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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

41- O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

CAPÍTULO V: BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS

ITEM 11: ESQUECIMENTO DO PASSADO

No processo evolutivo em que todo o universo está incluso, num dinamismo e mutações constantes, através de leis perfeitas e imutáveis, o Espírito humano caminha sempre, aprendendo e desenvolvendo-se.

Conhecer essas leis é necessário para saber-se quem se é, de onde veio, o que faz na Terra, para onde vai e como deve ir. Quanto mais o homem se aprofunda nessas questões, mais facilidade e segurança ganha nessa caminhada evolutiva para a conquista da perfeição e felicidade possíveis.

         Uma dessas leis é a das vidas sucessivas em mundo materiais, a reencarnação, "o retorno do espírito ao corpo tantas vezes quantas se tornem necessárias para o autoburilamento, libertando-se das paixões e adquirindo experiências superiores, sublimando as expressões do instinto ao tempo em que desenvolve a inteligência e penetra nas potencialidades transcendentes da intuição". (l)

         Nesse processo, acontece o esquecimento do passado.

         O espírito, ao renascer, em um corpo pequenino e frágil, o mais indefeso dos recém-nascidos do reino animal, está deslembrado, na sua consciência, de todo o seu passado, embora ele esteja no seu inconsciente.

         Esse esquecimento se dá por força do próprio processo reencarnatório, que se inicia no plano espiritual, continuando no físico. O espírito reencarnante passa por diversas fases: o preparo espiritual, a aproximação e a ligação fluídica com os pais, a redução do perispírito, a ligação com o ovo que acaba de formar-se, a junção, molécula por molécula do perispírito com o novo corpo, tudo isso levando o reencarnante a um estado de perturbação e semi-inconsiência, até que pelo poder crescente da força do fluido vital, o poder vibratório do perispírito diminui, de modo que o Espírito fica quase ou totalmente inconsciente por ocasião do nascimento. Dessa diminuição de amplitude do movimento fluídico do perispírito e aumento do poder do fluido vital, resulta o esquecimento do passado, isto é, não mais lembrar-se de sua vida no plano espiritual e das vidas passadas das quais tinha conhecimento antes do reencarne. (2)

         Assim, ao despertar no plano material, a nova existência significa um renascimento real para o Espírito, como se fora um ser novo, a abrir-se a novos aprendizados, a mudanças de hábitos negativos para outros mais saudáveis. Daí a importância dos primeiros sete anos, tempo para a consolidação do processo, na educação da criança.(4)

         A lei da reencarnação é uma prova da importância do meio ambiente para a evolução do Espírito.

         Quais as causas que provocam o esquecimento do passado?

         Segundo Leon Denis (3), existem causas fisiológicas e causas morais. A primeira está no próprio processo reencarnatório, já citado acima. Em um corpo novo, cérebro novo encontra-se o Espírito impossibilitado de lembrar-se e exprimir as recordações do passado.

         Todavia, todas as experiências vividas estão arquivadas nele, através do perispírito, no inconsciente pré-anímico e anímico. A memória é a associação das idéias, dos fatos, dos conhecimentos. Uma vez que essa associação não está no cérebro, o fio da recordação se rompe, podendo reaparecer, vinda do inconsciente, em determinada situações.

         O autor trata desse aspecto com muita riqueza de exemplos.

         Quanto às causas morais, cita a necessidade desse esquecimento para o adiantamento do Espírito. Se não houvesse o esquecimento, sua evolução seria talvez impossível, porque os preconceitos de classe social, de raça, de idéias, toda sua herança mental seria entrave às transformações pelas quais deve passar, quanto mais viva estivesse no consciente de cada um.

        Desde o berço, as idéias preconcebidas impediriam uma renovação. Em certos casos, o homem poderia sentir-se humilhado, em outros, orgulhoso de sua personalidade anterior e, por isso, teria dificuldade no exercício do livre arbítrio, o que traria perturbações aos relacionamentos com os outros.

         O esquecimento, ao contrário, permite que tudo lhe seja novo: ambiente familiar e social, situação, pessoas, favorecendo aquisições de novos conhecimentos, de novos hábitos.

         O novo ser, embora Espírito imortal e já muito vivido, surge então, como se fora, nos primeiros anos, uma página em branco, para receber novos escritos, novos aprendizados, através de novas experiências. É uma nova chance de melhorar-se, de perder sentimentos e hábitos negativos e começar a desenvolver novos, sadios e nobres.

         Na questão 392, (4), os Espíritos disseram que pelo esquecimento do passado, o homem é mais ele mesmo, "ou seja, tem mais condição de agir mais livremente nas novas experiências, sem as amarras dos hábitos e preconceitos do passado. Apresenta-se com novas condições internas para usar seu livre arbítrio nas novas experiências".

         Bezerra de Menezes (5), afirma que o esquecimento do passado é um respeito ao livre-arbítrio do homem, porque permite que ele o use mais livremente, segundo a boa ou má inclinação de seu espírito.

         Mas será que não seria melhor, mais justo se o homem soubesse que a pessoa difícil com quem convive, foi sua vítima num passado, para que ele se esforçasse mais para ter paciência e procurasse transformar essa reação negativa em positiva? Não seria mais benéfica a lembrança do passado?

         A reencarnação é um instrumento de evolução para o Espírito. Cada uma delas é um recomeço. Como recomeçar, tendo presente na mente os erros e culpas do passado? Como conviver com alguém a quem se amou e odiou por causa de traição?

         A reencarnação não seria então, uma nova oportunidade, nem um recomeço, mas um continuar da mesma situação, num emaranhado de emoções, sentimentos e experiências desequilibradas e contraditórias.

         O esquecimento do passado é também uma necessidade da coletividade. A recordação de nossas vidas passadas estaria também ligada a do passado dos outros, o que perpetuaria os ódios, as discórdias entre inimigos e desafetos e os criminosos estariam marcados, não encontrando ambiente propício à sua reabilitação.(6).

         Quiseram o amor e a misericórdia divina que toda reencarnação fosse uma nova vivência e o esquecimento do passado é a base, a condição sine-qua-non para viver-se, integralmente, a existência presente, em experiências novas, com pessoas já conhecidas, mas também fazendo novos relacionamentos, sem a preocupação de pagar dívidas (mesmo porque estão esquecidas), mas para aprender-se a amar e a servir com prazer, continuando seu desenvolvimento espiritual.

         A evolução se faz, internamente, de dentro para fora e ela só pode acontecer com a renovação do sentir, do pensar, expressando-se em novas idéias, em novas atitudes, em novos hábitos.

         Essa renovação só pode processar-se com o esquecimento do passado, benção da misericórdia e da justiça de Deus, que deu ao homem, para melhorar-se, a voz da consciência e as tendências instintivas que lhe são suficientes para indicar o que deve corrigir em si mesmo, e continuar seu desenvolvimento.

Bibliografia:

1.           Estudos Espíritas, Joanna de Ângelis, cap. Reencarnação.

2.           Missionários da Luz, André Luís, cap. XIII.

3.           O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Leon Denis, cap. XIV.

4.           O livro dos Espíritos, Allan Kardec, tradução de Herculano Pires: questão 392, 382 e 383.

5.           Estudos Filosóficos, Bezerra de Menezes, cap. XLI.

6.           Depois da Morte, Leon Denis: Segunda parte, item XIV.

Leda de Almeida Rezende Ebner

Outubro / 2004          

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