OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO
ALLAN KARDEC
CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA (XV)
Das próprias condições em que a Doutrina Espírita se produz ressalta ainda um último caráter. É que, apoiando-se em fatos, tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação. Pela sua substância, alia-se à Ciência que, sendo a exposição das Leis da Natureza, com relação a certa ordem de fatos, não pode ser contrária às leis de Deus, autor daquelas leis. As descobertas que a ciência realiza, longe de o rebaixarem, glorificam a Deus; unicamente destroem o que os homens edificaram sobre as falsas idéias que formaram de Deus.
O Espiritismo, pois, não estabelece como princípio absoluto senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observação. O Espiritismo entende-se com todos os ramos da economia social, aos quais dá o apoio de suas próprias descobertas e por isso assimilará, sempre, todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam assumido os estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia, sem o que ele se suicidaria. Se deixasse de ser o que é, mentiria à sua origem e ao seu fim providencial. Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.
A esses raciocínios bem como a todos os anteriormente desenvolvidos até esse ponto, Allan Kardec acrescenta:
“Diante de declarações tão nítidas e tão categóricas, quais as que se contém neste capítulo, caem por terra todas as alegações e tendências ao absolutismo e à autocracia dos princípios, bem como todas as falsas assimilações que algumas pessoas prevenidas ou mal informadas emprestam à doutrina”.
Do ponto de vista moral, não há dúvida de que Deus deu ao homem um guia, quando lhe deu a consciência que lhe diz : “Não faças aos outros o que não quererias que te fizessem” . Deus, positivamente inscreveu no coração dos homens a moral natural. Porém nem todos sabem lê-la nesse livro e desprezam seus sábios preceitos. Assim, mesmo os que ensinam a moral do Cristo não a praticam. O ensino dos Espíritos não difere da moral do Cristo. Então é de se perguntar qual a utilidade desse ensino? Necessita o homem de uma revelação? Não pode achar, por si próprio tudo o que é necessário para conduzir-se?
Mas essas questões levam a outras: É de se reprovar que um pai de família repita a seus filhos dez , cem vezes as mesmas instruções, desde que não as sigam? Porque haveria Deus de fazer menos do que um pai de família? Porque não enviaria, de tempos a tempos, mensageiros especiais aos homens para lhes lembrar os deveres e reconduzi-los ao bom caminho, quando deste se afastam; para abrir os olhos da inteligência aos que os trazem fechados, assim como os homens mais adiantados enviam missionários aos selvagens e aos bárbaros?
A Moral que os Espíritos ensinam é a do Cristo, pela razão de que não há outra melhor. Mas, então, de que serve o ensino deles, se apenas repisam o que já sabemos? Também se poderia questionar o mesmo da moral do Cristo, que já Sócrates e Platão ensinaram quinhentos anos antes e em termos quase idênticos. O mesmo se poderia dizer também de todos os moralistas, que nada mais fazem do que repetir a mesma coisa, sob todas as formas e em todos os tons. Pois bem! Os Espíritos vêm, muito simplesmente, aumentar o número dos moralistas, com a diferença que, por manifestarem-se por toda parte, fazem-se ouvir, tanto na choupana como no palácio, assim pelos ignorantes como pelos instruídos.
O que o ensino dos Espíritos acrescenta à moral do Cristo é o conhecimento dos princípios que regem as relações entre os chamados mortos e os chamados vivos, princípios que completam as noções vagas que se tinham da alma, de seu passado e de seu futuro, dando por sanção à Doutrina Cristã, as próprias Leis da Natureza. Com o auxílio das novas luzes que o Espiritismo e os Espíritos espargem, o homem se reconhece solidário com todos os seres e compreende essa solidariedade; a caridade e a fraternidade se tornam uma necessidade social; ele faz por convicção o que fazia unicamente por dever, e o faz melhor.
Somente quando praticarem a Moral do Cristo, poderão os homens dizer que não mais precisam de moralistas encarnados ou desencarnados. Mas, também, Deus, então, já não mais lhos enviará.
Denizart Castaldeli
Outubro / 2002
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