimento; que os que se designam pelo nome de demônios são Espíritos ainda atrasados e imperfeitos, que praticam o mal no espaço, como praticavam na Terra, mas que se adiantarão e aperfeiçoarão; que os anjos ou Espíritos puros não são seres à parte na criação mas espíritos que chegaram à meta depois de terem percorrido a estrada do progresso; que, por essa forma não há criações múltiplas, nem diferentes categorias de seres inteligentes, mas que toda a criação deriva da grande lei de unidade que rege o Universo e que todos os seres gravitam para um fim comum que é a perfeição, sem que sejam favorecidos à custa de outros, visto serem filhos de suas próprias obras.

Denizart Castaldeli 

Dezembro / 2001

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